Oi, tudo bom com vocês? Vou iniciar aqui uma história da minha vida um tanto controversa. Para os que venham a ler podem interpretar que seja pura promiscuidade da minha parte; talvez outros interpretem como uma história romântica. É isso mesmo. Uma história de amor. Eu acredito mais no amor pois sou uma mulher muito romântica e apaixonada. Não vou narrar aqui bem uma história de sexo explícito. Vou narrar aqui uma história romântica e erótica. Minha intenção não é repetir as muitas fórmulas que vejo aqui para atrair seguidores e comentários. Não me interesso por seguidores; não ganho nada com isso. Eu não quero visibilidade e notoriedade. Não me interessa a quantidade de leitores. O que eu quero é apenas contar um acontecido. Quero contar uma forma de amor entre mim e outra mulher. Mais uma curiosidade minha; algo que vivia dentro de mim; latente. Comigo mesma eu diria algo vergonhoso. Minha família jamais aceitaria isso. Como a minha família é japonesa conservadora eu seria rechaçada e odiada para sempre se meu pai soubesse que eu, a ovelha negra da família, me envolvera com uma mulher. Sem contar que sou casada e tenho uma filha linda e maravilhosa de 14 anos. Mas isso é uma longa história que posteriormente contarei ao longo desse relato. Um desabafo talvez. Fica a cargo dos leitores (se é que alguém vai ler) decidir sobre isso.
A PRIMEIRA VEZ QUE LÍDIA ME ENCONTROU.
Moro há mais ou menos 14 anos no Brasil. Oriunda do Japão; filha de mãe brasileira com pai japonês. Nasci e me criei lá. Casei lá. Um casamento um tanto tosco. Uma vida sem graça. Quase sem sexo. Um homem muito mais velho. Aqui chegando continuei meus estudos e me formei em jornalismo. Mas vale a pena lembrar que nunca exerci a profissão. Mas também nunca a tirei do meu sangue. Nunca via redação real de um jornal. Muito pouco no treinamento da faculdade. Mas eu tenho um senso crítico muito forte. Sou muito observadora. Mas me mantenho em dia com a ABJ e com o sindicato dos jornalistas da minha cidade. Tenho minha carteira atualizada. Talvez um dia eu venha a exercer a profissão de maneira independente.
Para sobreviver montamos um armazém aqui na minha cidade e depois um supermercado e depois mais outro armazém. Empregamos muitas famílias. Aqui no Brasil somos considerados ricos; mas se fosse no Japão viveríamos apenas bem. Nós temos contratos com fazendas e fábricas que são nosso fornecedores. Eu não quero entrar aqui nos pormenores dos negócios, mas temos créditos com os fazendeiros até ao ponto de atrasarmos um ou dois dias das datas de pagamento sem sermos vítimas dos juros ou da suspensão dos fornecimentos. Foi exatamente pelo atraso de 3 dias do pagamento de uma carga de verduras e carnes que eu tive o desprazer de conhecer Lídia. Eu nunca a tinha visto pois sempre tratara dos negócios com o pai dela. Era um homem muito bom. Eu tinha telefonado para ele e pedido o adiamento do prazo. E ele concordara. Mas foi numa segunda-feira, na sala de reunião do meu escritório que eu a vi. Quando ela entrou naquela sala, nossos olhares se cruzaram. Pareceu-me que ela teve surto. Entrou sorrindo e, ao me ver, estacou ali na morta; o sorriso morreu em seus lábios. Pareceu-me que ela queria voltar e queria entrar e não conseguia se decidir. Observei que ela tinha muito bom gosto com uma roupa social sport fino feminino. Um corpo cheio de curvas generosas. Devia receber muitas cantadas. Era uma mulher linda! Uma morena de seus quase dois metros bem distribuídos, supus. Olhos verdes. Negra. Não era bem uma negra. Ela tinha a cor daquela cantora... deixe-me lembrar... Anitta. Ela era da cor da cantora. Só que muito mais linda! Cabelos cacheados. Maquiagem de muito bom gosto. Perfume... não consegui identificar o aroma... ela tomou a iniciativa e bateu a porta atrás de si fazendo um estrondo. Eu me assustei! Ela me olhava com uma expressão de ódio! Veio caminhando lentamente me fuzilando com um ódio terrível. Fiquei sem jeito e olhando para ela também. Ela passou por trás de mim me olhando insistentemente... rodeou a mesa me olhando e sentou na outra extremidade. Eu nunca a tinha visto! Ficamos nos olhando. Eu não estava entendendo nada. Confesso que fiquei com medo. Quando peguei o telefone para chamar a moça que nos serve café ela quase gritou:
- Solte esse telefone! – Ela fez menção de segurar o telefone com tanta força que moveu a mesa. Ela estava percebendo o quanto eu estava assustada. Engoli em seco. Era um assalto e eu estava sendo feita de refém.
- Por favor, moça... eu não sei como você entrou... não tem dinheiro aqui e...
- É você, não é? – ela perguntou. Na verdade ela vociferou entredentes. – Não pode ser.
- Eu não compreendo. – eu disse. Queria sair correndo. Olhava para a porta e para ela.
- De onde você me conhece, princesinha? – ela perguntou enquanto me fuzilava com aqueles olhos verdes. Ela era muito bonita embora sua beleza não significasse tanto transtornada do jeito que estava. – Olha se eu tenho cara de assaltante?
- Desculpe. Eu vou pedir uma água.
- Não precisa. Eu quero o pagamento agora.
“Meu Deus!” Eu pensava, “o único pagamento que eu tinha era com a fazenda...” então, supus, o fazendeiro tinha aceitado que eu adiasse o meu pagamento apenas para não dizer “não”, e mandara aquela “coisa” estúpida e odiosa.
- Mas o senhor... – ela me cortou de repente, ainda me olhando fixamente nos olhos.
- Meu pai. E eu estou cuidando da parte financeira por algum tempo. E você, princesinha, está negativada. E eu quero todo o dinheiro – ela deu um soco na mesa – bem aqui. E agora.
- Você é muito petulante. Eu tenho negócios...
- Comigo agora. Anda... dinheiro vivo. Estou vendo que você não tem mais precisão de dinheiro. Se não aparecer esse dinheiro agora... eu vou na polícia fazer um B.O. contra você; e depois vou meter um processo na sua empresa. Não importa quanto dinheiro você tenha.
- Por favor, moça... deixe eu falar com seu pai... por favor... eu sei que estou errada. Não precisa polícia nem processos.
Ela continuava me olhando nos olhos. Olhava para o meu corpo. E dali não pronunciou mais nem uma palavra. Eu me levantei e fui pegar uma água. Conversei com ela e pedi por favor que esperasse até o dia seguinte pois eu tinha que pagar parte dos funcionários e parcelas dos caminhões e se não fizesse isso os juros deles eram muito altos. As vendas não estavam boas nos últimos meses.
Depois de horas eu implorando e ela me olhando, ela pegou o celular e deu uma ordem para alguém chamar a polícia e acionar o setor jurídico. Quando ela se levantou eu me levantei também e fui até ela e a segurei no braço.
- Para, por favor. Eu vou lhe dar o dinheiro.
- Foi o que eu pensei. Como você chegou aqui?
- É o meu trabalho. Eu sou a dona.
- Você é formada em quê?
- Isso não é interessante. Não sei por que está agindo assim. Vou buscar o seu dinheiro.
Eu fui até ao cofre e peguei a sacola com o dinheiro vivo que eu iria mandar pelos policiais que fazem nossa segurança.
Entreguei a sacola para ela. Fui pegar mais uma garrafinha de água para mim e trouxe outra para ela.
- Você está muito transtornada. – Ela tomou a água de um só gole.
- Tomara que essa seja a última vez que nos vemos. Obrigada pela água.
Para o meu azar naquele momento a minha filha entrou no escritório e me abraçou. Foi o meu porto seguro. Eu me abracei com ela e me senti mais forte. Eu digo azar porque eu não queria que ela presenciasse a grosseria daquela jovem tirana. Que horror!
- É minha filha – apresentei. Na verdade estávamos presas uma na outra não sei por que motivo. Eu a olhava como se a conhecesse de algum lugar embora nunca a tivesse visto na vida. Ela cumprimentou a minha filha com um beijo na mão e com um sorriso.
- Uma linda garota! É a cara da mãe. Somos velhas conhecidas – ela disse para a minha filha. Eu desconfiei que ela estava me confundindo com alguém que lhe tinha feito muito mal. Não sei o quê. Virando-se para mim ela disse: - vejo que você não está mais destruindo a inocência de ninguém.
Ela pegou a sacola com o dinheiro e foi embora. Bateu a porta com muita força de novo.
Agora era esperar as vendas e os juros altíssimos das parcelas dos caminhões. Meu Deus!
Embora com toda a grosseria daquela garota, ela era majestosa, decidida... o tipo de mulher que sabia o que queria. Era o tipo que impunha a sua decisão. Eu fiquei lembrando o tempo todo. O que ela queria de mim?
Eu fui para casa mais cedo. Tomei banho, troquei de roupa... mas aquela mulher estava junto de mim o tempo inteiro. O tempo inteiro eu pensei em ir até ela. A fazenda não era muito longe. Era como se ela estivesse me chamando em pensamento. Assim como naquele filme do X-Man que aquela moça, a Jean Gray, consegue entrar na mente das pessoas. Se eu acreditasse em vidas passadas diria que eu havia sido encontrada pela pessoa que me amara tanto. Mas uma mulher?!! Por que não um homem???!!! Eu nunca me envolvera com uma mulher. É impossível isso!!! Jamais!!! Isso é loucura!!!!
Mas loucura ou não, eu vesti uma das roupas que eu achava mais linda: uma saia fina azul escura e uma blusa de mangas longas justa ao meu corpo também azul só que um pouco mais clara. Me maquiei levemente como sempre costumo... mas lá no fundo eu sentia que estava me arrumando para seduzir; para impressionar. Eu não sabia a quem. Não me passava pela cabeça seduzir alguém. E muito menos uma mulher. Longe de mim. Mas botei a minha mais linda roupa; o mais lindo batom com brilho; maquiagem suave; um demorado penteado para deixar o cabelo no melhor estilo; uma sandália preta de salto médio. Me olhei no espelho em vários ângulos para conferir como estava a silhueta. A saia era justa e com uma pequena abertura apenas de um lado. Era uma saia que ia próximo ao joelho. Eu queria tirar aquela história a limpo. Aquela humilhação que ela me fizera passar. Eu ia descobrir quem fora a pessoa que a maltratara a ponto de deixa-la transtornada daquele jeito. E o que essa pessoa tinha a ver comigo. Afinal eu era uma jornalista. Não jornalista policial. Eu sempre tive medo de que me matassem. Eu gosto mais da área de música e entretenimento.
Saí dali, peguei o meu carro e fui rumo à fazenda daquela louca. Eu precisava até mesmo falar com o pai dela. E no caminho eu não conseguia parar de pensar no que ela havia me feito. Mas não sentia raiva. Eu ria. A minha intenção era elucidar aquele mal entendido entre nós duas.
Chegando à fazenda deviam ser mais ou menos umas seis ou seis e meia da noite. Como eles me conheciam fui direto a casa. Não pensem que é uma casa como as das fazendas tiradas dos romances de Jorge Amado. É uma casa imensa, moderna e cheia de vidros. Quem me recebeu foi a esposa do dono. Ficou muito feliz em me ver mas disse-me logo que ele não estava pois tinha viajado.
- Me desculpe a visita sem anunciar antes – eu me expliquei. Eu tentava olhar por cima do ombro da senhora na mente de ver a garota. – eu até sabia que ele estava viajando.
- Entre – disse-me ela. – Seja bem-vinda. Toma um café, um chá?
- Não, muito obrigada. Eu vim falar com sua filha.
Ela me conduziu à sala muito bem decorada e nos sentamos em um confortável sofá.
- Eu sinto muito. Hoje não é um bom dia para falar com ela.
Eu estava ficando mais nervosa e com medo. Mas era esse mesmo medo que me mandava ir vê-la. Eu queria ficar com ela pelo menos mais um momento. Eu não sabia por que...
- Por quê?
- Ela chegou chorando. Fazia muito tempo que isso não acontecia com ela. Acho que ela já quebrou o quarto todo.
Eu estava ficando aterrorizada. Mas eu queria vê-la. Era a jornalista dentro de mim falando mais alto. Meu coração estava acelerado.
- E qual o problema dela? Posso falar com ela?
- Melhor você ir embora. Quando ela está assim nós não falamos com ela.
- Desculpe a pergunta... são problemas mentais?
- Eu odeio essa palavra... mas minha filha tem problemas mentais. Ela parece perfeita... inteligente... culta... formou-se em psicologia, mas de súbito ela jogou tudo pro alto... não aceita ir ao médico... cuida das finanças das nossas empresas... é muito inteligente... mas é como se faltasse algo, alguma coisa dentro dela... passa muitos dias amável... depois bebe muito e se tranca no quarto. Fica sem comer.
- Ela é agressiva?
- Às vezes, sim. Se alguma coisa dá errado, ela quebra tudo. Ela tem muito amor pelo pai. Nas crises dela é o único que ela respeita. Eu já quis interna-la para tratamento... mas ele não deixa.
- E como ela está hoje?
- Desde de manhã ela não comeu nada... mas hoje ela está muito pior. Se veio somente para falar com ela sugiro que volte depois.
- Mas eu sou amiga dela – menti. E se ela me agredisse?
- Eu não sabia que ela lhe conhecia. – ela me olhou duvidosa. – Ela chegou do Rio Grande do Sul não tem um mês.
Sorri.
- Ficamos muito amigas hoje de manhã. E ela está me esperando. Posso ir até lá com ela?
A mãe dela apenas estendeu a mão na direção do quarto.
- Já que ficaram amigas...
- Obrigada.
Com o coração aos pulos eu fui até ao quarto indicado. Parei com a mão na maçaneta da porta. Ouvi a voz dela lá dentro:
- Eu não quero nunca mais ver você, Lídia!
- Eu sei. Você acabou comigo. – era ela falando com ela mesma. – Eu te adorava... mas tudo o que você queria era o que eu podia te proporcionar, garota.
Meu Deus! Ela tinha uma garota??!! Era o meu pensamento.
Abri a porta. Ela estava de calcinha e sutiã somente. Os cabelos desalinhados. Tudo quebrado dentro do quarto. Os lençóis da cama espalhados pelo chão. Um litro vazio de cachaça. Outro estava pela metade sobre uma mesa. Do jeito que ela estivesse era uma linda mulher. Um corpo perfeito. O meu coração estava acelerado que eu tinha medo que ela pudesse ouvir as batidas.
Eu tenho certeza que ela ouviu as batidas do meu coração. Ela estava gesticulando como se fosse uma atriz em um teatro.
- Posso ouvir as batidas do seu coração – ela gesticulou como se estivesse vendo uma plateia. – Veio me humilhar na frente dessa gente? – Por que eu tinha a impressão que ela sabia o tempo todo que eu abrira a porta do quarto e estava ali com medo e ao mesmo tempo admirando tudo. Eu nunca tinha visto algo igual. Ela continuou. Estava de costas para mim. – Eu quero que você me diga. Era você hoje de manhã, não era? Ande, fale logo. Eu sei que você está aqui.
Eu fiquei com tanto medo que pensei que ela sabia mesmo que eu estava a olhando em silêncio. Eu poderia ter saído sem que ela me visse. Mas pequei naquele momento.
- Não!!!! Pelo amor de Deus!
Ela se assustou e deu um grito se virando tão rápido como uma leoa surpreendida. Ela pegou o litro de cachaça e tomou uma dose tão longa sem fazer careta. Eu teria morrido na mesma hora se ingerisse um copinho de 100ml daquele líquido. Ela pousou o litro com tanta força sobre a mesa que fez o líquido pular para fora. Eu me assustei com a pancada e levei a mão à boca. Agora eu queria correr de volta.
- Ora se não é a princesinha. Eu tinha certeza que você vinha. Eu sabia que você vinha. Eu estava chamando você no meu pensamento. Você pode ter me matado naquele dia. Mas nossa história ainda não terminou. Vai acabar hoje. Hoje eu ponho um fim em tudo isso.
Quando eu quis correr ela ordenou com um grito:
- Senta aí. – Eu fiz que sim com a cabeça e obedeci aquela louca. Ela estava transtornada. Ela trancou a porta. O medo que eu sentia era um medo inexplicável! Como vou explicar para quem ler? Eu estava com medo dela. Mas ao mesmo tempo não era bem um medo de pavor... no meu íntimo eu sabia que ela não iria tocar um dedo em mim. Eu sentia isso. Ela chegou bem perto de mim... se apoiou nos braços da cadeira... seu rosto bem perto do meu. Um palmo de distância eu creio que era. Ficamos nos olhando... nossos olhos dançando... mas eu nuca tinha reparado na beleza de uma mulher como eu reparava na dela. Seu hálito de álcool nas minhas narinas me dava uma estranha sensação... ela continuou: - Sabe por que eu sabia que você vinha? – eu fiz que não com a cabeça. Olhos nos olhos. Aqueles olhos verdes me perfurando com ódio. Olhando para todo o meu rosto... para a minha boca. Era como se eu tivesse feito parte do passado dela. Eu estava afundada na cadeira e ela quase me sufocando com ódio... com hálito de bebida. Uma sensação estranha no meu corpo. Era como se eu quisesse mais e mais aquele ódio. – por causa do dinheiro. Você jamais viria aqui por mim, para me ver a menos que tivesse um motivo.
- Eu não sei do que você está falando.
Ela voltou a se apoiar na cadeira de novo. Dessa vez seu rosto quase encostando no meu. Eu podia sentir até o calor do corpo dela.
- Uma vontade louca de te dar uma surra. Mas eu jamais faria isso. Eu jamais bateria nesse rostinho lindo. Nunca.
- Obrigada.
O toque de um celular. Ela se assustou de novo. Correu para o celular e atendeu:
- Agora não. Eu disse agora não! – ela gritou. Ia jogar o celular na parede.
- Para! – eu intervi.
- O que foi que você disse? – ela voltou para mim e me afundou na cadeira de novo. – Repete. Só repete.
- Você vai quebrar tudo desse jeito. Deixa eu provar que não sou quem você pensa que sou. Eu só vim aqui para conversar com você.
Ela pegou a minha bolsa sem minha autorização e olhou meus documentos. Jogou a minha bolsa no chão. Pegou o celular dela e fez uma ligação.
- Oi meu amigo, tudo bem com você? Eu não estou muito bem... não, não... nada demais... por que eu liguei a essa hora? – uma gargalhada sonora – preciso de um favor. Vou mandar a foto. – Ela tirou a foto da minha identidade. Frente e costa e enviou. – Eu espero, amor. Espero, sim. – Ela se virou para mim. – Vamos já pôr um fim nessa conversa e nesse impasse. E se quiser pode me processar.
Assim como um animal feroz vigia sua presa, ela ficou de pé, me olhando. Não tirava os olhos de mim como se se piscasse eu sumisse. O celular tocou de novo. Ela atendeu:
- Obrigada, amor. Vou sempre te dever favores. – ela abriu a mensagem e olhou para mim. Sua expressão mudou de repente. – Não pode ser. Formada em jornalismo; casada com um japonês. Nasceu no Japão. Em Kyoto. Filha de brasileira com japonês.
Ela disse muito mais coisas sobre o meu passado que eu já nem lembrava mais. Só faltou dizer mesmo a cor da minha calcinha naquele momento. – Meu Deus? É castigo? Como pode duas pessoas tão iguais? – eu a admirava. Ela gesticulava como se fosse uma atriz. Eram gestos perfeitos! Seu corpo cheio de curvas; aquela tez... negra?... um pouco clara?... Era perfeita! Então eu também era louca? Nunca me vi assim. – Me desculpe! Eu me descontrolei totalmente. Você é igual a ela que eu amava. Naquela hora de manhã quase sofri um infarto. Uma vontade de gritar... uma vontade de morrer... foi uma pessoa que me dilacerou por dentro. – Suas feições agora demonstravam culpa. Ela chegou bem próximo de mim. Por um momento ela parecia aliviada. Ela tocou-me o rosto com as pontas dos dedos. – Você é... é... desculpe-me – ela gesticulava como se estivesse numa palestra. E eu, fascinada, olhando seus movimentos quase sem piscar. – Você é... muito linda! Encantadora. Mas agora que a minha cabeça está melhor... você não poderia ser mesmo ela. Ela não estaria aqui comigo sem que não recebesse algo em troca. Sempre tinha algo em troca.
Eu me levantei e agradeci:
- Obrigada pelos elogios. Podemos ser amigas?
- Você quer ser minha amiga depois de tudo o que fiz você passar?
- Sim. E quero ouvir mais sobre essa pessoa que te fez tão infeliz.
Ela abriu um sorriso gigante. Ela estava amável.
- Eu preciso mesmo falar sobre isso. Isso está me matando por dentro. Vou por uma roupa.
- Sua mãe me disse que você não comeu nada hoje.
- Verdade. Só bebi muito e chorei. Na verdade acho que não sou uma boa companhia hoje. Principalmente para uma nova amiga.
- Mas você precisa comer. E eu também.
- Não posso acreditar que se preocupa comigo! – ela parecia surpresa. – Interessante.
- E por que não? Somos amigas. Vem?
- Vou mandar a nossa empregada fazer alguma coisa pra nós.
- Não. Vamos fazer nós duas. Algo pessoal só para nós duas.
- Claro, princesinha. Você é uma pessoa extremamente diferente.
- Sou? – depois que ela se vestiu eu a puxei pela mão e ela foi me conduzindo para a cozinha. – Nunca mais eu quero saber que você ficou sem comer. Ouviu bem?
- Tá bom. Mas eu posso tomar uma cachaça?
Rimos juntas.
- Pode. Desde que seja perto de mim.
Bem, gente, assim começou aquela noite de segunda-feira. Eu fiz para ela um pouco de peixe com verduras que é a minha especialidade. Ela esquentou um bife e feijão e ficamos ali na cozinha por enquanto. Logo ela propôs que pegássemos os pratos e fôssemos para o jardim. Era uma “coisa” diferente para mim que levava o ritual do jantar muito a sério numa mesa. Todos calados. Jantando. Mas naquele momento tudo estava diferente.
Vou parar essa primeira parte por aqui e depois eu venho com a continuação.