As correntes aproximaram-se; ele o alcançou. Apavorado quase ao ponto da loucura, Addan arranhou a porta e suas unhas deixaram profundos sulcos no verniz.
Duas mãos cobriram as dele, fazend o o parar. Ah, Deus, o homem estava sobre ele Atrás dele.
– Deixe-me sair!
– Não vou te machucar – disse ele mansa e docemente. – Não vou te machucar... – continuou falando, palavra após palavra até ela cair em uma espécie de transe.
Cócegas percorreram o corpo de Addan quando o cheiro dele lhe penetrou as narinas. Aquele homem era a fonte do enigmático e picante aroma, daquela deliciosa fragrância masculina, intensa e sensual. O corpo dele agitou-se, esticou-se, umedeceu-se... Horrorizado com aquela reação, Addan tentou desvencilhar-se com um repuxão.
– Não toque em mim.
– Acalma-te – a voz do homem estava no ouvido dele. – Não beberei muito desta primeira vez. Não precisas te preocupar. Tu sairás daqui com tua virtude intacta. Não posso te possuir.
Ele não devia confiar naquele homem. Devia ficar aterrorizado, Em vez disso, aquelas mãos suaves, aquela voz tranquila e profunda e aquele aroma sensual que ele emanava acalmavam seus maiores temores.
E provavelmente isso era o que mais o assustava. Ele soltou-a e uma de suas mãos foi até seus cabelos. Tirou-lhe os grampos um por um até que os fios caíssem por sobre os ombros.
– Adorável... – ele sussurrou.
Addan sabia que deveria sair correndo. Entretanto, a verdade era que ele já não desejava se separar daquele homem.
– Está escuro. Como pode saber como são meus cabelos?
– Vejo-te perfeitamente.
– Eu não vejo nada.
– É melhor assim.
Será que ele era feio? Será que era deformado? E, se fosse, isso por acaso importaria? Addam sabia que não. Ele aceitaria-o independentemente do aspecto que ele tivesse. Embora, Jesus Cristo... por quê?
– Sinto muito por ter de abreviar isso – ele disse bruscamente. – Preciso apenas do suficiente para me acalmar.
Addan ouviu um gemido enquanto seus cabelos eram afastados para um lado. Duas afiadas e ardentes pontas afundaram-se em seu pescoço; a dor lancinante foi uma doce investida.
Quando arqueou as costas e ofegou, os braços dele envolveram-na rapidamente, apertando contra um enorme corpo masculino.
Ele gemeu e começou a sugar.
Seu sangue... ele estava... bebendo seu sangue. E, Santo Deus! A sensação era maravilhosa. Addan, pela primeira vez em toda a sua vida, desmaiou.
Quando despertou, estava na cama, entre os lençóis, ainda envolto no seu short largo e na sua camisa branca.
A penetrante escuridão o fez gemer de uma forma como nunca acreditou ser capaz, mas não havia nada que o tranquilizasse, nenhuma realidade em que pudesse se agarrar.
Addan sentia que estava se afogando em um denso e profundo oceano enquanto seus pulmões sufocavam com aquilo que ele não conseguia ver.
A ansiedade ativava todos os tipos de conexões em sua mente e ele começou a suar frio. Estava ficando louco, certamente estava...
Uma vela brilhou ao seu lado, iluminando o criado-mudo e uma bandeja de prata com comida. Um minuto depois, outra vela acendeu-se do outro lado da enorme cama. E ainda outra colocada no alto das estantes ao lado da porta. E mais uma no que parecia ser um banheiro. E outra... Uma a uma, as velas foram aparecendo, acesas por... ninguém.
O que deveria tê-lo assustado. Mas ele estava muito desesperado para ver ou para se importar com como as luzes se acendiam. O quarto era muito maior do que Addan havia imaginado e tanto o chão quanto as paredes e o teto eram feitos da mesma pedra cinza. A única mobília além da cama era uma escrivaninha do tamanho de uma mesa de banquete, cuja lisa e lustrosa superfície estava coberta com papéis brancos e com altas pilhas de livros encadernados em couro escuro.
Atrás do móvel, havia uma cadeira com aspecto de trono, posicionada de lado, como se alguém que estivera sentado nela tivesse se levantado rapidamente.
Onde estava o homem? Os olhos de Addan dirigiram-se para o único lugar escuro do cômodo. E ele soube que aquele homem estava lá. O observando, Esperando.
Addan lembrou-se da sensação que tivera quando aquele homem pressionara-se contra suas costas e levara a mão ao seu pescoço. Ele não sentira... nada. Bem, quase nada. Havia dois buraquinhos quase imperceptíveis em sua pele. Como se a mordida tivesse ocorrido semanas e semanas atrás.
– O que você fez comigo? – perguntou. Embora, obviamente, já soubesse. E, ah, Deus... as sugestões eram assustadoras.
– Desculpe-me – a bela voz dele soava tensa. – Lamento o que devo tirar de uma inocente. Mas preciso me alimentar ou morrerei, de modo que não tenho outra opção. Não posso deixar meus aposentos.
Addan fechou os olhos por um momento. Ao abri-los, deparou-se com um tabuleiro de xadrez... O tipo de coisa que acontece quando se está a ponto de desmaiar. Santo... Deus.
Um longo tempo se passou antes que ela pudesse pensar coerentemente e o vazio cognitivo fosse preenchido com visões hollywoodianas: o morto-vivo, pálido e malvado... vampiro.
Seu corpo estremeceu tão violentamente que seus dentes bateram uns contra os outros. Ele aninhou-se, levantando os joelhos até o peito. Quando começou a se balançar, teve um pensamento delirante de que nunca sentira tanto medo em sua vida.
Aquilo era um pesadelo. Estivesse sonhando ou não, aquilo era um absoluto pesadelo.
– Você me contaminou? – perguntou.
– Estás... Estás me perguntando se te transformei no que sou? Não, De forma alguma, Não.
Alimentado pela necessidade de fugir, saiu correndo da cama e dirigiu-se velozmente em linha reta para a porta. Não chegou muito longe. O quarto começou a girar em círculos ao seu redor e ele tropeçou em seus próprios pés. Levou as mãos à frente e conseguiu evitar a queda agarrando-se aos livros.
Aquele homem também o agarrou. Foi tão rápido que pareceu ter se desmaterializado do lugar onde estava. Com mãos cuidadosas, o segurou, empregando somente a força estritamente necessária.
– Tu precisas comer. - Ele apoiou-se na estante e notou sem razão aparente que estava diante da coleção completa de George Elliot. Possivelmente esse era o motivo de ele falar como se tivesse saído diretamente da era vitoriana. Estivera lendo livros do século dezenove todo o tempo que permanecera ali, fosse o tanto de tempo que fosse.
– Por favor – implorou a bela voz. – Tu precisas comer...
– Preciso usar o toalete – Addan olhou através do quarto para um entalhe de mármore. – Diga-me que ali dentro há um toalete.
– Sim. Como vês, não tem porta, mas desviarei os olhos.
– Faça isso. - Addan libertou-se dele e caminhou cambaleante, enternecido, enfraquecido e aterrorizado demais para se preocupar com a privacidade. E, além disso, se aquele homem quisesse se aproveitar dele, poderia tê-lo feito várias vezes naquele tempo em que ele estivera desacordado.
E, ademais, seu sentido de honra estava gravado no timbre de sua voz. Se ele dizia que não ia olhar, não o faria. A não ser... Addan, você é um idiota. Por que diabos ele deveria acreditar em alguém que sequer conhecia? Em alguém que a estava mantendo presa? Bem, talvez isso fosse parte do motivo que gerava aquela confiança. Evidentemente ele também estava preso ali.
A não ser que estivesse mentindo.
O banheiro era ladrilhado de mármore creme do chão até o teto. Lá havia uma banheira antiga com pés em forma de garras e um lavabo com pedestal. Foi apenas quando abriu a torneira para lavar as mãos que Addan notou que não havia espelho.
Lavou e secou o rosto com uma toalha branca que tirou de uma pilha. Depois, colocou as mãos em concha debaixo do jato d’água e bebeu sedentamente.
Seu estômago acalmou-se um pouco e Addan podia apostar que um pouco de comida o acalmaria ainda mais, embora ele não fosse ingerir nada que lhe oferecessem. Fizera isso com a xícara de chá e olhe só onde diabos tinha ido parar. De volta ao quarto, olhou fixamente o canto escuro.
– Quero ver seu rosto, agora. - Não havia muito risco, ele já sabia que estava na propriedade dos Leeds e já sabia quem era aquele homem: o filho da senhorita Leeds, tinha informações suficientes sobre eles para saber que, se fossem matá-lo para evitar que os identificasse, já tinham motivos suficientes para fazê-lo, de modo que... enfim...
Instalou-se um longo silêncio. Depois, Addan ouviu as correntes moverem-se e viu o homem entrar no foco da luz.
Continua....