- Não, não... Kaique vai embora agora! Eu já estou correndo perigo e não posso deixar que isso aconteça com você. Seu irmão... ele está ali dentro... e pode te fazer algum mal... não se envolva com isso, vai ser pior... – Agora que Kaique sabia, acho que não iria adiantar minha insistência, de uma forma ou de outra ele vai acabar entrando e só Deus sabe o que poderia acontecer. Bom, lá vamos nós mais uma vez.
- Eu... eu não queria que fosse assim, mas é preciso... – Falou enquanto tirava uma arma da cintura, recarregava e colocava novamente em seu lugar. Kaique estava armado, e agora? – Meu irmão merece isso, por todo mal que ele gerou a minha família e amigos, por ter me provocado e feito as atrocidades que fez, por ter te machucado dessa maneira... ele precisa é de mais que só um tiro no meio da testa, hoje ele vai pagar pelo que fez! – Sua cara metia temor e medo. A determinação em acabar com o irmão e toda raiva estavam juntas. Não tinha saída, realmente teria que enfrentar o que viria a frente.
A maçaneta gélida, o frio já se dissipava na região, em agosto, “o inverno chegou” (Precisava dessa referência, desculpem), já quase próximo do fim. A porta fez um rangido ensurdecedor no contraste com todo o silencio que pairava no ar. Kaique vinha atrás de mim, passou rapidamente pela minha cabeça o quanto ele estava se preocupando comigo e me protegendo, amava muito esse garoto. Do nada, um louco flash back, e eu me lembrei da cena de quando o conheci naquele mercado, de ler a placa e bagunçar todo o meu computador, mal sabia ele que algumas coisas ficaram desarrumadas ainda, mas como o objetivo era apenas um pretexto, preferi nem tocar no assunto. Ah Kaique, foram dias agitados, mas se tornaram inesquecíveis com você perto de mim. Escutei um som de metal batendo, era a porta se encostando atrás de nós, acordei para o mundo real.
Conseguia avistar uma pequena luz vindo do teto, era um feixe sem muita nitidez, apenas perceptível após se acostumar com o escuro quase absoluto que se mantinha no local. Não ouvi ninguém. O lugar parecia vazio. Tateava com os braços retos frente ao rosto, escutava apenas a respiração ofegante de Kaique. Íamos, acreditava eu, rumo ao centro daquele local frio e silencioso. Depois de mais três passos, as luzes se ascenderam em sequência. Eram lâmpadas fortes, protegidas por uma capa de metal que direcionava a iluminação diretamente para baixo, uma espécie de guarda-vista. O barulho dos disjuntores vinha da minha esquerda superior, olhei na busca de alguém, avistei apenas uma escada que dava acesso ao mezanino e algumas salas pareadas no mesmo. O piso superior cercava todo o galpão deixando o centro livre, como num prédio com uma grande varanda. Voltei a sentir o coração bater forte. De frente para mim, no andar de cima, avistei alguém preso em uma cadeira, parecia estar inconsciente e amordaçada, a figura familiar, não só parecia como era minha mãe, ela estava ali.
“Isso, dentre outras coisas, faz o ser humano ficar mais forte, sabia? Não sei se satanás esperava lhe dar esse presente, mas ele deu. Calma, talvez piore ainda mais. Resta esperar. Adriano, porra! Você é retardado? Te dei vários avisos ao longo do tempo. Aconselhei em tudo o que precisava, e nada né?! Bom, resolve essa aí agora...”
Fiquei um tempo em completa paralisia, sem movimentar um musculo, parecia que se o fizesse poderia matá-la ou sei lá. Kaique gritou:
- Dona Márcia! – Saiu correndo rumo as escadas, eu ainda estava parado.
Assim que pisou nos degraus, a porta de umas das salas logo atrás da mulher em sono profundo se abriu. Thiago apareceu caminhando. Gelei. Hipotermia level Antártida. Já não sentia meus dedos, a sensação era de ter bebido um litro inteiro de Vodka. Parecia não saber raciocinar, e piorou ainda mais ao ver que em sua mão o maníaco empunhava uma pistola. Só fui sair da minha pausa longa para tremer. De agora para frente, se discorre uma etapa em série de coisas assustadoras. Nunca imaginei nada do tipo em minha vida, poderia comparar com um filme, onde o vilão até morre no final, mas eu nem sabia como matar uma aranha, iria saber lhe dar com um comandante do mercado negro?!
Kaique cessou com o tiro que bateu no segundo degrau, onde quase colocou o pé esquerdo. Foi parado imediatamente e ficou em transe, tentando entender o que o irmão acabou de fazer. Thiago não iria ter piedade, não haveria trégua. Nem previsão é possível fazer. Só se pensa o pior. O louco, então, começou a falar enquanto caminhava até o parapeito, olhando para baixo, soltou:
- Ora, ora se não é a dupla de boiolas mais linda do mundo... eles acham que podem resgatar a princesa presa no calabouço... ui, o que é isso? COMO ASSIM? Ah Brasil, hahahahahaha tenho que rir do que acabou de acontecer... – Olhava para nós dois. Ele estava louco, sua cara manifestava uma forma estranha de expressões, o assassino que havia nele se soltou. Não tinha visto nada do tipo em alguém até esse momento. – Vocês acham que isso aqui é 007? Só pode... – Balançava a cabeça em negação. Já era hora de acabar com isso, resolvi falar:
- O que você fez com ela, seu psicopata maluco? Solta minha mãe, agora! – A cabeça doeu de raiva, ele estava começando um discurso infame que não chegaria em lugar algum.
- Adriano... jovem Adriano... sabia que eu tenho uma série de doenças? DST meu lindinho... – Não... o que ele... eh... não... cacei algum local para apoiar a visão, não sei bem, mas fraquejei ao ponto de ficar de joelhos... o que eu ouvi foi demais. Meu Deus... onde fui parar? Esfregava meu corpo... nem sabia o que dizer, apenas tentava arrancar o que pudesse estar ali... não sei, apenas não sei...
- Hahaha enganei o bobo na casca do ovo! Eu sou o cara mais limpo e inocente que esse mundo já viu! Acredite, se tivesse alguma coisa eu teria fodido até o meu lindo irmãozinho, minha mãe e todos que odeio tanto. Não ligo se é incesto, quero mesmo é foder com a vida das pessoas... – Desgraçado, eu demostrei muita fraqueza. Filho da puta!!!
- Seu... seu maníaco! Desestruturado... você é louco, sabia Thiago?! – Soltou Kaique do mesmo lugar onde foi parado pelo tiro que quase o acertou. – A mãe sempre soube que você tinha problemas, desconfiava de suas loucuras, falava que sentia medo... você é realmente imprevisível, mas dessa vez exagerou na maneira de chamar atenção. – Seus olhos não piscaram nenhuma vez sequer, apenas ficaram diretamente em contato com o psicopata do andar de cima.
- Olha! Acabou de falar o lixo... o mimadinho da mamãe... ela sabe de vocês, Kaique? Que você deu o cuzinho para o namoradinho? Rapaz, e o pai? Se ele soubesse disso... – Como? Como Thiago sabia de tudo aquilo? Não tinha... ele sabe, mas... – A tecnologia não é linda? A propósito, você ficou com tanta raiva que nem se prestou a dar atenção ao meu presente... aquele urso custou caro, Adriano! – Urso? Do que ele estav... espera! Havia algo de diferente no meu quarto... não observei muito, mas realmente me lembro de algo sobre a cômoda... não é possível! – Liguem o projetor! – Thiago gritou. Voltou as costas e deu um tapa na minha mãe. Na hora eu gritei – Não... Mãe! – Ele riu ainda mais. Ela sacudiu a cabeça, ficou alguns segundos parada observando o chão. Parecia confusa. Levantou de leve e resmungou por baixo da mordaça.
- Minhas estruturas não são ótimas?! Tem até cinema. Cadê a minha pipoca? Tragam logo! – Uma mulher apareceu trazendo um balde amarelo, estava escrito “PopCorn”. – Ei, por que vocês estão aí de pé? Sentem-se! Vamos assistir! – As luzes da parte de traz se apagaram, um projetor, que até então não tinha avistado, começou a lançar uma imagem para a parte de cima da parede onde ficava o portão. A projeção ficou enorme.
- Umummmmmm... – Minha mãe tentava falar. Me sentia cada vez mais lixo... o que eles deram á ela?
- Agora nós vamos assistir juntos a um filme especial, feito hoje mesmo. Ainda está fresquinho! E antes que eu me esqueça... – Alguém empurrando uma mesa com um notebook apareceu deixando o equipamento na frente de Thiago. – Tenho que postar nas redes, deixar todos a par do ocorrido, sabe?! – Me virei e comecei a ver sua interação com o computador, uma aba do navegador estava aberta na parte de postagem do facebook, o perfil se intitulava: “O escândalo”. Um vídeo de 15 minutos com a seguinte descrição estava pronto para postagem: “Dois carneirinhos e um delicioso sexo selvagem. Kaique e Adriano.”
Como isso é possível?
Ouvi o som da tecla, o vídeo foi postado!
Eu acabava de ir pelo caminho sem retorno, um lugar onde as coisas se perpetuam e nunca mais podem ser paradas, eu acabei de entrar, literalmente, na internet. Thiago estava com tudo pronto, já podia imaginar, pois ali era sua toca, o lugar onde morava o monstro e suas criações. Após a confirmação de postagem do facebook, o vídeo se iniciou com ele clicando em cima do play. Olhei para minha mãe que estava presa tentando se soltar enquanto sacudia como dava. Sua expressão era de medo e dúvida, parou para assistir.
O filme começava na parte em que eu tentava convencer Kaique a fazer o sexo comigo, o que se passava aconteceu à pouco mais de uma hora atrás. Era sua primeira vez como passivo, e iria ser exibida para Deus sabe quem ao redor do mundo. A qualidade da imagem não era das melhores, mas nossa posição favoreceu completamente para exibir todos os detalhes. Tudo. Absolutamente tudo era possível de se enxergar acontecendo. Meu pau entrando e saindo, os gemidos sendo expulsos, e o som da cama balançando, o brilho da nossa pele suada, minha mão sobre a sua e nosso prazer chegando ao ápice.
Por durante 15 minutos eu chorei, olhando perplexo para a gravação. Minha mãe já não tinha mais forças de tanto tentar gritar, ela também chorava. Acabei com o resto da minha existência aqui. Kaique ficou vidrado no piso, não queria ver ninguém, senti por ele a vergonha e o desgosto de si mesmo. Não é impossível ter empatia de uma situação como essa. Já Thiago ria e pulava como uma hiena, corria de um lado para o outro a cada gemido, batia palmas e gritava “ihuuuu”. Era deprimente, mas finalmente acabou e as luzes voltaram a se acender. Por um minuto a figura não falou nada. Ficou parando observando, as vezes eu outras vezes o irmão, até começar novamente:
- Não é uma obra com mérito de Oscar? Precisava que toda Hollywood assistisse esse filme, por isso enviei para compartilhamento na página que semeei mais de 5.000 curtidas. Logo o vídeo vai sair do ar, mas na internet tudo se perpetua e nós sabemos que jamais vai acabar. – Realmente o plano era acabar com a gente. Ele pensou em tudo desde o começo. Sabia como iriamos reagir e até mesmo que o irmão viria atrás de mim. Com certeza ele já torturou pessoas desse jeito antes, era óbvio.
Depois de falar pouco e só ficar observando, Kaique manifestou:
- Você se superou... sua festa, essa estrutura e o seus planos foram muito bem calculados... – Já notava a frieza, não via mais medo por ali, ele tinha uma visível intenção e eu já sabia o que era. – Agora, o que você não pensou foi isso! – Tirou a arma da cintura e apontou diretamente para o irmão. Kaique tinha Thiago em sua mira!
Continua...
Pessoal, infelizmente eu vou ter que parar as postagens nesse site. As leituras estão baixas e as pessoas nem ao menos avaliam ou comentam... Encontrei uma nova página de contos que retém uma estrutura melhor e mais dinâmica, que favorece ambos no conto (autor e leitor). Acessem esse link: />
Funciona da mesma maneira que aqui, só que as pessoas leem e dão mais atenção a quem escreve, além do apoio oferecido pelo site. As postagens estão se repetindo, mas tô lançando um episodio a cada dois dias, logo, o capítulo novo sairá em breve. Espero que entendam meus motivos. Vejo vocês lá!