Amigos, agradeço pelos comentários. Eles me dão mais e mais tesão de escrever.
Ahhhh, já publiquei o segundo capítulo, espero que vocês gostem.
Eu estava cansado demais. Meus olhos piscavam muito e minha cabeça estava sempre caindo em direção ao chão, tanto era o meu sono. Pela janela, gotas de chuvas escorriam devagar, com o barulho que me fazia desejar cada vez mais minha cama.
O ônibus deslizava suavemente pela avenida principal da cidade. O motorista pilotava devagar, já que a chuva era fraca e nunca se sabe o que pode aparecer pela frente.
A pequena quantidade de passageiros condizia com o silencio que reinava no coletivo. Um casal de namorados no fundo do ônibus parecia alheio a tudo que acontecia, tão entretidos em sua conversa privada que pareciam estar em outra dimensão. Uma estudante de cabelos curtos e coloridos, provavelmente vindo da faculdade tamanha a quantidade de livros que estavam apoiados no banco ao lado.
Na frente do ônibus, sentava um senhor de olhar tranquilo, com um chapéu cobrindo os cabelos brancos, papeando baixinho com o motorista, que parecia feliz com aquela conversa, algo para agradar o dia tão estressante.
Esse era o último ônibus daquela linha, que cortava a calma noite de quarta-feira, enfrentando a chuva e a escuridão da cidade. Eu acabei me atrasando no trabalho, corri para alcançar o ônibus, pisei em uma poça de lama e estava com o meu pé direito totalmente encharcado.
Parecia não ser o meu dia de sorte. Até ela entrar no ônibus.
Se fosse outra pessoa, o motorista não iria parar. Mas ele não podia deixar aquela moça sozinha no ponto, não naquela hora, naquele local ermo, mal iluminado e sem nenhum outro ônibus para passar.
A porta se abriu, e subiu no coletivo uma mulher. Ela parecia normal, uma estudante atarefada, com seu casaco de lã bege e bolsa a tiracolo. Seus olhos verdes estavam amplificados pelos óculos quadrados e seus cabelos lisos e pretos estavam encimados por um gorro preto.
Percebi que não consegui tirar os olhos da mulher. Algo nela me atraiu instantaneamente. Parecia essas bobagens de filmes românticos, mas havia algo no olhar dela, algo que bateu em mim da mesma forma que uma onde forte atinge um banhista distraído.
Ela entregou o dinheiro ao motorista, que devolveu o troco. No momento em que ela terminava de guardar suas moedas em uma carteira rosa com um desenho da Minnie, percebeu que eu estava olhando e sorriu, como que se desculpando pela carteira infantil portada por uma mulher adulta.
Minha única reação aquele sorriso foi sorrir também. Não era possível se comportar de outra maneira. Ela tinha um sorriso, aquele tipo de sorriso que não se consegue descrever. Se alguém já sorriu para você e seu cérebro fez seu sorriso se formar antes você perceber, então você vai entender.
Depois disso, ela desviou o olhar e começou a caminhar pelo ônibus, sentando no assento que ficava na minha frente.
Nesse momento me dei conta do quão desarrumado eu estava, com os cabelos pretos molhados pela chuva e colando na minha testa, os óculos meio sujos pela tentativa frustrada de limpeza realizada com a ponta da gravata, que pendia torta e afrouxada.
O paletó meio embolado no meu colo, com a mochila jogada de qualquer jeito no assento do meu lado.
Comecei a ajeitar o cabelo meio sem saber o motivo, já que a mulher estava olhando pela janela. Porém, quando percebi, ela estava sorrindo, um sorriso meio bobo enquanto eu também via meu reflexo na janela do ônibus. Ela estava me vendo esse tempo todo.
Fiquei vermelho e sem graça, mas sorri também. Ela ficou me olhando pelo reflexo, até que engoli em seco e falei um boa noite, meio sem graça e meio rouco, que deve ter sido difícil para ela ouvir. Ela respondeu também me dando um boa noite.
Dando uma risada baixa, perguntei:
- Você não é muito velha para ainda gostar da Minnie?
- O que?
- Sua carteira. É da Minnie. Não deu pra deixar de reparar.
Um sorriso de reconhecimento passou pelo rosto dela.
- Ah é, verdade. Foi um presente. Um presente de alguém especial.
“Droga. Um presente de namorado”, pensei.
- Foi um presente da minha avó – Ela respondeu, como se tivesse lido meus pensamentos.
- Entendi, é uma bela carteira. – Disse, rindo.
Ela riu de novo.
- Então, você está voltando da faculdade?
- Sim, comecei agora a faculdade de enfermagem.
Nessa conversa levamos bons quinze minutos, ela falando do curso e eu do trabalho, parecendo dois amigos que se encontraram a tempos.
De repente, ela olhou pela janela e levantou assustada.
- Nossa, é o meu ponto, tenho que ir.
E levantou correndo. Eu me assustei e levantei sem reação. Eu não podia deixar ela ir embora assim.
Ela desceu do ônibus. Só nessa hora minha voz voltou para a minha garganta. O motorista olhou para mim com uma interrogação no olhar. A moça de cabelos coloridos nem desgrudou do seu Iphone e o casal continuava em outra dimensão, a dimensão dos casais apaixonados.
Apenas o senhor olhou para mim, sorrindo de forma sabedora. O motorista perguntou se eu ia descer. Falou que não podia ficar parado ali muito tempo. Eu tinha que fazer alguma coisa.
Eu tinha que fazer alguma coisa. Eu tinha que fazer alguma coisa. E fiz.
Desci correndo do ônibus.
Amigos, agradeço pelos comentários. Eles me dão mais e mais tesão de escrever.
Ahhhh, já publiquei o segundo capítulo, espero que vocês gostem.
Merece continuação
Começo de história bacana,ao que tudo indica vai ter uma continuação. O conto não pode terminar assim né.kkkkForte abraço e te convido a ler os meus contos
Obrigado, Chupadora. Seu comentário me anima a escrever mais. Beijos. :-*
Doce escritor 👏👏