Saí do quarto batendo a porta. Ele não parecia acreditar. Mas era minha vez de ir às forras. Eu tinha o direito de pisar, ia pisar com o salto 15. Débora Foi me visitar logo depois que conversei com Fernando. Ela não gostava da saber que seu plano havia fracassado. Eu, por minha vez, não gostei de saber que havia Sido manipulada. Foi olho por olho no final das contas
-Você devia parar com isso. Sua decisão não está te fazendo bem. Já se olhou no espelho?
-Não tenho me sentido bem ultimamente.-Sentei em frente a ela.-Mas isso não importa. Eu não consigo perdoar o Ricardo, e também não sou obrigada a voltar pra ele. Eu não sou do mesmo nível de vocês. É melhor que ele arrume uma mulher a altura dele.
-Você realmente não está no mesmo nível do Ricardo. Está acima muitos degraus. Só que ele precisa de você para se reerguer.
-Agora ele precisa de mim?
-Parece que não, mas precisa.-Ela espiou uma pasta que estava encima do balcão e abriu.-Foi você quem fez?
-Sim, é meu novo projeto. Pretendo começar em breve.
-Nossa, são lindos. Você tem talento. Me lembra muito a Rosa. Ela adorava desenhar. Vocês se parecem tanto.
-Não sei como posso parecer com ela.
-Ela era uma garota do seu nível.-Ela sorriu.-Era um anjo. Até hoje não superamos sua morte. Mas você tem um pouco dela. Acho que por isso gostamos tanto de você.
-Mas eu não sou ela. Eu sou eu e tenho personalidade própria.
-Claro, foi só um comentário. Bom, eu tenho que ir. Mas espero que reconsidere. Afinal, seu sogro pode ter a licença cassada por conta da... brincadeira.
-Não imagino o Cláudio fazendo qualquer tipo de brincadeira.
-Ele não topou. Eu que o induzi. Sabe, nós mulheres sempre conseguimos o que queremos com os homens. Basta saber a hora certa de agir.
Débora me chamou a atenção quanto a tudo que estava fazendo. E os dias que se seguiram, foram de reflexão e planejamento, sem sair da minha rotina diária.
Dei um tempo do Ricardo, evitei ligar para o Fernando, Carlos também não apareceu mais. Então, continuei levando minha vidinha pacata. Muitas coisas já havia engolido, mas tinha coisas obscuras ainda na minha história, eu não queria voltar com o Ricardo, sem antes resolve-las.
Passeando pela rua da feira, perto do centro comercial, estava eu procurando uma farmácia de manipulação, quando vi um homem alto passando com algumas caixas. Ele saiu de um armazém deu de frente comigo. Quando me viu, abriu o sorriso mais sexi que tinha.
-Ora, ora. Se não é a dona bonitona.-Ele riu quando fiquei sem fala.-Não sabia que você saía da gaiola.
-Como não? Estou sabendo que foi até me procurar lá.-Cruzei os braços.-Ainda Souto?
-É, tenho muitas esposas pra fazer feliz.-Ele se aproximou mais.-E você, quando vou poder visitá-la novamente?
-Nem vem bonitão. Continue cuidando das outras mulheres. Tenho mais o que fazer.-A cara dele me fez sorrir.-Bom, da licença, tenho que encontrar uma farmácia. Cuide-se e cuidado pra não ser preso. Ah, ta me devendo uma televisão de plasma.
Ele riu e me deu as costas. Continuamos seguindo por lados opostos. E eu estava orgulhosa de mim. Não fiquei com medo dele, não me atirei no colo dele. Não fui vulgar nem irracional. Simplesmente o tirei da minha frente. Foi aí que notei que havia mudado de verdade.
Ricardo estava proibido de ir ao meu apartamento sem ser convidado.Confisquei até as chaves. Mas isso acabou me prejudicando, já que certa noite cheguei da aula passando mal. Pensando que era normal, tomei um banho e deitei.
Por volta de uma da manhã, eu já não suportava mais a dor de cabeça. Estava com dificuldades de respirar, pensar e raciocinar. Não conseguia levantar direito, peguei o telefone do lado da cama, mas o único número que eu tinha de cabeça era o do Ricardo.
Liguei pra ele, torcendo para que estivesse sozinho e atendesse o celular. Parecia que os toques eram infinitos. E quando finalmente ele atendeu, eu suspirei aliviada.
-Ricardo.. aqui.. você... agora.
-Julia, você está bem? Eu não entendi nada.
-Preciso de você.-Falei tentando me concentrar nas palavras.
-Você está bem? Andou bebendo de novo?
-Não, estou passando mal. Vem aqui agora é sério.
-Ta certo, to indo praí. Quer que eu leve alguma coisa?
-Não demora, por favor.
Desliguei o telefone e tentei relaxar. Mas minha cabeça doía tanto que estava me dando agonia. Era tão forte que estava ficando enjoada. Levantei e fui pro banheiro tropeçando em mim mesma.
Por sorte ele não demorou muito. Quando abri a porta, me atirei nos braços dele.
-Hei, o que você tem? Está tremendo.
-Me leva pro Marcus agora.
-O Marcus pode não estar na clínica agora.
-Eu quero ele.-Ele me amparou até o carro.-Liga pra ele, avisa que eu to mal. Ele vai entender.
E ele me levou até a clínica. Assim que chegamos o médico chegou. Praticamente me levou no colo pra dentro. Ricardo foi atrás sem entender nada. Depois de alguns exames, Marcus me colocou no soro e me manteve deitada.
-Está tudo bem?-Ele apontou o estetoscópio pra minha barriga e o Ricardo ficou intrigado.-Será que ela comeu alguma coisa estragada?
-Não, isso é normal. Demorou pra acontecer, mas aconteceu. Sua pressão deu uma subida considerável. Mas o resto é sintoma normal. Você andou se estressando?
-Com esse aí principalmente.
-Bom, vocês vão precisar parar com isso, se querem que o filho de vocês nasça no tempo certo.
-Perai, como é que é? Você ta grávida?
-Ele não sabia?-O médico me olhou com cara de criança que acabou de aprontar.
-Não e não era pra saber.
-Desculpe, eu não sabia. Pensei que vocês já haviam feito as pazes.-Ele sorriu quando sentou em frente a mesa.-Bem, vou prescrever um calmante natural e vou sair para deixá-los conversarem a sós.
Ricardo ficou o tempo todo com os braços cruzados com uma cara indefinida. Quando Marcus saiu da sala, ele sentou ao meu lado, verificando o vidro de soro, estava esperando que eu começasse a me explicar.
-Não queria que você soubesse.-Comecei.
-Por que não?-Ele se voltou pra mim e segurou minha mão.-O filho não é meu?
-Não por isso.-Falei sem responder diretamente.- Não quero que ache que porque estou grávida, sou obrigada a ficar com você.
-Não é obrigada. Ninguém é obrigado a fazer o que não quer. Mas você sabe que vai precisar de ajuda.
-E se não for seu?
-Ainda não sei como lidar com essa possibilidade.-Ele beijou minha mão.-Não quero ficar sem isso também. Sei que mereço, mas agora está doendo mais ainda.
-Hum, to gostando disso.-Falei tentando quebrar o gelo.-Qualquer coisa que te faça sofrer me faz sentir prazer.
-Você está um tanto quanto sádica não?-Ele estava louco pra passar a mão na minha barriga, mas se continha, esperando meu consentimento.
-Não dá pra sentir ainda.-Coloquei a mão dele encima da minha barriga.-Acho que não é a sua hora de ser pai. Não tem tempo nem pra sua amante. Como vai ter tempo pra um bebê?
-Não tenho amante nenhuma.-Ele me olhou nos olhos.-E você também não terá tempo. Estudando e trabalhando. No mínimo terá que deixar o trabalho.
-Não vou deixar nada. O bebê está para nascer no começo do ano que vem. Vou continuar estudando até o final do ano e no meio do ano presto vestibular. Agora o emprego,entro de licença e ta tudo resolvido.
-É, andou fazendo planos sem mim.
-Queria que eu esperasse sua palavra final? Estou grandinha pra isso.
-Não, você está certa.-Ele se levantou esse afastou.-Eu vou ao banheiro, daqui a pouco venho te buscar pra te levar pra casa.
Quando Marcos voltou pro consultório, meu soro estava no fim e nem sinal do Ricardo. Ele me ajudou a levantar e me deu as receitas.
-Vocês brigaram?
-Não.
-O encontrei no corredor um tanto transtornado. Estava... chorando.
-Ah não, você deve ter confundido.- Ricardo não chora. Não por minha causa. Pode ser que ele pense que com um bebê a caminho, ele terá problemas com a nova namorada.
-Pare de agir como uma adolescente enciumada.-Ele me fez sentar.-Não quero que brigue com ele nem com ninguém. Faça repouso, não trabalhe muito nem fique muito tempo em pé. Beba bastante líquido. E se possível, tente ficar com alguém por perto, pra evitar que passe mal novamente e não seja socorrida.
-Droga. Vou ter que voltar praquela casa?
-É o mais sensato a fazer.-Ele me olhou sério.-Eclampsia é uma coisa séria, não pode ser levada na brincadeira. Deixe suas diferenças com o Ricardo de lado pelo bem do seu bebê. Não quero perder nem você nem meu futuro afilhado em uma mesa de cirurgia.
-É tão sério assim?
-Sim Julia, tente fazer com que seu quadro não agrave. O que você teve hoje é comum, mas sua pressão aumentou demais. Se demorasse mais, teria entrado em convulsão.
-Eu vou tomar cuidado.-Falei baixando a cabeça.-E não vou brigar com o Ricardo.
-Pode maltratá-lo a vontade.-Ele falou sorrindo.-Abuse e aproveite-se dele o quanto quiser. É até saudável pra você. Mas não brigue. E pelo amor de Deus, tentem resolver suas diferenças antes desse menino chegar.b
-E se for uma menina?
-Tanto faz. Só espero que não herde a teimosia dos pais.
-Isso vai ser complicado.-Ricardo entrou no consultório, com o nariz vermelho, um copo de água na mão.-Já posso ir?
-Sim. Faça o que falei.-Ele se levantou e me acompanhou até a porta.-E você Ricardo, fique de olho nela. Não quero que esse episódio volte a acontecer.
-Não vai acontecer, pode deixar.-Ricardo me abraçou pela cintura.-Com licença. Obrigado Marcos, por cuidar deles.
-Estou às ordens.
Saímos calados. Ricardo me levou de volta pro meu apartamento, subiu ao meu lado e me ajudou a me deitar, tirou meus sapatos e me acomodou na cama.
-Está se sentindo bem? Quer que eu prepare algo, ou pegue alguma coisa?
-Não, está tudo bem, você já pode descansar.-Recostei na cama e olhei pro lado vazio, eu queria convidá-lo a dormir ali comigo, mas me contive.-Obrigada por vir me ajudar.
-Não vá trabalhar hoje, por favor. Não quero que nada te aconteça. Me ligue se sentir algum mal. Vou passar na farmácia, comprar os remédios e pedir para entregar cedo. Ligo na hora do almoço pra saber de vocês.
-Tudo bem.-Suspirei e fui me deitando aos poucos.-Obrigada assim mesmo.
-Só mais uma coisa.-Ele voltou no meio do caminho.-Posso passar aqui depois do trabalho para conversarmos?
-Pode.
-Tudo bem então.-Ele me beijou no rosto e saiu.-Até mais. Descanse.
Percebi que ele estava me tratando agora como dois. Se ele me amava, não iria continuar por muito tempo. Com o bebê, ele poderia me esquecer e concentrar sua atenção somente na criança. Isso não seria ruim. Mas eu temia uma futura briga pela guarda.
Durante o dia, aproveitei pra trabalhar em algumas idéias. Fiquei rabiscando no meu bloco e procurando na internet novas idéias. Já estava com tudo programado, em breve eu começaria a montar meu ateliê.
No meio do dia, minutos depois do Ricardo ligar, tocaram a campainha. Mandei subir, pensando ser o entregador da farmácia. Quando abro a porta, dei de cara com alguém de quem eu pouco lembrava e menos queria ver.
-Pois não?-Abri meu sorriso mais simpático, evitando mostrar abalo contra a presença daquela pessoa.
-Quero falar com você.-Ela me empurrou e entrou.-Você se lembra de mim, com certeza.
-Creio que não. Você é...?
-Não se faça de sonsa.-Ela parou no meio da sala e me olhou séria.-Quer dizer que agora você está jogando sujo?
-Como assim? Até agora não entendi o que a senhora quer aqui.
-Senhora não. Senhorita.-Ela falou com uma vulgaridade que me deixou irritada.-Estou aqui pra abrir o jogo com você. Estou sabendo que agora, pra fisgar o Ricardo, você inventou uma história de que está grávida.
-Eu não inventei história alguma e muito menos preciso “fisgar” ninguém.
-Ah imagina. Olha, eu sei qual é o seu jogo. Você daqui há alguns dias vai começar a mostrar mensagens de ameaça no seu celular pra ele e dizer que fui eu. Vai dizer que estou te perseguindo, só pra ele ficar com raiva de mim e me deixar. Mas já vou deixando claro que não vou devolver o Ricardo de bandeja.
-Mas o que você está falando, em nome de Deus?
-Ricardo e eu estávamos muito bem, até você começar a rondá-lo de novo. Agora me vem até com essa história de que está grávida? Isso não vai ficar assim. O seu tempo ao lado dele passou, se não soube aproveitar, o problema é seu.
-Escuta só minha senhora, eu não sou obrigada a te ouvir nem mais um minuto. Ponha-se para fora da minha casa, antes que eu chame a polícia. E mais, se minha situação te incomoda, senta em uma bacia de gelo e se exploda.-Comecei a empurrá-la para fora.- E se não quiser pagar um valor maior em indenização, aconselho que não me procure mais.
Bati a porta atrás da mulher com raiva. Essa era boa. A vagabunda me tira o marido e ainda vem tirar satisfações comigo, como se tivesse alguma razão? Eu não ia agüentar aquilo calada. Peguei o telefone no mesmo instante e liguei para o Ricardo.
Extravasei, xinguei, mandei ele tomar em todos os lugares possíveis e mandei que nunca mais me procurasse. O que não deu certo. Em menos de vinte minutos, ele estava no meu apartamento, entrando com a chave extra, que até então eu nem havia dado falta.
Eu ainda estava nervosa, andava de um lado a outro da sala remoendo e tremendo, senti tanta raiva quando o vi entrar, que peguei o telefone e arremessei na testa dele. Minha pontaria é uma beleza.
-Mas que porra é essa Julia? Ta maluca?-Ele pegou o telefone e passou a mão na testa.-Mas que diabo está acontecendo aqui afinal? Não era pra estar descansando?
-A vagabunda da sua amante veio aqui tirar satisfações comigo! Como se não fosse pouco o que fizeram, ela ainda veio aqui brigar comigo! Na minha casa! Aquela mulher vulgar! Você é um vagabundo também, não tinha nada que ter falado pra ela que estou grávida. Não é da conta de vocês!
-Parou!-Ele me segurou e me pôs sentada.-Fica calma, não quero passar outra noite no hospital.
-Então vai embora daqui!-O empurrei e me levantei.-Me deixa em paz! Antes que eu arrebente essa sua cara de almofadinha.
-Para garota, o que te deu?
-Era pra eu ter te dado uma surra antes.-Dei um soco nele e quando percebi que ele não iria reagir, comecei a socar até sentir o braço doer.-Eu te odeio Ricardo. Você estragou tudo! Se não sair daqui agora, eu vou te matar!
-Não vai não.-Ele me segurou.-Eu vou explicar tudo, mas espera que eu vou preparar um chá pra você. Se acalma, não estou brincando.
-Me acalmar? Como eu vou me acalmar? Eu quero você fora daqui.
-Eu não vou sair.
-Estou cansada de você fazer o que quiser. A vida é minha, quem manda nela sou eu agora! Você perdeu todo e qualquer poder que tinha sobre mim. Eu não quero te escutar, não quero te ver. Eu quero que você morra!
Saí dali e fui pro quarto. Bati a porta com tanta força, que as paredes tremeram. Era tanta raiva que meu corpo parecia se mover sozinho. Eu não sabia pra onde estava indo, ou o que estava fazendo. Quebrei tudo que tinha de enfeite e perfume encima da penteadeira. Gritei, desaforos pra porta fechada, enfiei uma tesoura pontuda na almofada em formato de flor que estava sobre a cama.
Meia hora depois, quando estava encolhida na cama, já com a respiração leve, assistindo telejornal, Ricardo entrou no quarto com uma xícara na mão e alguns remédios.
-Porra, você é insistente. O que ainda faz aqui?
-Liguei pro Marcus, ele vem te ver mais tarde. Fui comprar seu remédio.-Ele me deu um comprimido cor de rosa.-Toma isso aqui.
-E se for veneno?
-Eu não faria isso.
-Eu não confio em você.
-Não vou dar mole de fazer nada com você. Ainda mais depois desse escândalo, seus vizinhos devem ter ouvido tudo.
-Azar o deles. Estou pouco ligando pra eles e pra você.-Eu ainda tremia um pouco, mas estava mais centrada.-Você não tem mais nada a fazer aqui. Já pode ir embora.
-Temos que conversar.-Ele sentou na cama, me ignorando.-De uma vez por todas. Você está fora de si, isso vai fazer mal a você e ao bebê.
-Não é da sua conta.
-É sim. Meu filho é da minha conta sim senhora.
-Mas quem em nome de Cristo, disse que é seu filho?
-E por acaso não é?
-Não, é meu e eu não quero que você e sua amante se metam nisso.
-Eu não tenho nada com ela.-Ele falou irritado.-Afinal, o que aconteceu com você?
-Essa bruaca peituda veio reivindicar você. Me ameaçou e... quer saber? Não vai adiantar, ela é o tipo de mulher vulgar que joga sujo. Já deve ter ido falar que eu que a procurei.
-Não falou nada.-Ele suspirou.-Olha, eu não tenho mais nada com ela. Ela não aceita perder, por isso veio te perturbar. Mas não dê ouvidos a ela.
-Como não vou dar ouvidos a ela? Ricardo, ela me mostrou que você continua sendo um canalha. Se ela já sabe que estou grávida, é porque vocês ainda têm contato.
-Ela foi no escritório hoje.-Ele falou mais irritado.-Eu falei que estou tentando reconciliar com você. E comentei que você está grávida.
-Mas isso não é da conta dela. Nem, de ninguém.-Calei a boca quando a campainha tocou.-Espero que não seja ela de novo.
E lá veio o médico preocupado, com maleta na mão, e uma cara nada boa. Quando chegou, deu uma olhada em volta e ficou alguns instantes olhando pra mim e para Ricardo.
-O que aconteceu aqui?
-Ah pergunta pra sua paciente. Dessa vez eu não tive culpa.
-Eu fui a culpada Marcus.-Sentei na cama.-Me irritei com o descaramento da amante do Ricardo. Acredita que ela veio aqui me ameaçar?
-Ricardo.
-Eu não tenho nada a ver com isso.-Ele logo se afastou.-Ela ficou louca, começou a jogar coisas, quebrar o que via pela frente.
-Como está se sentindo?
-Bem.-Falei enquanto ele puxava meu braço.-Não acredito que tenha me feito mal extravasar um pouco.
-Vamos ver agora.-Ele verificou minha pressão, ouviu meus sinais, fez até exame de glicose. No final ele sorriu.-Sua pressão está ótima. Realmente valeu a pena.
-O que? Você vai dar razão a essa loucura? Ela podia ter se machucado. Ou machucado o bebê.
-Acho que quem devia ter evitado isso é você. Eu não tenho nada com isso.-Ele guardou os instrumentos na maleta.-Olha, você realmente precisava botar pra fora aquela adrenalina toda. Talvez até tenha passado mal essa noite por causa disso. Mas não quer dizer que vai poder quebrar o barraco todo dia. Tenta relaxar.
-Só se arrumar um jeito de manter o Ricardo e a amante longe de mim.
-Eu vou falar com ele.-Ele se levantou.-Tente não me dar outro susto.
-Ok. Desculpe.
Ele saiu, Ricardo foi atrás e levou alguns minutos pra voltar. Quando voltou, estava com uma cara estranha ainda. Mesmo assim, manteve distância e tentou não me irritar mais.
-Eu vou embora. Não tem jeito de falar com você.-Ele olhou em volta.-Enquanto não parar de me acusar e não me escutar.
-Ricardo, eu não tenho pra que e nem quero te escutar. Você já disse o que queria. Só que não me convenceu. E se valeu a pena pra você sair com ela e me trair, porque agora não vale mais a pena?
-Porque eu errei. E isso não justifica. Mas eu quero acertar dessa vez.
-Não quero que você acerte nada. Só quero ficar em paz. Preciso de um tempo longe de você.
-Um tempo? Você ficou praticamente quatro meses longe de mim.
-E não foi suficiente. Na verdade tinha sido, mas aí aquela mulher veio aqui e me fez lembrar. E se você soubesse o quanto dói lembrar daquela cena ridícula no restaurante.
-Ai droga, isso ainda?-Ele olhou em volta.-Quanto mais você se lembrar disso, pior vai ser. Vai ficar remoendo essa raiva que só vai te prejudicar.
-Eu sei disso. Por isso quero manter distância de você e da sua amante. Mas acho que vocês ainda não entenderam isso.
-Tudo bem Ju, você venceu.-Ele suspirou e desencostou da parede.-Fica sozinha quanto tempo te der na telha. Mas me avisa quando for ao médico fazer o acompanhamento, quero ir com você.
E ele saiu dali encostando a porta do quarto. Fui dormir, era melhor pra mim e pro meu estado emocional.
-Eu não confio mais nele.
-Vou reformular a pergunta. Se vocês voltarem hoje, você terá confiança em si mesma, para mantê-lo ao seu lado?
-Não entendi.
-Isso vai ser mais difícil do que eu pensei.-Ele chamou o garçom e se voltou pra mim.-O que acha de sair com uma mulher?
-Sair...? Como?
-Ficar.
-Transar com uma mulher?-Falei alto quando o garçom se aproximou e quando ele riu eu me senti uma idiota.
-Você vai pedir agora?-Fernando perguntou rindo.
-Sim. O especial do dia.-Falei apontando para o cardápio.-E um suco de laranja.
-O mesmo pra mim.-Fernando entregou o cardápio e esperou ele se afastar.-Sim eu estava falando em sexo com outra mulher. O que você acha?
-Ah não. Não gosto da idéia. Outra mulher não teria o que eu preciso para me preencher.
-E os brinquedos, pra que servem?-Ele sorriu.-É um pecado trancá-los no fundo da gaveta.
-Eu não sinto tesão por outras mulheres.
-Talvez sinta e não saiba.-Ele sorriu de uma forma que me deixava cheia de perguntas.-Vamos fazer o seguinte. Essa noite vou levá-la para sair, conhecer um lugar legal. Fique tranqüila, você não vai ser obrigada a ficar com ninguém.
-Não vai me levar há um clube de swing, vai?
-Não. Um lugar muito melhor, com música, bebidas, pessoas normais como você. Relaxe, você vai gostar.
Vamos lá continuar.
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