Cap.6
Era impressão minha ou meu companheiro de quarto havia se interessado em Suzuki, que por sua vez havia se interessado em Keisuke.
- Mas... Só por isso ?
- É. Faça esse favor, eu quero muito que ele vá - percebi de cara o interesse. Aquele beijo havia sido apenas uma forma de levantar minha moral depois de eu falar tanta besteira.
- Tá, tudo bem... - de alguma forma descobrir aquilo me atingiu. Mais do que eu esperava pra alguém que não estava apaixonado. Não tinha como negar. Eu tinha um interesse enorme no garoto dos cabelos cor de ouro... - é, eu preciso ir... acabei de lembrar de um exercício que não fiz - peguei a tigela e sai andando.
- Ei... - ele me chamou, mas não se levantou de onde estava. Ele não tinha o direito de me deixar tão nervoso assim como eu estou.
NARRADO POR SUZUKI TOORU
Tenho que orgulhar a família ! Depois de tantos acontecimentos ruins, tanta gente envolvida em coisas horríveis, o único que ainda podia honrar o nome da minha família era eu. E foi com esse pensamento que vim estudar em Ibaraki. Lembro-me da polícia invadindo nossa casa...
"- Ayumi e Kazuki, os senhores estão presos por tráfico de drogas e de pessoas !"
Como eu iria imaginar que meu pai e minha avó estariam envolvidos em algo tão sujo como o tráfico de pessoas e de drogas, algo tão condenado pela sociedade japonesa, tão desonroso. Aos poucos foi se descobrindo que não era só eles dois. Tios, primos, amigos, estavam todos metidos naquele esquema sórdido e desumano. Acabou que só eu, minha mãe, uns poucos tios e primos foram o que restamos daquela barbárie familiar. E restou a mim, o mais novo de todos, buscar honrar novamente a família, para diminuir a mancha feito pelos meus antecedentes. As honras maiores para uma família japonesa era ter um filho formado na Universidade de Tokyo. E era pra isso que eu estava lutando. Queria ser médico, queria ajudar as pessoas, dar uma contribuição a sociedade como forma a reparar todo o mal causado pelos meus parentes. Me chamo Suzuki Tooru. Tenho 16 anos. Nasci e cresci em Kyoto, mas meu pai, pouco antes do acontecido, insistiu pra que nos mudassemos para Osaka, por ser uma cidade maior e que seria de vital importância para o meu sucesso profissional na fase adulta. Tempo depois, aconteceu tudo. Foi de repente. Num dia meu pai estava chegando de uma viagem a Tokyo, no outro foi preso. E diversas pessoas foram com eles, pessoas essas que eu sempre me espelhei bastante como exemplos, mas que acabaram sendo as piores pessoas a me basear. Foi quando minha mãe disse que era melhor eu ir para Ibaraki, e ficar longe de todo esse mal que estava circundando a nossa casa. E então eu vim para esse colégio. Ainda estou ligeiramente perdido aqui, mas até que é bem legal. Fiz um amigo apenas, Saki, que é um garoto bem gentil, bonito e legal. Não tenho amizade quase que nenhuma com meu parceiro de quarto, Hayama. Ele é mais um dos que ficam correndo atrás de Ken, o galã de Ibaraki. Só uma pessoa me chamou atenção de verdade até agora. Ele é tímido, que nem eu. Calado, que nem eu. Mas muito bonito. Muito charmoso. Muito fofinho. Já é veterano. Mesmo assim ele me chama muita atenção. Seu nome é Keisuke. Descobri isso a pouco tempo, perguntando de um de seus conhecidos. Ele foi a primeira pessoa que eu vi quando cheguei em Ibaraki, ainda no dia da prova de admissão.
FLASHBACK
- Meu Deus, como eu estou nervoso !- falei pra mim mesmo, sentindo minhas mãos geladas. Estava com medo de sofrer um apagão, esquecer algo importante, ou infringir alguma regra que talvez passe despercebida. Sim, estou muito nervoso. Quando olhei pela primeira vez aquele prédio lindo e arcaico, meu nervosismo dobrou. Dizem que Ibaraki é a melhor escola do Japão, e que bem poucos tem a chance de entrarem aqui. Eu tinha que aproveitar ! Eu tinha que passar ! Estou vislumbrando com toda essa estrutura magnífica ! É tudo tão lindo, seria uma honra pode estudar aqui ! Será se vou passar.
- Ei ! Cuidado Jukensei ! - sem perceber, acabei esbarrando em um dos veteranos do colégio.
- Oh, summimasen sen... - parei de falar quando Ergui o olhar - ...pai - como ele é bonito ! Tem cabelos pretos, olhos bem castanhos, um corpo charmoso, ele é bonito ! Passou por mim sem falar mais nada, me deixando cheios de suspiros. Ele parecia um anjo. Tinha mais um motivo pra entrar em Ibaraki.
FIM DO FLASHBACK
Consegui entrar. E de lá pra cá, esse foi nosso único diálogo. Eu não tenho coragem de ir dizer oi. Tenho medo de tudo, de todos. Medo do que ele vai pensar, das suas palavras, até dos seus gestos. Será se é normal tanta insegurança assim ? Tanta timidez assim ? Enquanto meus pensamentos me consomem, eu apenas o observo de longe.
- Ei, ei ! - vejo Saki passar rapidamente na minha frente
- O que foi ? - logo ele se virou e me viu.
- Está de mal humor Saki-San ? Deixou este papel cair - falei, me abaixando e pegando.
- É apenas um aborrecimento comigo mesmo - falou ele, lentamente vindo sentar ao meu lado no banco.
- O que está fazendo ?
- Passando o tempo - falei, voltando a olhar pra ele, que ria alegremente com alguns garotos enquanto almoçava.
- Tenho um convite pra te fazer.
- Convite ?
- É... Vai ter uma festa de pijamas na sala de teatro e Ken me pediu pra te convidar.
- Ken ? E ele sabe quem sou eu ? - foi uma enorme surpresa, pois se eu não havia falado nem com o garoto de meu maior interesse, imagine com alguém que mal conhece.
- Pelo jeito sabe. Ele quer muito que você vá - foi impressão minha ou eu ouvi um suspiro vindo de Saki nessa parte.
- Prefiro não ir, eu não conheço ninguém alem de você naquele grupo.
- Vá, é uma forma de se entrosar.
- Quem mais vai ?
- Ah, todos nós, Hayama-San, Keisuke-San !
- Keisuke vai ? - perguntei, curioso.
- Vai...
- Ah, então eu vou ! - tudo que envolvia aquele nome estava me chamando atenção, era impressionante. Será se foi paixão a primeira vista ?
NARRADO POR SAKI
Eu nunca me apaixonei por alguém. Não sei o que é amar, nem sei amado. Nunca beijei ninguém de verdade, já que o beijo de Ken foi mais uma forma de me consolar por nunca ter amado ninguém. Parecia um karma, nem meus próprios pais me amavam. Será se um dia alguém me amaria.
- Saki, porquê me deixou sozinho a beira do riacho ? Eu... - ele ficou em silêncio vendo eu chorar num dos cantos do colégio.
- Não foi nada...
- Está chorando ?
- Estou !
- Porque ? - antes que eu pudesse falar, vi Keisuke se aproximar.
- O que houve Saki-san ? - vi que ele carregava um livro nas mãos.
- Não é nada demais. Estava apenas lembrando de casa, só isso.
- Pode ir Saki, eu o consolo ! - vi Saki apenas se levantar e ir embora. Keisuke se aproximou e me abraçou - você não disse que não sentia falta de casa ?
- Não sinto Keisuke. Mas fico pensando. Nem meus pais me amam. Será se um dia alguém vai me amar ?
Continua
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