II
Depois de uma longa e maçante manhã junto dos advogados, o único alento de Carolina Vandré foi ter conseguido um acordo razoável com o déspota de seu marido, era assim que ela o definira depois de três anos de um casamento sem amor e totalmente fracassado, para Carolina foram anos cheios de decepções, era fácil relembrar os momentos ruins, vividos desgostosamente, pois de um jeito ou de outro, o tempo passa e as memórias não, a falta de amor, de carinho, de respeito e o desprezo reciproco estavam aflorados em Carolina.
Após a batalha de negociações, além da pensão concordaram pela guarda compartilhada da filha de apenas nove anos, que para ela fora a única coisa boa que ganhara com essa união. Saindo do fórum, Carolina analisava sua vida em todas as possibilidades, pensou na filha e em todo o planejamento de vida que havia meticulosamente vislumbrado. Já no taxi que pegara, inutilmente tentou se concentrar na proposta que teria de apresentar em uma reunião dali a alguns minutos, de nada adiantou folhear os papeis em suas mãos, o transito complicado obrigou-a a descer um pouco antes do local, de todo jeito sair do taxi foi quase um alivio, já estava sentindo-se sufocar por seus próprios pensamentos e frustrações.
Andava a passos largos para não atrasar-se, estava tão afoita que não teve tempo de desviar uma garota desmiolada qualquer que não olha por onde anda, e esta levar ao chão tudo que havia em suas mãos, é desmiolada mesmo, foi a primeira impressão que Carolina teve daquela desconhecida, olhou pra ela como olhar de reprovação total, a outra por sua vez sustentou-o firmemente e, além disso, Carolina foi totalmente pega de surpresa com o olhar que esta lhe lançou de volta, um tanto indecoroso na percepção de dela e algo que ela desconhecia a impediu de destratar aquela garota desatenta ainda mais. Continuou olhando. E não sabia ao certo o que dizer, sentiu-se meio boba, então falou a única coisa que lhe pareceu cabível. – Vê se fica mais atenta andando por aí menina – respondeu tentando parecer ríspida, virou-se e seguiu seu caminho perguntando-se se a garota de olhos fascinantes ainda olhava para ela, afastou aquele que para ela pareceu um pensamento absurdo, conteve-se e pôs-se a andar sem mais olhar para trás. Tratou de cuidar de sua carreira... Esse era o plano de agora em diante.