O Súcubo
(*) Texto de Aparecido Raimundo de Souza.
(**) Sobre este trabalho.
ESTA NOITE ELA ME APARECEU de novo. Já é a terceira vez, este mês, que a linda chega assim, de repente, sem avisar, sem, telefonar, sem ao menos interfonar da portaria. Chega e sobe direto sem marcar hora. Entra me arregaçando, me agarrando, me apertando, a boca sequiosa, o hálito quente, a língua descontrolada, se enrodilhando na minha. São tantos os afagos e abraços que mal tenho tempo de respirar. A graciosa tem um jeito engraçado de me provocar. Gosto quando me desorienta os sentidos, pedindo que lhe beije os bicos róseos dos peitos. Me derreto ao seus impulsos, e ela vai em frente, minando minha impertinência com gestos e pernas, ora roçando meu sexo no dela, ora me engolindo inteiro, até o profundo da garganta, sempre com uma volúpia incontrolável.
Desde a primeira vez, me acostumei a sentir a quentura da sua vagina na minha boca, como também o roçar dos músculos do esfíncter insistindo em não liberar os gases retidos. Louco, eu quero partir para o acasalamento. Imploro sequioso, para o desejo da posse plena e imediata; todavia, ela me nega a deixar apertar o botãozinho do "abra-te sésamo". No melhor da festa a criatura desconversa com palavras melosas sussurradas no meu ouvido, pula sobre meu corpo como uma tresloucada, colocando seus encaixes perfeitos nos meus, ao espaço que bombardeia carinhos e mimos de uma forma tão pujante e eficaz que eu respondo com recíproco medo de perder, de vez, a noção e o juízo.
Meu dedinho segue como um autômato em enfiadas preparatórias profundas em seu traseiro delicioso. E sei que gosta, porque ao sentir o indicador bem lá dentro, algo a deixa catatônica e praticamente eletrizada. Neste espocar de sensações, ela rebola cadenciadamente, enquanto seus lábios, grudados nos meus, agem como se deles emanasse um gel lubrificante a base de saliva, cuspe e suor, conduzindo nossos momentos a loucuras indescritíveis e insofismáveis. Amo de paixão quando ela vem por cima, dando as cartas. Eu me sinto impotente como um lutador atrelado a um inimigo desigual. Eu não a vejo, nem a descrevo na forma de fêmea alada, ao contrário, a enxergo, como a uma espécie de elfo, me cavalgando estabanadamente. No aparelho de CD as vozes de César Camargo Mariano e Nana Caymmi, aproveitam a deixa e envolvem a nossa briga, dando, a contenda, pequenos contornos que chegam a hipnotizar.
De repente ela se faz completa. Mostra ao meu despudor, o portão do jardim secreto, aberto, totalmente escancarado e sem melindres. Eu vou em frente, ensandecido. Ela então solta a mulher aprisionada e as amarras caem a meus pés. A brecha no meio do nada que eu procuro com ansiedade invulgar, está agora, ao meu alcance. A sua entrada por dentro de mim é feita com as mesuras e as reverências destinadas às celebridades. Encorajado, vou fundo na batida, no estoque, no vai e vem. Quero feri-la por inteiro com a minha lança pontiaguda. Ela contra-ataca se estorcendo ofegante, convulsa, com uma velocidade espantosa. A racha, desatinada, embebedada, suga, engole, devora, comprime.
Seus espasmos se tornam selvagens ao tempo que grita em francês: “Oh, c’est fou! Oh, c’est fou!”. Num instante a princesa fica por baixo de mim, depois de lado, e por fim, de quatro. Nesse jogo de posições, em dado momento, a fúria incontida não aguenta. E ela explode, por inteira, dançando numa simetria corporal perfeita. Seu rosto se inunda de uma luminosidade vital, onde a alegria e o erotismo, a um só tempo, nos deixa em puro êxtase de contemplações efêmeras. Nesse momento, retiro a lança da boceta em chama e, em contínuo, enfio inteira no cu. Meto com vontade, soco a piroca que entra golpeando, dilacerando, torturando, sulcando o terreno como espaço não fecundado.
A vagina da encantada, vista dessa posição, parece uma maçã mergulhada numa cachoeira. Meu pau, antes enrijecido pelo apogeu do gozo (depois de se enchafurdar com a boceta, e se besuntar afoitamente com o cu), se transforma num bichinho medroso, escorregando, dissolvido, em rota de colisão com a entrada do rabo e a abertura dos grandes lábios que, por sua vez, se desabraçam cansados e literalmente saciados. Do corpo da linda, escorre um suor perfumado que inebria o momento, tornando tudo ao nosso redor, numa cena única e inimitável.
No abrupto seguinte, ela pula da cama, e, antes que eu desperte, de vez, daquele estado atemporal, sentindo o sabor de morango com chocolate da sua tanguinha comestível, ela se recompõe com outro lingerie oriental que reluz no escuro do aposento. Exatamente num átimo de segundo, ela me joga um beijinho com as mãos em concha e depois some, sorrindo, em direção à luz tênue da lâmpada mortiça do banheiro.
(*) APARECIDO RAIMUNDO DE SOUZA, 63 anos, é Jornalista.
(**) Escrito especialmente para a “CASA DOS CONTOS”.
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