Eu não estava esperando uma resposta positiva do meu pai e nem tampouco alguma palavra de apoio dos meus irmãos.
Afinal o medo estava estampado nos olhos do Gabriel e do Jean.
Se eu colocasse os dois contra a parede naquela sala, eu destruiria o casamento o Gabriel, afastaria os meus sobrinhos de mim e provavelmente colocaria dúvidas na cabeça do restante dos indivíduos e por isso resolvi não colocar o nome dos meus irmãos na berlinda.
Com tantas informações juntas, era mais fácil esperar um bombardeio de porradas do Gabi e mais algumas ofensas disparadas por meu pai.
Não podia tentar ou querer ficar naquela casa, que, apesar de ser minha, ainda me era estranha.
Eu não estava por inteiro alí dentro. Por isso, eu joguei algumas malas sobre minha cama e comecei a arrumá-las com as minhas roupas e coisas pessoais.
Meu pai entrou em meu quarto naquele momento e trancou a porta.
- O que você pensa que está fazendo, seu monte de merda?
Eu não percebi a entrada dele e tomei um susto com os gritos.
- Pai, você não precisa se preocupar com nada, pois, ainda hoje eu saio de dentro da sua casa.
Ele enfiou as mãos nos bolsos e caminhou até a sacada.
- Pai? Eu não tenho filho afeminado? Fiz filho homem, para gostar de raxa e não para gostar de pica!
Eu: Ah, Dr. Roberto! O senhor deveria rever seus conceitos quanto a isso, ainda poderá ter uma decepção ainda maior.
Falei aquilo segurando e enrolando um cinto para coloca-lo na mala.
- Luiz Henrique, você não vai para lugar algum. Você vai fingir que teve outra crise de memória, vai desfazer essas malas e vai ficar aqui em sua casa. Você não vai me dar esse desgosto de ter um filho gay e ter que dar explicações para nossos amigos.
Ele falou calmamente enquanto olhava em direção ao horizonte. Eu não dei muita atenção e continuei colocando os objetos nas malas. Foi então que ele gritou.
- Você, além de viado é surdo moleque? Você não vai sair de dentro deste quarto hoje e vai pensar muito bem no que esta fazendo com sua família. Eu sou advogado rapaz, tenho porte de arma, tenho amigos influentes e posso facilmente fingir um acidente envolvendo um disparo acidental.
Fiquei paralisado, meu pai era louco, ainda mais louco que o Gabriel o Jean e a Carol juntos, mas aquilo não me abalaria, eu já estava farto de tantas ameaças e retruquei.
- Pai, não adianta vir com ameaças para cima de mim, eu não posso continuar com essa vida de mentiras, preciso correr atrás das coisas que me fazem feliz, quer o Senhor queira, ou Não!
Ele veio pra cima de mim e eu o segurei, mas apesar da idade, ele era bem forte e acabou me dando um tapa bem forte na minha face.
- Eu mato o William! Eu acabo com a vida daquele filho de uma puta... Mato ele e sumo com o corpo, você pode falar o que quiser que ninguém vai dar atenção, você esta doente, tomando remédios fortes. Eu mato ele e depois te coloco numa clinica para reabilitação, te interno até você se curar. Você está ouvindo Henrique? Não me desafie que você sabe muito bem que sou capaz de fazer isso. Prefiro dizer que tenho um filho louco a dizer que é viado. Desfaça essa malas agora!?
Meu rosto queimava, ouvi algumas batidas na porta, minhas irmãs chamavam do outro lado.
Meu pai tirou o cinto da mala e começou a me chicotear.
- Eu deveria ter te mandado para o colégio militar. Assim teria se tornado um homem como seu irmão mais velho, ele sim é um exemplo pra você e o Jean seguirem.
- Exemplo papai? Não fale isso, que você vai se arrepender!
Dito aquilo, ele ameaçou e lançou sem pensar.
Uma fivelada na minha costela e eu com meus até então vinte e três anos me lembrei novamente daquela surra que havia tomado do meu pai quando era criança. A dor me fez esquecer que era meu pai e todo o respeito e medo que sentia por ele acabaram no mesmo instante, e sem pensar no que viria a seguir, eu levantei, me virei e com os punhos fechado eu deferi um golpe certeiro no nariz do meu pai. Estava cego de raiva, tristeza e mágoas contra ele que caiu desmaiado na cama, por cima das malas.
Chorando, eu corri em direção a porta do quarto e abri me jogando nos braços da Sara.
O Gabriel entrou no quarto e vendo nosso pai inconsciente, ele veio pra cima de mim, mas as meninas e o Matheus não deixaram que ele chegasse mais perto de mim.
- O que você fez com meu pai, seu merda, desgraçado, se ele morrer eu acabo com a sua raça, porque você não fez um favor pra todo mundo e não morreu naquele acidente? Você não merece a vida que tem Henrique, você é um estorvo, uma praga que veio pra estragar as nossas vidas.
Eu chorava de raiva, tristeza e medo por ter feito algo ruim contra ele, eu não queria ser igual a ele e usar de violência, mas a necessidade de me impor foi mais forte. Eu estava arrependido.
Minha mãe saiu aos berros chamando o Joca e o Zé para ajudarem a colocar meu pai no carro e levá-lo para o hospital.
O William chegou justamente naquele momento para me buscar e meus irmãos não perdoaram e o receberam com pancadaria e ameaças.
Ele não teve como se defender dos dois e acabou levando alguns chutes, socos e safanões até que eu e o Matheus conseguíssemos apartá-los daquela briga no gramado em frente a minha casa.
Entrei no carro dele e saímos dalí quase que fugindo dos dois.
- Hick você está ferrado, isso não vai ficar assim e quando o meu pai voltar...aí sim você vai aprender, aliás, vocês dois estão mortos.
O Gabriel gritava feito um louco enquanto corria atrás do carro.
O Zé já tinha levado meu pai para o hospital e depois que os ânimos se acalmassem eu voltaria para pegar as minhas coisas, ou até mesmo as meninas mandassem por intermédio do Zé.
Tudo que eu pensava naquele momento era que, para aquela casa eu não voltaria nunca mais.
Chegamos na casa do William e eu fui cuidar dos seus machucados.
- O que houve na sua casa amor?
Apesar do corpo dolorido e de tanta euforia que eu sentia naquele momento, ouvir o William me chamar de amor, fazia com que eu esquecesse tudo e visse apenas ele na minha frente.
- Eu contei a todos que estou com você William, abri o jogo com minha família. Disse que iria enfrentá-los e que não aceitaria mais nenhuma ameaça ou indireta, foi aí que meu pai surtou e tentou fazer com que eu mudasse de ideia.
O William ouviu tudo que eu contei com muita atenção.
- Você está bem Hick? Ele te machucou? Seu pai continua o mesmo intolerante que me lembro, a ignorância dele só aumentou com o passar dos anos.
Meu maior medo era que o Dr. Roberto, meu pai, pudesse fazer ou cumprir as ameaças contra o William. Eu não saberia o que fazer!
- Agora eu sei porque sempre fiz as coisas sempre as escondidas, sei porque fui submisso as vontades do Gabriel, porque sempre tive medo de contrariar os machos da minha casa. Eles são como uma gang que só sabem resolver as coisas na base da violência. Mas e você William? Você tem certeza que quer ficar comigo? Não sei do que eles são capazes!
Ele: Hick, eu não briguei por você a vida toda para desistir justamente agora. Nesse momento que eu tenho que ficar do seu lado, te mostrar meu apoio, te dar muito amor e carinho....mostrar o quanto você é importante para mim. Não serão ameaças dos seus irmãos e seu pai que vão me fazer mudar de ideia né?
Eu: William, eu tenho medo de eles fazerem algo contra você. Eu não vou conseguir ficar sem você.
Ele: E você não vai ficar.