- Sou eu, Caio! – eu disse com a testa colada na porta, num misto de medo e ansiedade.
Alexandre é um completo pirado. É meu amigo, claro, mas isso não o impede de ser um louco.
Numa conversa informal ele disse que estava se tornando garoto de programa. Reagi da pior forma possível: baseado num preconceito estúpido dei dois pulos para trás. Literalmente. Era impossível acreditar no que ele tinha acabado de me falar. Como assim estava virando garoto de programa? Como se vira um garoto de programa? Há uma espécie de treinamento para isso? Ele respondia tudo aos risos e confesso que em alguns momentos, no meio dos vários relatos, eu já estava suficientemente excitado para topar fazer qualquer coisa daquele tipo.
Do bolso ele retirou um papel dobrado.
- Depois das 9 – ele disse me passando o pedaço de papel como se fosse algo ilegal.
- Não. Não. Você está confundindo as coisas. Impossível, Alexandre, eu jamais conseguirei fazer isso.
- Vamos, pegue. Seus lábios estão molhados e vermelhos demais. Aposto que quer. – Ele falava com precisão como se realmente soubesse o que eu queria. Curiosamente ele estava certo. – Vá nesse endereço depois das 9, não esqueça. – Completou.
O endereço batia com a localização de um dos hotéis mais caros da cidade. Confirmei minha suposição quando vi, no canto do papel amassado, escrito em tinta vermelha: “quarto 1405”.
“1405”, eu repeti para mim mesmo num sussurro.
Vesti um jeans não muito especial e uma camiseta folgada demais. A cueca era nova e apertada. Absurdamente desconfortável. Me muni de um casaco para a noite aparentemente fria e fechei a porta atrás de mim apertando o papel com força em uma das mãos. No pensamento as mais variadas perguntas. Alexandre não deveria propor isso à pessoa mais curiosa que já caminhou pela terra. É claro que eu iria até o hotel. É claro que eu tentaria ser garoto de programa por uma noite, mesmo não sabendo dos procedimentos exigidos, além daqueles dos típicos para uma possível relação sexual entre homens.
Encontraria um velho barrigudo cheirando a uísque barato e cigarros velhos? Uma mulher de meia idade com o rosto coberto por uma maquiagem cafona e lábios carnudos demais? Um jovem insaciável e violento pronto para acabar comigo? A dúvida era a maior das excitações.
Como combinado, informei o número do quarto para a recepcionista e como se ela já soubesse dos esquemas que acontecem ali, apenas me direcionou para o elevador. Sem risos. Sem “boa noite, senhor”. É assim que são tratados os acompanhantes?
“Mate sua curiosidade e saia daqui o mais rápido possível”, eu sussurrei novamente para mim mesmo quando a porta do elevador se abriu.
Caminhei pelo corredor pouco iluminado de paredes pintadas de tons terrosos e quadros feiosos pendurados numa tentativa de embelezar o ambiente. Parei na porta identificada que correspondia ao papel que Alexandre me entregara: 1405. Hesitante, bati dois toques na porta. Três seria formal demais, um não significaria nada. Dois era perfeito.
A voz quase rouca e ao mesmo tempo grossa atravessou a porta. Claramente um homem me esperava. Alívio!
- Serviço de quarto? – Não havia pressa nele.
- Sou eu, Caio! - eu disse com a testa colada na porta, num misto de medo e ansiedade.
Como assim “Sou eu, Caio!”? Ele não sabia quem eu era. Não sabia e nem queria saber. Eu apenas tinha o que ele precisava. E tomaria isso com objetividade.
- Está aberta! – Ele respondeu com frieza, despreocupado e calmo demais.