Cap.8
Durante alguns segundos eu não respirei. Nem ele. Eu pude olhar seu rosto tão de perto, sua pele... De repente meu coração quis desfalecer de tanto nervoso e emoção. Definitivamente, eu já não sentia apenas amizade por aquele garoto.
- Desculpa ! - falei, dando um sorriso amarelo. Em seguida joguei-me ao lado do corpo dele, que estava tão imóvel quanto o meu. Senti o meu rosto corar, enquanto sentia meu coração bater na garganta.
- Esses dias estão sendo ótimos para mim - falou, fazendo eu o olhar - como a muito tempo eu não vivia. Arigatou, Gustavo-San... Por ter se tornado meu amigo - um sorriso se formou no meu rosto.
- Quem dera eu tivesse criado coragem de falar com você antes e nós tivéssemos tido mais tempo como amigos...
- Sabe... Eu não tenho muitos amigos, como você sabe. Na verdade, apenas você, por algum motivo não me acha estranho e arrogante. Nem minha família está perto de mim - falou, deixando no ar um silêncio chato - mas você contrariou tudo, e se aproximou de mim...
- Eu não julgo as pessoas pelo que demonstram ser, Yuki-San. Para mim, existe um motivo muito forte para você ser assim, tímido. E apesar disso, eu consigo ver muitas coisas boas em você. És um garoto legal, Yuki-San. E... - de repente eu percebi que iria elogiar a beleza dele, então acabei por me calar. Nos levantamos, devolvemos a bola e retornamos os dois para as suas residências.
MINUTOS DEPOIS
Ao me deitar na cama, pensava apenas nele e... Na sua beleza estonteante. E em como ele tem um sorriso bonito. E em como ele está dominando os meus pensamentos nos últimos tempos. E em como foi legal o nosso passeio juntos. Ele rindo durante o filme, nós dois comendo, aquele momento descontraído, eu ainda não o tinha visto feliz. Percebi que ele apenas precisava de alguém, que era muito solitário. De agora em diante eu estarei sempre presente na sua vida. Principalmente porquê... Agora já não quero mais me afastar.
- EI, brasileiro ? - dizia Mari, assim que eu atendi o telefone.
- O que houve nipônica ?
- E aí ? Como foi o passeio com o seu vizinho lindo ?
- Excelente. Ele definitivamente é outra pessoa, quando está confortável. Ri, brinca, tira fotos, é espontâneo. Ele só é muito solitário.
- Eu vi a festa que você postou no Facebook. E aquele olho brilhando com o sorriso dele do lado ?
- Meus olhos não podem brilhar ?
- Podem. Mas eu quero saber quando você vai assumir que sente algo a mais por ele além de amizade.
- Eu admito, OK ? Ele... Ele está revirando a minha mente.
TEMPO DEPOIS
E ele realmente estava revirando a minha mente. Eu dormia pensando nele, acordava pensando no que ele estaria pensando. Comia rapidamente, para que logo pudesse estar ao seu lado na parada de ônibus. Pesquisava músicas de bandas que ele poderia gostar, apenas para agrada-lo. Me preocupava demais com o bem estar dele. Certo dia, porém ele não esteve na parada. Esperei um pouco, achando que ele apenas havia se atrasado, porém mesmo quando o ônibus passou ele não havia chegado. Restou-me ir sozinho, e intrigado, querendo saber o porquê da falta dele.
MINUTOS DEPOIS
Entrava na escola sozinho e frustrado depois de dias, por não tê-lo visto. Quase na entrada, já fui atacado por Mari.
- Oi Bra.
- Oi nipo - ela riu.
- Queria te mostrar uma coisa.
- O Que é ? - ela me arrastou até a Sala do Grêmio Estudantil, ao qual ela pertencia - porquê me arrastou até aqui Mari ? - começou a folhear um caderno por lá, até parar numa folha.
- Olha isso aqui... - virou o caderno e eu comecei a ler o que estava escrito.
- Ué... Isso é uma lista de alunos...
- Eu sei. É da turma do Yuki-San. Olhe o nome dele.
- O que tem ? - falei, antes de olhar.
- Olha a data de nascimento... - procurei, até que Achei.
- É hoje !
- Hai ! Ele está fazendo aniversário hoje. Achei que era bom te avisar, quem sabe assim você poderia fazer uma surpresa a ele, ou coisa do tipo.
- Arigatou, Mari-San... - será se era por isso que ele havia faltado ?
NO FIM DA AULA
Mas geralmente não se falta aula em aniversário. A não ser que esteja com medo de alguma brincadeira de amigos, mas nem amigos ele tem. Por Que será que ele faltou ? Peguei um táxi aquele dia e fui até Shibuya. Fui até uma confeitaria que conhecia e comprei um bolo e as velas. Comecei a andar de loja em loja, até que vi uma camisa linda, com uma estampa do Cristo e palavras em português. Imaginei ele vestindo ela, ficaria perfeito nele. Decidi comprar e pedi a embalagem para presente. Caminhei até a sua casa. Decidi não bater na porta, já que estragaria a surpresa. Entrei e não percebi nada de anormal na entrada. Tirei o bolo, coloquei as velas e começei a caminhar para dentro da casa. Um silêncio ensurdecedor. E de repente, um gemido. Parecia alguém chorando. Deixei o bolo em uma mesa que tinha perto, apaguei as velas. Comecei a caminhar em direção a aquele barulho, e logo o vi, sentado no sofá. Uma bagunça era o que definia a casa naquele momento. Papéis, pareciam jornais espalhados pela casa. A alegria de um aniversário estava longe dali. Mais parecia um velório. Quanto mais me aproximei, mas tive certeza que era ele que chorava. Ao ver que era realmente, corri em sua direção.
- EI ? Yuki-San ? O que houve ? O que aconteceu para você estar assim ? - ele lentamente abriu os olhos, já inchados. Ao me ver, praticamente pulou em meus braços, em um abraço. Foi tão forte que eu acabei caindo, e ele por cima de mim. Porém, diferente do outro dia ele apenas recostou a cabeça no meu peito e assim ficou.
- Eu não quero mais viver, Gustavo-San ! - meu Deus. O que havia acontecido para ele dizer algo assim ?
Continua
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