Vir aqui na casa e expressar um pouco do que eu senti e ainda sinto as vezes é como se fosse uma terapia, cada vez que leio o comentário de vocês, eu percebo que estou cercado de gente que é do bem, é como se eu pudesse tirar um pouco o peso e a responsabilidade de ser um homem cheio de problemas e dividisse um pedacinho dessa responsabilidade com cada um de vocês.
Obrigado a todos pelo carinho comigo e com minha história!
Pois bem.
Eu estava conversando com o Iago sobre todo o furacão que transcorreu em minha vida e percebi que, por mais que tudo estivesse bem, algo sempre acontecia para me assustar!
Eu assumi meu namoro com o William e logo largamos, voltamos e logo ele desistiu novamente, reatamos por diversas vezes e em todos os términos, era sempre por divergência ou vontade dele.
Dessa vez eu não queria mais.
Ele riu e me disse que em todas as vezes eu falei a mesma coisa, e que também todas as vezes vivia estressado e descontava tudo em todo mundo.
- Você o ama Binho e essa ferida vai demorar pra cicatrizar, se ele chegasse agora e se ajoelhasse na sua frente pedindo desculpas e implorando por mais uma chance, você vai esquecer tudo que aconteceu e vai voltar com ele. Eu sei que é assim, o Renato sabe que é assim, se o Igor estivesse vivo ele também saberia que seu coração é de todo William rs.
De fato eu acho que o único cara que me fez bem, que tirou meu chão e fez minhas pernas tremerem foi o Igor, se ele estivesse vivo, como seria a nossa relação hoje? Ainda me faço essa pergunta! Ele soube mexer comigo.
- Não tome decisões precipitadas, ocupe seu tempo e pensamento com outras coisas e evite pensar no magrelo, sou seu amigo Binho e preciso dar uns tapas na sua cara de vez em quando rs.
Realmente, o Iago tinha toda a razão, eu sempre perdôo o William, e quem sempre sai machucado, sou eu mesmo, e agora meus filhos também.
No meio de tanta tristeza, ainda tinha a viagem que a Laurinha iria fazer, que me deixava ainda mais apreensivo.
A Laurinha se esforçava tanto nas aulas de ballet que a professora se propôs a ajuda lá com os passos e as coreografias.
Minha filha foi recompensada pelos esforços com uma bolsa de estudos.
Seriam apenas 3 meses de curso, podendo se estender para 6 meses ou mais, dependendo do desempenho dela.
Ela estava radiante com a notícia e queria ir o mais rápido possível para lá. Eu também não conseguia conter a alegria, mas a princípio eu e o William não autorizamos que ela fosse, mas era uma chance única e agora o William não estava alí pra me apoiar e depois de muitas conversas com Dona Nita, resolvemos que minha mãe a acompanharia nessa viagem, assim as preocupações seriam menores.
O Igor também passaria as férias de Julho com a Estela e eu ia ficar em casa sozinho, sem minha mãe e meus dois pequenos, apenas eu e Deus.
Foi difícil digerir tamanha sensação, mas era o que Deus tinha reservado para mim naquele momento e se fosse mais um teste do senhor eu passaria.
Certa manhã, enquanto eu deixava os pequenos na escola, a Laurinha me deu um abraço longo e apertado, olhou nos meus olhos e perguntou:
- Ele não nos ama mais? Não gosta mais de mim e do Igor? Eu fiz alguma coisa errada papai? Ele não atende mais minhas ligações, não fala mais comigo.
Ouvir aquela vozinha trêmula, tentando encontrar um motivo ruim para que o William tivesse parado de ama-la, me deixou completamente cego e fora de mim. E naquele dia eu liguei pra ele de 5 em 5 minutos, até que ele atendeu.
- Oi!
- William, você não atendeu a Laurinha porquê?
- Nem vi, desculpa!
- Desculpa o caralho, você vai desligar essa merda de celular e vai ligar pra menina, ela está ansiosa, triste, e em dúvidas do seu amor por ela, por tanto, você vai ligar pra ela agora, ou eu vou aí na sua casa te pegar.
- Tá! Tá bom, eu ligo!
Ele desligou o celular e ligou pra minha pequena, que sorria e contava toda empolgada sobre a viagem que estava prestes a fazer , estudar ballet com outras meninas, outra língua e outra cultura.
Após a conversa de quase 15 minutos que atrasou a primeira aula da menina, ele pediu que ela passasse o telefone pra mim, ela se despediu e entrou na escola.
- Você está louco Fabiano? Como vai deixar a Laurinha viajar sozinha? A gente já tinha conversado sobre isso e concordamos que ela não iria! Eu proíbo você de fazer isso!
- Você o quê? Proíbe? Proíbe oque William? Não mora conosco mais, você abandonou a gente, não tem mais que dar opinião sobre a criação dos "MEUS FILHO S", e outra, ela não vai sozinha, minha mãe vai com ela, se situa moleque!
Desliguei o celular na cara dele.
Os dias foram passando, noites em claro, mal dormidas, pensamentos que iam e vinham, as vezes eu chorava, noutras eu apenas me culpava por mais uma vez deixar que ele se afastasse.
A mãe dele deixou de vir aqui em casa e ligava muito pouco, minha mãe também não falava muito sobre ele, não perguntava e se quer falava com a Laura.
Resolvi que as coisas dele precisavam sumir do meu quarto, do meu banheiro e da minha casa e da minha vida.
Fiz um faxinão em casa, separei as roupas, os sapatos, as camisas, camisetas, objetos e tudo mais que era dele e coloquei no carro, era hora de apagar de vez as lembranças e as recordações. As fragrâncias de cada frasco de perfume contava alguma história, o ciúme que ele teve do garçom que sorriu pra mim no restaurante, a briga dele com o Renato no campo, o dia que me carregou na praia, as mordidinhas que ele dava atrás do meu pescoço, eram tantas as lembranças, mas tinha uma que doeu muito e antes de colocar o frasco do perfume na caixa eu desabei a chorar. O dia que dei o pingente no aniversário de 18 anos dele, nesse dia ele tocou violão, cantou e me mostrou o quanto era romântico, nesse mesmo dia eu fiquei sem reação e corri dele, quando tentou me beijar rs.
Tudo embalado no carro e eu dirigi até a casa da Laura pra entregar tudo a ela, mas, quando cheguei lá a casa toda fechada, não tinha como deixar com ela.
Eu liguei pro Iago, não me atendeu.
Liguei pro Raul, caixa postal
O Rick estava ocupado e a Vick trabalhando no emprego novo.
Última tentativa foi o Renato que atendeu e se prontificou a me esperar.
Decidi entregar as coisas na casa do pai do William, ele podia achar que era provocação, mas e daí? Era mesmo!
O Renato estava me esperando no local combinado, deu um sorriso de lado seguido de um oi e entrou no carro.
- Você tem certeza que quer fazer isso Binho?
- Tenho!
- Ok, só acho que você podia esperar a mãe dele chegar e entregar pra ela.
- Desde quando você ficou todo certinho assim Renatão? Você mudou bem heim rs.
- Mudei muito Binho, você não tem noção.
- Que bom Renato, se você está se sentindo melhor com tal mudança, então eu fico feliz por você.
Conversamos sobre os filhos, as aventuras sexuais do dele e sobre o fim da relação dele com a Karen.
Ele me deu um conselho " Quando os dois querem qualquer hora é hora, agora se um não quer aquela mesma hora se torna uma eternidade".
Também me disse que tentou ser feliz com ela, que buscou formas de satisfaze-la, mas se viu num caminho sem volta e sem nenhum ponto de apoio, ele estava casado, com 3 filhos, infeliz e tornando a vida dos filhos infeliz também, decidiu colocar um ponto final no casamento falido e recomeçou do zero.
- Hoje eu e a Karen nos damos muito bem, ela com a vida dela e eu com a minha, pego meus filhos sempre e não perco nada no crescimento de cada um deles, hoje, posso dizer que estou feliz.
Ouvir o Renato falar detalhes da relação ruim dele e enxergar no olhar, no expressar e na forma verdadeira em que me contava esses detalhes, eu percebi que realmente, após a tempestade, enfim viria a calmaria.
Eu fui feliz no meu relacionamento com William, mas chegou ao fim e, a melhor coisa a se fazer, era recomeçar do zero.
Um longo caminho percorrido e enfim, chegamos a casa do encosto.
Estacionei o carro e o Renato fez questão de descer e tocar o interfone, se apresentou para um rapaz e logo o portão se abriu.
Quando vi o garoto saindo, a semelhança daquele rapaz com o William, eu voltei 8 anos atrás quando conheci o magrelo. Os traços, o olhar, o furinho e o sorriso, meu Deus, era o clone dele.
Enquanto o Renato abria o porta malas e organizava as caixas eu fui me apresentar.
- Olá, tudo bem? Eu me chamo...
- Fabiano né? O William me falou muito sobre você, me chamo Heitor, sou o irmão dele, parece que te conheço a anos Fabiano rs.
- Muito prazer Heitor, eu espero que ele tenha dito coisas boas a meu respeito rs.
- Disse sim, e pelo jeito são verdades! E ele é o...?
- Esse é o Renato, um amigo meu!
Eles se cumprimentaram e logo foram carregando as caixas pra dentro da casa, eu não me atrevi a entrar e fiquei lá fora com meus pensamentos. Quando o Renato descarregava umas últimas caixas o garoto voltou a conversar comigo.
- Vocês terminaram de vez? Não há nenhuma possibilidade de volta? Ele gosta muito de você sabia?
Eu pensei por um instante e respondi ao garoto;
- Gostar não é amar, eu amo seu irmão, mas vou deixar ele viver a vida dele da forma que ele quer viver, foram tantas tentativas frustrantes, que, hummm.... Apenas achei melhor desistir.
Ele cruzou os braços na porta e apoiou o queixo em cima das mãos fechadas, me olhou por alguns segundos e respondeu.
- O William foi muito mimado, não sabe a sorte que teve em te conhecer, hoje ele está achando que meu pai é um herói, mas em pouco tempo ele vai voltar a procurar por vocês, eu não vejo a hora de sumir daqui, meu pai não vale a merda que o cachorro caga.
Ele deu dois tapas no meu antebraço e antes que se virasse pra entrar eu o questionei.
- Quantos anos tem?E porquê não vai embora?
- Nem todos tem a sorte que meu irmão teve e você sentiu o peso do braço do meu pai, imagine uma vida ao lado do véio?
O Renato bateu no capô do carro e fez um sinal para que eu ligasse a chave!
- Foi um prazer Heitor!
Demos tchau e voltamos pra casa.
O Renato ficou me encarando o tempo todo, até perguntar;
- Fabiano você não pensou em querer ajudar esse rapaz né? Pelo amor de Deus, não vale a pena!
- Claro que não Renato, não quero mais ter dores de cabeça, só quero paz!
Deixei o Renato no mesmo local, mas antes que ele descesse do carro, ele pousou a mão em minha coxa e apertou.
- Binho, eu não sei como me expressar, por isso vou direto ao assunto! Eu tenho chance de ocupar o espaço do William no seu coração ou não? Tem como a gente voltar a ficar?
- Nossa Renato, eu preciso esfriar a cabeça, colocar minha vida no eixo novamente, não sei te responder agora. Sem pensar, eu diria não, mas, não sei como será o dia de amanhã, só não crie expectativas, não sei nada da minha vida e dos meus pensamentos por enquanto.
Quando cheguei em casa, as crianças estavam me esperando, minha mãe estava sentada na varanda com os dois no colo conversando.
Logo recebi uma mensagem no whatsapp: - oi, salva aí ;D
Não tinha foto e por isso eu não consegui identificar a pessoa.
- Quem? Enviei
- Eu pow o Heitor lol,
Pronto, agora a merda tava feita.
Minha mãe me olhou e perguntou da Laura, como estava, se estava bem e eu respondi que não sabia, pois, não tinha visto ela e por isso fui levar as coisas na nova casa dele.
Minha mãe se levantou e começou a me xingar todo. Que eu era louco, não precisava tanto, que eu tinha que criar juízo, que não era assim que as coisas funcionavam e foi pra dentro me xingando.
O grande dia estava chegando e para não ter surpresas com o Igor fazendo manha por causa da viagem das duas eu achei melhor que a Estela viesse buscá-lo uns dias antes.
Ela levou meu filho pra passar os dias com ela e no dia seguinte eu levei minha mãe e minha filha para o aeroporto.
Vendo as duas entrando na área de embarque eu pensei.
"Nossa! Eu vou ficar sozinho naquela casa enorme, preciso ocupar meu tempo e fazer algo construtivo, pra não fazer coisa errada".
No primeiro fim de semana que passei sozinho, eu inventei de beber um wisky e ouvir música, o Rick e o Jorge vieram em casa e me chamaram pra dar uma volta, eu aceitei e fomos pra um barzinho perto de casa mesmo.
Bebi muito e quando percebi que minha língua já estava dormente eu decidi ir embora, eles quiseram me acompanhar mas insisti que ficassem e aproveitassem a noite.
Em casa, eu tirei a roupa e deitei na cama, tudo rodava, peguei meu celular e mandei uma mensagem pro Heitor. Tanta gente pra enxer o saco e eu fui escolher logo o irmão do magrelo.
Ele me ligou ou eu liguei pra ele, só me lembro de estar chorando, xingando o William e reclamando dele para o irmão, coloquei tudo pra fora, eu queria que ele me explicasse o porque eu não era suficientemente bom para o irmão dele. Ele não sabia explicar e eu acabei dormindo com o garoto do outro lado da linha.
No outro dia o quarto estava um fedor de azedo, eu vomitei na cama e no chão, quase morri de nojo.