- ta certo. Gabriel, prazer. - falei estendendo o braço.
- prazer Gabriel. Pode me chamar de Beto.
O cara me cumprimentou e nossas mãos ficaram entrelaçadas por um tempo.
Deixei meu número com o Beto, e ele ficou de me ligar assim que tivesse novidade sobre a formação do time.
Voltei pra casa pensando naquele cara. No carro, O Danilo conversava comigo, mas meus pensamentos estavam longes.
- será que ele curte? - Eu ficava pensando comigo mesmo.
É como se eu quisesse encontrar um substituto a altura do Fernando, para que eu pudesse esquece-lo por completo.
Os dias se passaram, e em uma tarde de sábado eu fui ate a casa de um amigo da faculdade fazer um trabalho.
Peguei o carro dos meus pais, liguei o gps e em menos de quinze minutos eu estava no portão da casa do Lucas.
Liguei para o celular, afim de confirmar se eu estava no endereço correto, e sim, eu estava no local certo. Logo na entrada eu topei com o pai do Lucas que por sinal foi bem receptivo. Apresentei-me, e o coroa me convidou para entrar.
Lucas estava em uma área que ficava nos fundos da casa. O cara estava com uma imensidão de material espalhado na mesa.
- e aí Lucas. - falei cumprimentando o rapaz.
- porra. Demorou hen!? - disse ele tocando em minha mão.
- minha mãe só deixou eu sair depois do almoço. - falei colocando meu not em cima da mesa, e puxando uma cadeira para sentar.
- já almoçou fuleiro? - disse Lucas.
- Já! Por que? - falei ligando o carregador no ''not''.
- tava te esperando pra almoçar velho.
- porra mano. Foi ''malzão''. Minha mãe é meio controladora com assuntos de comida.
- to ligado. Minha mãe fez pudim de sobremesa, tu quer?
- aceito sim. - falei sorrindo.
Lucas levantou-se e caminhou ao interior da casa.
- hey Lucas. - falei virando de frente pra ele.
- fala. - disse ele parado próximo a porta.
- se não for abusar, você pode colocar bastante pudim pra mim. - disse passando a língua nos lábios.
Lucas sorriu.
- ''podeixar''. e sumiu da minha vista.
Lucas era um cara de dezenove anos. Corpo moreno, magro, mas não em excesso, cabelos raspados do lado com um moicano sempre no gel, usava um alargador na orelha esquerda, seus olhos eram cor de mel, sua pele era lisa sem barba e nem marca, sua boca era carnuda num tom avermelhado. O cara deveria ter mais ou menos 1,80 distribuído em uns 80kg.
Lucas voltou com um prato de comida, e uma taça de sobremesa.
- valeu. - falei pegando o pudim de suas mãos.
- valeu nada, você vai ter que caprichar na sua parte pra compensar pelo atraso e por ter me deixando tanto tempo com fome.
Eu sorri.
- Fica tranquilo mano. Minha parte vai ficar canal.
Fizemos uma pausa no trabalho, e fomos comer nossos respectivos pratos.
Lucas me observava bastante, como se quisesse perguntar, ou comentar alguma coisa.
- o que foi po? - falei já um tanto curioso.
- velho, eu posso fazer uma pergunta na moral?
A seriedade do Lucas me deixou assustado.
- faz ué. - falei tentando não demonstrar nervosismo.
- Não. Deixa pra lá. - disse ele colocando uma colher de comida na boca.
- fala pô. É alguma coisa sobre mim?
Com a boca cheia, Lucas apenas confirmou com a cabeça.
- então pergunta, que agora eu to afim de saber.
Lucas queria perguntar, mas não sabia quais palavras usar.
- fala logo pô. Tô suando frio já.
- é que eu tenho medo de perguntar e você ficar chateado. - disse Lucas passando um guardanapo na boca.
- depende velho. Você aprontou alguma coisa pra cima de mim?
- Não é isso. Acontece que é uma coisa pessoal tua e eu tenho medo de ser invasivo. Entende?
Eu tinha certeza que aquele cara queria perguntar sobre minha sexualidade. Por um lado eu achava ate que seria melhor pra não gerar nenhum mal entendido futuramente.
- Entendo cara. Pode perguntar, eu acho que já sei até do que se trata.
Lucas soltou a respiração e soltou a bomba em cima de mim.
- é verdade que você faz programa no banheiro da faculdade pra bancar os custos do curso? - disse ele um pouco timido.
- é o que velho? De onde que tu tirou isso?
- a galera que comenta.
- que galera cara? Sabe de onde partiu essa conversa?
- cara, eu não sei não. Mas já ouvi até em outros blocos.
- caralho velho. - falei deixando o copo de pudim de lado.
- olha aí. Ta vendo? Por isso eu não queria tocar nesse assunto.
Uma lágrima escorreu dos meus olhos, mas não foi tristeza, e sim raiva. Como pode alguém difamar uma pessoa desse jeito. Salvei a introdução do trabalho, desliguei meu not e o guardei na mochila.
- o que tu ta fazendo cara? Onde tu vai?
- ah velho, eu vou ter que ir ali.
- Hey. - Lucas tentou me segurar pelo braço.
Olhei pra ele, e o cara viu que meus olhos estavam marejados.
- chora não brother. Esses filhos da puta não têm nada a ver com o que tu faz da tua vida. Só quem sabe o valor de arquitetura somos nós que estamos lá ralando.
- como é que é? Tu ta achando mesmo que eu to me vendendo por grana pra custear a porra desse curso?
Lucas me olhou e fez uma cara de bobo.
- Eu não é cara? Tu não ta assim porque teu nome ta na boca da universidade?
Olhei para Lucas e as lágrimas caíram com força.
- eu to assim porque alguém criou um boato a meu respeito, e o pior é que existem pessoas que compram a ideia de que isso possa ser verdade.
- porra! - Exclamou Lucas fechando os olhos e fazendo uma cara de desespero. - Mas quem iria querer fazer uma coisa dessas contigo?
- Não sei cara, mas eu vou descobrir.
- não sai assim não mano. Toma um copo com água, senta e esfria a cabeça um pouco.
Balancei a cabeça em negativa.
- to sem clima pra continuar o trabalho.
- não precisa continuar o trabalho mano. Só dar uma relaxada. Isso é serio, mas você não pode sair assim nesse estado.
- eu to bem cara. Só quero ir pra casa.
Lucas me levou até o carro, e pediu que ao chegar em casa, eu ligasse para dar noticias.
Confirmei, e saí com o carro em disparada.
Na estrada, eu ia pensando no quanto essa vida é cruel. Quando você acha que as coisas estão se endireitando, acontece uma merda dessas. Eu pensava na minha família. Temia pela reação deles, caso soubessem de uma coisa dessas. E as pessoas na faculdade? Como vão ficar me olhando? E o carinha do vestiário? Ele não ligou pra falar sobre a peneira para o time de futebol, provavelmente já esta sabendo das fofocas.
Fui dirigindo até o apartamento do Victor, e subi sem ser anunciado. Toquei a campainha, e depois de um bom tempo ele veio abrir.
- Biel? - ele falou espantado.
- se assustou porque mano? To tão feio assim?
Victor sorriu e me deu passagem para entrar.
- senta aí. - Disse meu amigo sentando no sofá a meu lado.
- teus pais tão aí? - falei olhando pra um lado e outro.
- não. O que ta pegando?
- Esses dias, você ouviu alguma conversinha sobre mim la na faculdade?
- Fora o lance que te arremessaram lama com o carro, não! - disse Victor rindo.
- ta rolando uma parada muito mais séria que isso. - falei respirando fundo.
- o que foi? O que ta rolando? - meu amigo me olhava nos olhos.
- alguém ta espalhando por aí que eu to me prostituindo dentro do vestiário da universidade.
- ta de zueira. Mas quem ta fazendo isso contigo?
- eu não faço a menor ideia.
- mano, eu juro pra você que não to sabendo de nada.
- eu acredito em tu velho.
- já falou com o Danilo sobre isso?
- ainda não.
- talvez ele saiba né!?
Dei de ombros.
- como tu ficou sabendo?
- Um cara la de dentro de sala me contou.
- e ele não falou quem espalhou esse boato?
- ele também não sabe. O cara já ouviu várias pessoas comentando. Eu to com medo brother.
Victor aproximou-se mais de mim.
- medo de que brother?
- eu to pensando em não aparecer mais na faculdade.
- qualé? Ta louco? Como é que tu pode pensar numa besteira dessas?
- como tu acha que eu vou ter coragem de olhar na cara dos outros?
- tu ficou sabendo disso quando?
- hoje.
- então mano. Talvez isso esteja rolando faz tempo, e tu só ta assim agora que descobriu. Continua agindo como se não tivesse sabendo de nada. Tenta esquecer esse episodio.
- eu posso esquecer, mas e os outros será que vão apagar isso também?
- problema é deles.
- né assim bagunçado não mano. O Beto ficou de me ligar assim que o professor agendasse a peneira, e até agora nada.
- e o que isso tem a ver mano?
- eles não vão querer um cara que vive transando no vestiário por dinheiro. Talvez isso manchasse o time da escola.
Victor sorriu.
- Mano, tu ta ficando paranoico. Esse tal de Beto não deve ta sabendo de nada.
- eu duvido mano. - falei recostando minha cabeça nas costas do sofá.
Victor acariciou meu cabelo de forma diferente.
Nessa hora, uma Loira, do tempo do colégio saiu do quarto do Victor, vestida com uma camiseta do meu amigo.
- Telefone, Victor. - disse ela com o celular nas mãos.
- quem é? - perguntou Victor.
- acho que são teus pais. - disse a garota.
Victor pegou o telefone e começou a dialogar com alguém do outro lado da linha. Meu amigo pediu licença e foi para outro comodo da casa.
- oi Gabriel. - disse a Loira que eu já conhecia bem.
- oi Amanda. - falei meio desanimado.
- ta tudo bem? - perguntou ela sentando no outro sofá.
- ta sim, e por aqui? Tava rolando uma resenha?
Amanda sorriu.
- pois é... - Foi o suficiente pra eu entender que ela e o Victor estavam ficando.
- eu vou ter que ir nessa, tu explica pro Victor?
- claro. - disse ela me acompanhando ate a porta.
Nos despedimos com um beijo no rosto, e eu senti de perto o cheiro do meu amigo na camiseta que Amanda usava.
Saí dali com um peso nas costas. Eu não tinha nava a ver com a vida do Victor, mas eu sabia que se ele namorasse as coisas entre a gente iria mudar. Afinal ele teria que dividir seu tempo com a faculdade e o namoro. E o que iria sobrar pra mim?
O resto do meu sábado foi uma porcaria. Eu tentei dormir pra esquecer as noticias que havia recebido aquele dia. E por um tempo deu certo.
Acordei no domingo já tarde, e acabei tomando café sozinho.
Danilo entrou na cozinha, abriu a geladeira, e tomou uma golada de leite.
- o que foi? - disse ele ao ver que eu o observava.
- vai sair? - falei colocando uma fatia de presunto na boca.
- nós vamos.
- nós?
- eu, o tio e você.
- to sabendo nada disso não.
- ta sabendo agora que eu to avisando.
Danilo puxou uma cadeira e sentou a meu lado.
- e pra onde nós vamos?
- pescar. - disse ele sorrindo.
- isso é ideia do meu pai né!? - falei passando geleia na torrada.
- e minha também.
- a cara de vocês dois esse programa. - falei sorrindo.
Danilo também sorriu.
- mas e aí, tu vai né!?
- vai ter cerveja?
- claro. Daqui vamos passar na distribuidora.
Aquilo pareceria interessante. E eu não ia passar meu domingo pensando no que talvez fosse me acontecer na faculdade. Eu não iria continuar sofrendo por antecipação.
Ao termino do café, eu parti com meu pai e o Danilo para uma pescaria na fazenda de um amigo do trabalho do meu pai.
Enquanto meu pai conversava com alguns amigos, Danilo e eu enchemos nosso isopor de cerveja e gelo, e descemos para a beira do rio. Chegando lá, armamos nossos caniços, e sentamos em um '' trapiche''. Nossos pés ficaram dentro da água gelada.
- acho que alguma coisa comeu minha minhoca. - falei fazendo um pouco de força.
- será uma baleia?
- ou pode também ser o touro do teu pai?
Danilo tapeou minha nuca.
- vai tomar no cu caralho. - disse ele sorrindo.
O peixe parecia pesado, e eu tive que levantar para ter um melhor apoio.
- puxa. - disse Danilo também ficando de pé.
- to tentando.
Danilo teve que me ajudar com a vara de pescar.
- esse é dos grandes. - disse Danilo vendo a força que o peixe exercia.
O almoço ta garantido já. - falei sorrindo.
Após uma intensa batalha, conseguimos vencer a guerra com o peixe.
- caralho. - disse ele vendo o peixe que havíamos pescado.
- que peixe é?
- é um tambaqui. E o bicho ta gordo.
- caralho velho. Eu adoro tambaqui.
- como é que adora e não sabe identificar um? - Danilo riu.
- nunca tinha visto um assim. Somente assado.
Danilo tirou o anzol da boca do peixe, e segurou o bichão no ar.
- tira uma foto. - disse ele.
- esqueci meu celular em casa. - falei.
- Porra. Segura ele aqui, que eu vou lá em cima pegar o meu.
Segurei o peixe, e Danilo subiu. Nesse meio tempo apareceu um cara, e puxou papo comigo.
Branco, 1,80, cabelo ruivo bagunçado, alguns sinais espalhados pelo abdomem trincado, olhos azuis, rosto liso, nariz afilado. Parecia o tipico garoto mimado.
- e aí. - disse ele.
- oi. - respondi.
- beleza?
- tranquilo.
- acho que já te vi la pela faculdade.
- pode ter sido. Faz qual curso?
- direito. - ele respondeu.
- meu pai era louco que eu fizesse direito. - falei ainda com o peixe no colo.
- eu sei. - disse ele rindo.
- conhece o meu pai?
- claro. Ele é o melhor amigo do meu pai.
- você é filho do Souza? - falei incrédulo.
- em carne e osso.
- nunca tinha te visto com ele.
- é que eu moro com minha mãe, e daí as vezes eu venho aqui pescar e assar uma carne.
- to ligado.
- vai fazer o que sábado? - ele perguntou direto.
- próximo?
- isso.
- ainda não sei.
- to vendendo uns ingressos pra festa dos calouros do meu curso.
- e aonde vai ser?
- lá no safira. Bora?
- parece ser legal.
- legal? Vai ser a melhor festa que a universidade já teve. Ingresso é open bar.
- Vou querer velho. Guarda dois ingressos pra mim que eu pego na hora que tiver indo pra casa.
- beleza. E teu nome mesmo é...
- Gabriel. - falei.
- prazer Gabriel. Meu nome é kadu.
- prazer fera. - falei simpático.
Kadu abriu o isopor de cerveja.
- posso pegar uma? - disse com a mão na piriguete.
- pode sim cara. Fica a vontade.
- valeu.
Kadu sentou a meu lado e começou a puxar assuntos sobre a faculdade. Eu fiquei mais tranquilo sabendo que minha fama não estava tão grande como eu imaginava.
No final da tarde voltamos pra casa, e devido ao cansaço, eu não tive dificuldades pra dormir.
A semana começou e eu estava um pouco acuado. Se eu sentia que alguém me olhava demais, eu já pensava que era por causa da fofoca.
O Beto não me ligou e eu já havia esquecido o lance do time.
Convenci Danilo, e Victor a irem a ''tal'' festa da turma de direito, este último topou ir, mas eu já havia ficado sabendo que ele iria levar a Amanda. Eu estava sendo jogado pra escanteio pelo Victor, e isso não era legal.
O sábado chegou, e eu saí de casa com o Danilo para a festa. Safira era um hotel fazenda um pouco afastado da cidade. Eles eram especialistas em casamentos, aniversários, festas de formatura, e também de calouros.
O local estava lotado, e o clima bem agradável. Danilo, Victor, Amanda e eu sentamos na mesma mesa, e nos revesávamos em ir buscar as bebidas.
Lucas, o amigo da faculdade, apareceu já depois da meia noite e ficou puxando papo comigo.
- to tranquilo cara, e tu?
- de boa! - Lucas já havia chegado chumbado de tanta cachaça. Sua camiseta manga longa azul suada deixava seu peitoral amostra.
Apresentei Lucas a meus amigos e ele foi simpático com todos.
- veio sozinho? - perguntei em seu ouvido. A música estava alta, e era impossível entender alguma coisa se não fosse dita ao pé da orelha.
- vim com uns amigos, mas eles estão curtindo por aí.
- to ligado. - falei.
- ta de carro?
- to sim. Meu primo veio dirigindo.
- será que vocês podem me dar uma carona na volta?
- claro que sim pô.
Depois de um tempo eu fui ao bar pegar mais bebidas, e topei com o Kadu,
- e aí? - disse ele.
- beleza?
- sussa. Ta curtindo?
- muito. - falei.
- te falei que seria bacana.
- e ta sendo mesmo.
- lá atrás ta rolando piscina de espuma, com ''vodkas'' espalhadas no fundo. Quem encontrar fica.
- mas não é perigoso entrar numa piscina de espuma com garrafas no fundo?
- não, é bem tranquilo. Bora la ver?
- pode ser.
Deixei as bebidas na mesa dos meus amigos, e me dirigi até a tal piscina de espuma.
- fiquei de boca aberta quando vi aquilo. O pessoal estava literalmente se pegando dentro da piscina.
Tinham roupas espalhadas pelo jardim, o que me levava a crer que aquelas pessoas estavam peladas dentro da água.
- caralho velho, que loucura. - falei sorrindo.
- bom né!? Quer entrar? - disse Kadu.
- Não. - Sorri- To de boa aqui cara. Vou ficar só como telespectador.
- pena! - Kadu começou a tirar a roupa e ficou só de cueca.
Olhei para seu corpo, e aquele cara parecia um europeu: Branquinho com os cabelos ruivos, e corpo definido.
- espera aqui. Eu vou entrar e voltar com uma garrafa de ''vodka'' pra nós.
- beleza.
Kadu pediu que eu cuidasse de sua roupa, e assim o fiz.
O cara entrou na água e demorou a retornar. Fiquei com muita vontade de mijar, então deixei suas roupas em cima de um banco e fui até o banheiro.
Após tirar água do joelho, fui até o lavatório, abri a torneira e lavei minhas mãos. Kadu entrou todo molhado e com espuma espalhada no corpo. O cara estava usando apenas a calça. Sua camisa estava em seu ombro.
- me deixou na mão hen mano!? - disse ele arrumando o cabelo no espelho.
- foi mal cara. Tava apertado e tu tava demorando.
- de boa. - disse ele.
- eu deixei teu celular no bolso da calça. Tu encontrou?
- encontrei sim. - disse ele entrando em uma das cabines do banheiro.
Sequei minhas mãos e me despedi do Kadu.
- espera aí. - disse ele subindo o zíper da calça e saindo da cabine.
- fala. - disse antes de sair do banheiro.
- vai fazer o que agora? - disse o cara lavando as mãos.
- vou voltar lá pra mesa aonde estão os meus amigos.
- não ta afim de sair daqui? - disse ele secando as mãos.
- sair daqui pra onde mano? - falei sem entender.
- quer ir la pra casa? Minha mãe ta de plantão hoje, e eu to sozinho.
Aonde aquele cara queria chegar?
- não cara. Eu to com uns amigos, e só vou sair daqui quando eles forem.
- que pena cara. Não ta afim de ganhar uma grana fácil?
Aquilo me subiu. já fazia uma semana que eu tentava esquecer aquele assunto inconveniente.
- de que tu ta falando cara? - aproximarei-me do Kadu.
- só um boquete velho. Tu cobra quanto?
- quem te falou que eu faço essas coisas?
- uma pá de gente.
- uma pá de gente quem?
- há vei, sei lá, várias pessoas.
Comecei a ficar nervoso.
- e tu acreditou nisso pô? Eu não faço essas coisas não!
- qualé cara. Eu sei que faz. Você ta tímido porque sabe que eu conheço teus pais. Mas não tem perigo não, eu não comentaria isso com ninguém.
- eu não to tímido por isso. To falando a real cara. Alguém ta espalhando isso só pra ferrar com minha vida.
- será? - disse ele duvidando de mim - vem aqui vem. - Kadu tentou me arrastar pra dentro de uma das cabines.
- me solta filho da puta. Já falei que eu não faço essas coisas. - falei o empurrando.
- ta brabinho tá? Eu também sei ficar valente, e garanto que eu posso ser mais forte que você.
- solta o cara, Eduardo.
Alguém falou entrando no banheiro.
- qualé pô? Nós só estávamos brincando.
- brincadeira chata pra caralho velho. - falei me afastando dele.
Kadu apontou o dedo pra mim, e falou na ponta dos lábios.
- ainda vamos nos cruzar por aí. - falando aquilo, o cara saiu do banheiro.
- ta tudo bem? - notei que aquele cara era o Beto.
- tranquilo. - falei.
- eu te liguei várias vezes, mas a ligação não era completada.
- você ligou no número certo cara?
Beto tirou o celular do bolso.
- aqui oh, o número que tu me passou. - disse ele me mostrando a tela do seu celular.
- ta errado aqui. No lugar do três éfalei apontando para a tela do aparelho.
- ah, então foi por isso que não deu certo. Só esse número ta errado?
- sim.
Victor entrou apressado no banheiro.
- té que enfim te encontrei mano. - disse ele.
- o que foi pô? - falei lhe dando atenção.
- vou te que ir pra casa.
- por que? O que aconteceu?
Victor estava tão nervoso, que talvez nem tenha notado a presença do Beto.
- minha mãe acabou de me ligar pra avisar que o Fernando foi baleado.
- que? Como assim mano?
- ela não me explicou direito, só disse que ele foi liberado, e vai chegar agora pela manhã.
Continua...