Foda-se se ele é meu irmão - Cap. 8: Feridas

Um conto erótico de Rafael Duarte
Categoria: Homossexual
Contém 5684 palavras
Data: 29/01/2019 13:38:08

Galera, primeiramente eu queria me desculpar, de coração, por toda a demora para postar. Decidi só escrever contos de um único capítulo a partir de agora (após esse) ou só publicar aqui quando tiver muitos capítulos de reserva prontos para isso não se repetir. Desculpe também pelo tamanho desse capítulo, mas queria terminar o conto logo para vocês e não saberia dividr isso aqui. Estou postando o próximo capítulo, que é o último, logo após esse, então já deve estar no meu perfil. Responderei todos que comentarem aqui e me mandarem email (). Se gostarem, votem também, por favor, porque isso é um incentivo gigantesco. Valeuuus!

Acordei quase na hora do almoço e, obviamente, Daniel já havia ido trabalhar. Ao me levantar, porém, tive certeza de que ele tinha se atrasado um pouco, pois, tão organizado como era, acabara deixando a cueca que usava na noite anterior jogada pelo chão do quarto. Peguei a peça nas mãos, uma box branca que estava caída aos pés da cama, e instintivamente a levei ao nariz aspirando o cheiro de meu irmão, repetindo o que fazia nos dias em que nem poderia imaginar tê-lo em meus braços como na noite passada. Ao sentir o cheiro dele eu repassei em minha mente tudo o que tínhamos feito algumas horas antes, e quase pude sentir o gosto do pau dele fodendo a minha boca e seu esperma escorrendo de mim.

Enquanto tomava meu banho, não conseguia parar de pensar em como seriam as coisas dali em diante e em como eu estava radiante por poder viver aquilo com meu irmão. Me peguei querendo contar sobre aquilo para alguém e imediatamente me vi pensando no William e em como sempre contamos tudo um para o outro, ou quase tudo. Havia umas três semanas que não nos falávamos, desde que ficamos juntos e ele confessou que era apaixonado por mim. Eu havia dito que não tinha certeza do que sentia por ele e isso ainda era uma verdade, mas uma coisa era certa: nenhum sentimento meu no momento era mais forte que a vontade de estar nos braços de Daniel. Porém, quando chegou a noite as coisas não saíram tão bem como o esperado.

Quando meu irmão entrou em casa, ele estava acompanhado de Alice, sua namorada, que sorriu e abraçou um Eduardo completamente atordoado. Jantamos os três juntos, embora eu não tenha gostado nada da ideia, e me retirei da mesa assim que terminei meu prato, o que era também uma forma de deixar os dois sozinhos para que pudessem conversar. Cerca de uma hora depois, meu irmão entrou em nosso quarto onde eu ouvia o álbum mais recente de Supercombo, e sentou-se ao meu lado na cama.

- Você falou com ela? - perguntei, depois de tirar os fones de ouvido.

- Sobre?

- Sobre vocês, sua relação...

Me aproximei dele, colocando as mãos em sua perna, e ele recuou.

- Não falei. Me sinto péssimo por ontem, não só por ter traído ela, mas por tudo envolvido - ele realmente parecia bem abatido. - Não era pra nada daquilo ter acontecido.

- Eu sei que você deve estar se sentindo mal pela traição...

- Está longe de ser só isso - ele olhou em meus olhos, desamparado. - Não tenho nem palavras para explicar o quão errado foi o que fizemos, mas acho melhor que não toquemos mais nesse assunto.

- Está dizendo que quer esquecer tudo que fizemos e dissemos um para o outro? - perguntei, incrédulo.

- Sim - ele desviou o olhar.

- Dan, você me quer tanto quanto eu te quero. Por que a gente não pode só viver isso?

- Já tivemos essa conversa, Eduardo. O que aconteceu entre a gente não muda meu pensamento. É errado, eu não posso fazer isso contigo - então ele se levantou e começou a juntar algumas coisas. - Acho que somos maduros o suficiente para levar essa situação, mas estou me mudando para o outro quarto de agora em diante. Eu já devia ter feito isso há muito tempo.

Então ele saiu e me deixou sozinho no quarto. Eu estava arrasado e com raiva de Daniel por achá-lo tão covarde e não ver que nada daquilo fazia sentido, mas segurei para não começar a chorar porque eu já havia cansado daquilo.

Depois daquela noite, inicialmente, minha relação com meu irmão se tornou completamente fria, sendo que nos primeiros dias mal nos falávamos além de um cumprimento ou outro. Porém, depois as coisas melhoraram um pouco, passamos a conversar mais e fazer coisas juntos, mas não era como antes. Dan começou a trazer a namorada com frequência para dormir com ele nos fins de semana e isso me machucava muito mais do que eu demonstrava.

Num sábado à noite, porém, seu amigo Roberto era quem o esperava em casa para que eles fossem numa festa juntos.

- Que demora, hein! Para que se arrumar tanto se você não vai poder pegar ninguém mesmo? - Roberto se levantou do sofá quando meu irmão apareceu, pronto. - Se você não fosse tão certinho...

- Por mim eu nem iria nessa festa. Sabe que só estou indo para a Pri não ficar chateada comigo - meu irmão vestia uma camisa social branca que marcava seus músculos, com uma gravata slim preta por cima. Ele estava ainda mais lindo que o habitual.

- Pois eu não poderia estar mais animado. Ouvi que todas as amigas da Priscila vão e meu Deus, é uma mais gostosa que a outra. Tem certeza que vai perder isso, Eduardo? - ele olhou para mim, que estava sentado numa poltrona lendo "As crônicas de gelo e fogo".

- Valeu, mas eu dispenso - respondi, não fazendo muita questão de esconder que não estava nem um pouco a fim de conversar com ele.

- Tem certeza? Você não sabe o que está perdendo hein... - então ele deu um sorrisinho debochado para mim. - A não ser que você goste de outra fruta igual aquele seu amiguinho, o William.

Fui pego de surpresa com aquela sugestão, desviando os olhos do livro pela primeira vez. Will nunca havia assumido sua homossexualidade, assim como as pessoas não sabiam que eu curtia caras também.

- Não vai falar nada? - ele perguntou, quando voltei minha atenção ao livro sem ligar para as merdas que ele falava. - Você sabia que seu amiguinho era viado?

- Will não é gay, se quer saber, mas eu não teria nenhum problema com isso se fosse.

Eu não sabia o motivo de Roberto estar falando aquilo, mas sabia que Will nunca esteve pronto para se revelar, por isso achei que ele iria preferir que eu assumisse aquela postura.

- A questão é que não estou perguntando se ele é - Roberto riu. - Tenho total certeza disso. Vi ele com um carinha num bar de um bairro meio afastado daqui. Provavelmente ele achou que não teria ninguém conhecido por lá, mas eu vi e posso dizer que eles estavam bem íntimos.

- Você deve ter se confundido - tentei contornar.

- Não, eu tenho certeza do que vi. Mas está tentando defender o seu amigo por quê? Tá com medo que as pessoas saibam que você é amigo de um viadinho? - ele debochou.

- Já disse que não tenho nenhum problema com a sexualidade do William - eu já estava ficando sem paciência com aquele babaca. - E essa conversa já deu para mim, boa festa para vocês - falei, levantando de minha poltrona.

- Não deu não - ele se colocou na minha frente quando fiz menção de sair da sala. - A verdade é que já era de se imaginar que ele pudesse dar aquela bunda, afinal do contrário seria um desperdício um rabão daqueles, não é?

- Roberto, chega - meu irmão interveio. - Você bebeu antes de vir para cá, foi? Que papo desnecessário.

- Segura aí. Eu só quero saber do Eduzinho aqui se ele também já comeu aquela raba.

- Cala a boca! Que otário! - exclamei.

- Ah, vai dizer que não tem vontade, é? - Então sua expressão mudou. - Ou talvez você goste de dar essa bundinha também.

- Eu mandei você parar, Roberto. Você já está passando dos limites - Dan alertou, dessa vez de forma mais firme.

- Calma, estou só brincando com o seu irmãozinho. Esse aí não tem cara, não. Mas aquele William? Ah, esse sim deve ser uma putinha entre quatro paredes. Aposto meu carro que ele já deve ter dado para metade dessa bairro, pela forma que ele estava se agarrando com o carinha no bar.

Sem paciência para ouvir mais uma palavra do que ele dizia, dei um encontrão nele para tirá-lo do meu caminho e comecei a me dirigir até a porta, antes de ele abrir a boca novamente.

- Ei, espera aí, só tenho um último recado - Roberto falou para mim. - Fala para o seu amigo que ele pode esperar que aquele rabinho dele ainda vai ser meu, ele querendo ou não. Não posso ser o único cara do bairro que ainda não experimentou essa delícia.

E essa foi a gota d'água. Antes que pudesse parar pra pensar, virei-me novamente e com poucas passadas já estava na frente dele, cessando sua gargalhada com um soco em sua cara, que o fez cair no chão. Assustado, ele se levantou, me olhando como se eu fosse um maluco, mas rapidamente se recompôs, me acertando um soco acima dos olhos que me deixou tonto por um instante. Quando ele tentou me acertar de novo, desviei e bati em seu rosto outra vez, mas só pegou "de raspão". Ele, então, me acertou um soco no estômago tão forte que me levou para o chão, então fiquei ajoelhado sem ar e com sangue escorrendo pelo meu rosto.

Depois disso as coisas ficaram tão feias que cheguei acreditar que estava prestes a testemunhar um assassinato. Meu irmão avançou sobre Roberto quando ele se aproximava de mim e desferiu um soco em seu rosto. Ele tentou revidar, mas Daniel desviou sua mão antes que ele pudesse tocá-lo e então acertou 3 socos em sequência em seu rosto, fazendo-o cair. Ele esforçou-se para se levantar, com o nariz sangrando e num formato que não parecia natural, e foi para cima do meu irmão de novo, que o empurrou de costas na parede e começou a estrangulá-lo, com as mãos em seu pescoço.

Corri até eles e tentei puxar Daniel, que não se moveu um centímetro, enquanto Roberto começava a perder o ar.

- Você nunca mais vai encostar um dedo no meu irmão de novo, está ouvindo? - ele cuspiu as palavras com uma fúria que eu nunca havia visto nele. Roberto não respondeu, e nem conseguiria se tentasse, com todas as suas forças sendo mobilizadas na tentativa de se manter respirando. - Está me ouvindo? - ele repetiu.

Roberto balançou a cabeça positivamente, o semblante mostrando que ele estava a ponto de desmaiar. Daniel, então, finalmente largou seu pescoço, olhou bem no fundo daqueles olhos desfocados e avisou:

- Não me interessa se você se acha um amigo, um colega ou um conhecido meu, se tocar no Dudu outra vez eu juro pela minha vida que eu acabo com você.

E assim Roberto saiu quase correndo pela porta de casa, ao passo que Daniel se virou e me olhou, mudando sua expressão instantaneamente, de fúria para preocupação.

- Desgraçado - ele exclamou, para o cara que já não estava lá, e se dirigiu a mim como se quisesse me pegar no colo.

- O que está fazendo? - perguntei.

- Vou te levar até o banheiro. Precisamos cuidar do seu rosto.

- Cara, eu posso andar. É só um ferimento de nada, relaxa.

- Vamos ver se é mesmo - ele falou, já me escoltando até o banheiro. Lá, Daniel me sentou no vaso, correu até a pia e voltou com um pano molhado nas mãos, limpando o sangue de minha cara. Depois, ele tomou meu rosto em mãos cuidadosas, mas firmes, e avaliou meu estado rapidamente antes do sangue começar a jorrar de novo.

- Foi um corte no supercílio, mas é superficial. Não acho que precise de ponto, mas se preferir ir até o hospital... - ele falava de forma calma, embora ainda me encarasse com evidente preocupação.

- Não, estou ótimo - eu o tranquilizei. É só um arranhão.

- Ok, mas então segure esse pano no lugar que irei pegar uma gaze para estancar melhor o sangramento.

E então ele lavou o ferimento, monitorou por um tempo para ver se o sangue não começaria a jorrar de novo e fez um curativo depois de assegurar que estava tudo bem. Quando terminou, fomos para a sala e nos largamos no sofá, ficando em silêncio por um tempo.

- Parece que eu estraguei a sua festa - sorri para ele.

- Acho que eu poderia dizer que você me salvou. Eu não tinha a mínima vontade de ir, muito menos com o Roberto.

- Falando nisso, você tem uns amigos bem babacas.

- Ele não é meu amigo - ele se defendeu. - É só um colega de trabalho.

- Que seja! Acho que vai ser complicado o clima entre vocês na empresa a partir de agora.

- Eu me viro - ele riu para mim, um sorriso que logo morreu em seu rosto quando ele lembrou de algo. - Mas falando em amizades, quer dizer que o Will é gay, bi ou sei lá o quê?

Eu sabia que Will não queria se assumir ainda, mas meu irmão sempre foi um cara extremamente cabeça aberta e, aliás, ele seria bastante hipócrita se o julgasse.

- Will é gay, sim, mas não quer que ninguém saiba ainda. Pelo menos não queria quando ainda nos falávamos - deixei escapar o último comentário sem querer, mais para mim do que para ele.

- Notei que vocês estão afastados, mas você nunca me disse o motivo.

- É coisa nossa.

- Você sempre soube da orientação dele?

- Desde muito tempo - me limitei a dizer.

- E ele da sua... - Dan estava claramente desconfortável com algo, como se quisesse levar a conversa para algum lugar, mas não soubesse como chegar lá.

- E qual é a minha orientação, Dan? - perguntei, com um sorriso torto nos lábios.

- Me diga você - ele me devolveu.

- Sou bi, se quiser rotular, mas você já sabe. E você?

- O quê?

- Sua orientação, oras.

Ele ficou calado por um bom tempo.

- E então? - insisti.

- É... bom... eu... você sabe...

- Sei?

- Eu nunca havia tido vontade de me envolver com nenhum homem até... na verdade ainda não sinto atração por nenhum outro cara.

- Nenhum outro cara além de mim? - acabei deixando escapar, fazendo-o se revirar na cadeira como se um formigueiro tivesse surgido abaixo dele, de repente.

- Eu... eu prefiro não falar sobre isso... mas... é, acho que você entendeu.

Longo silêncio...

- Dudu, posso te perguntar uma coisa?

- Desde quando você precisa de permissão para me perguntar algo? Sabe que nunca existiu essas coisas entre a gente.

Silêncio outra vez. Não era só desconforto, ele parecia com... medo.

- Dan, diga logo o que você quer saber - eu já tinha uma ideia de onde ele queria chegar, de qualquer forma.

- Você já ficou com outro homem? - ele perguntou?

- Com outro homem ou com o Will?

- Ambos.

Ele olhava diretamente em meus olhos, tão imóvel que parecia prender a respiração. De repente, me lembrei de todas as noites em que Daniel foi pro seu quarto com a namorada, e me peguei imaginando-o dentro de outro cara que não fosse eu... a sensação foi tão ruim que comecei a ter muito medo de magoá-lo.

- Dan, nós não precisamos falar sobre isso.

- Eu preciso - ele continuava olhando em meus olhos.

Mais silêncio.

- Eu já fiquei com um cara num bar uma vez, mas não transamos.

- Só?

- Não. Eu... eu já fiquei com o Will uma vez também.

- Mas vocês também não foram para a cama então...

Nesse momento eu não consegui mais sustentar seu olhar e passei a encarar o tapete, e veio outro silêncio, mais longo que todos os outros, e acho que isso serviu de resposta para ele. Daniel fechou os olhos, como que para segurar alguma lágrima, seus lábios começaram a tremer e ele apertou as mãos com tanta força que suas veias formaram altos relevos na pele de seus braços.

- Foi só uma vez. Foi antes daquela noite entre a gente...

- Então ele foi seu primeiro? - sua voz estava embargada.

- Dan, eu juro que nunca fui tão feliz como na noite em que nós... - eu tentava consertar as coisas.

- Ele te penetrou? - ele mal ouvia, seu semblante demonstrava tanta tristeza que era difícil encará-lo.

- Não. Não! Ninguém nunca... só você... ninguém esteve em mim além de você, Dan, você foi o primeiro...

- ELE foi o primeiro - ele falou, quase como um sussurro, mas eu podia sentir que ele estava gritando por dentro. Então meu irmão se levantou e se virou para sair, mas eu segurei-o pelo braço.

- Dan, por favor.

- Você o ama?

- Isso não é uma questão! Você está namorando! Você não pode me cobrar nada - falei, exasperado. Aquela reação não fazia o menor sentido.

- Não estou te cobrando nada, Eduardo, e nem teria motivo para isso. Eu só preciso saber - ele falou, com calma. - O ama ou não?

- Nunca mais que você.

Nossos olhos se entrecruzaram novamente e então eu pude ver uma lágrima escorrendo pelo seu rosto.

- Ambos sabemos que ele seria melhor para você mesmo - ele exclamou, antes de deixar a sala e se trancar em seu quarto.

Subi para o meu quarto também, tirei as roupas que usava e me deitei de cueca dentro dos cobertores. Pensei em Daniel, na reação que ele demonstrou com nossa conversa e me perguntei se eu deveria ter mentido para ele, mas logo concluí que eu não poderia fazer isso. Pensei na noite em que passamos juntos e como foi diferente de quando transei com William. Pensei na briga com Roberto e lembrei dele contando que viu William com um cara e notei que eu não me sentia muito confortável com essa informação. Pela primeira vez, percebi que por mais que pessoas passassem por minha vida, William sempre seria o primeiro com quem me deitei e vice-versa, e isso nunca iria mudar.

No dia seguinte, acordei cedo pela manhã, mas chovia fino e fazia frio, o que já não acontecia há alguns dias, por isso me recusei a levantar e continuei na cama, assistindo TV. Fazei mais de duas horas que eu havia acordado quando ouvi algumas batidas na porta do quarto. O estranho, porém, é que não foram batidas comuns, e sim sons muito familiares que lembravam uma brincadeira de criança há muito deixada para trás.

- Will? - perguntei, ansioso.

- Sou eu - meu melhor amigo respondeu. Pude notar em sua voz a satisfação por eu não ter me esquecido da nossa batida secreta. - Posso entrar?

- É claro - respondi, me endireitando na cama.

Ele passou pela porta e então andou até mim, parando em frente a cama. Seus cabelos loiros estava um pouco molhados pela fraca chuva que caía lá fora, mas sua calça de moletom e sua camisa vermelha de manga comprida estavam intactas. William gostava de sentir a chuva no rosto, por isso tinha costume de sair de capa, com o capuz abaixado e a cabeça descoberta, quando a chuva estava fina o bastante para isso. Naquele dia, porém, talvez não fosse uma boa ideia, visto que seus lábios tremiam um pouco por causa do frio.

- Fiquei sabendo que você se meteu numa briga e se machucou. Como está passando?

Ele estava retraído, mantinha os braços cruzados na frente do corpo e mal olhou para mim quando falou. Obviamente, depois de tanto tempo sem nos falarmos, ele estava desconfortável.

- Foi só um ferimento superficial. Não tem motivo nenhum para se preocupar - tranquilizei-o. - Mas espera um pouco, não tinha como você saber disso.

- Encontrei seu irmão aí na rua de casa que me contou sobre. Ele disse que você estava me defendendo... não consegui entender. Mas quando quis saber mais sobre isso ele disse que estava saindo, colocou a chave daqui em minhas mãos e falou que você estava em casa.

- Ele não deveria de ter lhe dito nada disso - e eu não entendi porque ele o fez.

- Claro que deveria. Se você brigou por minha causa, eu preciso saber.

- Olha, sobre isso, tem algo que você precisa saber mesmo - falei, me lembrando do que Roberto tinha dito. - Você não quer se cobrir também? - ele ainda estava tremendo. - Posso pegar outro cobertor para você se preferir.

- Não, não precisa. A menos que você esteja nu - ele riu por um momento, antes de voltar a ficar sério. - Mas acho que preciso secar meu cabelo primeiro.

- Tem uma toalha na porta do meio do meu guarda-roupa.

Ele se secou, calado, e então veio se sentar na minha cama, que era de casal. Me afastei um pouco para que ele se sentisse mais confortável, e então quando ele se enfiou sobre os cobertores ficamos os dois em margens opostas da cama.

- Então, o que foi que aconteceu? - ele me perguntou, depois de alguns segundos em silêncio.

Contei a ele sobre o que Roberto disse ter visto ele fazendo e das insinuações que ele ficou fazendo depois. Pude notar um brilho de satisfação em seus olhos quando concluiu que eu soquei o idiota para defendê-lo. Não sei se ele notou que acabei falando num tom de acusação, meio sem querer, quando falei sobre ele estar ficando com alguém em um bar por aí.

- É bem provável que ele tenha me visto, sim - ele falou, pensativo. - Andei saindo... quer dizer, não é nada demais, é só que... como eu vou lhe explicar...

- É só falar, Will.

Ele baixou os olhos e começou a encarar a TV, que eu havia colocado no mudo.

- Uns dois dias depois de termos ido àquela boate, Renato me chamou no whats. Eu tinha passado meu número para ele quando estávamos conversando e você não, e acho que ele queria te encontrar de novo. Me desculpe, mas juro que não foi nada pensado. Eu disse que não poderia passar seu número porque não sabia se você iria querer isso... não vou negar que isso não me agradava também, inclusive fiquei com raiva e o respondi de forma bem mal-educada, inicialmente. Ele pediu que eu perguntasse a você, então, e eu disse que aquilo não seria possível. Depois ele começou a fazer perguntas, acho que notou que tinha acontecido alguma coisa entre a gente, e acabei contando tudo a ele e conversamos por um longo tempo. Uma semana após essa conversa ele me chamou outra vez, e achei que seria para perguntar sobre você de novo, mas ele só queria saber como eu estava. Enfim, a gente saiu umas quatro vezes desde então, não é nada sério. Me desculpe se verdade se rolou algum interesse de sua parte.

- Não, não rolou - respondi rapidamente. - Na verdade fico feliz que esteve bem todo esse tempo... saindo e conhecendo pessoas - falei, outra vez de forma meio acusadora, sem necessidade.

- Não foram pessoas, no plural. E eu não estava tão feliz assim. Estava afastado do meu melhor amigo - ele sorriu, tímido, como se estivesse tentando se desculpar por algo que ele nem precisava.

- Eu senti sua falta também - falei, tão baixo que eu mesmo mal ouvi - Mas e então? Sobre o Roberto... - tentei mudar de assunto - Você acha que ele pode contar para alguém?

- Não sei.

- Acho que a briga pode fazer ele querer se vingar de alguma forma. Posso estar enganado, mas acredito que o Dan tenha quebrado o nariz dele. Me desculpe se acabamos fazendo alguma merda. Eu posso sustentar a história que você quiser... você nunca deu pinta, talvez ninguém nem acredite nele.

- Não quero pensar nisso agora, na verdade, mas obrigado - ele parecia bem menos preocupado do que eu pensei que estaria. Ele se aproximou um pouco de forma tímida e tocou meu rosto, ao redor do curativo acima dos olhos.

- E como está isso? - perguntou.

- Tudo bem, foi só um cortezinho superficial mesmo. É até engraçado vocês se preocupando com isso.

- O Daniel não falou como se fosse algo tão simples, ou engraçado.

- Você conhece meu irmão, Will.

- Ok, mas você já trocou o curativo?

- Ainda não.

- Posso te ajudar com isso?

- Não precisa.

- Eu insisto - ele falou, já levantando da cama.

Me levantei também, porque sabia que ele não se daria por vencido, e vi ele desviar o rosto após ver que eu estava só de cueca, mas só depois de passar os olhos pelo meu corpo. Ele trocou meu curativo e depois fomos preparar algo para comer. Voltamos pro quarto e ele assistiu vários episódios de The Big Bang Theory comigo, sua série favorita.

Passamos quase todo o dia vendo TV, conversando ou jogando video-game, e ao fim da tarde já ríamos descontroladamente de qualquer bobagem que o outro tivesse dito. Will começou a fazer perguntas sobre mim e o que havia se passado comigo durante as semanas que ficamos sem nos falar e após muito refletir eu acabei contando a ele sobre minha relação com meu irmão.

- Pode dizer o que está pensando, não tenho medo de julgamentos - menti, após um longo minuto de silêncio dele. A verdade é que sua opinião me importava muito.

- Eu não vou te julgar - seu semblante era uma mistura de espanto, incômodo e compreensão. - Quer dizer, não vou negar que isso soa estranho, digo, socialmente falando, mas sempre foi claro que havia um vínculo muito forte entre vocês dois, algo que ia além do carinho entre dois irmãos, além de que eu já tinha visto o desenho que você fez dele sem roupas. O que me espanta mais é seu irmão ter cedido a isso dessa forma.

- É, mas não mais - aquela conversa estava me fazendo ficar chateado de novo. - Ele está namorando e quer esquecer tudo isso. No fundo também acho que é o mais certo a se fazer, mas não sei se quero fazer o certo.

- Entendo - ele se limitou a dizer, e então ficou por um longo tempo apenas olhando para as paredes, com o olhar perdido.

- Desculpe se esse assunto te afeta, não deveria estar falando disso com você - falei, me sentido um idiota.

- Não, não se desculpe. Acima de qualquer coisa você é meu melhor amigo e isso não vai mudar nunca. Você pode e deve falar comigo sobre qualquer coisa.

- Mas é que...

- Edu - ele me interrompeu, me olhando nos olhos quando falou. - Eu sou apaixonado por você e isso não mudou e não deve mudar tão cedo. Não sei exatamente o que sente por mim, mas se algum dia você quiser algo a mais comigo eu serei um dos caras mais felizes desse mundo.

- Will, eu...

- Deixe eu terminar - ele pegou minhas mãos. - Eu pensei muito em você nesses dias que ficamos sem nos ver e percebi que sua amizade é uma das coisas mais preciosas que eu tenho na vida, e não vou deixar nada estragar isso. Se em algum momento você resolver que está pronto para ter algo comigo, mesmo que seja sem qualquer compromisso, é muito provável que eu esteja pronto para você. Mas se isso nunca acontecer eu ainda estarei aqui, fazendo o possível para ser o melhor amigo que eu puder.

- Você é tão incrível - exclamei. Seu rosto estava tão perto do meu... suas mãos tão quentes nas minhas. - Eu não mereço você.

- Não diga bobagens - ele bufou. - Você merece tudo de melhor que esse mundo de merda tem para lhe oferecer.

Então ele se endireitou na cama, sentando-se e batendo as mãos em suas coxas, como um convite. Me deitei e aninhei minha cabeça em seu colo, fechando os olhos enquanto ele acariciava meus cabelos. Deitado na cama, apoiado no peito caloroso de meu irmão ou no colo aconchegante de William, sentindo as mãos firmes de um e delicadas do outro me fazendo carinhos, eram às vezes em que eu mais me sentia seguro e querido, meus lugares preferidos no mundo.

- Te amo - sussurrei.

- Também - ele respondeu.

Ficamos no quarto conversando e relembrando tempos passados, quando tudo o que nos importava eram campeonatos de beyblade e completar nossos álbuns de figurinhas. No meio da noite, finalmente acordamos de nossos devaneios quando Daniel bateu algumas vezes na porta do meu quarto. Quando viu que Wiliam estava comigo, uma série de emoções passearam por seu rosto em questões de segundo sem que eu pudesse decifrá-las.

- Opa, não sabia que estava aqui, William. Mas que bom que te encontrei. Dudu, você falou com ele sobre... você sabe...

- Se for sobre a briga de ontem com aquele carinha, já sei sobre tudo, sim - William respondeu.

- Anh... Então... acho que vai gostar de saber que o Roberto não vai te incomodar e prometeu não falar nada com ninguém sobre o que ele disse que viu no bar também.

- Eita, por essa eu não esperava. Acho seguro concluir que tem uma mão sua nisso, não é?

- Bom, talvez eu tenha dito que se alguém ficasse sabendo sobre isso ele iria se entender comigo... e talvez eu soubesse algo meio constrangedor sobre ele. Enfim, duvido muito que ele vá tocar nesse assunto com alguém.

- Entendi - William se levantou e apertou as mãos de Daniel. - Foi mal te dar esse trabalho. E muito obrigado, de coração.

- Não foi nada - então ele se virou para mim. - Dudu, quando tiver um tempo, pode vir até mim, por favor?

- Não não - foi William quem respondeu. - Pode ficar, eu já estou de saída.

Então ele se despediu de mim e Daniel se sentou ao pés da cama, calado. Depois de um tempo que eu o encarava, ele quebrou o silêncio.

- Pedi a Alice em noivado hoje.

- O quê?

- Não tinha tempo de comprar um anel ou algo do tipo, até porque não tinha a menor ideia se ela aceitaria ou não.

- Espera... você está de brincadeira comigo, não é? - só podia ser isso.

- Não, é muito sério. E ela aceitou.

Eu ainda não conseguia acreditar no que estava ouvindo. Meu irmão sempre foi um cara sensato e responsável; não fazia sentido tomar uma decisão dessas tão de repente e com tão pouco tempo de namoro.

- Mas fazem pouco mais de 2 meses que vocês estão juntos. Como assim você vai se casar? - eu estava perplexo.

- Dudu, você sabe que já namoramos por muito tempo antes de termos terminado.

- Sim, mas vocês terminaram. E imagino que teve um motivo, não?

- Sim, mas também teve um motivo para voltarmos. Sempre nutridos um carinho muito grande pelo outro, e nos damos muito bem juntos.

- Carinho não é amor.

- Amor se constrói - ele rebateu.

- Isso teve algo a ver com nossa conversa de ontem?

- Isso não importa.

- Tem ou não? - insisti.

- De certa forma - ele respondeu. - Saber que você e o William já... enfim, você sabe... me... me dilacerou por dentro, e isso não está certo. Eu não deveria me sentir assim, ou melhor, eu não posso me sentir assim. A gente precisa seguir em frente. Isso vai ser melhor para nós dois.

- Foi por isso que mandou o William vir aqui?

- Não mandei, só contei o que aconteceu. Se ele achou que deveria...

- Daniel, as coisas não são tão simples como você pensa.

- É sério que acha que é simples para mim? - ele riu. - Se estou tentando seguir em frente é porque não aguento mais esse sentimento me consumindo o tempo todo e não poder fazer nada. É tão difícil para mim como é para você... e não fique com raiva - ele completou.

- Não estou com raiva, Daniel.

- Ok. Eduardo - ele disse meu nome em vez do apelido para mostrar do que estava falando.

- Foi mal, Dan - tentei me desarmar. - Sei que não é fácil para você também, só fico com medo de estar tentando resolver isso da forma errada. Inclusive não é só você envolvido nisso, tem a Alice e... enfim, esquece. Nada do que eu disser será uma novidade para você. Acho que só me resta parabenizá-lo.

Estendi as mãos para cumprimentá-lo, mas ele me puxou para um abraço, que eu retribuí. Apesar de tudo, ficar com raiva de meu irmão só dificultaria tudo, e eu nem tinha motivos racionais para isso.

Eu não podia dizer que Daniel tinha feito uma má escolha: Alice era sensata, bem-humorada, generosa, e não tinha programa para o qual ela não se animasse. Os dois até formavam um belo casal, o que eu odiava admitir. Depois daquele dia eles passaram a ficar cada vez mais tempo juntos, e não foi nenhuma surpresa quando cerca de 3 meses depois de ficarem noivos anunciaram que tinham marcado o casamento para novembro daquele mesmo ano. O casal me contou a novidade junto; Daniel me disse que fora um pedido de Alice, que estava muito animada. A melhor notícia, segundo eles, era que eu seria o padrinho. Não reagi nada bem aquilo, preciso confessar, mas segurei a faixada até que ficamos apenas eu e meu irmão em casa.

- Você está de brincadeira comigo? Padrinho, Daniel? PADRINHO? - lembro de ter gritado.

- Dudu, pense bem, nem faria sentido se você não fosse. Tu é de longe a pessoa mais importante para mim, meu melhor amigo. Inclusive foi a Alice que falou em você primeiro, porque ela sabia que era óbvio - ele tentava me acalmar.

Mas nada me acalmaria naquele dia. Acabei indo dormir na casa do William, que me recebeu de braços abertos como sempre. Contei o que havia acontecido e ele entendeu tudo de imediato. Enquanto ele fazia carinhos em mim, acabei beijando-o nos lábios - ele já havia parado de sair com o Renato, diga-se de passagem -, mas ele recuou e disse que não era daquele forma que ele queria ficar comigo, como um objeto para descontar minha raiva ou frustração, então acabei apenas dormindo abraçado a ele.

Passei todo aquele ano juntando boa parte do dinheiro que conseguia vendendo os desenhos que vinha fazendo em massa para estúdios de tatuagem e outros empregadores ocasionais, e estudando em casa ou no cursinho no tempo livre, uma vez que não tinha entrado na universidade no início daquele ano. Durante todos aqueles meses, nunca fiquei com ninguém.

Depois que meu irmão me contou sobre ter marcado o casamento, resolvi tentar aceitar que não havia o que fazer e talvez aquilo fosse o melhor para ambos mesmo, e me esforcei ao máximo para apoiá-lo e me aproximar mais de sua noiva também. Nossa relação melhorou muito desde então, enquanto a data do evento se aproximava cada vez mais.


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Comentários

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Valtersó: Pois é, é uma situação complicada e acaba que ninguém é de todo bem ou mal.

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NOSSA TODOS MUITO BABACAS. DANIEL É UM PUTA DE UM EGOÍSTA. E EDUARDO UM BABACA POR ACEITAR TUDO ASSIM SEM SE REBELAR. VÃO SE DANAR OS DOIS. NEM O WILLIAM É MESMO UM SANTO.

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