Esta é a continuação do conto “O desafio de Adair” e de uma série de outros.
***
Os chuveiros da sauna ficavam numa sala no mesmo andar onde era o corredor das cabines. Adair foi à frente – muito à vontade, com a toalha branca marcando o balanço do cacete ainda a meia-bomba – e eu o seguia, tentando não olhar pra ninguém. Não sou de tantos pudores assim e já tinha vivido situações em que tinha ficado claro que eu ia dar a bunda pro cara que estava ao meu lado ou que tinha acabado de ser comido por ele. Mas isso fora em locais de pegação, que em geral são mais sombrios, até escuros mesmo, e onde as testemunhas me viam rapidamente e não voltariam a me encontrar – ou, pelo menos, não tão cedo.
Ali, não: certamente passaríamos a tarde fudendo (pelo menos, era o que eu queria!) e já imaginava acabar sendo reconhecido como o passivo do mulato de pau grande. Claro, isso me excitava também, mas me constrangia. E, além do mais, havia a ansiedade de estar a caminho de onde ficaria nu na frente de todo mundo. Adair me dava segurança e isso me reconfortava de certo modo, mas não o suficiente.
Os chuveiros estavam todos ocupados e tínhamos que esperar. O espaço não era pequeno, mas com tantos homens é claro que os corpos involuntariamente se roçavam. Havia dois que tomavam o banho de costas, tentando ser mais reservados – o que, obviamente, eu também faria – mas os outros não pareciam se importar. Claro, tinha outros dois que ensaboavam exageradamente o pau, mantendo-os inchados e convidativos.
Mal entrou, Adair foi pendurando a toalha no gancho atrás de nós. Ficou ao meu lado, mas não me tocou: observava com expectativa, mantendo as mãos na cintura e aquele pau brilhando pelo lubrificante da camisinha. Permaneci de toalha.
Um dos chuveiros vagou, mas não me mexi, para dar a vez a ele – que, sem dizer nada, simplesmente tomou o lugar. Achei meio sem educação, mas logo entendi:
– Vem – ele, disse, e meteu a cabeça sob a ducha forte.
Eu sorri e fiz que não com a cabeça. Dois outros caras tinham entrado e também esperavam, ao meu lado.
– Que foi? Não gosta de água fria? Você tinha me dito que não curtia banho quente, que é ruim pra pele – falava enquanto passava a água abundante na pele, agitado.
Era como se estivéssemos a sós, com a voz num volume alto – o que chamava especialmente a atenção porque ninguém ali estava conversando. Eu novamente sorri, recusando. Ele insistiu, jovial.
Entreguei os pontos: nós estávamos virando o centro das atenções. Torneei o corpo para a parede, tirei a toalha e a pendurei. Fui estrategicamente andando meio de lado para a ducha: apenas um cara poderia me ver de frente, e ele era um daqueles que estava de costas. Adair se afastou um pouco, me dando espaço para me molhar. A água bateu gostosa.
Então, com toda a naturalidade, ele pegou sabão no dispensador e levou a mão até minha bunda! Eu disfarcei um sobressalto e ele riu.
– Tenho que cuidar muito bem disso – disse párea si mesmo, enquanto a mão deslizava gostosa pelo meu rego.
Um cara ao lado riu e eles trocaram sorrisos. Não era clima de putaria; era mais camaradagem mesmo. Mas aquilo me deixava sem jeito. Houve uma certa movimentação, com algumas duchas vagando e sendo ocupadas, uns caras saindo, outros chegando. Era um alívio, pois parecia desviar a atenção de nós.
Depois de ensaboar minha bunda com cuidado – e especialmente meu cuzinho, aproveitando para dar uma dedada de leve –, agora estava no meu tórax. E, nos movimentos, girou um pouco meu corpo. Meu pinto ficou à vista. Eu não sabia como agir. Deixei que ele me ensaboasse – ali, sob aquela maldita luz branca que mostrava tudo pra quem quisesse ver.
– A cerveja aqui costuma ser gelada. Não sei como está hoje, porque me disseram que o gerente do bar mudou – falou, continuando com o tom alto.
– Aí é onde mora o perigo – retrucou o que sorrira antes.
– Não. Tá boa – disse um outro, que se enxugava.
– Então vamos lá conferir, né, meu doce – me pôs sob a água novamente e afastou-se um pouco, me mostrando o corpo. – Não vai retribuir, pra gente poder descer?
Ele achou que eu o ensaboaria, na frente de todo mundo e daquele jeito que eu estava! Esse homem era completamente sem noção.
Riu e deu um sorriso cúmplice para o cara que antes estivera na ducha ao nosso lado e que se enxugava:
– Ele é tímido.
O outro retribuiu. Eu devia estar um pimentão. Só me faltava essa: ficar na berlinda!
– Esses são os melhores... – Adair observou, ensaboando aquele cacete divino que, com minha fronte baixa eu adivinhava, estava sendo cobiçado por vários ali.
– Ah, com certeza – completou o outro, já enrolando a toalha e saindo.
A esta altura, não havia como não terem me notado. Mesmo assim, tentei – em vão – me esconder dos olhares enquanto me enxugava.
A sauna parecia mesmo lotada. O bar, curiosamente, não estava cheio.
– A sauna abre às duas. Ficou todo mundo se manjando e agora estão todos fudendo – Adair me explicou.
Sugeriu uma mesa mais pro fundo e eu aceitei. Sentei e ele foi ao balcão, trazendo as cervejas. O bar não tinha garçom.
– Adair... – eu falei, com uma voz propositadamente cuidadosa.
– Já vou te fuder, meu doce. Mas vamos tomar essa gelada – e deu um segundo gole que deve ter esgotado metade da garrafinha.
Eu ri, mesmo não querendo. Não tinha como ficar impassível diante da sua franqueza espontânea. E, de certa forma, até ingênua.
– Não é isso – retomei o tom. – É que eu fico meio sem jeito com você...
Ele me olhou interrogativo.
– Você é muito descarado!
– E você adora isso... – deu outro gole.
Encarou-me muito seriamente.
– Flavinho, você não precisa fazer charme pra mim. Eu já gostei de você.
– Eu no to fazendo charme; não é isso...
– Eu sei que você é rodado; teu cu já me mostrou – ele me interrompeu, e não tinha nada de agressivo no modo como falava. – E, aliás, é por isso que eu gostei da nossa foda. Eu não curto donzela. Eu gosto de putos como você. Relaxa.
Mais uma vez, fiquei sem saber o que dizer. Ele estava certo: eu era bem rodado; eu era um puto. Mas tinha meus limites, também. Quando ia explicar, o bigodudo grisalho da escada apareceu. Adair fez menção pra que ele sentasse.
– Vou pegar uma cerveja pra mim – ele respondeu.
– Também quero. Meu número é 163. Qualquer coisa, me faz um sinal que eu confirmo. O gerente mudou; o garoto que tá atendendo aí é novo.
Virou-se pra mim:
– Pra você também? – pegou minha long neck e a pesou. – Você bebe devagar; assim esquenta e fica uma merda.
Voltou-se para o bigodudo, que aguardava:
– Só uma.
O outro seguiu para o balcão.
– Esse é o Garcia. Gente boa. Já trepamos muito. Mas agora nem sei por que ele vem aqui. Ficou todo grilado porque demora a ficar de pau duro. Não tá broxa, mas demora e tal. Fica cheio de vergonha – deu uma pausa e baixou levemente o tom de voz, arqueando as sobrancelhas. – Próstata.
– Você comeu ele? – perguntei, sem entender qual o problema de ele não ter ereção.
– Não. Ele também é ativo.
Fiz aquela cara de quem não está entendendo.
– A gente dividia uns passivos – respondeu sem rodeios, logo se virando para o Garcia, que retornava.
– O Flavinho perguntou se eu te comia – e caiu na gargalhada.
O bigodudo só sorriu, já se sentando. Era realmente uma figura simpática. Tiozão dos bons.
Adair era um frequentador assíduo da sauna, e era bem conhecido. No bar, embora estivéssemos numa mesa mais ao fundo, cumprimentou de longe uns três caras, e outros dois vieram para tapinhas nas costas e apertos de mão. Eu não sabia bem como reagir àquilo. De certa forma, me sentia orgulhoso de estar ao seu lado. Mas também estava incomodado por concluir que, se ele era tão conhecido, eu por consequência também ficaria.
Os dois conversaram amenidades, e aos poucos fui me desinteressando. A mando de Adair, peguei mais três garrafinhas. Voltei, tentei prestar atenção na conversa, mas volta e meia olhava em torno. Estava curioso com aquele lugar.
– Garcia, deixa eu subir porque meu amiguinho aqui tá aflito – falou, emborcando o final da garrafinha e se levantando.
Puxou-me suavemente pelo ombro. Eu até que estava gostando disso, de ele me conduzir assim.
– Deixa eu ir lá dar umas caralhadas nele pra ele se acalmar. Tu vai ficar ainda por aí, né?
O outro fez que sim, como se aquela frase sobre a minha pessoa fosse a coisa mais natural do mundo!
– Então a gente toma outra daqui a pouco.
Virou-se pra mim e ajeitou a toalha, abrindo-a e enrolando de novo, rapidamente.
– Vamos lá, meu gato.
E eu, mudo, segui o macho.
***
Este conto teve início com o texto “Admirando o calibre de Adair”.
A história completa se desenrola nos seguintes textos, em ordem cronológica
(Os links para cada um dos textos estão na página do meu perfil de autor, em
//zaberemenet-devochkoi.ru/camillaclarkgallery/perfil/:
1. “Admirando o calibre de Adair”
2. “No hotel, com Adair”.
3. “O preço para ter Adair”
4. “Guiado por Adair”
5. “O desafio de Adair”
6. “Exposto por Adair” [você está aqui]
7. “Sob o teste de Adair”
8. “Entendendo Adair”
9. “Entregue a Adair”
10. “Presença de Adair”
11. “Além de Adair”
12. “Adair, dono de mim”
13. “Um outro Adair”
14. “Marcado por Adair”