De madrugada despertei com a cama vazia e ainda morna. Parecia ser loucura ou bobagem, e nada havia acontecido de muito condenavel, porem um beijo abria sempre as portas para outras coisas extremas. O sexo era o limite. E o sexo com o Biel era terminantemente proibido para mim.
- Que cara de besta e' essa, Biel? _ perguntou Carlos na manha seguinte, á mesa do cafe', reparando que o irmaozinho sorria sozinho enquanto ouvia musica no celular, com certo ar "sonhador"_ Foi tao boa assim a punhetinha do banho, e'?
- Seu grosso _ o menino ficou vermelho, me olhando embaraçado; Carlos riu dele.
Perto do horario do almoço, os dois discutiram. Biel queria colocar no quarto dele uma bandeira do arco-iris, igual aquela grandona que enfeitava uma das paredes da sala de Carlos.
- Ah, tá! Depois quem vai aguentar os coroas na minha orelha? _ replicou o irmao mais velho _ Vao falar que ate nisso o influenciei. Espere um pouco, o que custa? Mais alguns anos e voce joga a bomba no colo dos velhos. Ai voce podera colocar bandeira gay ate na sacada do seu quarto, Biel.
O peguete do Carlos, o tal de Renan, telefonou pouco depois do almoço. Meu amigo foi para o quarto e ficou falando com o cara por uns bons minutos; Biel aproveitou esse momento e me indagou em voz baixa:
- Gostou do Chopin de ontem à noite?
Fiquei sem onde enfiar a cara.
- Voce nao devia ter feito aquilo _ sussurrei.
- Porque nao? Gostei de voce...
- Porque isso configura um crime, Biel _ falei num tom quase aflito _ Isto e', configuraria se... Nao repita mais aquilo, certo? Gosto muito do seu irmao e nao quero desaponta-lo e nem desrespeitar voces dois aqui, no ape dele.
O garoto se calou, corado, mordendo os labios e evitando me olhar. Quando se levantou notei que seus olhos estavam umidos, sua expressao muito triste; deu pena, no entanto era melhor assim.
- Caras, voces vao ter que sair _ disse Carlos, voltando do quarto entusiasmado _ O Renan chega daqui a pouco e já vem pra cà, portando tchau! Paulo, voce leva o Biel pra mim? Ontem ele veio de onibus, e agora nao posso leva-lo...
Pegamos nossas coisas, o Carlos me passou o endereço da casa dos pais, e entramos no meu carro. O Biel seguia mudo, aborrecido, olhando a rua pela janela aberta.
- Eu empresto o LP que falei, para voce ouvir _ disse, na tentativa de anima-lo _ Seu pai tem tocador de LP?
- Tem _ respondeu, sem me olhar.
No sinal fechado, um ambulante passou vendendo sorvetes de palito. Perguntei se Biel queria.
- Nao! _ exclamou irritado, vermelho, os olhos transbordando de lagrimas.
Rapidamente fechei o vidro, grato pelo insulfilme nos ocultar do resto do mundo.
- Mas o que e' que voce tem? _ perguntei, tocando em seu braço.
- Voce e' um idiota_ ele chorava, secando as lagrimas com raiva _ Achei que os homens mais velhos nao fossem idiotas como os garotos, mas sao! Eu te quero, me ofereci a voce e voce me rejeitou com esse papinho de "crime", de coisa proibida. Grande merda eu ter so' treze anos! Se tenho idade para saber que sou gay, tenho tambem para transar com quem eu quiser.
"Nao, voce nao tem", fiquei com vontade de dizer, me calando entretanto. Bem, o fato era que pela lei ele nao podia e nem eu. Imagine a barbaridade, caso eu me envolvesse: um ativista gay preso por... Seria o fim do grupo, uma mancha perene sobre nosso movimento jà tao cotidianamente atacado. Era bom nem pensar nisso.
- Isso jà foi discutido. Voce quer me colocar em maus lençois, Biel, e isso nao esta certo _ disse, apelando para seu bom senso _ E' maluquice. Nos conhecemos ontem e voce já quer...
- Mas eu te curti! _ exclamou, me olhando _ Somos homens, nao precisamos desses joguinhos babacas de flerte, esses que os heteros fazem... Com a gente e' olhar, papo, beijo e sexo, nessa ordem. Complicar pra que?
- Voce nao tem idade para pensar assim... _ comecei, surpreso com a maturidade cinica do pensamento dele.
- Eu nao sou criança, Paulo! _ gritou _ Que merda!
O sinal abriu, coloquei o carro em movimento, ainda perplexo demais para responder qualquer coisa. Que situaçao horrorosa. Foi mesmo quase como cair num buraco de repente, o susto era igual. De subito, perto já da casa dele, me veio uma ideia que me apavorou.
- Escuta, sei que voce gosta de contar tudo para o Carlos, mas nao fale sobre isso _ pedi com certa inquietaçao _ Ele nunca vai me perdoar, nem entender.
- Prometo _ ele pos a mao na minha perna, esboçando o seu sorriso com covinhas _ Se voce me beijar.
- Biel, nao..._ instintivamente afastei a mao dele.
- Entao vou contar tudo! _ ele me encarou, furioso.
- Seu chantagista, e' assim que quer me conquistar? _ exclamei, parando o carro numa via mais tranquila, e num impulso de ira o puxei para mim, chocando nossas bocas, sugando-lhe labios e lingua, fazendo-o ofegar e gemer; esperto, ele se sentou no meu colo, esfregando a bunda macia e pesada, endurecendo meu pau desesperadamente; soltei-o respirando fundo, olhando inquieto para a frente, a rua sossegada _ Chega, chega.
Biel sorria, rubro, limpando vestigios de saliva com a lingua. Estava excitado tambem, o pau durinho atravessado no shorts de moletom. Dei partida no carro, o coraçao aos saltos, afinal parando em frente ao predio onde ele morava.
- Pronto _ falei, observando-o tirar o cinto; antes que pudesse me afastar ele me abraçou com força, cheirando e beijando meu pescoço, me arrepiando _ Vai, Biel. Chega disso.
- Me passa teu numero _ pediu ele.
- Acho melhor nao...
- Passa, vai, o que custa? _ ele me implorou e eu passei.
Esse foi um grande erro. Ao longo daquela semana, Biel nao parou de me mandar mensagens de texto, as vezes ate tres por dia. Algumas eram singelas como "bom dia", "boa noite", "bom trabalho", mas outras eram perigosas, como uma que chegou na quarta-feira, no horario de meu almoço: "Estou apaixonado por voce, Paulo", e uma outra, certa tarde: "Estou tao excitado... Fico pensando em voce me fodendo aqui na minha cama...". Na sexta-feira, chegou uma que dizia: "Nao acha bonita a minha bunda?", seguida da foto de suas nadegas nuas, brancas e cheias, seu corpo meio torcido na imagem do espelho, enquanto ele fazia a fotografia. A contragosto, meu pau endureceu na hora, o que me deixou desesperado. Apaguei todas as mensagens, sentindo muita culpa por querer me masturbar com a lembrança da bunda apetitosa dele. Com esforço, um esforço incrivel, me segurei e tentei esquecer aquilo.
O nosso grupo se reuniu na quinta-feira para discutir uma possivel açao penal contra um bar que impediu o beijo de dois garotos, no ABC Paulista. Houve ate ameaça de agressao contra o casal e Carlos, furioso e violento quando o caso envolvia homens gays, propos ate mesmo levar a queixa ao Ministerio Publico.
- Se depender de mim, fecho aquela espelunca! _ exclamou.
Sob suas ameaças, Cleiton deu uma desculpa aos travestis que queriam se juntar ao grupo e os impediu de participar. Lamentavelmente, por questoes financeiras, Carlos acabava chantageando os lideres do Diversidade, de modo que so' davam importancia ás causas que ele achava necessarias. Para ele, o movimento era apenas dos homens gays, mais ninguem. As lesbicas nao se conformavam.
- Estou vendo o dia em que vao nos expulsar daqui _ Jessica dizia.
Os caras do partido socialista tambem foram impedidos de participar, apos a ameaça de Carlos. Aquilo cheirava à uma segregaçao da grossa, e Cleiton e Vagner nao sabiam o que fazer para colocar ordem na casa. Nao cheguei a ver como as coisas se resolveram, pois tive de abandonar tudo de repente.
Ocorreu no sabado seguinte. Novamente Carlos, Biel e eu passamos o sabado juntos no apartamento. Montamos pizzas e fritamos pasteis, enquanto eu procurava me esquivar dos toques propositais de Biel em mim, nos momentos em que Carlos estava distraido. O garoto disfarçava bem, mas as vezes fazia uma carinha de safado que era dificil de esconder; comecei a ficar preocupado.
Apos o jantar, Carlos tomou o celular do irmao, dizendo querer saber o que tanto ele via que nao desgrudava do aparelho.
- Se for foto de pau, eu vou apagar _ ameaçou.
Biel ficou branco de susto e desespero, trocando um olhar aflito comigo, onde eu entendi que ele nao tinha apagado as mensagens que me enviou, e apesar de eu nao ter respondido nenhuma me senti ferrado ate á alma, como quem despenca de uma altura de vinte metros. Vi Biel furioso, tentando tomar o celular da mao de Carlos, gritando que aquilo era uma invasao, um desrespeito, porem Carlos se colocou em pe', erguendo o aparelho. Quando abriu o que julguei ser a caixa de mensagens, notei sua expressao confusa, incredula, depois cedendo lugar ao choque e afinal ao odio, quando me encarou num olhar sinistro:
- Seu pedofilo desgraçado!
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Obrigado a quem esta acompanhando. Voces sao mara! :)
Abraços povo!!
