Sankofa: o retorno e o recomeço (cap. 3)

Um conto erótico de Mmaah
Categoria: Homossexual
Contém 1653 palavras
Data: 15/05/2015 23:02:43
Última revisão: 15/05/2015 23:05:15

Se você chutou Luana, acertou em cheio. Pensei: Essa alma quer reza. Adicionei, e fiquei olhando as notificações pendentes. Até que a janelinha do bate-papo subiu. Não precisava ser um gênio pra descobrir quem era.

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Ela: valeu, bem-vinda. Também tenho um chaveiro com meu nome. Bom reencontrá-la.

Eu: Pois é. Eu coleciono.

Ela: kkkkkkkkk massa. Algo em comum. Você ta muito bonita! Diferente, uma gata.

Eu: Obrigada. Aproveitei o tempo bem. Mudar faz bem.

Ela: Tô na farra se é o que quer saber. Cai na gandaia.

Pensei: Não perguntei, nem pensei nada.

Eu: Hum.

Ela: Estou fazendo especialização, tocando numa banda de Rock, e mexendo com arte circense.

Eu: Legal.

Ela: O mesmo espírito de aventureira kkkkkk estou solteira, como “sempre”. E vc, fala.

Eu: Estou terminando a faculdade. Tive sorte de fazer um bom estágio, e fui contratada. Estou começando a me virar sozinha. No mais, é isso.

Ela: Hum. E a igreja?

Eu: Saí, mas não estou na “gandaia”. Faz parte da minha personalidade não gostar de “gandaia”.

Ela: Não tô na gandaia tbm naum. Saio com amigos, vou a shows, moderadamente. Bebo pouco e adoro comida japonesa.

Eu: Hum

Ela: Você está namorando?

Eu: Agora não.

Ela: Tbm estava, no passado. Mas naum gosto de falar kkkkkk

Eu: Hum.

Ela: Gosta de cinema, teatro? Posso convidar você?

Eu: Gosto sim. Quando tenho tempo eu vou.

Ela: Gosta de caminhar ou correr?

Eu: As vezes.

Ela: Vamos combinar. Um xero e um abraço.

Eu: OK

Ela: Espero esse abraço pessoalmente da próxima vez.

Coloquei apenas aquele curtir de praxe, do Messenger.

Fiquei uns dias sem olhar o Face, mas o Messenger sempre infernizando. Depois que o Facebook fez essa atualização e nós somos obrigados a instalar aquela porcaria, a possibilidade de alguém lhe importunar aumentou. Enfim... Dia vai, dia vem, e essa menina nessa ladainha. Pediu meu whats, e eu dei o número a ela. Queria mesmo ver até onde isso ia chegar. Embora eu pensasse que pudesse ser apenas remorso, pela maneira como ela me tratou anos atrás, suspeitava que ela de fato tivesse intenções comigo. Isso não me assustava, mas alimentava um desejo latente de partir um coração, e ela era a presa fácil. Relutei nessa idéia, não queria fazer isso. Então fui deixando rolar. Ela foi se sentindo mais a vontade. Contou seu dilema de descoberta que toda lésbica que se preze deve passar. Contou da dificuldade de aceitação da família, da confusão com a fé. Tudo aquilo que eu já passei, e que felizmente superei. Sobretudo nós precisamos saber quem somos e para onde vamos. Pois bem, ao menos isso me orgulho de dizer que sei.

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Era um domingo a tarde, e eu estava de folga em casa. O dia tava um tédio. Acordei quase 12h, comi alguma coisa e fiquei por ali enrolando. O whats sinalizou, era ela.

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Ela: Hey, tá fazendo o que?

Eu: Em casa, de cara pra cima.

Ela: Vamos sair.

Eu: Não tô a fim.

Ela: Sério. Nada demais. Estou indo com umas amigas na praia, dar um volta.

Eu: Vixe piorou. Acordei meio anti-social hoje.

Ela: Vamos, vai. Deixa de ser chata. Não quero ficar de vela. As meninas são um casal. Por favor, vamos.

Eu: Tá ok. Vou me trocar então.

Ela: Ótimo. Vamos passar pra te pegar.

Eu: Tá.

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Desligamos e fui tomar um banho. Coloquei um roupa, perfume e fiquei esperando ela ligar. Meu telefone tocou. Era ela.

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Eu: Oi.

Ela: Tô saindo de casa. Te pego naquela parada, perto do restaurante, em 20min.

Eu: OK.

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Esperei um pouco, e fui caminhando até lá. Era um domingo de tarde ensolarada. Já era por volta das 16h. Fiquei no sentido lógico que ela viria, porque no sentido do restaurante seria contramão. Mas o tempo passou, e nada dessa menina. Já tava ficando com raiva. Até que ouço um carro buzinar do outro lado da rua. Virei, e era ela. Nem se deu o trabalho de descer para me cumprimentar. Estava no carona, e a amiga dela estava dirigindo. Entrei no carro, dei boa tarde. Cumprimentei as duas. Ambas passaram o caminho inteiro falando de sei lá o que. Eu tava pensando que raios eu tava fazendo ali. Fomos a um bairro pegar a namorada da moça que estava dirigindo. Parando lá, aquele velho clichê da menina: “mãe, vou sair com umas amigas”. A Luana veio pro banco de trás, finalmente falou comigo de maneira descente. A outra moça entrou no carro, a motorista fechou os vidros e elas deram um beijo casto. Seguimos pra praia. Tava rolando música sertaneja no carro, nada contra, mas... Não é o tipo de som que rola nos meus fones. Um ou outro perdido. Enfim... Senti ela se aproximar de mim. Olhei pelos vidros, como se algo me encantasse. Que nada! Queria mesmo era sair correndo dali. Chegamos na praia e todo mundo desceu do carro. As duas meninas estenderam cangas e a motorista e a Luana foram jogar Frescobol. Sentei com a outra moça, mas nada falamos. Me perdi um pouco olhando o mar. A Luana fazia de tudo pra chamar minha atenção. Ela sempre foi bem palhaça. Eu num tava nem aí. Depois de um tempo, todas sentaram na canga e começamos a falar.

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A motorista: Então... você era de qual igreja mesmo?

Eu: Da igreja X.

Ela: Ah, conheço bastante gente de lá. E por que você saiu?

Eu: Ah, tipo... achei meio incoerente continuar, sabe? Continuar num lugar que as pessoas falam de quem você é. Me parece meio hipocrisia.

Luana: As meninas continuam na igreja (falou se referindo às outras duas)

Fiquei constrangida.

Elas: Ah, é que é difícil. Nós temos cargos lá. O pastor sempre pergunta o que tá acontecendo quando não vamos. É uma situação complicado.

Eu: Entendo. Passei por isso. Até que um dia eu disse que não ia, e nunca mais fui mesmo. Cheguei a encontrar o pastor algumas vezes. Ele perguntou a razão de eu não estar indo mais. Disse apenas que não dava, e que não tinha mais explicações que isso.

Elas ficaram em silêncio.

Continuei: Não acho que temos que expor nossa vida. Não é isso. Não exponho a minha, preservo minha privacidade. Mas também não poderia deixar as pessoas ditarem minha felicidade. Além do mais, eu penso assim: a questão não é o fato de eu me apaixonar por homens ou mulheres. Me apaixono por seres humanos, independentes de serem homens ou mulheres. Nesse pensamento, não me condeno. Me isentei de qualquer culpa que poderia pairar sobre mim.

Todo mundo ficou em silêncio.

O casal: Bom, vamos ali comprar uma cerveja.

Senti uma velha "piscada de olho" da Luana pra elas. Fiquei atenta.

Ela: E aí.. você tá linda. Mudou bastante.

Eu: Obrigada! O tempo me fez bem.

Ela: Olha, porque você me trata assim, com tanta frieza?

Eu: Trato você como você sempre me tratou.

Ela: Queria aproveitar pra lhe pedir perdão. Você foi sempre tão gentil comigo. Nunca lhe dei a devida atenção.

Eu: Tudo bem. Perdoei você antes mesmo de você me pedir perdão. Não sou do tipo que guarda mágoas.

Ela não me olhava nos olhos. Isso me dá nervoso. Não gosto de quem conversa olhando pra todo canto do mundo, menos pra mim.

Olhei pro relógio. Tava meio impaciente já. Queria ir embora.

Ela: Tá apressada?

Eu: Não gosto de chegar tarde.

Ela: Então vamos.

As meninas já estavam voltando. Isso já era por volta das 20h.

Andamos em direção à rua onde o carro estava estacionado. A menina abriu a mala do carro e se dirigiu para dentro, junto com a namorada. Eu ajudei a Luana a colocar as coisas no porta-malas e quando virei, fui pega de surpresa com ela me beijando. Nem sei se ficar parado é sinal de se corresponder. Mas foi tão inesperado que não tive muita reação. A afastei, de maneira respeitosa.

Ela: Não consegui olhar nos seus olhos a noite toda. Se olhasse, teria feito isso a mais tempo.

Baixei a cabeça e entrei no carro.

Já dentro, ela ainda tentou pegar na minha mão, sem muito sucesso. Dei graças a Deus quando o carro parou próximo ao local onde eu havia estado outrora. Agradeci as meninas, e ela desceu. Me deu um abraço, e ensaiou um beijo. Fui mais rápida e agradeci o passeio. Me despedi e segui até em casa.

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Estava estranhamente mal. Desconfortável, era a palavra mais adequada. Não queria ter feito aquilo, nem deveria ter saído. Mas agora já era. A menina ia grudar no meu pé e eu ia ter que dar um fora. Logo! Já em casa, chamei Thy pra ir comigo comprar algo para jantarmos. A Thy é minha melhor amiga. Logo eu vou contar sobre ela e sobre como fomos parar na mesma casa. Ela pegou o carro e fomos até uma lanchonete aqui do bairro. Quase não falei no trajeto, que também não deu nem 3min. Chegamos lá e tava lotado. Dia de domingo, todo mundo que sai das igrejas corre pra lá. Fizemos os pedidos e ficamos esperando do lado de fora mesmo. Nem havia mesas. Tenho o péssimo hábito de sentar em tudo que é canto. Odeio ficar em pé esperando. Sentei no meio-fio, próximo ao pneu do carro. Ela viu minha cara de morte e sentou do meu lado.

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Thy: Hey, o que houve? Que cara é essa?

Eu: Eu fiz uma coisa que não deveria ter feito.

Ela: Você saiu com aquela menina da parada, neh?

Eu: Saí sim.

Ficamos em silêncio!

Ela: Só isso?

Eu: Não.

Ela: O que aconteceu?

Eu: Nos beijamos. Quer dizer, ELA me beijou.

Eu tava olhando pro chão, quando ouvi um soluço.

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Ela estava chorando.

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Galera, por hoje é isso. Obrigada por estarem acompanhando minha história de novo. E mando um beijo todo especial pra Lê e pra Nath. Felicidades meninas. Aproveitem esse momento todo especial.

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Beijos

Mah

Sankofa


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Comentários

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To acompanhando atenta florzim... esperando sempre o próximo...

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Muito bom ler seu conto a narrativa me prende e fico ansiosa esperando o próximo capitulo...

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Eita sdds de ler seus contos guria.. Tu és uma ótima escritora,amo demais como escreve.. Ansiosa pelo próximo cap..

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