— Ele eu não sei, mas todo mundo com certeza já deve ter percebido. - O que você esta fazendo, Pedro? Você só está confuso, o Oliver é seu amigo, e amigos sentem ciúmes um do outro. É completamente normal.
Não sei em que momento aqueles sentimentos começaram a surgir, mas eu estava me sentindo muito mal por senti-los. Primeiro porque eu não queria perder meu amigo, e segundo porque eu não estava mais reconhecendo quem eu era. Eu não deveria prosseguir com aquilo, estava apenas confuso e logo tudo iria passar e as coisas voltariam ao normal.
Sempre admirei o universo por sempre me reservar coisas boas e me livrar das enrascadas da vida, e naquele momento ali, ele me acudiu na hora certa. Eu já não tinha mais certeza do que eu deveria dizer para o Oliver, era melhor não me precipitar, então pensei em alguma forma de sair daquela conversa, mas para meu alívio nem precisou, pois meu celular tocou na hora exata interrompendo nossa conversa.
Na ligação, quem falava era a Júlia, dizendo que estava em uma cidade vizinha e que queria que eu a buscasse no aeroporto, uma surpresa inesperada mas que eu adorei. De início ela havia dito que não poderia vir por conta dos estudos, mas devido a ela atingir a nota necessária após trabalhos complementares, sua professora a dispensou, a livrando das avaliações finais. A felicitei e vibrei com a ideia de que estaríamos todos juntos, eu, ela e o Oliver, mas antes que eu contasse para ele, ela me pediu segredo.
Inventei uma desculpa para meu parceiro e corri para pegar minha caminhonete indo buscar a Júlia em segredo, agora tinha certeza de que minha viagem iria melhorar, já que eu e o Oli ainda não tínhamos aproveitado juntos. Foram cinquenta minutos na estrada até eu finalmente chegar ao aeroporto de Caldas Novas, o mais próximo da fazenda do meu pai e onde a Ju estava. Estacionei a caminhonete e adentrei o local indo em direção ao saguão de espera. Não foi muito difícil encontrá-la pois o aeroporto não era tão grande, e de longe a avistei sentada com várias malas ao seu lado, nunca entendia o por que das mulheres levarem suas casas quando viajava?
— Ju, sua doida, por que não avisou que vinha antes? - Pergunto abraçando-a.
— Porque eu queria fazer uma surpresa - Responde sorrindo e pulando para me abraçar.
— E essas mala todas? Parece que veio de mudança - Gargalho, o mais difícil seria colocar tudo aquilo no carro.
— Então bebê, eu não vim sozinha...
— Como assim? - Nem foi preciso ela revelar quem era, pois avistei a última pessoa que queria passar as férias, o Marcos, meu semblante e toda a felicidade de ter a Júlia ali se esvaíram.
Sabe quando você não simpatiza com uma pessoa por suas energias serem incompatíveis? Desde a primeira vez que o Oli apresentou ele para gente, eu não consegui gostar dele nem um pouco. Ele vinha de uma família importante da nossa cidade e tinha algo de misterioso nele que me incomodava, além do fato de ele dormir com meu melhor amigo.
— O Marcos também queria fazer uma surpresa para o Oli, insistiu para vir e eu não consegui dizer não. - Falou meio sem graça, ela sabia que eu não gostava dele.
— Tudo bem, só vamos embora. - Não, não estava nada bem. A viagem era para ser apenas entre amigos, para curtirmos as nossas companhias, coisa que fazíamos com cada vez menos frequência devido as nossas vidas estarem tomando rumos distintos, aquele cara sabia estragar o prazer das coisas, eu estava muito decepcionado, não com a Júlia, sei que não foi culpa dela pois sei que por trás daquela maluquice dela, tinha um coração bom que não conseguia dizer "não" para alguém, mas comigo mesmo por não mais conseguir ver motivação naquela viagem.
— E aí, Pedro, tudo bem cara? - Diz Marcos ao se aproximar de mim, ele estende a mão para me cumprimentar, mas me limito a uma resposta curta e direta.
— Melhor impossível, só vamos logo que a estrada é longa, - Respondo virando as costas e seguindo para a saída, mas percebi que ficou sem graça, coçando sua nuca e falando em um tom baixo para Júlia.
— Aconteceu alguma coisa com ele?
— Relaxa, ele só está estressado por eu acordar ele, e tê-lo obrigado a vir nos buscar. - Amenizou minha amiga.
No estacionamento deixei todas as portas e o porta-malas da caminhonete abertos e sentei no meu lugar de motorista esperando por eles. Após alocarem as bagagens no compartimento traseiro, eles fecham tudo e entram no carro. No banco de trás foi o Marcos, com uma mala que não coube no porta-malas, e a Júlia sentou-se no banco de passageiros ao meu lado. No carro tudo o que se ouvia era silêncio, eu dirigia concentrado e ninguém ali se atrevia a dizer algo sequer.
— Amigo, faz tanto tempo que não vou lá na fazenda do seu pai. Por falar nisso, como o tio está? - Pergunta minha amiga tentando quebrar a tensão no ambiente.
— Está bem. - Digo seco.
— Que bom! Foi muita sorte eu ter sido liberada da faculdade mais cedo. - Tentou continuar, mas eu nada respondi. Pisei fundo no acelerador e conseguimos chegar com quase dez minutos a menos na fazenda, como deixei a porteira aberta, apenas entrei e segui para sede, desacelerando e saindo antes que eles pudessem dizer qualquer coisa.
— Sejam bem vindos! - Digo abrindo a porta e seguindo rapidamente para dentro de casa. Na varanda estavam o Oli e o Alex, mas não queria falar com ninguém. Apenas passei direto por eles ignorando qualquer coisa que ele tenham dito, entrei no meu quarto e me joguei na cama.
Para ser sincero, nem eu entendia muito bem o por quê aquele homem me incomodava bastante. Talvez seja por eu vê-lo como uma ameaça as minhas amizades, já que a Ju, diferente de mim, adorava a companhia dele, ou seria o fato dele simplesmente ser arrogante? Andando por aí contando vantagens das coisas caríssimas que ele tinha, na verdade, os pais deles. Ou era o fato dele ser extremamente atraente, talvez até mais do que eu? Não, isso não. Ele nunca seria mais bonito do que eu.
— Pedro, tá tudo bem? - Era o Alex batendo na porta.
— Sim, está! Só com um pouco de dor de cabeça. - Queria apenas paz.
— Certo! - Conclui ele, por não ouvir mais nada deduzi que tivesse ido embora, até ele falar novamente — Lembra que falei que tinha uma programação para gente hoje a noite? Então, acabei de confirmar com os caras e está tudo certo, vamos para uma rave na fazenda dos Sartori. Você vai adora.
Mais uma vez nada respondi e ele continuou.
— Enfim, se precisar conversar estou aqui. Se cuida mano.
Não sei o que está acontecendo comigo, tudo está dando errado ultimamente, e a cada ação ou não ação minha sinto que afasto mais as pessoas de mim. Eu costumava ter uma relação de irmão com meu primo, mas agora eu mal consigo conversar com ele. Na verdade eu não consigo conversar com ninguém. Nem com o a Júlia, nem com minha mãe, nem com o meu pai, e nem com o Oliver. Ninguém entenderia o que estou passando, então apenas me restava guardar aquilo para mim.
Ás vezes eu queria alguém para me dizer o que fazer, era tudo tão simples quando eu só me preocupava em brincar, pois meus pais resolviam tudo para mim. Liberdade é uma droga. Minha vida estava se tornando um caos completo. Naquela tarde quente, só conseguia pensar em quão insignificante eu era. Por não me entender, por magoar quem eu amava e de odiar a pessoa que via em frente ao espelho.
Só lembro de virar de bruços e começar a chorar, como nunca havia chorado antes. Nem me recordava a última vez que tinha me deixado me levar pelas emoções assim, então apenas me deixei levar. Agora só queria que aquela viajem acabasse o mais rápido possível.
"Não sinto tua falta. Não sinto a falta do teu cheiro de perfume importado que exportou de mim. Não sinto falta do teu erre puxado, nem do teu beijo gosto-de-dente que morde coração-envenenado. Não sinto tua falta. NÃO SINTO. Nem lembro de você. Nem da tua respiração ofegante. Não sinto falta. Eu sinto ânsia. Distância. do teu signo-preto, do teu silêncio-grito. Sinto ânsia. E a provoco. E enfio meus dez dedos na garganta pra ver se vomito teu ser da minha alma" - Vitória