Era chegado o quarto dia de aula e eu mal podia esperar pelo sábado, não conseguia acreditar em tudo o que ocorreu na primeira semana de aula do meu novo colégio. Fui do céu ao inferno e de volta ao céu em apenas três dias. Minha vida nunca foi tão movimentada.
Estava eu a caminho do colégio, novamente adiantado, quando ouço alguém me chamando no pátio. Confesso que se não fosse pela voz feminina, eu teria corrido facilmente.
De longe avistei Alice, sentada e sozinha num banco com uma expressão meio ansiosa.
Assim que cheguei, ela disparou:
- Não adianta me enrolar, hoje não vai ter bom dia até você me contar o que aconteceu ontem no intervalo.
Eu contei detalhadamente o ocorrido, mas tentei resumir ao máximo a ajuda que o Gabriel me deu no banheiro, pra evitar qualquer suspeita. Pelo visto, meu resumo dessa parte da história não foi o suficiente.
- Bernardo, vou ser bem direta na pergunta que eu tenho pra te fazer e espero uma resposta convincente e objetiva: você é gay?
Eu senti meu corpo todo gelar de uma tal forma, me recuperei do baque e me fiz de desentendido.
- De onde você tirou isso?
- Olha, eu tenho te observado desde que você chegou, ontem eu percebi o olhar que você lançou quando o Gabriel entrou na sala e você é péssimo em omitir as coisas. Portanto, se você tiver algum medo de se abrir pra mim, pode falar, não tenho preconceitos. Só quero te conhecer.
Nesse momento eu fiquei desarmado, não havia motivo pra mentir ou inventar qualquer historinha sobre minha sexualidade. Seria melhor eu falar a verdade.
- Sim, eu sou gay. – disse isso baixando o olhar, não consegui fitá-la nos olhos.
- Não há motivo pra você não me olhar nos olhos ao assumir isso pra mim. Está tudo ok! Temos até mais assuntos pra conversar agora. – disse Alice me dando um belo e ensolarado sorriso. Naquele momento eu me senti compreendido e feliz por ter o apoio de uma amiga. Como resposta, eu apenas a envolvi num caloroso abraço que durou alguns segundos.
Alice interrompeu nosso abraço com mais um questionamento.
- Então, quer falar sobre o Gabriel?
Eu corei e senti minhas bochechas formigarem com a pergunta, desviei o olhar novamente para baixo e respondi:
- O que você sabe sobre ele?
- Muita coisa, estudamos juntos desde a terceira série. Mas aqui vai a sinopse: Gabriel tem 15 anos, é um dos garotos mais populares do colégio, rico, é amigo das patricinhas e dos bombadinhos, mas não senta perto desses grupinhos na aula pois está focado no vestibular e quer bons resultados. Sempre foi bom aluno, então acho que o sonho dele de ser médico vai ser coisa fácil de se realizar. Enfim, o garoto perfeito.
Ao saber um pouco mais sobre o garoto dos olhos azuis, eu me senti mal. Lá ia qualquer esperança de algum dia ficar com ele.
- Todos tem defeitos, ele não é exceção. – respondi intrigado.
- Bem, então o Gabriel esconde muito bem os defeitos dele. Talvez o único defeito sejam os amiguinhos que ele fez no colégio.
Eu sorri e decidi encerrar a conversa para partirmos para a sala de aula.
No fim do dia, estava eu caminhando de volta pra casa quando de repente alguém se aproxima.
- E aí, Bernardo. – disse o Gabriel sorrindo.
- Oi Gabriel. O que faz por aqui? – perguntei meio surpreso.
- Ué, é caminho da minha casa, creio que da sua também. – respondeu fazendo uma expressão de obviedade.
Eu corei, acho que devo ter feito uma pergunta idiota. Continuei andando calado por causa da vergonha, até que o Gabriel quebra o silêncio novamente.
- Você é meio caladão. Não dá muito espaço para as pessoas se aproximarem. Você já fez amigos por aqui ou tem namorada?
Senti meu rosto corar mais ainda, não entendia o motivo dele estar fazendo essas perguntas.
- Fiz alguns amigos sim. A galerinha que senta na frente é bem legal.
- Ah sei... os nerds. Mas e em relação a namorada?
- Não tenho. – respondi querendo me enterrar no chão.
Gabriel deu um meio sorriso, não sei se de satisfação ou só pra zombar mesmo.
- E você, tem namorada? – perguntei.
- Não, estou focado nos estudos. – Gabriel respondeu serenamente.
- Entendo.
- Enfim cara, te perguntei isso pois eu te vejo sempre meio distante da turma, muito quieto. Não sei se você está se adaptando bem e quero que saiba que estou aqui para te ajudar. Então é isso, vou ficando por aqui, moro naquele prédio. – disse apontando para um condomínio branco e lindo, realmente imponente.
Nos despedimos com um pequeno cumprimento e então segui o caminho de casa pensando em tudo o que me ocorreu naquela conversa estranha que eu acabara de ter com aquele garoto que me deixou todo derretido com sua gentileza de se preocupar com a minha adaptação. Alice estava certa, Gabriel era um garoto perfeito.
Enfim era chegada a sexta-feira e na última aula do dia, fomos surpreendidos pelo aviso da professora de biologia.
- Bom dia, alunos! Tenho algumas informações importantes para passar pra vocês. Na próxima sexta, o colégio irá promover um acampamento de boas-vindas aos alunos novatos e ao novo ano letivo. O acampamento ocorrerá de sexta a domingo e para que vocês participem é necessário que os seus responsáveis assinem a autorização.
A turma inteira alterou-se, eram gritos entusiasmados por todos os lados.
- Mas não pensem que tudo será festa. Como não teremos aula, vou passar uma pesquisa e um questionário para que vocês me entreguem no nosso próximo encontro. É isso, espero que consigam a autorização e divirtam-se, só não se esqueçam dos afazeres do colégio.
A turma inteira estava em festa. Eu não sabia se meus tios iriam topar em assinar a minha autorização, mas iria tentar.
Estava saindo da sala rumo ao pátio quando vejo Laura vindo sorrindo em minha direção.
- Oi Bernardo, estava pensando que nós poderíamos adiantar aquele nosso grupinho de estudos para fazer a pesquisa e resolver esse questionário de biologia. O que você acha?
- Acho que seria muito bom.
- Você sempre responde tudo como um robôzinho? – Laura perguntou e deu uma risada simpática e emendou a pergunta quando percebeu minha timidez. – O que você acha de hoje à tarde na minha casa?
- Ah, por mim tudo certo.
- Okay, te vejo às 14 horas então.
Fui em direção a minha casa na esperança de encontrar o Gabriel no caminho, mas para minha decepção, isso não aconteceu. Acho que ele deveria ter adiantado o caminho no tempo em que eu fiquei conversando com a Laura. E por falar em Laura, que garota bacana. É do tipo de garota que você olha e pensa que é nojenta e chatinha, mas quando conhece descobre que é um amor de pessoa. Estava disposto a ajudá-la com as matérias, ela me salvou do Pedro no primeiro dia de aula, devia isso a ela.
Ás 14 horas me dirigi até a casa de Laura que ficava numa parte bem tradicional da cidade, classe média alta, com casas muito bonitas e arrumadas. Chegando lá fui recepcionado pela empregada da casa que me direcionou até o quarto da garota que no momento em que entrei já estava ocupado por mais três garotas que andavam com a Laura no colégio.
Passamos a tarde tentando responder o questionário e por volta das 16:30 finalizamos. Fiquei surpreso, pois esperava que as garotas bonitas do colégio fossem menos inteligentes. Puro preconceito idiota. Elas se mostraram muito aplicadas e divertidas. Não sei por qual motivo, me sentia bem estando no meio delas. Foi então que decidimos merendar e jogar o jogo da verdade.
Eu relutei um pouco em participar do jogo, não estava afim de abrir minha vida ali naquele monte de garotas, mas conseguiram me convencer.
Iniciamos o jogo e depois de muito girar a garrafa, era a vez de Patrícia, uma das amigas de Laura me fazer uma pergunta.
- Bernardo, você é gay? – perguntou ela com um olhar malicioso.
Tinha que pensar rápido, contar a verdade ou mentir. Foi então que resolvi que não havia nada de mal em me abrir pra elas. Elas pareciam legais.
- Sim, eu sou gay. – respondi depois de uns três segundos de silêncio.
As garotas gargalharam e eu ouvi gritinhos de “aêêê” e “eu já sabia”. Patrícia me deu um abraço e disse:
- Agora é tua vez de girar a garrafa e tirar a verdade de alguém.
Eu girei e a garrafa parou apontando para Laura. Eu não sabia o que perguntar, então fiz a pergunta mais óbvia que pode ser feita no jogo da verdade.
- Laura, você é virgem?
Laura deu uma gargalhada e respondeu:
- Claro que não! Namoro o Gabriel tem uns dois meses. Você realmente acha que eu sou virgem?
As meninas gargalharam muito, mas eu não achei muita graça na resposta.
- Qual Gabriel? – perguntei.
- Ué, o Gabriel da nossa turma. – disse isso mostrando a tela do celular na qual o papel de parede era o lindo casal abraçado e dando um beijo meigo e carinhoso.
Fiquei meio confuso com aquilo tudo, mas não deixei transparecer. Jogamos um pouco mais e depois fui pra casa com algumas dúvidas na cabeça.
Eu estava certo, Gabriel tinha defeitos. Mentiu pra mim ao dizer que não tinha namorada. Mas com que propósito? Por que esconder de mim que não estava namorando? Eu tinha que descobrir mais sobre esse garoto. Nada fazia sentido e eu só tinha uma certeza: ele não era exceção.
Link para música: (Lies - McFly) />
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Olá pessoal! Fiquei muito feliz com a aceitação do primeiro capítulo, então resolvi adiantar logo o segundo. Acredito que até sexta sai o terceiro.
Muito obrigado pela força Naty Grassi, Pequerrucha, Ru/Ruanito, Marcos Costa, , Martines e P.G.
Quero muito ouvir suas ideias sobre essa historia kaduNascimento, me passa seu contato pra gente conversar :)
Tenho algumas surpresas preparadas pra vocês no decorrer dos capítulos, mas a opinião de vocês é muito importante e pode fazer com que eu possa mudar a trajetória dos personagens.
Espero que gostem, comentem, critiquem com educação, avaliem e deem sugestões.
Bjão e até logo!