Meu apê era tão vazio, tão sem vida. Talvez só a decoração e as luzes que salvavam aquilo ali. Tudo mudou quando Ícaro apareceu na minha casa e me pediu pra morar comigo novamente. Aquilo, de imediato, tinha me mudado e mudado aquele fato. Quando Ícaro tinha me pedido, uma música linda tinha sido escutada por mim. Como já disse: Eu estava feliz demais.
Ícaro tinha combinado comigo que se mudaria em dois dias, pois ele tinha que falar com a Nina sobre algumas coisas e etc. Eu estava tão feliz que tinha me esquecido da minha vida. Mas isso em qual sentido?
No dia seguinte, não sei porque, eu estava natural. Aquilo já não era mais uma “novidade” pra mim e eu já não estava tão feliz quanto antes. Ao acordar, fiz o que tinha pra fazer e resolvi, do nada, adotar uma nova coisa em minha rotina: uma caminhada. Mas porque aquilo de repente? Pois é, nem eu sei te responder.
Coloquei um calção bom, um tênis e uma camisa normal, preparei também o meu iPod e selecionei algumas músicas legais. O condomínio que eu morava era enorme, seguro e bem climatizado, podia fazer uma caminhada lá mesmo.
As árvores eram ótimas visualmente falando, os meus cantores preferidos (Cazuza, Raul, Roberto...) cantavam que era uma beleza e os vizinhos me cumprimentando: tudo isso se resumia na minha caminhada, que estava me fazendo perfeitamente bem. Resumi minhas duas horas de atividade nisso aí.
Já no meu apê, tomei uma ducha pra relaxar mais e fui ver meu celular, que tinha umas 20 chamadas não atendidas. Me perguntei porque Dan tinha me ligado tantas vezes. Devia ser algo importante. Retornei.
– Alô, Dan?!
– (gaguejou) Oi... Oi... Oi, Théo! Tá tudo bem?
– Tô bem, rapaz. Fiquei preocupado com você. Aconteceu alguma coisa? Cê me ligou umas vinte vezes... Desculpa por não te atender, eu tava dando uma caminhada.
– Isso tudo foi saudade. Às vezes isso dá em mim, queria poder parar, mas não consigo... Só consigo pensar em você, você, você...
– Pô, mano...
– Será que eu posso te encontrar? Tenho uma coisa bem séria pra te falar. Quero muito te falar isso.
– Coisa importante?
Eu, sinceramente, estava começando a ficar traumatizado com aquela frase “uma coisa importante pra falar”. Parecia que todo mundo que queria falar comigo usava essa frase... Eu, em.
– É, Théo. É sobre o meu casamento.
– Vem aqui na minha casa, mano.
– Posso ir agora? É bem importante.
– Vem, vou ficar te esperando.
Desliguei o telefone e me senti alegre de novo. Parecia que eu tinha ganhado a vida novamente. Eu posso estar sendo exagerado, mas era isso mesmo que eu sentia. Coloquei uma roupa caseira, roupa normal, e fiquei bem tranquilo esperando o Dan.
Ele chegou em pouco tempo. Abri a porta e o vi. Seu rosto não estava nada bem. Notava que ele estava triste e que o assunto era sério de verdade. Eu o abracei. Sim, o abraço partiu de mim mesmo. Aquilo era tão gostoso e eu nunca perdia a vontade, a sensação era única.
Dan entrou e eu lhe servi água. Sentamos no sofá e o assunto foi sério mesmo.
– Cê pode me falar o que é tão importante, cara. Tô aqui pra te ouvir.
– Dei um fim no meu casamento, Théo. Pedi o divórcio. Eu não agüentava mais, cara. É horrível estar com uma mulher pensando num homem.
– Você o quê?
– Foi horrível. Ela chorou... Eu tô péssimo... Eu tava com tanta saudade de você.
– Você pediu um divórcio por minha causa, Dan?
– Pedi. Pedi, sim. Foi mais por minha causa. Cê acha que eu devia continuar enganando minha mulher? Não gosto dela, cara.
– Mas é muito errado tudo isso. Tá tudo errado, cara.
– Pra mim, não tem nada errado. Sei o que eu faço. Prefiro ficar sem ela que a enganando.
– Não pensei que o assunto fosse tão sério assim!
– Eu penso em você toda hora, cara. Penso, penso muito, muito em você. Não sei mais o que fazer. Te vendo aí, assim, todo bonito, com esse cheiro bom, me dá uma vontade tão grande de te abraçar, de te dar um beijo grande, de nunca mais ficar longe de você... Não sei se você já sentiu isso por alguém, mas é uma coisa tão boa, tão boa. Não pude me enganar mais. Tive que acabar com tudo aquilo.
Com essas palavras dele, lembrei-me do Ícaro. Sentia isso por ele. Quando eu o via, me dava essa vontade de abraçá-lo, de beijá-lo... Eu entendia perfeitamente. Mas se eu dissesse isso pra ele, naquele momento, me sentia na obrigação de contar pra ele quem era Ícaro e o que ele já tinha feito comigo... Preferi deixar pra lá!
– Se eu continuasse casado com ela, ia viver infeliz. E é como eu já disse: prefiro viver sem você a viver com ela, onde não há amor. – ele terminou.
– Poxa, Dan, que situação, em...! Eu curto muito você, mano, cê é bem meu amigo... Sei lá, cara, sei nem o que te dizer!
– Por favor, me diz se você gosta de mim. Ou é sim ou é não. É simples.
A resposta que queria sair era um “sim”, mas eu não sabia o que sentia. Se eu gostava dele, do Ícaro, não sabia, mesmo. Ora eu pensava no Ícaro, ora eu pensava nele. Ora eu ficava feliz vendo o Dan, ora eu ficava feliz vendo o Ícaro... Não sabia mais quem eu era.
– Claro que eu gosto, Dan, mas sabe, as coisas não podem ser assim.
Ele se levantou, ficou de pé passeando por ali, preocupado com algo, enquanto eu despejava algumas coisas pra ele. Ele, simplesmente, veio até mim, me levantou pela minha camisa e me deu um beijo. O beijo, aliás. Ele não me abraçou e me beijou, foi com brutalidade mesmo, agarrou minha camisa, me levantou e me beijou. Mas que delícia! Minhas mãos ficaram atadas, a respiração dele ficou forte e tudo era muito, mas muito gostoso. O beijo durou tempo suficiente para despertar uma coisa em mim: a paixão. Na verdade despertou a paixão, o tesão, a vontade...
Quando ele me soltou, ficamos sem reação um para o outro. Ele mal pensou e se dirigiu a porta. Ia embora. Eu fui até ele, com vontade, o parei e lhe retribuí o beijo. Desta vez, foi com mais intensidade. Várias mordidas no lábio, um abraço muito apertado e firme, nossos corpos encostados um no outro... Eu arranquei o casado do Dan e eu sentia uma fervura dentro de mim. Ia rolar algo entre a gente. Comecei a torcer para ser algo bom e especial, tanto pra mim quanto pra ele.
