Aqui esta a sequência da Parte 1 do Capítulo 3. Meus pêsames pelo BobCapítulo 3 - Perdas e Ganhos - Parte 2
-Ave, César. Posso me sentar ao seu lado e pagar mais uma bebida. - diz o moço já puxando a banqueta.
-Você sabe que as bebidas são de graça, não? - respondi enquanto limpo meus olhos marejados, efeito da bebida.
O homem ri descontroladamente notando que eu não havia percebido a cantada, e mesmo após eu entendo meu erro solto uma gargalhada… essa risada alta foi efeito do álcool, com certeza.
-Miguel… e eu sei quem você é. - disse o homem com a mão estendida para mim.
-Prazer Miguel, sabe mesmo?
-Claro, seu nome é César… quem não conhece o César. - respondeu Miguel como se quisesse demonstrar que viu a minha entrada no bar.
-Na verdade é Thomas, e me desculpe pelo espetáculo anterior. Eu não venho muito aqui e claramente não bebo com tanta frequência. - digo de forma descontraída.
Não estava no meu normal, conversando tão abertamente e fazendo piada com estranhos… maldita bebida transparente. E conforme a conversa avançava eu me via cada vez mais embriagado enquanto os copos se acumulavam no balcão, o bar começou a esvaziar e vendo a cara de cansado de Elias eu resolvo me despedir do Miguel.
-Fico feliz por ter te conhecido Sir Miguel - nem eu acreditava que tinha dito aquilo, eu estava pegando os costumes da Sara e me envergonhando.
-Fica mesmo? - indaga Miguel rindo de forma graciosa enquanto olha para mim. - Posso te acompanhar até a porta, se não for um incômodo? - Fez um gesto de reverência como se quisesse fazer graça com a minha fala anterior.
Qualquer um poderia perceber as verdadeiras intenções daquele homem e eu não sou ingênuo, tentando dar continuidade a situação eu repito o seu movimento em direção a porta aprovando a sua proposta.
Enquanto caminhamos até a saída Elias nos observa de canto de olhos, ele não conhecia o homem e estava de olho para que nada forçado acontecesse - um instinto paterno que todos os homens daquele lugar pareciam possuir.
No meio do caminho eu tropeço em uma das cadeiras largada no meio do corredor, nada muito grave mas o suficiente para Miguel me segurar pela cintura - uma desculpa para me tocar pela primeira vez.
A minha reação foi indisfarçável, antes com um sorriso bobo agora eu fico sério e desconcertado deixando aparente o meu ‘desconforto’ diante da situação.
-Desculpe… - disse de imediato Miguel enquanto abaixa o olhar e coloca as mãos para cima.
Caminhamos até a porta sem muito contato visual e nem uma palavra. Reagir daquele jeito deixou o clima muito pesado e por consequência eu estaria afastando aquilo que, no subconsciente, eu desejava conhecer. Ao longo da caminhada eu senti que Miguel estava ficando cada vez menos confortável se afastando de pouco em pouco.
Alcançamos a porta já na saída, descendo o único degrau que existia, eu me desequilibro e como reflexo eu agarro forte em seu braço. Pelos Deuses, isso realmente deve ser obra do cosmos para me sacanear.
“Inferno…” eu sussurrei baixinho, maldito degrau.
-Na verdade eu acho que foi a bebida… as bebidas - disse Miguel afim de puxar papo.
Nesse momento eu não sabia o que responde, não existia uma conversa a ser seguida ou uma linha de pensamento a ser obedecida. Eu sou bom com lógica não com a espontaneidade das relações, ou é apenas falta de prática após anos fugindo.
-Acho que eu já vou indo, amanhã eu tenho que falar com um tal de César sobre as tarefas que eu posso realizar - Miguel fala ironicamente enquanto faz menção em se afastar, - Soube que ele é um homem muito exigente… e eu não quero fazer papel de bobo. Até mais.
Nesse momento todos os meus músculos vão contra ao comando do meu cérebro e segura o braço do Miguel trazendo ele lentamente junto a mim enquanto caminho de costas até parede de fora do bar. Agora nós dois estávamos um de frente pro outro e ambas as respirações estavam aceleradas, para um novato aquilo era emocionante apenas o fato de ter um homem daqueles tão perto… incrível.
Com o propósito de parecer experiente eu levo minha mão ao seu rosto fazendo com que trace o caminho até meus lábios. Pode até parecer efeito do álcool mas eu senti uma certa resistência por parte dele, ou era eu que estava tão apressado?
Começamos a nos beijar, primeiro de forma tímida como se tivesse uma cota de apenas dois beijos para cada minutos, a partir disso ambos se acostumaram ao ritmo do parceiro. Que beijos, minha inexperiência no assunto era o que mais me excitava pois existia algo novo que eu estaria descobrindo em mim - tirando o fato de que aquilo aliviaria meu estresse de maneira milagrosa, assim esperava.
Com a minha mão eu traçava um caminho diferente indo em direção ao seu peito, minha mão sentia a definição de seus músculos e sem parar por ali eu desço até seu abdômen finalmente chegando a virilha. Eu segurei seu cinto antes de tomar a próxima iniciativa.
Por todo o caminho que eu fazia com minha mão o que mais deixou Miguel desconfortável foi o último, e quando eu coloquei minha mão por cima da sua calça sentindo que ele já estava animado com aquela situação ele deu um pulo assustado para trás e gaguejando ele fala:
-Eu… eu.. é… Eu realmente preci… preciso ir.
Então ele se virou andando em direção ao centro da vila, mas sem antes olhar para mim e falar “Até mais, espero te ver amanhã”. Eu estava sem entender nada naquele momento, teria sido tão desagradável me beijar? ou aquele ‘aperto’ havia sido inconveniente? Eu era tão assanhado assim ou ele era conservador?
“Porque não hoje?” resmunguei baixinho com um sorriso no rosto e durante todo o trajetórias até a casa central eu repassava o momento daquele beijoMinha mente havia me puxado ao passado com tanta eficiência que eu mal me lembrava do tanto que andei, apenas sabia que era em linha reta. Voltando a realidade escuto o barulho de um rio, não muito forte, apenas quando se ficava em silêncio e prendia a respiração é que se percebe os sons.
A tontura e o barulho do estômago indicavam que eu já teria percorrido um bom caminho até aquele lugar, pelo menos água eu teria para beber.
Após mais algumas poucas centenas de metro eu chego ao rio, com uma correnteza considerável, não muito forte e nem muito fraco. Na verdade era uma paisagem linda, porém o que mais me chama a atenção era que entre as árvores eu avistava algo brilhando, uma espécie de metal reluzia de forma discreta.
Atravessei o rio com muita cautela, por mais que a correnteza não fosse tão forte eu estava muito fraco, e caminhei em direção ao brilho me deparando com o começo do contorno de uma casa.
Uma grande casa com dois andares, era feita de tijolos em um estilo rústico que aparentava resistência. Ao lado da casa havia um pequeno cultivo de hortaliças e flores, cores vibrantes que se alegraram ao ver os raios de sol.
Os vidros estavam abertos e a porta da frente também. Em um mundo tão traiçoeiro em que estamos vivendo aquilo era estranhamente convidativo. Minha visão começa a embaçar por causa da fome, eu não aguentaria ficar por muito tempo naquele dilema então eu resolvo me aproximar bem devagar.
Chegando a entrada eu subo as escadas de tijolos vermelhos com toda a calma e precaução, se aquilo fosse de alguma forma uma armadilha eu queria estar preparado. Entro pela porta encontrando primeiramente a sala, organizada sem qualquer sinal de luta ou arrombamento.
A cozinha estava limpa com biscoitos no centro da mesa que não eram muito convidativos pela sua aparência verde. No corredor havia uma escada para o segundo andar e uma porta de saída para os fundos. Após subir as escadas sorrateiramente eu observo três quartos e um banheiro, tudo estava estranhamente organizado como se alguém limpasse diariamente aquele lugar.
Vistoriei os dois primeiros quartos, pequenos mas confortáveis, organizados também e quando eu chego ao terceiro e maior quarto a dor era uma reação previsível. Havia uma pequena UTI no quarto que, de acordo com os quadros da sala, dava assistência a uma menina com idade entre sete e dez anos. O seu pai estava ao lado de sua cama segurando a mão da pequena, ambos estavam mortos. Aquilo contava uma história.
A garota provavelmente veio a falecer por algum motivo e o pai em desespero e tristeza não saiu do lado de sua filha, morrendo dias após de fome, sede e cansaço. O cheiro confirmava a hipótese.
Eu não conseguiria aguentar mais, primeiro o Bob e agora isso, não existia nada que Praga pudesse me oferecer para continuar vivendo. Saindo correndo da casa, passando pela porta eu olho para o céu em busca de uma resposta divina para a cena do quarto. Fico sentado na escada esperando que algo me tire daquela maldita realidade.
Aquele homem morreu segurando a mão de sua filha, não havia crueldade humana, apenas morte pura e simples. Não vou adiante nesse mundo, resolvo que após uma única tarefa eu vou reencontrar Bob.
-Eu sei que você quer que eu seja forte e durão, mas sem você é impossível - falo enquanto as lágrimas descem pelo meu rosto, - Eu quero te ver de novo, me espere.
Antes de me juntar ao Bob eu resolvo dar um fim digno para o dono da casa e sua filha, usando a pá do jardim enterro os dois um ao lado do outro perto da floresta - que ficava a uns dez metros para cada lado. Não sei de onde eu tirei estômago para aquilo e não havia um propósito claro, mas eu sabia que deveria fazer aquilo… eu sabia.
Terminando a tarefa eu repouso na escada de tijolos vermelhos encarando o caminho por onde eu havia chegado. “Você teria amado esse lugar Bob…”, não havia mais motivo nem forças para continuar, “Estou chegando Bob”.
Algo chama a minha atenção a minha frente, vejo duas pessoas saindo da floresta, duas mulheres. Uma, morena de cabelos curtos, estava em prantos pois a outra estava com a perna sangrando.
-Eiiiii, aqui…. - grito para chamar a atenção das moças.
A mulher que auxiliava a sua amiga levanta os braços e acena, a sua expressão se torna feliz e alegre… esperança era mercadoria rara que, de vez em quando, alguém era beneficiado.
Quando as duas se aproxima eu vejo que ambas estavam muito magras e seus rostos pálidos.
-Por favor… nos… nos ajude. - disse a mulher com a perna machucada.
-É claro, podem vir. - respondo com esperança em ajudá-las.
Caminhando para ajudar a levar a mulher para dentro da casa eu olho rapidamente para a floresta e vejo que algo mais se mexe. Alguém as teria seguido até ali? Seria alguém do grupo dos saqueadores? Não havia como se defender sem nenhuma arma, aquela mulheres caminharam toda a floresta para morrerem ali?
Com certeza meus olhos estavam enfeitiçados ou pela primeira vez os Deuses haviam se empenhado fisicamente para me enganar. Talvez o tempo de enterrar os corpos fora planejado por eles.
Madame Sara certa vez meu contou que as coisas acontecem por um motivo qualquer, porém interligado, como se cada atitude minha definisse o meu futuro. Ajudar aquelas moças talvez possa ter trazido a melhor coisa que já aconteceu na minha vida.
Eu poderia estar delirando de fome e sede, o meu cérebro poderia estar facilmente pregando uma peça ou até o sol me enganando com sua ilusão de ótica… mas meu coração tinha certeza.
Sem avisar eu saio em disparada rumo a floresta, correr agora não mais me trazia medo ou angústia e sim esperança e paixão. Não me importava se depois daquilo eu cairia inconsciente por falta de energia, eu por não respirar direito. Meu objetivo era claro, eu queria tocá-lo mais do que nunca… mais do que tudo que eu já desejei na minha vida.
Depois de tanto correr eu paro encarando-o, se isso for minha imaginação que não acabe nunca mais. Seu ruivo era realçado pelo sol e seus lábios esboçaram um sorriso arrebatador.
- Thommy… você está acabado - disse com seu braço direito colado ao corpo, como um sinal de dor no membro superior.
Corro até Bob e o abraço tão forte, tão intensamente, tão cheio de amor. Aquilo não deveria acabar jamais, nunca e se os Deuses quisessem nos separar novamente eu lutaria com minhas próprias mãos. Talvez agora eu possa chorar e sem sequer tentar me controlar eu me permito derramar minhas felicidades.
-Você pode não me aperta tão forte, eu estou… - Bob interrompe sua fala após ser surpreendido pelo meu beijo misturado de lágrimas.
-Talvez eu tenha ficado fora um dia ou dois, mas isso não é mot… - interrompi mais uma vez a sua fala.
-Porra...cala essa boca e me beija Bob - digo ao ruivo enquanto expresso um riso misturado com emoção.
E durantes longo minutos nós permanecemos ali entre beijos e olhares, como se não nós víssemos a uma década, e para mim foi mesmo… custando quase a eternidade.
-Eu fiquei com tanto medo de perder você Thommy, - Bob me abraça e aperta forte, - Nunca mais eu vou te deixar. - completa o ruivo com uma voz de choro.
Abraçando Bob pela cintura e caminhando em direção a casa eu penso que talvez os Deuses não sejam tão loucos assim. O homem que eu mais amei na vida estava ao meu lado, talvez eu tenha que aproveitar mais.
-Talvez nós possamos terminar o que havíamos começado. - sussurro no ouvido do ruivo para depois mordiscar sua orelha.
-Você não muda nunca, não é? - Bob responde apertando mais o seu semi abraçoContinuaSe vocês puderem comentar um Feedback ajudaria muito.
Agora que existe duas linhas temporais quem sabe nós podemos comparar o melhor sexo: Bob X Miguel, quem agrada mais?
Obrigado por lerem o Capítulo 3, aguardem o próximo. (não se apeguem muito aos personagens, vai que....).