Cap.18
TRILHA SONORA: NUNCA APAGUE A LUZ - SCALENE
Sim, era ele. Vivo, em carne e osso, era ele. Mesmo com a barba que ele havia deixado crescer, eu o reconheci. Era ele, eu tinha certeza.
- Você !? - falou, agora em português. Eu não consegui falar nada, só olhei para aquele rosto. As palavras haviam sumido da minha boca. Quase que involuntariamente eu o abraçei. Ele apenas sorriu - EI ? Estamos na rua, esqueceu ?
- Ah é... - fui me recompondo aos poucos.
- O que você está fazendo aqui ?
- Eu moro aqui - falei, apontando para o apartamento.
- Mora ? Mas como assim ?
- É uma longa história. Mas... E você ? Achei que tinha morrido. Porquê parou de escrever para mim ?
- Bem... - ele baixou a cabeça naquele momento, e sua expressão não era nada boa - a história também é longa...
NARRADO POR MAURICE
Eu não morri. Eu não fui abduzido. Eu sempre estive lá, em Paris. Eu não quis ter de repente parado de escrever, cortado a comunicação de forma tão brusca entre nós dois. Afinal, meu sentimento por ele era muito forte. Mas era necessário que eu fizesse isso. Ele não podia sofrer por uma atitude minha. Era melhor que sofresse naquela época, do que agora, quando soubesse o que eu estava sendo obrigado a fazer para manter as aparências.
NARRADO POR ANTÔNIO
De repente então ele me olhou.
- Você quer entrar ?
- O Que ?
- Acho que você me deve uma explicação, depois de quatro anos desaparecido - ele olhou ao redor, parecia desnorteado.
- Tudo bem. Vai ser bom conversar...
MINUTOS DEPOIS
Qualquer outra pessoa no meu lugar estaria cheia de rancor por ter sofrido com uma ruptura abrupta sem nenhuma explicação. Por ter sido deixada com o coração na mão, partido, sem uma explicação. Eu fiquei, um pouco. Mas o sentimento ainda era forte e falava mais alto. A vontade de tê-lo perto de mim não me deixou ser rude perto dele.
- Então você está morando aqui ?
- Sim - falei, colocando água numa chaleira, para ferver
- A quanto tempo ?
- 2 Anos.
- O que ? Dois anos ?
- É...
- Mas o que você veio fazer em Paris.
- Estudar - falei, abrindo as portas da minha varanda. Caminhei até ela e me escorei na bancada.
- Está fazendo faculdade aqui ?
- Sim. Faço Astronomia - ele também se escorou, e em poucos segundos riu.
- E porquê escolheu essa área ?
- Por sua causa, e pela paixão que envolve o eclipse - dizia, olhando pro céu enquanto me perguntava quando voltaria a ver novamente aquele lindo e romântico fenômeno. Durante alguns segundos o silêncio perdurou entre nós.
- E como está a Dona Cristina ?
- Bem. Ela me escreve toda semana. Está lá, na Fazenda, cuidando dos negócios como sempre fez.
- Ela que te fez vir para cá ? - nesse momento a chaleira apitou, a água havia fervido. Fui até a cozinha, tirei a água e coloquei dentro dela algumas folhas de erva cidreira para o chá.
- Na verdade não. Ela queria apenas que eu estudasse na Europa. Eu que dei a ideia de que fosse aqui.
- Porquê ?
- Porquê a Universidade de Paris é ótima na Astronomia. Além disso eu... Ainda tinha esperanças de te encontrar alguns dias pelas vielas de Paris, como te encontrei.
- Então você não me esqueceu mesmo, não é ?
- Como eu iria esquecer ? Você foi marcante para mim Maurice. O meu primeiro, e por enquanto único amor.
- Mas ninguém mais apareceu, durante estes 4 anos que estamos separados.
- Já esqueceu que sou tímido ? Eu não vou cair na lábia de qualquer pessoa. Além disso, mesmo que tivesse aparecido, eu não iria namorar com ninguém sentindo algo por outra pessoa - falei, enquanto senti uma lágrima escorrer pelo meu olho.
- É óbvio que eu lembro. É que eu imaginei que... Enfim...
- Eu nunca esqueci de você Maurice. Só... Deixei de pensar em você por causa da distância e da falta de contato. Mas você sempre esteve aqui no meu pensamento - um silêncio se formou entre nós - mas parece que não foi a mesma coisa com você, não é ?
- Eu não Esqueci de você !
- Então porquê parou de escrever para mim ? Porquê sumiu da minha vida, das nossas vidas, você e sua mãe, sem dar nenhuma explicação.
- As coisas já não são mais as mesmas Antoine.
- Então diga, o que aconteceu para você sumir ?
Continua
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