10.
Tentei agir naturalmente.
Eu: e aí mãe o que achou dele? – indaguei.
Maman: ele não é homem pra você! – mais uma vez minha mãe foi direta e reta.
Eu: por que não? – perguntei franzindo a testa.
Maman: PORQUE ELE NÃO AMA VOCÊ DE VERDADE.
Aquela resposta caiu como uma bomba atômica sobre mim. Como assim não era homem pra mim? Minha mãe não poderia estar falando sério, porque se ela estivesse falando sério mesmo, meu relacionamento já era, ela não errava nunca; e se essa fosse a primeira vez que ela erraria? Me senti mal, me senti meio zonzo. Acho que ela interpretou mal o fato de ele estar saindo do shopping com um amigo. Era isso! Ela estava enganada sim!
Eu: você tá falando isso só porque o viu saindo do shopping com o tal amigo, daí já deve ter interpretado tudo mal!
Maman: você poderia ter me apresentado o Matheus no meio de uma missa dentro da igreja da Sé que mesmo assim eu saberia que ele não ama você de verdade. Tem algo muito sombrio no olhar dele, ele não é esse bom moço que você acha que ele é! Meu filho, não quero que você tome nenhuma decisão precipitada só por causa do que eu achei dele. Mas também não quero que você se machuque por causa dele!
Aquelas afirmações de minha mãe me deixavam muito pensativo, afinal ela sempre foi tão certeira. Não é a toa que ela é do signo de libra. Tentei cortar logo a conversa porque caso nos aprofundássemos, com certeza ali ela me convenceria de que o Matt realmente não prestava. E isso seria uma desilusão muito grande pra mim, depois de tudo que passamos, do acidente, da recuperação dele, doei minha vida em prol da dele, em prol de construir algo concreto com ele.
Eu: bom acho que só o tempo dirá... – falei sem convencer a mim mesmo.
Maman: eu espero estar errada dessa vez. – disse pondo um ponto final na conversa.
Tomamos nosso café em silêncio, eu estava realmente pensativo. E agora minha cabeça estava a milhão, eram tantas coisas pra resolver:
- mudança
- mobiliar o novo ap
- adaptação ao novo bairro
- relacionamento com Matt
- amizade com o Jimmy
- formação de piloto
Ao mesmo tempo que me sentia mais calmo pela presença da minha mãe ali me dando apoio e suporte, eu ficava apreensivo com algum possível comentário da parte dela sobre o Matheus. Cada vez que eu olhava pra ela, sua voz martelava na minha cabeça: “ELE NÃO É HOMEM PRA VOCÊ!”. Tentava a todo custo afastar aqueles pensamentos da minha cabeça e iríamos jantar na casa do Matt, como minha mãe se comportaria?
Tinha confiança que tudo sairia bem, minha mãe iria conhecer a mãe dele, seria um jantar em família. Apesar de gostar muito da mãe dele, eu sabia que se minha mãe falasse algo contra o Matt que ela não gostasse poderia gerar um mal-estar. Estava nervoso pra variar.
(Barulho de mensagem): “tenho uma surpresa pra você! TE AMO!”
O que será que ele estava aprontando? Eu não iria ficar quebrando a cabeça para tentar adivinhar, logo estaríamos lá na casa dele para o tal jantar que ele inventou. Tomei um banho demorado, reconfortante, revigorante. Coloquei uma seleção de músicas francesas que se chamava BELLE FRANCE, eram as mais lindas músicas francesas, uma em especial me embalava nos meus mais profundos pensamentos QUAND ON N’A QUE L’AMOUR (Quando só se tem o amor). Até então eu tinha o amor de dois homens e sentia que amava os dois porém estava os perdendo de toda forma.
“Quando só se tem o amor
Para compartilhar
No dia dessa viagem
Que é o nosso grande amor
Quando só se tem o amor
Meu amor, você e eu
Para explodir de alegria
A cada hora e a cada dia”
Embarquei nessa viagem de corpo em alma, nesse amor louco que nunca pensei sentir, principalmente por outro homem. Lembro-me de relutar em aceitar esse amor, mas foi como adormecer, quando vi já estava amando o Matt, sem me dar conta.
“Quando só se tem o amor
Para viver nossas promessas
Sem nenhuma outra riqueza
A não ser de acreditar nelas”
Fizemos promessas, juras de amor. Vencemos o preconceito, vencemos nosso próprio preconceito. Vencemos a morte. E acreditamos em cada promessa feita, só isso nos bastava. Confiança!
“Quando só se tem o amor
Para enfeitar com maravilhas
E cobrir com sol
A feiura da miséria
Quando só se tem o amor
Como única razão
Como única canção
E único socorro”
Nosso amor fechou todas as feridas que estavam abertas causadas pelas brigas, ciúmes e discussões. O amor era o nosso socorro, esse amor que nos resgatou e nos colocou no mesmo caminho, andando lado a lado, esse amor que era nossa única razão de prosseguir e lutar e viver.
“Então, quando não tivermos mais nada
A não ser a força do amor
Teremos na palma de nossas mãos
Meu amigo, o mundo inteiro:
Nosso amor era o dono do nosso mundo, acreditávamos na força dele e isso nos dava coragem para enfrentar qualquer desafio.
Banho terminado. Consegui afastar todos ao pensamentos negativos que rondavam nossa relação. Estava pronto para encarar mais um desafio, mesmo que tivesse que ir contra o que minha mãe estava achando. O Matt não era essa pessoa que ela pensava que ele era, foi só uma má impressão e eu o ajudaria a mudar essa imagem, mostrando a ela justamente a força do nosso amor.
Não sei por que mas eu queria ser o centro das atenções nesse jantar. Me sentia como um convidado ilustre que era aguardado impacientemente. Por isso quis fazer uma produção, vesti uma calça preta, com uma alpargata cinza escuro, uma baby look branca, coloquei um suspensório para dar um charme e uma boina. Me sentia um típico parisiense, me olhei no espelho e realmente a academia estava fazendo efeito. Tinha ganhado músculos, e definitivamente não era mais o patinho feio da época do lycée. Do alto dos meus 1,80m, pele morena, peitoral estufado, as coxas definidas e a bunda que realmente chamava atenção, tanto dos homens quanto da mulherada. Estava me sentindo bonito, minha autoestima estava lá em cima.
Maman: tu es très beau là ! (Você está lindo!) Pena que essa produção toda seja para alguém que não vale a pena! – soltou minha mãe.
Eu: Maman arrête ! (Mamãe pare!) Merci quand même ! (Obrigado de toda forma). Vamos?! – Tinha que começar a cortar as tiradas da minha mãe, eu sei que ela não fazia por mal por isso mesmo que não queria brigar com ela. Nunca que desrespeitaria minha mão por homem nenhum. E ela mais do que ninguém só queria o meu bem.
Chegamos rapidinho no ap da família do Matt. O engraçado é que pensei que fosse ser somente um jantarzinho pra gente, mas tinham muitas pessoas lá. Estavam a mãe, alguns parentes e os amigos dele. Fiquei sem entender o porque daquele tanto de gente lá. Meu coração palpitou quando no meio daquela gente toda, estava ele, lindo, perfeito, o brilho daqueles olhos era tão profundo e enigmático, lá estava ele parado em um canto me fitando: Jimmy! Sorri pra ele e ele sorriu de volta! Que sorriso era aquele meu Deus?!?! Era impressão minha ou ele estava mais bonito do que o normal? Ele estava mais homem, sua postura era diferente, ele parecia diferente mas continuava sendo o mesmo Jérémy, o meu Jimmy! Não entendi o que ele fazia ali no meio daquele povo todo!
Matt: até que enfim o motivo do jantar chegou! – falou Matt se posicionando agora na minha frente, ficando entre o Jimmy e eu. Mesmo não o vendo mais eu sabia que o seu sorriso tinha se desmanchado nesse momento em que o Matt apareceu entre a gente.
Eu: como assim? Matheus não tô entendendo nada. O que está acontecendo aqui?
Matt: calma que você já vai saber! Cris por favor, mamãe venha aqui! – falou Matt pedindo que minha e sua mãe se aproximassem da gente. – pessoal vou direto ao ponto, há muito tempo já queria ter feito isso porém algumas coisas aconteceram e me impossibilitaram de fazê-lo. Mas hoje aproveito que sua mãe está aqui, e na frente da minha família e dos nossos amigos eu gostaria de assumir meu amor por você Tomas...
Senti minhas mãos frias, minhas pernas trêmulas. Não ele não poderia estar fazendo isso! Tudo bem essa noite eu queria ser o centro das atenções, mas não tanto assim né?!
Matt: (continuando)... e por isso mesmo gostaria de oficializar nossa relação. Tomas (falou olhando nos meus olhos e segurando minhas mãos) você me fez ver o mundo da melhor forma possível, por você eu quero ser um homem melhor, conheci ao seu lado o amor verdadeiro, puro, amplo, onde não existem barreiras nem preconceito. Conheci o que é ser amado de verdade por alguém. Meu pequeno príncipe, eu quero passar o resto da minha vida com você, e é por isso que... (nisso ele puxou duas alianças do bolso e se ajoelhou) ...gostaria de saber se você quer se casar comigo...
Eu nunca na minha vida que esperei viver por um momento desses. Me senti extremamente tocado pelas palavras dele, estava emocionado, ele estava emocionado. Olhei para o Matheus e ele estava chorando, esperando uma resposta minha.
Eu: sim... – e ele nem me deixou falar mais nada. Voou pra cima de mim num abraço, me deu um beijo na frente de todo mundo e voltou a me abraçar.
Todos ao nosso redor aplaudiam com exceção de uma pessoa que estava parada, estática! E ele também chorava, e aquilo me doeu profundamente. Não sei porque mas minha vontade naquele momento era de sair dos braços do Matheus e correr até o Jérémy e apertá-lo forte contra meu peito, afagar seus cabelos e falar que tudo ficaria bem. Por que esse sentimento ambíguo nesse momento?
Matt me soltou pegou minha mão direita e colocou a aliança prata com uma outra aliança dourada no meio. Era linda! Peguei a outra e fiz o mesmo, depois a mãe dele veio nos dar os parabéns e desejar felicidades. Minha mãe puxou o Matheus de lado e lhe falou algo que não deu pra ouvir. Só vi que ele a escutava atentamente. Várias pessoas vieram nos abraçar e cumprimentar, menos uma. Procurei Jimmy pela sala e não o encontrei. Ele tinha ido embora. Fui atrás dele e ele esperava o elevador.
Eu: vai embora sem falar nada?
Jimmy: o que você quer que eu fale? Me diz... o que você quer que eu diga? “felicidades?” é isso? Então tá, felicidades! Tá com a consciência mais tranquila agora? Por que é só com isso que você se importa: COM VOCÊ! – esbravejou! Você só se importa com o que você está sentindo, eu não deveria, mas eu te amo! Eu não queria, mas eu te amo! Você mandou me chamar aqui pra esfregar na minha cara a sua felicidade! Isso não é justo!
Eu: mas eu não sabia de nada, eu juro pra você que eu não sabia de nada... – falei já chorando.
Jimmy: e do nada você vem assim todo produzido? Parabéns, você está lindo! – nisso ele se aproximou e passou a mão no meu rosto, enxugando minhas lágrimas. – até chorando você é lindo! Eu nunca senti inveja de ninguém, juro pra você, NUNCA! Mas hoje eu senti inveja dele, eu queria estar ali no lugar dele, me declarando pra você, pedindo pra você casar comigo, mostrando pro mundo o meu amor por você. – e me puxou pros seus braços.
Afundei meu rosto naquele peitoral sarado, senti os braços dele me envolvendo, o cheiro dele me inebriava, as suas mãos passavam pelas minhas costas, me sentia entregue àquele momento, sentia a força do amor do Jimmy por mim, não era necessário palavras ou demonstrações em público para saber realmente que ele me amava, bastava uma troca de olhar, um abraço, bastava estar com ele para sentir a força do amor dele.
Matt: que porra é essa? – gritou Matt, me fazendo separar instantaneamente do Jimmy.
Eu: que grosseria é essa? – falei bruscamente.
Matt: você se agarrando com esse aí... – falou apontando o dedo pro Jérémy.
Eu: esse aí tem nome e é meu amigo! Ele é seu amigo também!
Matt: amigo da onça! Ele tem inveja de mim! Sempre teve! Sempre quis ter tudo que era meu... – gritou!
Jimmy: você tá louco cara, você é paranoico!
Matt: não foi e nem será a primeira vez que você se interessa por algo que é meu não é verdade? Dessa vez você não vai se dar bem! Com ele não! – senti a fúria nos olhos do Matheus. O que estava acontecendo? Eles tinham uma rivalidade? O que tinha acontecido entre eles que eu não sabia?
Eu: hey hey peraí calma! Eu tô aqui! Não falem de mim como se eu não estivesse aqui! Matheus eu não sou uma coisa pra pertencer a alguém, nem me venha com essa de proprietário! E Jimmy quer me explicar o que tá rolando que eu não sei?
Matt: vai Jérémy, conta pra ele o traídor que você é... paga de bom moço mas conta o que rolou... conta vai!
(Continua...)