A Vida que Não Escolhi - NOVA SÉRIE

Um conto erótico de Escrevo Amor
Categoria: Gay
Contém 7878 palavras
Data: 24/01/2019 20:59:01
Última revisão: 11/10/2020 16:16:16

Oi, gente. Como prometi ontem, trouxe a minha mais nova história. Avisei também que esse é um romance, ou seja, quem gosta de relatos mais picantes, esse não vai te agradar, mas espero que você leia e curta. Vamos parar de enrolação?

"Essa é uma história de amizade, conhecimento pessoal e amor".

Desde que o mundo é mundo, as pessoas gostam de se trancar em seu próprio universo, sem se importar com quem vive ao seu redor. A escola é um lugar onde podemos observar tal questão. Existem os alunos populares, nerds, atletas e aqueles que não se encaixam em lugar nenhum. A história que vou contar, por exemplo, é o encontro de mundos que nunca se encontrariam, mas o destino possui suas regras, então...

Marginal Tietê, São Paulo. Dois jovens se envolvem em um grave acidente de carro. Samuel fica preso nas ferragens do veículo, que capotou e caiu no leito do rio. Para deixar a situação mais tensa, uma forte chuva castigava a capital paulistana. Aos poucos, o automóvel começou a afundar no rio. Esse seria o fim da história?

— Eu não aguento mais, Jonathan! — gritou Samuel, desesperado.

— Não vamos desistir. – aconselhou Jonathan, tentando arrombar a porta para livrá-lo.

— Você está muito machucado, não vai conseguir. Foge! Foge!! — gritou Samuel chorando e quase submerso na água.

— Ei, Samuel! – falou Jonathan ofegante e sentando no chão, próximo a Samuel, sem se importar com água suja. — Você lembra como a gente se conheceu?

Complicado, né? Só que vamos parar um pouco. Eu não quero ser estraga prazeres, mas antes de explicar o contexto do acidente. A gente vai para uma época onde Samuel e Jonathan não se conheciam.

ALGUNS MESES ANTES

O verão na cidade de São Paulo é o inimigo de muitos paulistanos, principalmente, aqueles que possuem uns quilinhos a mais, como o caso de Samuel Costa, de 16 anos. Amante de K-POP, ele gosta de dançar, mas não se sai muito bem nesse quesito. O jovem é um participante assíduo dos eventos de Cosplay, inclusive, já ganhou prêmios de melhor caracterização.

Apesar de ter poucos amigos, Samuel, é fiel a eles, ainda mais, quando se trata de Lana Paiva, uma adolescente de personalidade forte e que não leva desaforo para casa. Além de compartilharem muitas histórias, os dois eram fãs de Doramas (novelas coreanas), todo o fim de semana realizavam maratonas.

O primeiro dorama que Samuel assistiu se chamava "Autumm In My Heart", e contava a história de Eun Soo que descobriu não ser filha de seus pais. Para deixar tudo mais tenso, ela ainda se apaixona pelo seu meio-irmão Yoon Joon Seo.

A partir desse momento, Samuel, quis saber mais sobre a cultura coreana, então, descobriu o KPOP e também os eventos de Cosplay.

— Será que um dia vou encontrar um amor assim? Um amor que nasce de uma situação inusitada? — questiona Samuel.

— Para vocês gays, o "amor" nasce na primeira ficada. — brincou Lana, antes de ser atingida por um travesseiro.

— Minha pontaria nunca falha. — se gabou Samuel.

A paixão pela cultura coreana foi tão avassaladora que Samuel se inscreveu em um curso de coreano, e pasmem, ele consegue falar perfeitamente. Um dos seus maiores sonhos é viajar para a Coreia do Sul e conhecer de perto tudo aquilo que assiste pelo computador.

E se você acha que a sua família é bagunceira, é porque ainda não conheceu a do Samuel. Atualmente, ele mora com a mãe, Isabella, e a tia, Antonella, que juntas montaram o serviço de buffet "La Famille". Apesar do trabalho e das desavenças, eles são unidos. Passaram por muitas situações ruins, mas sempre saíram delas de cabeça erguida.

O pai é uma incógnita na vida do jovem, ele não lembra nem a última vez que viu João, que vive viajando pelo país fazendo várias coisas erradas, como ajudar traficantes e participar de contrabando. No fundo, Samuel, não sente a falta dele, pois, o amor de sua mãe é suficiente para preencher qualquer buraco em seu coração.

— Boa tarde, meu amor. — disse Isabella, entrando com vários pacotes.

— Boa tarde, Bella. O que é isso? — perguntou Samuel, levantando para ajudar a mãe.

— Uns produtos que vamos usar para o bolo de carnaval de uma empresa.

— Família, cheguei! — gritou Antonella, quase derrubando a porta.

— Como se precisasse de uma entrada triunfal. — comentou Isabella. — Onde você estava? Eu precisei carregar todos os pacotes.

— Irmã, nem te conto, sabe a vizinha do 490? Ela veio me acusar de dar em cima do marido dela, logo eu, um anjo em forma de gente.

É muito fácil reconhecer a tia de Samuel. Antonella é uma mulher de 35 anos que adora usar roupas justas. Sua palavra de ordem é 'curtir a vida'. Participa de festas quase todos os fins de semana e troca de namorado frequentemente. Seus cabelos são curtos e coloridos, apesar da idade, Antonella é jovial e radiante.

Enquanto isso, Isabella é oposto. Teve Samuel ainda na adolescência e se envolveu com vários homens canalhas. Os gêmeos foram um acidente, porém, ela nunca os tratou dessa maneira. Ao invés de reclamar ou se lamentar, Isabella, estudou gastronomia e resolveu abrir um serviço de buffet.

O clima no apartamento dos Costa é sempre leve. Todo mundo sabia que Antonella era uma devoradora de homens. Suas histórias são tão engraçadas que dariam um capítulo a parte. Nos últimos 10 anos em que moravam no prédio, a irmã de Isabella já havia ficado com todos os homens disponíveis. Enquanto, a tia discursava sobre não ter envolvimento com o vizinho, Samuel e Isabella, se olharam e não conseguiram evitar o riso.

Infelizmente, não é todo jovem que pode viver de forma plena. Por causa do emprego da mãe, Samuel virou babá dos irmãos, Silvio e Suellen. Cozinhar

Naquela semana, a última de férias, Samuel, se preparava para participar do primeiro evento de Anime do ano. Ele trabalha em uma fantasia de Transformers, só que havia um problema, os 10 quilos a mais conquistado durante as férias jovem.

— Acho que alguém deveria fazer uma dietinha. — comentou Lana.

— Aff, eu devo ter engordado dois quilinhos de nada — soltou Samuel revoltado.

— Hum rum. Enfim, amigo. Agora precisamos de outra fantasia. — olhando no celular e fazendo uma expressão de surpresa. – Você não vai acreditar.

— O quê? — questionou Samuel.

— O gatinho do Jonathan Godoy vai tocar no Anime Plus. O nome da banda é Black River. — Explicou Lana.

— Quem é esse? — Samuel perguntou.

— Para! Somente o maior gatinho da nossa escola. Dizem que ele repetiu de ano e vai estudar com a gente. — ela disse, antes de suspirar com uma expressão apaixonada no rosto.

— Hello, estou com um problema real aqui. Preciso de uma fantasia. O El Diablo vai participar do concurso também. Não posso ir de qualquer jeito. — protestou Samuel.

— Aff, quando você vai superar esse cara? Ele só te fez sofrer. — ela soltou sabendo que eu ainda sentia algo pelo meu ex-namorado, Fernando, que eu apelidei de El Diablo.

— Por isso mesmo, vou derrotar o Nando, então, preciso do cosplay perfeito. — afirmou Samuel olhando as possibilidades de novas fantasias.

Enquanto isso, Jonathan Godoy praticava com a banda 'Black River'. Ele era um típico adolescente padrão, mas que escondia mais camadas de que qualquer um em seu grupo de amigos. Em casa, o jovem guardava um caderno com várias composições, só que por vergonha, escondia de todos.

Engraçado, né? Para algumas pessoas o status social significa a felicidade, mas para outros, apenas um aviso de quem confiar. A mãe de Jonathan faleceu em um acidente, que foi causado por um dos funcionários de seu pai Gláucio Godoy, um empresário bastante conhecido no ramo de tecnologia.

O tempo passou, Gláucio curou as feriadas e seguiu. No último ano, casou com Walderlene, mais conhecida como Wal. Uma mulher de beleza exuberante e que ao contrário do imaginário popular não era uma megera. Muito pelo contrário, ela praticamente criou Jonathan, já que ficou noiva de Gláucio durante seis anos.

Como falei anteriormente, Jonathan era o vocalista da Black River, que contava com Kleiton e Henrique, o baixista e baterista da banda. Eles sempre estudaram juntos, mas como Jonathan repetiu de ano, acabaram seguindo caminhos diferentes, e mesmo assim, mantiveram algumas apresentações. Afinal, quem não quer ser um rockstar?

Dentre seu grupo de amigos, Jonathan conseguia ser o mais manipulador possível. Ele tinha medo de perder o controle da situação, então, sempre que podia jogava com Henrique e Kleiton. Como no dia em que o baixista e baterista se apaixonaram pela mesma garota.

— Chega! nossa apresentação é no sábado, prestem atenção, por favor. Não quero ninguém brigando, ainda mais na banda, não que você esteja errado Kleiton. — soltou Jonathan pegando no ombro de Kleiton e piscando.

— Eu estou sempre certo. — afirmou o baterista da Black River. – Vou guardar essas tranqueiras, já volto. – saindo da sala de ensaio.

— Ei, Henrique. Cá entre nós, você sabe que está certo, né? Falei aquilo para massagear o ego ferido do Kleiton. — Jonathan soltou um sorriso malicioso e pegou o case do violão.

— Eu entendo. Que seja. — Henrique se espreguiçou e guardou o contrabaixo.

— Voltei.

— Então, meninos. - soltou Jonathan abraçando os dois. - Nada de brigas, viu. Vamos selar a paz com um beijinho? — ele brincou tentando aproximar o rosto dos amigos.

— Sai fora. — protestou Henrique se afastando. - Ei, hoje vamos tomar umas brejas no Buracão. Vamos? – convidou.

— Não posso, a chata da minha "má drasta" vai fazer uma festinha em casa. Prometi a papai que iria. — Salientou o jovem.

— Puxa, beleza. Nos vemos no sábado, então.

Do estúdio para a casa, Jonathan não demorava tanto, mas ele fazia questão de pegar o metrô sempre para o lado oposto. Ele sentava em um dos assentos, ligava o MP3 e viajava nas músicas. Cansado, o jovem acabou adormecendo.

Quem também pegou o metrô foi Samuel, a mãe, havia esquecido a máquina do cartão de crédito e pediu para que o filho lhe entregasse.

De longe, uma mulher observava as pessoas que entravam no trem. Ela era magra e parecia abatida, seus olhos se iluminaram quando percebeu a presença de Samuel. Ele entrou no vagão e sentou na cadeira na frente de Jonathan. Por uns segundos, o gordinho observou a beleza do rapaz.

Nenhum detalhe passou despercebido. A serenidade no rosto de Jonathan chamou a atenção de Samuel. Suas sobrancelhas perfeitas, o maxilar triangular, a touca que deixava alguns fios de cabelo para fora, um belo exemplar de homem. O clima frio de São Paulo fazia as bochechas dele ficarem rosadas.

"Uau. Esse deve fazer sucesso", pensou Samuel, que acabou voltando a atenção para um grupo de mulheres que entrou no vagão. Elas estavam acompanhadas de seus filhos, ou seja, uma verdadeira baderna.

— Olha, mamãe. Aquele homem é imenso. — gritou uma das crianças, apontando para Samuel e rindo.

— Er, menino. Que falta de respeito, não se deve falar com as pessoas assim. — dando uma bronca na criança. — Moço, desculpa. — pediu olhando para Samuel.

Mesmo de fone, Jonathan escutou a sinceridade da criança e acabou rindo da situação. Vermelho de vergonha e raiva, Samuel, pegou a mochila, ficou em pé e desceu na estação seguinte, mesmo ela não sendo sua parada final. Com lágrimas nos olhos, ele seguiu para o banheiro e encontrou um homem bêbado que começou a fazer várias perguntas indiscretas.

— Ei, gordão. Consegue ver o teu pinto? — questionou o velho que estava fedendo a cachaça barata.

— Eu... eu... — Samuel não conseguiu responder e saiu do banheiro.

Realmente, aquela não era a noite de Samuel. Depois de entregar a máquina do cartão para a mãe, ele seguiu para casa e fez a janta de seus irmãos, Suellen e Sílvio. O cardápio? Macarronada de carne moída, uma das especialidades do jovem.

— Samuel! Olha o que eu ganhei. — mostrando uma caneca para o irmão.

— Que linda, Suellen, quem te deu? — questionou o jovem, enquanto servia a comida para seus irmãos.

— A professora. A gente deveria pintar, mas eu preferi deixar ela branca mesmo. — Destacou a menina, sentindo orgulho da decisão.

— Fazer isso é tão você. Eu vou colocar a comida de vocês, comam quietinhos e vão tomar banho.

— Eu não quero. Tomei ontem. — contestou Sílvio.

— Os dois, jantar e banho. Caso contrário, sem leitura hoje. — ameaçou Samuel, sem olhar para os irmãos, já que cortava verduras na cozinha. — Vão, jantar antes que a comida esfrie. Agora!

Com os fones no ouvido, Samuel começou a ouvir um de seus grupos favoritos, o Twice. A música em questão falava sobre os dilemas do primeiro amor, mentalmente, ele fazia as coreografias, algo que na vida real nunca teria coragem.

De repente, a cabeça dele voltou para o metrô, primeiro o garotinho fazendo um comentário desnecessário, em seguida os risos de Jonathan e também as perguntas do mendigo.

Aquilo fazia parte da vida de Samuel, só que algumas vezes, a maldade das pessoas machucava demais. Na escola, ele se tornou alvo dos populares. Ele aguentava todas as humilhações por causa da bolsa de estudos. Seu sonho era dar uma vida boa para sua família, então, desistir não poderia ser uma opção.

No fim da noite, ainda restava mais uma missão para Samuel, ele sempre lia para os irmãos. A leitura da vez era 'As crônicas de Nárnia', um dos seus livros favoritos. Durante a contação de história, Suellen e Sílvio, prestavam atenção a cada palavra dita por Samuel, que adorava criar vozes para os personagens.

Depois de derrubar as pestinhas, Samuel, seguia para o quarto e tocava teclado, claro que ele usava um fone, né? Afinal, acordar os irmãos significava ter que voltar ao serviço de babá. A música nunca foi uma prioridade na vida dele, mas ajudava a colocar as ideias em ordem.

***

Longe dali, em um dos condomínios mais badalados de São Paulo. Uma festa acontecia e reunia figuras importantes da sociedade paulista. Jonathan chegou atrasado, como sempre e não escondeu a chateação por estar ali. Ele sempre achou os amigos de seu pai esnobes e retrógrados.

De repente, uma mulher bonita, loira e radiante, entra no salão de festas. Ela usa um vestido verde, que a deixa parecida com uma estrela de Hollywood. Claro que era Wal, a "má drasta" de Jonathan. Para evitar uma conversa desagradável, o jovem pegou um prato de salgadinhos e seguiu para o quarto.

Ele tirou o violão da caixa e começou a dedilhar algumas notas. Em seguida, folheou o caderno de composições e tocou uma música. Jonathan riu e deixou o instrumento de lado, o jovem não gostava das próprias músicas, achava que o amor era algo que não valia a pena.

— Jo Jo, com licença. — Wal pediu, entrando no quarto.

— Eu já disse um milhão de vezes para você bater. É tão burra que não sabe o que isso significa? — questionou o jovem irritado. — É assim que se faz. — esbravejou Jonathan, saindo do quarto e batendo na porta. — E outra, o meu nome é Jonathan! — entrando novamente no quarto.

— Desculpa, eu, quer dizer, vi que trouxe um prato de salgadinhos, mas não pegou o suco verde. — deixando a garrafa em cima da mesa.

— Valeu, mas tô de boa. Agora pode sair do meu quarto, por favor. — com um tom irônico.

— Tudo bem. – Wal concordou, arrumando o vestido e saindo em seguida.

— Merda. Ela acha que vai me comprar com gentilezas? Qual é, muito mané.

Às noites eram ruins para o vocalista da Black River, um misto de lembranças ecoavam em sua cabeça. Mesmo conhecendo Wal nos últimos anos, Jonathan não conseguia esquecer a mãe, Victoria. Sim, no fundo, toda a confiança desaparecia, então, um garoto inseguro e carente surgia.

***

Capitão América, Batman, Viúva Negra, Professor Xavier e muitos outros. Para quem curte o mundo Geek, o Anime Plus era uma das festas mais badaladas, perdendo apenas para o CCXP. Os dois super-amigos, no caso, Samuel e Lana, foram ao banheiro para vestir as fantasias. Como a ideia do Bumblebee foi direto pelo ralo, eles optaram por Thanos e Gamora, da Marvel.

Por si só, Alana Paiva chamava atenção. Uma moça negra, alta e com lindos olhos castanhos, mas para o evento, ela se transformou e ficou sexy. Todos os nerds ficaram vidrados nela. Já Samuel, coitado, ficou se coçando por causa da tinta roxa que cobria todo o seu rosto, mas ninguém podia falar da qualidade de seu traje.

— Nossa, Lana. Você está linda. — comentou Samuel, tentando não ligar para a coceira em seu nariz.

— Eu sei. O collant fica tão bem, né.. — concordou a jovem.

Mas dentre as milhares de pessoas se divertindo no espaço, algumas não conseguiam encontrar o sentido certo. Para Jonathan e seus amigos, aquilo era uma verdadeira palhaçada. Eles só decidiram tocar no evento pelo cachê, apesar de Jonathan não precisar.

No repertório, o grupo adaptou algumas músicas de animações famosas, como Pokémon, Digimon, Cavalheiro dos Zodíacos, entre outros. Antes de subir ao palco, Jonathan, tirava um momento sozinho. Ele seguiu para os bastidores e encontrou Samuel, os dois ficaram se olhando e foi inevitável, pela segunda vez, Jonathan, riu do gordinho.

— Qual é a graça? — perguntou Lana, de forma agressiva.

— Calma, pantera. Não foi nada demais. Só que o Thanos não dizimou a galáxia, né? Ele comeu mesmo. - comentou Jonathan rindo.

— Seu babaca. Até te achava gatinho, mas acho melhor quebrar tua cara — partindo para cima de Jonathan, mas sendo impedida por Samuel.

— Vem, não vale a pena. A competição começa depois deles. Vamos nos preparar. — pediu Samuel.

— Sorte sua, seu babaca, branquelo. — diz Lana, cuspindo no chão. — Se eu te pegar, olha. — batendo uma mão na outra, dando socos.

— Uuiiii, que medo. – brincou Jonathan, voltando para o camarim, ainda em risos.

— Que ridículo! — exclamou Lana. — Adeus, babaca! — pegando o celular e deletando todas as fotos.

— O que você está fazendo? — questionou Samuel.

— Apagando as fotos desse idiota. Como eu fui gostar de um homem assim? — lamentou Lana.

— Primeiro lugar, ele não é homem, no máximo um adolescente rebelde sem causa. Segundo, o comentário dele não me atingiu em nada. Temos que focar na competição.

— Eu não entendo, de verdade, o que acontece com essas pessoas, sabe? Tem cada um sem noção. Não esquenta amigo. Sua fantasia é linda.

— O El Diablo está aqui. — soltou Samuel, que do nada ficou nervoso.

Poucas pessoas conseguem tirar Samuel do sério. E uma delas é o El Diablo, mais conhecido como Fernando. Um rapaz magro, cheio de espinhas, mas que arrasava em um cosplay. Naquele dia, ele vestia um figurino de Bumblebee, o robô de Transformers. De repente, uma multidão tirou fotos dele.

A inveja pode ser algo poderoso, ainda mais no mundo dos cosplayers. Samuel quase teve um treco, afinal, sua primeira opção de cosplay também era o robô amarelo. No meio da confusão, ele viu sua melhor amiga tentando tirar uma selfie com o El Diablo.

— Qual é. É o Bumblebee. Uma oportunidade única. — ressaltou a jovem dando um sorriso amarelo.

— Então, Samuca? Que fantasia, como posso dizer, legalzinha. — comentou Nando. — Pera aí. — tirando a máscara amarela. — Assim é bem melhor. — olhando Samuel de cima a baixo. — Bem, já vi resultados piores. Boa sorte.

— E o seu Bumblebee está na cor errada. — respondeu Samuel.

— Enfim, quem vai decidir são os jurados. Agora, com licença, os fãs querem tirar fotos. — desdenhou Nando rindo.

A banda de Jonathan subiu ao palco e começou a apresentação, muitos fãs de animes se aproximaram para curtir o som. Eles pegaram pesado no repertório, a primeira música foi 'Cha-la head-cha-la', do Dragon Ball, em seguida, 'Digimon Digitais', do desenho Digimon.

Enquanto isso, Samuel, tentava arrumar sua fantasia para o campeonato de cosplay. Lana, por outro lado, decidiu atrapalhar a performance de Jonathan. A amiga de Samuca chegou para um de seus colegas, que dançava ao som da 'Black River'.

— Ei, sabia que o vocalista falou que Boruto é melhor que Naruto? — cochichou Lana para Rick, um amigo.

— Mentira, que palhaçada. Só existe o Naruto! — exclamou Rick.

Não mexa com um apaixonado por anime. No meio do público, Rick falou para alguns amigos, a fofoca se espalhou mais rápido que pólvora e não demorou para estourar. Quando a 'Black River' tocava a música tema de Pokémon, as pessoas começaram a vaiar, alguns discutiam, sem entender a situação.

Mesmo desconfortável, Jonathan, continuou tocando, mas alguém subiu no palco, tomou o microfone. Assustado, o vocalista da banda se afastou.

— É verdade? Você acha Boruto melhor que Naruto? — perguntou um jovem.

— Eeer... — Jonathan coça a cabeça, sem saber o que responder. – Quem é Boruto?

Todos começaram a vaiar o vocalista da Black River, e em coro cantaram: "Ih! Fora! Ih! Fora!". Sem muita opção, o trio deixou o palco. Jonathan ainda sem entender a situação, buscou na internet e descobriu que a confusão toda era por causa de um desenho, quer dizer, um anime, bem famoso por sinal. Samuel conseguiu pegar parte da polêmica, entretanto, sua cabeça não saia do concurso.

O apresentador do evento, acalmou o ânimo dos participantes e anunciou que começaria o grande desfile de cosplay. Muitos competidores disputavam o prêmio, que era basicamente, um troféu velho e um vale lanche.

Já para, Samuel, aquilo significava guerra. Ele e Lana apresentaram uma das cenas mais impactantes de 'Vingadores: Guerra Infinita', o sacrifício de Gamora. O público aplaudiu a apresentação da dupla, uma grande atuação por parte de Lana, que inclusive derramou algumas lágrimas.

A performance de Nando era uma das mais aguardadas naquela noite. Ele entrou como um carro e ao som de música eletrônica se transformou em Bumblebee. De longe, Samuel, assistia a performance furioso, afinal, a ideia era dele.

Muitos flashs e aplausos. O apresentador encerrou a disputa e pediu um tempo para a apuração dos votos. Lana e Samuel, não se aguentavam mais de curiosidade, depois de 10 minutos, que pareceram duas horas, o resultado chegou.

— E quem ganhou o prêmio de melhor cosplay do Anime Plus é.... — o apresentador fez um suspense desnecessário e tirou o nome de um envelope. — Fernando, o Bumblebee.

Todos aplaudiram a vitória de Nando. Ele subiu ao palco, agradeceu a todos e mandou um beijo para Samuel. Apesar da derrota no prêmio principal, Lana e Samuel, ganharam como melhor dupla, pelo menos, um troféu eles levaram.

Quando chegou em casa, o Thanos, assustou toda família, inclusive, Antonella, quase o acertou com uma vassoura. Fazer um cosplay era sempre prazeroso, mas retirar a maquiagem podia se tornar uma tarefa complicada.

Para tirar a tinta do Thanos do rosto, Samuel passou três horas no banheiro. Enquanto tomava banho, o jovem conversa com Lana pelo Facetime. Ela sofria o mesmo processo e já estava na segunda garrafa de demaquilante.

— Muitas expectativas para segunda? — perguntou Lana colocando o celular na pia do banheiro e passando loção no rosto.

— Não. Só espero que acabe logo. — Samuel desejou que nada de errado acontecesse.

— Deus, essa tinta não sai nunca. Minhas orelhas estão esfoladas. — reclamou Lana. – Bem, espero que saia até segunda. Amigão, vou dormir. Estou mortinha da Silva.

— Tudo bem. Beijos. — pegando o celular e desligando.

Após algumas horas de muita escovação e uma irritação no pescoço, Samuel, começou a preparar os materiais para segunda-feira. Aquela era a última coisa de sua lista. Sim, o jovem possuía uma lista de afazeres no celular.

Enquanto isso, Jonathan, pulava a janela de casa para farrear. Ele adorava dançar, ainda mais em festas alternativas.

Na madrugada de São Paulo, podemos encontrar pessoas de vários estilos. Essa questão deixava Jonathan intrigado. Depois de muita bebedeira, ele acabou se separando de seus amigos. Seguiu uma multidão e parou em uma boate de dragqueen.

Na entrada, um quadro de LED mostrava que o show seria de Paolita Bravo. Curioso, Jonathan, ligou o modo ninja e conseguiu entrar na boate. O lugar era cheio de quadros antigos, os móveis coloridos pareciam tirados de um clipe da Melanie Martinez.

Pela primeira vez, Jonathan, assistia a um show de drags, ele ficou fascinado com as performances. Na ocasião, o jovem artista riu, chorou e cantou, entretanto, a diversão não durou muito tempo, um dos garçons percebeu a presença do adolescente e o "convidou" a se retirar.

Depois de perambular pela Avenida Augusta, ele chegou na Avenida Paulista e esperou a abertura das portas do metrô. Jonathan só não percebeu que uma mulher o olhava de longe.

***

O domingo seguiu de forma tranquila para Samuel. Ele acordou cedo, arrumou o uniforme para a escola e baixou vários episódios de seu Dorama favorito. A mãe e a tia precisariam sair para organizar um batizado, então, a partir daquele momento, Samuel entrava no modo 'Super Nanny'.

— Atenção, os dois, eu preciso terminar dois episódios do meu Dorama, então, sem confusão. — pediu, Samuel, em tom sério para os irmãos.

Quem disse que os jovens não sentem ressaca? A cabeça de Jonathan parecia que ia explodir. Ele levantou, pegou o celular e se assustou quando viu o horário. No banheiro, a sede atacou e Jonathan bebeu água da pia. Após um banho de 30 minutos, ele desceu e almoçou. Nenhum sinal dos pais, então, a única missão do dia era ficar bom e maratonar séries.

Quando estamos de ressaca, o tempo passa de forma diferente. Jonathan acabou adormecendo e acordou com a voz de Dona Joana, uma das funcionárias de sua casa. A senhora pegou algumas roupas que estavam espalhadas no quarto e abriu as cortinas.

— Mas já é segunda-feira? — ele perguntou sem se mexer.

— Essa juventude de hoje. — pegando os sapatos de Jonathan do chão. – Você tem 10 minutos para se arrumar. Anda.

Na casa de Samuel, as coisas eram uma loucura, não se sabia quem era mais irresponsável, crianças ou adultos. Isabella e Antonella, formavam uma bela dupla no trabalho, porém, no quesito organização domiciliar, o caos operava.

Por outro lado, Samuel tirava de letra tal agitação. Ele pegou a mochila, se despediu de todos e seguiu para a escola. Por ter bolsa de estudo, a sua participação no âmbito escolar tinha que ser perfeita. Mesmo sofrendo bullying, Samuel nunca desistiu de buscar o melhor.

Um trem e dois metrôs. Essa era a rotina diária de Samuel para chegar à escola. No trajeto, ele aproveitava para colocar os Doramas em dia. Também, escutava algumas aulas de coreano no YouTube. Na opinião dele, não tinha hora ruim para adquirir conhecimento.

***

Rabugento e insensível. Essas palavras poderiam descrever bem Jonathan Godoy pelas manhãs. Ainda mais com uma ressaca não curada. O jovem desceu e sua madrasta havia servido seu café. Apesar dos esforços, Wal, não conseguia penetrar no duro coração do enteado.

O silêncio reinou naquela manhã, todos comiam e olhavam para seus celulares. Após o café, Gláucio levou o filho para a escola, apesar do comportamento agressivo de Jonathan, ele ainda tinha esperanças de manter a família unida.

— Filho, chegamos. — avisou Gláucio balançando o ombro de Jonathan.

— Já. — Jonathan se assustou e limpou a saliva que escorria no seu queixo.

— Ei, Jonathan. Sem distrações esse ano, viu. — falou Gláucio.

— Tudo bem. — concordou Jonathan respirando fundo e saindo do carro.

O universo escolar, tão calmo e discreto, só que não. Na Escola Marisa Teixeira, os alunos eram tudo, menos discretos. Samuel chegou cedo, um dos primeiros na verdade. Ele e Lana queriam sentar juntos novamente, afinal, o jovem não se sentia bem ao lado de estranhos, principalmente, os que praticavam bullying. Antes do sinal bater, a dupla já havia escolhido as carteiras que sentariam durante o resto do ano.

— Olha, carteiras novas. Mas acho que uma mesa para dois alunos vai ficar difícil, né? — perguntou Lana, analisando a nova carteira da escola.

— Sim, eu preferia nossas carteiras antigas. Mas, Lana, pelo menos, a gente vai conseguir passar cola mais fácil, um ponto positivo. — afirmou Samuel.

— Sabe de uma coisa? Estou me sentindo em um Dorama. — comentou Lana, pegando seu estojo. — Será que meu senpai vai aparecer?

— Teu senpai eu não sei, mas o Enem está na porta. Quer mesmo fazer engenharia? — Quis saber Samuel, ansioso para saber a resposta da amiga.

— Claro. Meu sonho. E a tua opção ainda é medicina?

— Sim. Se deus Goku permitir. — levantando as mãos para o céu como se fosse aplicar um Genki Dama.

Aos poucos, os alunos foram entrando, alguns rostos novos se destacavam. Jonathan chegou no tempo limite, com grande óculos escuro no rosto, sinal da ressaca que tinha. Claro, que a abelha rainha da sala, Lorena, não demorou para demarcar território.

Você já pensou na mulher mais linda do mundo? Agora, multiplique por 10. Assim que Samuel definia Lorena Carvalho, alguém que o via como um zero à esquerda. Lorena tem o poder de andar em camera lenta e, assim como Beyonce, possuía o próprio vento que espalhava seu perfume adocicado pela classe.

Ela caminhou entre as carteiras para escolher a melhor e os alunos babavam. Lorena era uma menina de estatura baixa, com longos cabelos pretos que, para o primeiro dia de aula, estavam presos em uma trança. Seus olhos cor de mel analisavam o local ideial para passar o resto do ano.

Ao perceber Jonathan, ela não perdeu tempo e convidou para ser seu parceiro de carteira. Eles começaram a conversar sobre diferentes assuntos, realmente, a química bateu ali.

— Samuel. Terra para Samuel. — disse Lana estralando os dedos próximo ao rosto de Samuel.

— Oi?

— Olha, o papelão que a Lorena está pagando. Ridícula. O boy mal chegou. Mas bem que ele merece, né? Tomara que pegue herpes dela. — desejou Lana, abrindo um sorriso diabólico e esfregando as mãos.

— Ela sempre faz isso. Lembra que no ano passado foi o Jota. — recordou Samuel, arrumando o cabelo.

— Verdade. Ano retrasado, deixa eu ver, ah, o Vagner. Essa menina não sossega.

— Boa tarde, alunos. — disse o diretor Bartollo entrando na sala e chamando a atenção de todos.

— Bom dia, diretor!! — os alunos responderam em coro.

— Credo, precisa gritar... — comentou Jonathan, visivelmente incomodado.

— Então, antes de começarmos o ano letivo, vou passar as diretrizes para vocês que vão se formar esse ano.

Duas horas de chatice. O diretor Bartollo explicou para os alunos tudo o que eles já sabiam, principalmente, sobre o Enem, uma das provas mais importantes do ano. Jonathan cochilou parte desse tempo, no outro, desejou morrer.

O último aviso do diretor deixou todos os estudantes revoltados. Por causa de uma nova política contra o bullying na escola, as duplas que sentariam nas carteiras seriam escolhidas através de um sorteio.

— Eu não acredito e se eu pegar alguém burro? — perguntou Lana segurando forte no ombro de Samuel.

— Isso é a última coisa que me preocupa. — respondeu Samuel parecendo mais nervoso que o normal. — Droga.

A professora de português, Selma, ficaria responsável de selecionar as duplas. Antes do sorteio começar, Jonathan passou mal e precisou sair da sala. Muitos alunos riram das caretas que ele fez.

Tensão. Tensão. Tensão. Se havia alguém desesperado nesse momento era Samuel Costa. Ele olhava com temor cada passo da professora Selma para escolher as novas duplas do Terceiro Ano "C". A primeira dupla sorteada foi Lana e Lorena. Em solidariedade, Samuel, fez de tudo para não rir da amiga.

Um a um, os alunos iam sendo escolhidos e trocando de lugar. Por sorte, Samuel, conseguiu escapar de seus dois algozes, Pedro e Santiago. Ele ainda não tinha superado o sapo que eles colocaram em sua cueca no ano anterior.

A professora Selma levantou e percebeu que a última dupla era Samuel e Jonathan. Ela fez um longo discurso sobre a importância de ser solidário e evitar magoar os colegas de forma deliberada.

— É isso, classe. Espero que vocês realmente se deem uma chance. Conversem, troquem figurinhas e curtidas nas redes sociais. — brincou a professora.

— Ótimo. — pensou Samuel, olhando para Lana.

A professora deu continuidade a aula, depois de muito vomitar, Jonathan retornou e ficou assustado ao ver todos em lugares diferentes. Meio desconfiado, o jovem caminhou até a única carteira vazia e sentou ao lado de Samuel. Eles se olharam, mas não esboçaram nenhuma reação. Já Lana queria se matar, Lorena, fazia a linha falsa amiga, algo que a jovem detestava.

— Olá. — falou Jonathan. — Tomei um susto, pensei que ainda estava bêbado.

— Olha, cara, eu não quero confusão, ok? Vamos ficar na nossa, esse ano focarei no Enem, então, preciso de boas notas.

— Tudo bem, calma, estressadinho. — colocando óculos de volta.

— Silêncio. — pediu Selma. — Abram o livro na página 4, por favor.

A aula aconteceu de forma tranquila. Os alunos foram liberados para o intervalo. Lana e Samuel decidiram lamentar a decisão do diretor na lanchonete da escola, eles eram melhores amigos da merendeira, a dona Clotilde.

Naquela manhã, o lanche seria mingau de banana, o preferido de Samuel. Jonathan aproveitou o intervalo para dormir, afinal, a ressaca ainda imperava em seu sistema. Uma curiosidade sobre ele? Jonathan tem a habilidade de dormir em qualquer lugar. O banheiro serviu como um perfeito dormitório.

O segundo tempo seria educação física, Samuel, havia feito amizade com todo o corpo docente da escola, então, conseguiu a liberação da aula. Ele aproveitava para colocar em dia as disciplinas de química e física.

De repente, uma mensagem apareceu no celular de Márcia, uma das colegas de Samuel. Ela começou a espalhar a foto, aquilo chamou a atenção de todos. Se tratava da inauguração do "Parque dos Sonhos". Animada, Lana, mostrou para Samuel, então, eles decidiram se divertir para variar.

Para conhecer mais sobre Lorena, Jonathan, a convidou para o parque também. Lá, eles encontraram com Henrique e Kleiton.

— Olha só, que gatinha. – disse Henrique. – Apresenta a amiga, Jonathan.

— Lorena, esses são Henrique e Kleiton. Eles se formaram ano passado.

— Diferente do Jonathan que repetiu de ano. — lembrou Kleiton deixando Jonathan irado.

— Olá, meninos. O Jonathan me contou da 'Black River'. Vocês já têm uma nova fã.

— Queria que todas nossas fãs fossem assim. — afirmou Kleiton.

Infelizmente, a diversão deu lugar a frustração. Havia uma mensagem na porta do "Parque do Sonhos". Por motivos técnicos, os portões só abririam no sábado, ou seja, uma semana de espera.

O grupo de Jonathan esbarrou em Samuel. O encontro não podia ser mais desconcertante, nessa hora, Lorena derrubou um copo de suco e ficou toda molhada.

A culpa caiu em cima de Samuel, que se desculpou pelo acidente, mas acabou recebendo um sermão de Jonathan. Uma situação chata e embaraçosa. Ainda mais quando todos escutaram.

— Você me molhou toda, tinha que ser o 'Samugordo'. — soltou Lorena, realmente chateada.

— Ei, garota. Você pensa que é quem pra falar com meu amigo assim? — perguntou Lana. — Ele não fez nada, com certeza, tú se desequilibrou por causa da tua tinta de cabelo.

— Me respeita, menina, você sabe com quem está falando? — questionou Lorena.

— Sim, com a babaca que eu vou ter que dividir a carteira até o final do ano. — respondeu Lana gritando com Lorena.

— Oh. — Lorena fez uma careta e pareceu ofendida.

— Ei, galera. O gordinho já pediu desculpa. — disse Kleiton, tentando apaziguar as coisas. — Vamos esquecer tudo isso.

— Verdade. Ele já se desculpou. — interveio Henrique, pegando um lenço e oferecendo para Lorena.

— Bem, já que nos resolvemos, com licença. — pediu Samuel, quase levando Lana arrastada.

— Vocês são fracos. — falou Jonathan, ajudando Lorena. — Mas não se preocupa, Lorena. O "Samugordo" vai pagar. Isso não vai ficar assim.

Na terça-feira, Samuel chegou na escola e levou sua inscrição para o curso de desenho computadorizado. O jovem deixou a mochila em cima da carteira e sentou com vontade, ele soltou um grito abafado e percebeu que haviam várias tachinhas em sua cadeira. Jonathan entrou na sala um tempo depois e riu da situação. Lorena apareceu e agradeceu o amigo.

Depois da aula de biologia, Samuel levantou para o intervalo, Jonathan colocou o pé na frente e o jovem se esborrachou no chão. Alguns alunos riram da situação.

— Amigo! — exclamou Lana ajudando Samuel. — Cuidado.

— Ei, 'Samugord...', digo, Samuca, cuidado para não machucar alguém. — ironizou Jonathan antes de sair da sala.

Com vários planos malignos na manga, Jonathan e Lorena, decidiram tornar a vida de Samuel Costa um inferno. Alguns dias se passaram, então, eles aproveitaram o horário do lanche para entrarem na sala e passarem cola na carteira do colega. Animada, Lorena, preparou o celular para filmar o desenrolar da pegadinha.

Com o serviço completo, a dupla deixou a sala. No refeitório, Samuel, ainda se recuperava da queda.

— Que vergonha. — ele disse colocando os braços na mesa e apoiando a cabeça.

— Relaxa. Acontece. Quem nunca caiu? — perguntou Lana. — Agora, olha isso. — mostrando um panfleto para Samuel. — Esses são os brinquedos do 'Parque dos Sonhos'. Amigo, a gente precisa ir.

— Eu vi na página oficial deles. Espero que não fique lotado.

— Precisamos garantir nosso lugar. — afirmou Lana, comendo uma maça.

A aula de química deixou todo mundo de mal humor, menos Jonathan, que retornou para a sala cantarolando. Para despistar qualquer suspeita, Lorena, ofereceu um chocolate para Samuel e disse que tudo estava perdoado, inclusive, abraçou o colega de classe.

Uma hora de chatice, ninguém aguentava a dinâmica do professor Queiroz. Aquela situação das cadeiras conjuntas já estava atrapalhando todos. Lana, por exemplo, queria ir embora, não aguentava ter que ficar ao lado de Lorena.

Às 11h45, o sinal tocou. O professor pediu para que os alunos pegassem em suas mesas a programação das próximas aulas. Samuel levantou de uma única vez e sua calça rasgou na frente de todos.

Ele não percebeu e continuou em direção ao professor , mas os alunos começam a rir, alguns deram gargalhadas. Desesperada, Lana, correu em direção ao amigo, só que o estrago já havia sido feito.

— Droga! — exclamou Lana, levantando e ficando atrás do amigo.

— O que foi? — perguntou Samuel.

— Digamos que o Bulbassauro quer sair da pokébola. Migo, tua calça rasgou. — explicou a jovem, apontando para o bumbum de Samuel.

— Merda. — pegando na calça e sentido o tecido rasgado. — Me ajuda.

— Professor, tivemos um problema técnico. — ajudando Samuel a sair.

Nada como um plano bem sucedido, Lorena correu para agradecer Jonathan. Ela disse que gravou um vídeo e enviou para o amigo. Enquanto isso, Samuel, morria de vergonha no corredor, ele contou para Lana que não sentiu o tecido rasgar. Aquela era a única farda que Samuel possuía, ou seja, mais despesa para a família.

Feliz da vida, Jonathan, chegou em casa e compartilhou tudo nas redes sociais. Henrique e Kleiton acharam o conteúdo pesado demais, principalmente, quando veem o desespero no rosto do gordinho. Sem ter muito o que fazer, Jonathan, decidiu tomar banho de piscina e encontra Wal no jardim.

— Filho, o seu pai viajou. — ela avisou, enquanto regava algumas flores.

— Eu te disse para não me chamar de filho.

— Puxa, Jon Jon, eu te crio desde quando você tinha 10 anos. Pega leve comigo, eu amo você e seu pai. — disse Wal, deixando os produtos de jardinagem no chão.

— Você não cansa de ser destratada? Eu detesto você. Sabe quando vou ser teu amigo? Nunca. Você está com papai há quantos anos? Seis, sete? Bem, eu soube que no sétimo ano de casamento sempre rola uma crise, se eu fosse você tomaria cuidado. — soltou Jonathan sem se preocupar em ferir os sentimentos de Wal.

— Não fale isso, por favor. Eu amo seu pai.

— Bem, acho que papai vai preferir um modelo mais novo. Você tem quantos anos, 27? Foi um prazer te conhecer, Wal. — finalizou Jonathan piscando para Wal e indo em direção à piscina.

— Esse menino não aprende. Só queria que ele me respeitasse. — lamentou Wal voltando para suas atividades no jardim.

Uma grande bronca, na primeira semana de aula. Isabella ficou chateada com o descuido de Samuel. Foi meia hora de sermão. Para a família Costa, o dinheiro estava escasso e mais uma conta não ajudaria em nada.

Mesmo chateado, Samuel, teve que ativar o modo 'Super Nanny' naquela noite. Os pestinhas só sossegaram quando o irmão terminou de ler o último livro de 'As Crônicas de Nárnia'.

— Para eles, porém, este foi apenas o começo da verdadeira história. Toda a vida deles neste mundo e todas as suas aventuras em Nárnia haviam sido apenas a capa e a primeira página do livro. Agora, finalmente, estavam começando o Capítulo Um da Grande História que ninguém na terra jamais leu: a história que continua eternamente e na qual cada capítulo é muito melhor do que o anterior. Fim. — narrou Samuel, se emocionando, mas não deixando transparecer para seus irmãos.

— Como assim "fim"? — questionou Sílvio. — Eles... eles morreram?

— Eu não gostei desse final. E a Susana? Não vai para Nárnia? — perguntou Suellen cruzando os braços.

— Bem. É uma história confusa, eu sei, eu mesmo não entendi quando li pela primeira vez, mas Aslan, tipo levou todos aqueles que amavam Nárnia, para a verdadeira Nárnia. Um lugar que não existe dor, sofrimento, e essas coisas. Bem, agora vocês precisam dormir.

— Samuel, eu vou para a verdadeira Nárnia? — perguntou Silvio.

— Acho que todos vamos, maninho. Você não precisa pensar nisso agora. Amanhã a gente começa a ler 'O Pequeno Príncipe'. Boa noite.

***

Naquela semana, uma forte tempestade foi anunciada pelos jornais, mas o comentário do dia era a calça rasgada. 'Samuel Calça Rasgada', um aluno gritou quando viu Samuel entrar na escola. A semana passou e todos os tipos de acidente aconteceram com ele, desde escorregar em uma casca de banana até chiclete preso no cabelo.

Durante o intervalo das aulas, Samuel e Lana, tentavam encontrar uma ligação entre as situações, porém, não conseguiram chegar a lugar algum.

— Amigo, pelo menos a semana está acabando. Vamos aproveitar o parque, né?

— Claro, Lana. Preciso de um pouco de adrenalina.

A vida já é difícil por sí só, imagina quando outros intervém. Jonathan terminava uma obra de artes na sala, enquanto, Lorena vigiava a parta. Ele fez um desenho grotesco de Samuel com as calças rasgadas.

O sinal tocou e os alunos retornaram. Lana viu o desenho na lousa e correu para apagar, mas Samuel ainda conseguiu ver, ele olhou para a sala e todos riram bastante. Satisfeito com o resultado, Jonathan e piscou para Samuel, que apenas sentou na carteira em silêncio.

— Belo desenho. — desdenhou Jonathan. — A pessoa que fez isso capitou bem a sua essência. Feio por dentro e por fora.

— Me deixa em paz, babaca. — retrucou Samuel, olhando para o caderno.

Chorar não era uma opção para Samuel, ele estava tão acostumado com esse tipo de situação que achava melhor esquecer. Depois do colégio, o jovem se mudaria de cidade e procuraria novas oportunidades de ser feliz.

E apesar de tudo, Jonathan, também se sentia da mesma forma. Em seu coração, aquela cidade não era para ele. "Será que existe algo para mim?", se questionava o jovem músico.

O sinal bateu, antes de sair da cadeira, Samuel verificou se não estava grudado. Ele e Lana seguiram para o Parque dos Sonhos. Apesar do céu cinza, muitas pessoas foram conferir a novidade. O local estava diferente, alguns brinquedos foram substituídos.

O grupo de Jonathan, o ajudaria a pregar mais uma peça em Samuel. Eles se encontraram na praça de alimentação e iniciaram o plano maluco. A ideia seria prender "Samugordo" em uma das atrações, um tipo de tubo de ensaio que dava voltas no ar.

O forte vento começou a soprar e levou embora uma faixa de segurança que estava no 'Ciência Maluca'. Sem saber do que aconteceria, Samuel decidiu testar a sorte em um dos brinquedos. Era uma máquina que previa o futuro. O jovem colocou o bilhete, fechou os olhos e desejou uma resposta animadora.

"VOCÊ AINDA VAI ENCONTRAR AQUILO QUE PROCURA. LEMBRE-SE, SEJA FIEL A SI MESMO".

— Que tipo de conselho é esse? — pensou Samuel, amassando o papel e guardando no bolso.

— Amigo. Consegui mais bilhetes. Vamos no 'Ciência Maluca'? — avisou Lana pegando na mão de Samuel e indo em direção ao brinquedo.

— Acho que é perigoso. Vamos ficar nos brinquedos normais.

Eles seguiram para a roda gigante. Ao passarem pelo Ciência Maluca, encontraram Jonathan, que parecia preso em um dos tubos. Ele pediu ajuda de Lana e Samuel, mesmo contra vontade, os dois decidiram ajudar.

Quando eles abriram a capsula, Jonathan, tentou puxar Lana para dentro, mas a jovem aplicou um golpe de karatê e jogou o rapaz de volta no brinquedo. Ela só não percebeu que Henrique e Kleiton empurraram Samuel também.

— Ei, seus babacas! — gritou Lana, correndo e aplicando mais golpes de karatê nos dois.

— Para. — pediu Kleiton caindo no chão.

— Ei. — disse um dos fiscais do parque. — Esse brinquedo não está funcionando. Cadê a fita de segurança?

— Como assim não funciona? — perguntou Lorena.

Do nada, o brinquedo começou a levantar. Os tubos eram erguidos a 20 metros do chão, em seguida ficavam girando de um lado para o outro. Desesperado, o fiscal do parque pediu para a segurança cortar a energia.

Em cima, os garotos tiveram uma pequena ideia da confusão que se meteram. Samuel olhou para Jonathan que estava muito nervoso. Como diz a frase 'não há nada tão ruim que não possa piorar'. A chuva caiu, nossa, como caiu. Lana, Kleiton, Henrique e Lorena, assistiam aflitos.

— Isso é tudo culpa de vocês. – puxando as orelhas de Kleiton e Henrique. — Se alguma coisa acontecer com o Samuel, eu juro, que... — apertando mais forte.

— Não. — implorou Kleiton, ficando de joelhos. — Foi sem querer.

— Espera, ai. — pediu Henrique.

— Está muito alto. — Lorena olhando para cima, mas com dificuldade por causa da chuva.

A água começou a vazar para dentro das cápsulas. Os dois sentaram nas cadeiras quando as luzes do brinquedo acenderam, mas só que os cintos de segurança não prendiam. O nervosismo de Samuel passou e deu lugar a raiva. Jonathan Godoy nunca viu o amigo tão bravo.

— A gente vai morrer! - disse Jonathan desesperado.

— Cala boca! — gritou Samuel. — Isso é tudo culpa tua, né? Você é o maior cretino. Vamos morrer e tudo por sua causa. — tentando prender o cinto de segurança.

— Desculpa, tá. Eu não sabia que tua amiga lutava karatê. — se aproximando de Samuel.

— Foi você, né? Tudo o que está acontecendo comigo? Os desenhos, a cola, as tachinhas. O que eu fiz para você? — questionou Samuel.

— Você mexeu com uma amiga.

— Amiga? Você conhece a Lorena há uma semana. Eu sou um cara legal, tá. Ao contrário de você! — gritou Samuel.

— Você não me conhece! — respondeu Jonathan.

— E você, você acha que me conhece? Transformou a primeira semana de aula em um inferno... – colocando uma das mãos no vidro, após um forte solavanco.

— Desculpa, se eu passei dos limites. Eu... desculpa. — colocando a mão na mesma posição de Samuel.

Dois raios caem em cima do brinquedo. Luzes, verdes e amarelas, começam a cercar os dois colegas. Todos que estavam próximos correram à procura de um abrigo.

Realmente, aquele momento parecia ter saído de um filme de terror. Samuel e Jonathan sentiram a eletricidade passando por seus corpos. Os olhos deles se conectaram, uma forte luz dificultou a visão dos dois, então, o brinquedo começou a girar para todos os lados.

Samuel conseguiu fazer uma gambiarra com o cinto de segurança, mas por causa da rotação desmaiou, já Jonathan não teve tanta sorte, com o impacto bateu a cabeça várias vezes.

— Meu Deus! — gritou Lana. — O que está acontecendo?

Senpai: é uma palavra em japonês, usada para se referir com respeito a uma pessoa mais velha ou mais experiente. É uma forma de tratamento muito comum no âmbito profissional mas também em escolas, associações ou clubes esportivos.

Doramas: são séries coreanas/japonesas de todos os tipos: ação, romance, comédia, entre outros.

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