Três Formas de Amar – Capítulo 39
Eu não estava querendo acreditar em tal façanha. Olhei para trás e lá estava ele, aguardando uma resposta, sorridente. “Isso só pode ser brincadeira...”, quase falei em voz alta.
- Rodrigo, que surpresa! – Bruno respondeu, visivelmente sem graça.
- Tá perdido em Cannes? – Marcelo provocou, sem saber ao certo como agir naquela situação imprevisível – Puxa uma cadeira, senta aí.
Continuei em silêncio, enquanto ele se acomodava:
- Que nada, vim acompanhar o Luciano – ele me fitou – Demorei muito pra descer?
Agora todos olhavam surpresos para mim, e eu sentia o meu rosto queimar.
-Não, não... – tentei responder com naturalidade, em vão.
- Que bom. E vocês chegaram quando?
- Anteontem – Marcelo pigarreou, claramente incomodado.
- Legal. E você é... – Rodrigo apontou para o meu colega de viagem.
- Antônio, o diretor de arte da agência.
- Ah, então é você... – ele mirou Bruno rapidamente – As artes da nova campanha estão bem legais, parabéns.
- Valeu, obrigado.
Eu não tinha ou não sabia o que falar. Na maior parte do tempo, Rodrigo e Bruno ficaram puxando assunto para o silêncio não imperar naquela mesa, relembrando histórias antigas ou discutindo marketing. Vez ou outra Marcelo opinava em algo e Antônio me encarava a todo instante, incrédulo. Apesar da fome latente, não tinha mais coragem de levantar para pegar nada no serviço de buffet, temendo alguma declaração indiscreta do ruivo. Ele, ao contrário, parecia não se importar e tagarelava como se não houvesse amanhã. Pescava o que podia dos pratos que Antônio, a única pessoa que parecia compreender o meu estado absoluto de desespero, trazia para a mesa.
Algum tempo depois, percebi que já estava chegando a hora do primeiro workshop, e ainda precisava tomar banho e me arrumar. Minha ex-dupla de criação já estava pronta. Não tinha outra saída a não ser deixar a mesa:
- Pessoal, preciso ir ou vou perder a hora – disse, já me levantando.
Marcelo não conseguiu esconder um ar de alívio, como se estivesse acuado com a minha presença ali.
- Amor, espera, vou com você também – Rodrigo prontamente já estava em pé.
Gelei. Não conseguia raciocinar se deveria responder, sair correndo, esperar...
- Senhores, foi um prazer – Rodrigo se despediu rapidamente, recebendo um sorriso amarelo generalizado de volta.
Em seguida, pegou a minha mão e saiu caminhando tranquilamente. Atravessamos o salão do restaurante, a metade final do saguão e ficamos esperando o elevador.
- Sua mão tá gelada Lu, você tá bem?
- Não sei explicar o que estou sentindo agora – balbuciei.
Entramos, ele apertou o andar e só depois que a porta fechou, soltou a minha mão, rindo.
- Você viu a cara dele?
- Hein? – tentava recobrar a consciência.
- A cara do Marcelo, bufando de raiva... Impagável.
- Rodrigo, o que você tá fazendo? – a porta se abriu e seguimos pelo corredor.
- Queria te ver gigante, tava com saudade – ele ainda ria, abrindo a porta do apartamento.
Quando entrei, dei de cara com a minha bagagem e pude perceber que se tratava do meu quarto. Estava extremamente confuso.
- Como você conseguiu essa chave? – indaguei, começando a me sentir um pouco irritado.
- Quando estava a sós com sua mãe, lá na sua casa, ela comentou da viagem. E aí tive a ideia de fazer essa surpresa, Lu. Ela me passou o contato da agência de viagem e entrou no jogo comigo.
- Você podia ter me avisado, poxa! E aquela cena lá na mesa...
- Ok, por isso eu me desculpo, sério! – ele me interrompeu – Cheguei agorinha e não te vi, por isso fui tentar a sorte lá no restaurante. Mas ganhei na loteria e notei que estavam todos lá.
- Como assim?
- Ah Lu, não podia perder essa chance única de zoar com a cara do Marcelo. O cara claramente foi contra ficarmos juntos, mas agora não pode impedir mais nada. Melhor, ainda tem que ver e ficar calado, já que sou o cliente dele. Queria ter tirado uma foto desse momento...
Rodrigo não escondia o sorriso no rosto, mas percebeu o meu desconforto.
- Ei, não era pra você ficar assim. Não queria te deixar constrangido, desculpa. Era só pra mostrar que a gente não precisa esconder mais nada de ninguém, gigante... – ele me puxou pela cintura, me dando um beijo na testa – Não fica zangado comigo não, por favor.
- Preciso tomar banho, já estou atrasado – respondi cabisbaixo.
Rodrigo se deu por vencido, sentando na cama e me deixando livre.
Entrei rapidamente no banheiro e aproveitei o rápido momento debaixo do chuveiro para assimilar toda aquela situação. Estava puto, mas também estava feliz. Foi desnecessário, mas também lavei a alma. Aquela coisa de demonstrar afeto em público também era muito nova pra mim. Talvez estivesse reagindo a tudo de forma exagerada. Acordei dos pensamentos com uma batida na porta. Era Rodrigo avisando que Antônio tinha ligado dizendo que estava me esperando na recepção. “Droga!”. Desliguei correndo, enxuguei-me grosseiramente e me vesti na velocidade da luz, enquanto ele me observava:
- Você vai ficar aqui?
- Vou, te esperando – ele respondeu sério.
- Beleza – caminhava em direção à porta, mas antes de alcançar a maçaneta parei por um instante e voltei – Ok, você ganhou pontos por ter vindo e perdeu pelo teatro no café da manhã, mas eu te perdoo.
Dei um rápido selinho e ele voltou a sorrir feito uma criança.
- E vamos deixar uma coisa bem clara: chega de surpresas. Eu te proíbo!
- Só se a gente andar de mãos dadas de novo.
Olhei sério para ele, que finalmente pareceu entender o recado:
- Ok,ok, tô brincandoMas que porra foi aquela? – Antônio ainda estava chocado, enquanto caminhávamos rapidamente até o pavilhão do evento.
- Acredite, eu não fazia ideia. Foi uma surpresa que ele armou.
- Aparecer lá no restaurante?
- Não, aquilo foi uma mera coincidência.
- Rapaz, eu gelei na hora.
- Você deve imaginar a minha situação então.
- Eu percebi. E a cara do Marcelo quando vocês saíram?
- Eles comentaram alguma coisa?
- Marcelo disse que não estava se sentindo muito bem e saiu logo em seguida, mas Bruno disse que com certeza ele estava bem puto.
- Eu imagino... – suspirei – Mas agora já foi.
- Mas ó, dei valor viu? Atitude!
Sorri, já chegando à palestra. “Bote atitude nisso...”, pensei.
Após o workshop bastante produtivo, ficamos dando uma volta pelos stands do festival. Almoçamos pelas redondezas e seguimos para outra conferência que discutia processos criativos. Na metade da tarde, retornamos para o hotel, já que logo mais aconteceria a premiação. Entrei no quarto e não encontrei Rodrigo. Comecei a me despir para tomar um novo (e mais demorado) banho e ao abrir a porta me deparei com ele. Na verdade, era uma visão desconcertante dele usando apenas uma toalha enrolada na cintura:
- Gigante, demorou! – ele sorriu prestes a passar espuma de barbear no rosto, depois de me admirar só de cueca.
- Cheguei agora. Tava tomando banho?
- Vou tomar já, já. Mas se for te atrasar, eu saio e espero.
- Relaxa. E porque vai fazer a barba?
- Porque, você curte assim? – ele segurou a lâmina, indeciso.
- Acho bonito, assim por fazer. Pensei que você tava deixando crescer.
- Não. Era só pra passar um ar mais autoritário nesse novo começo lá na empresa. Mas o pessoal já entendeu quem é que manda – ele esboçou um sorriso.
- Hum... Poderoso chefão – brinquei – pode deixar assim, eu gosto.
- Com um elogio desses, vou deixar pra sempre – ele veio ao meu encontro, segurando a minha cintura.
- Sim, mas deixe de ousadia que eu também preciso fazer a barba. Chega pra lá.
- Você também fica gostosinho assim, mas se ganhar o prêmio tem que sair bem na foto. Vem cá, deixa que eu faço pra você.
Rodrigo afastou algumas coisas da bancada e, num rápido movimento, colocou-me sentado na pia, me pegando de surpresa. Atento, espalhou espuma pelo meu rosto e pediu para eu ficar quieto. Com cuidado, começou a raspar os meus pelos, seguindo um ritual minucioso. Sem malícia, abri as pernas levemente, para ele se aproximar e ter um maior alcance.
- Agora olha pra cima – ele me pediu, prestes a barbear o meu pescoço.
Rodrigo apoiou a mão na minha coxa enquanto continuava o trabalho, o que evidenciou uma ereção natural na minha cueca.
- Depois vem dizer que sou eu que fico cheio de ousadia – ele prosseguiu sarcástico, percebendo o volume.
Não consegui esconder um sorriso. Quando terminou, procurei algo para tirar o excesso de espuma e ele não titubeou em puxar a toalha para passar no meu rosto, ficando nu.
- Prontinho, publicitário do ano!
Era impossível não reagir com aquela cena na minha frente. Puxei-o com a perna para agradecer com um beijo demorado. A mão de Rodrigo não demorou muito para sair da minha coxa e começar a explorar outras áreas, querendo avançar para aonde ainda havia tecido. Apoiei os meus braços na bancada e suspendi rapidamente o corpo, tempo suficiente para ele arrancar a minha cueca e largar no chão. Fiquei mais próximo à beirada e inclinei-me levemente para trás, encostando-me ao espelho. Rodrigo abaixou e abocanhou o meu pau, arrancando um gemido da minha garganta. O vaivém da sua boca e a sua saliva quente deixavam um brilho excitante na minha pica. Mas eu sabia que iria além e logo ele desceu para uma breve investida no meu saco. Depois, seguiu para o meu cu onde, já de joelhos no chão, lambia com um vigor animal, forçando a língua e alternando beijos leves com mordidas.
A temperatura já estava bastante elevada e, novamente em pé, Rodrigo encarava meu rosto cheio de desejo. Cuspiu no pau de um jeito que faria qualquer um gozar só de olhar e posicionou-se na minha entrada. Quando começou a enfiar, fixou o olhar em mim, se deleitando com o misto de prazer e dor que eu sentia. Assim que completou o percurso, fechou os olhos rapidamente, suspirando. Mordi os lábios com aquela imagem extremamente viril e erótica. Rodrigo ficou alisando o meu abdome, esperando eu me acostumar e logo começou a me penetrar com força, segurando as minhas coxas a cada ofensiva que curvava o seu corpo para frente. Cruzei as minhas pernas para prendê-lo, sentindo a sua bunda contrair toda vez que me preenchia por completo. O tesão estava a mil, e os nossos gemidos escapavam em volumes cada vez mais altos. Rodrigo suava, ora tirando o pau devagar para logo enterrar de vez, ora me fodendo de maneira quase selvagem. Levantei o tronco e abracei o seu corpo, sussurrando obscenidades no seu ouvido que o tiravam do sério.
- Lu... – ele disse ofegante – bate uma pra eu assistir.
Iniciei uma rápida punheta, acompanhando o ritmo que ele imprimia contra mim. Não ia conseguir segurar por muito tempo, mas ele se precipitou:
- Caralho, vou gozar...
Senti o seu clímax com seu pau pulsando dentro de mim, enquanto ele ainda arfava com os últimos espasmos. Foi o suficiente para eu me contorcer em um orgasmo que deixou o meu espectador vidrado, querendo acompanhar cada jato que atingia a minha barriga. Soltei a sua bunda, cansado, enquanto ele seguia sorrindo para a minha boca, dando uma mordida de leve no meu lábio para iniciar um beijo:
- Nossa primeira transa internacional – ele brincou.
Rimos e pedi ajuda para me levantar, sentindo uma cãibra fora do comum no pé. Logo depois, seguimos para o chuveiroVocê tem programação para depois, Lu?
- Acho que não. Sei lá, não tô muito a fim de ficar olhando pra cara do Marcelo a noite toda – ri.
- Então a gente se encontra depois?
- Como assim, você está se arrumando pra que?
- Não tenho convite para a premiação, mas como fui proibido de fazer surpresas, vou te esperar do lado de fora pra gente jantar. Melhor avisar com antecedência.
- Engraçadinho. Não precisa ficar do lado de fora plantado.
- Relaxe, eu faço questão.
Seguimos para o local do evento, onde nos despedimos. Já na área que ocorria a premiação, me encontrei com Antônio e Bruno. Marcelo estava sentado em outro lugar mais afastado. “Melhor assim”, concluí. A festa não era nada muito cheia de glamour, tinha um ar mais descolado e não parecia que ia demorar muito. Tentei não esconder a ansiedade, mas estava difícil. No fim das contas, não ganhamos o Leão de Ouro e Bruno parecia um pouco decepcionado. Por outro lado, não me abalei em momento nenhum. Senti-me um pouco vitorioso sim, por estar ali e por todo o caminho até chegar até ali. Era uma conquista para poucos e precisava ser comemorada. Não fiquei até o fim da cerimônia, pensando que Rodrigo já estaria dormindo em alguma calçada à minha espera. Encontrei-o da mesma maneira que ele tinha me deixado: com as mãos nos bolsos, sorrindo, irradiando vermelho para todos os lados.
- Não foi dessa vez – adiantei o resultado.
- Sério, que pena! Mas não importa muitos outros virão, eu tenho certeza... E aí, vamos comemorar?
- Claro!
Começamos a caminhar, e acabamos nos encontrando com Antônio e seu quase declarado par:
- Já estão indo embora? – Bruno perguntou.
- Não, vamos dar uma volta, comer algo... Querem ir com a gente? – Rodrigo perguntou, me surpreendendo.
- Opa, vamos nessa – Antônio se empolgou.
Bruno desistiu do desânimo e topou a companhia. Puxei a mão do ruivo, entrelaçando os nossos dedos de maneira discreta, e voltamos a caminhar pela Côte d’Azur.
...
Estávamos os quatro sentados na mesa de uma boate, brindando a viagem e rindo sem parar, sob visível efeito do álcool. Era como nos velhos tempos, quando não havia nenhuma preocupação. O lugar começava a encher e a música comandava a agitação. Perguntei por Marcelo e Bruno deixou escapar que ele tinha voltado para o hotel, chateado por não ter ganhado a estatueta.
- Dane-se o prêmio – Antônio gritou levantando o copo.
- Dane-se Marcelo – acompanhei, gargalhando.
- Danem-se as regras! – Rodrigo se juntou ao time.
Ficamos esperando Bruno, que não sabia bem o que dizer:
- Ah, dane-se! – completou o brinde.
Seguimos para a pista de dança e era perceptível o quanto meu ex-chefe estava desconcertado. Nem eu, que ensaiava uns passos desajeitados, estava me saindo tão mal. Num ímpeto, me aproximei dos dois, abraçando-os:
- Não sei se terei a chance de dizer isso novamente, mas na boa, gosto pra caramba de vocês, juntos ou não. Curtam muito e sejam felizes, porra!
Baguncei o cabelo de Bruno, rindo, e ele parecia não acreditar no que tinha escutado. Puxei Rodrigo pelo braço e me afastei em direção ao bar. Quando retornamos, o segredo do casal já tinha ido pelos ares e resolvemos não interromper o beijo embalado pela música eletrônica.
Voltamos para o hotel no meio da madrugada e Bruno não desgrudava de Antônio em nenhum momento. Rodrigo ficou preocupado com a possível presença de Marcelo, mas o saguão estava vazio. Antônio o levou para o seu quarto e retornamos ao nosso, exaustos pela caminhada. Tirei a roupa rapidamente e fui buscar um copo d’água no frigobar, a tempo de escutar gemidos sem nenhuma vergonha.
- Você tá escutando isso? – Rodrigo sussurrou.
- São eles, aqui do lado.
- Caralho, o que uma bebida não faz com as pessoas.
- O que a necessidade não faz com as pessoas – corrigi.
- Será que seu amigo escutou a gente e tá querendo competir?
- Eles não teriam a mínima chance, Murilão.
Ficamos rindo até que a brincadeira quase voyeur terminasse. Fomos vencidos pelo cansaço e desabamos na cama, sem a menor noção de tempo.
...
Dei um pulo da cama quando me dei conta do horário. “Maldito fuso-horário! Maldita bebida!”. Corri para o banheiro, mas percebi que seria impossível chegar a tempo ao último workshop, que tinha começado há alguns minutos. A preguiça falou mais alto e voltei para a cama. Rodrigo continuava a dormir pesadamente. Já perto da hora do almoço, acordamos de vez e a muito custo, convenci o ruivo a dar uma volta pela cidade, afinal a viagem não podia se resumir a um festival sem prêmios e hotel.
O tempo era curto, mas deu para fazer um turismo básico. Passeamos pelo centro da cidade, muito charmoso inclusive, almoçamos num restaurante bacana, com mesas na rua, visitamos algumas lojinhas de souvenir e encerramos a tarde caminhando pela Avenida La Croisette, com uma arquitetura deslumbrante e cheia de lojas de grifes famosas (que eu não me arrisquei a entrar em nenhuma). O nosso último dia foi bastante proveitoso.
Quando voltamos ao hotel, não consegui me despedir de Bruno ou Marcelo, que já tinham ido para o aeroporto. Senti-me culpado por deixar Antônio sozinho durante a tarde, mas me lembrei do quanto a sua noite tinha sido produtiva, então ele não tinha do que reclamar. Arrumamos as nossas bagagens e seguimos para o check-out, prestes a começar toda a odisseia novamente.
- Essa viagem meio que não valeu... – Rodrigo reclamou.
- Como assim?
- Temos que voltar à França de novo. Com mais tempo, sem pressa. Tipo lua de mel – provocou.
- Lembrando que sou uma ótima companhia e não tenho o mínimo problema em segurar vela – Antônio alardeou.
Rimos os três, enquanto uma pessoa da recepção avisava que o transfer para Nice já nos aguardava. Era o fim de uma viagem inesquecível.
...
De volta a Salvador, ficamos aguardando o embarque da conexão de Rodrigo e logo depois rachamos um táxi para casa. Não consegui esconder certa emoção ao avistar a minha cama. Apaguei feliz por não ter hora certa para acordar.
No dia seguinte, minha rotina tinha voltado à normalidade. Preparei um almoço tardio no meio da tarde e enquanto zapeava algo interessante na televisão, resolvi verificar o meu e-mail. Quase me engasguei ao me dar conta que tinha uma mensagem recebida na hora do almoço por uma das agências que fui entrevistado em São Paulo. Li com calma, respirei, reli mais uma vez, e antes de chegar ao fim do texto, gritei sem me preocupar com quem pudesse escutar:
- Porra!!!
Eles estavam interessados e queriam saber quando poderia começar, pedindo um retorno. Antes de tomar qualquer atitude precipitada, liguei para o diretor de criação. Confirmei o meu interesse tentando não parecer afoito, mas com total sinceridade expliquei que precisava de alguns dias para organizar a minha mudança, já que estava em outro estado e em teoria ainda não tinha onde morar. Ele me pediu um instante para conversar com o seu superior e depois de uma breve negociação, combinamos que eu começaria o meu novo trabalho na segunda-feira seguinte. Uma semana: esse era o meu prazo para resolver pendências, arrumar um apartamento e avisar a todo mundo.
Liguei para minha mãe contando a novidade e logo em seguida, avisei a Rodrigo, que não escondia a animação.
- Seus desejos, enfim, se realizaram – avisei.
- Eu sabia, eu sabia! – escutava gritos exaltados do outro lado da linha.
- Mas preciso de sua ajuda. Tenho que encontrar um apartamento. Um lugar legal, barato e próximo do trabalho.
- Quando você chega Lu?
- Não sei, não pensei em nada ainda. Acho que é melhor sábado ou domingo. Por isso tenho que chegar com o apê alugado, ou algo já em vista. Pesquisa e dá uma olhada pra mim e, se for o caso, já transfiro o dinheiro pra você. Confio no seu bom gosto – brinquei.
- Eu ia falar pra você passar um tempo no meu apartamento, mas tudo bem. Vou encontrar o lugar ideal para você.
A oferta era tentadora, confesso, mas o lugar onde Rodrigo morava era apertado demais e não teria lugar para todas as minhas coisas. Não queria dar trabalho ou causar transtornos, por isso decidi declinar da proposta. Tudo em seu tempo.
- Relaxe! O que você encontrar, manda fotos pra mim que vou opinando também.
- Beleza – a alegria dele superava qualquer coisa naquele momento.
Ficamos conversando durante um tempo sobre remuneração, custo de vida, expectativas e como eu estava feliz por ter sido a agência em que eu tanto desejava trabalhar.
Passada a euforia inicial, comecei a traçar um cronograma de tudo que eu precisava fazer em uma semana para não perder aquela oportunidade única. Na tarde seguinte, minha mãe retornou e começou a me ajudar. Com calma, comecei a avisar aos amigos mais próximos sobre a minha partida.
- Eu sabia que você ia atrás do Murilão – Beto não perdeu a piada – Vê se aparece no vôlei pra dar um tchau pra galera – ele pareceu meio triste.
Falei com Luís, Antônio e mais algumas pessoas e todas pareciam me incentivar. Depois disso, as coisas aconteceram meio rápido. Na quarta conversei com o porteiro sobre os registros de água e luz do apartamento e combinamos dele dar uma olhada para averiguar se estava tudo bem sempre que possível. O gerente do banco avisou que eu poderia transferir a minha conta, facilitando possíveis burocracias. Em dois dias já tinha todas as minhas roupas arrumadas, minha mãe levaria tudo o que houvesse de alimentos e todo o resto já estava bem encaminhado. Só o carro deixaria para decidir depois. Consegui uma passagem para sábado, dada de presente por Dona Catarina, já que teria um custo extra com a nova moradia.
Na quinta à noite, apareci no clube para uma última partida. A maioria do pessoal já sabia, menos o treinador. Expliquei sobre o novo trabalho e que não poderia estar presente em todos os jogos.
- É uma pena Luciano, mas avise sempre que estiver por aqui. Sua vaga estará sempre garantida.
Agradeci o apoio e Ricardo emendou, falando para todos:
- Hoje tem treino livre pra gente comemorar o melhor levantador que esse time já teve.
Joguei como se fosse a final de uma olimpíada e extravasei tudo o que podia. Aquela turma certamente faria falta no meu cotidiano, era como uma segunda família para mim. Graças a eles poderia enfrentar com mais firmeza uma nova página da minha vida.
Na sexta-feira, no último dia em Salvador, acordei tarde e decidi dar um passeio com minha mãe. Fomos a um shopping e depois ficamos caminhando na orla da Barra. Ela estava chorosa, nem tanto pela viagem, mas por saber que não me encontraria mais quando chegasse do interior:
- Pense que agora você só precisa viajar uns quilômetros a mais, mãe.
- Eu sei, mas não é a mesma coisa.
- Mas não fica assim, por favor.
- Eu não estou triste, filho. Quer dizer, um pouco sim. Mas eu também estou muito feliz. Porque você está indo atrás das suas realizações, dos seus sonhos, do que você quer. Tô muito orgulhosa.
- Mãe, não me faça chorar...
- Não vou, vamos sorrir! – ela se contradisse, já enxugando as lágrimas – A sua felicidade é a nossa felicidade.
Abracei minha mãe e fiquei durante um bom tempo pensando e como sentiria falta daquele cafuné. Quando a tarde caiu, retornamos a casa e ao abrir a porta, me deparei com umas quinze pessoas reunidas na sala, me dando um grande susto. Olhei para Dona Catarina, que gargalhava com o sucesso da artimanha.
- Você não achou mesmo que ia embora sem uma despedida, né? – Beto se aproximou me abraçando.
- Como vocês entraram?
- Deixei a chave com seu Jonas e tudo pronto no salão de festas. Ele só precisou arrumar a mesa e liberar a entrada dos seus amigos – minha mãe denunciou.
- Acho que você anda conversando muito com quem não devia – brinquei.
- Ele não sabia de nada, juro! – ela desconversou.
Foi uma noite animada, regada a risadas sem fim, descontração e alegria. O meu ânimo estava renovado. Prometi a Sílvia que estaria presente quando o bebê nascesse e combinamos uma visita a São Paulo sempre que possível.
No meio da festa, escutei meu celular tocar. Era Rodrigo:
- Oi gigante!
- Por favor, me diga que você não está atrás da porta com algum presente na mão – provoquei.
- Espertinho... Fiquei sabendo da sua festinha de despedida, mas não, não estou aí.
- Ufa – sorri, brincando.
- Olha só, tô ligando pra dizer que encontrei um apê muito legal. Mas como você chega amanhã de manhã, combinei com o proprietário de te levar e caso houvesse interesse, já fechar com ele. Mas se não gostar, já tenho uma segunda opção também.
- Poxa, valeu Murilão! Eu tenho certeza que vou gostar de algum.
- Até porque você não tem muita escolha – ele riu – Mas ó, amanhã vou te buscar. Quando estiver embarcando, manda uma mensagem pro meu celular tá?
- Combinado.
- Manda um beijo pra sua mãe e um abraço pra galera!
Pedi que ele repetisse, dessa vez com o celular em modo viva voz, e todos responderam ao mesmo tempo. Logo depois, me despedi, e a algazarra continuou noite adentro.
...
Rodrigo me esperava no terminal de desembarque e me recebeu com um abraço apertado. Respirei fundo e senti que uma grande aventura na minha vida estava prestes a começar. Como combinado, iríamos visitar um apartamento previamente acordado e, se gostasse, já poderia me mudar, mediante o pagamento final e assinatura do contrato de aluguel. O silêncio imperava durante boa parte da viagem e imaginei que o ruivo estivesse bastante cansado.
Chegando ao local, uma rua tranquila e pouco movimentada, Rodrigo estacionou, e antes de sair do carro, ficou me encarando, sério.
- O que foi? – questionei.
- Lu, preciso conversar com você.
- Agora, assim do nada?
- Na verdade, antes de eu falar qualquer coisa, eu preciso que você me prometa algo – ele me fitava compenetrado.
Aquele clima começou a me preocupar.
- Prometer o que, Rodrigo?
(continua)
...
Oi pessoal! Tambores rufando para a reta final, hein? Drica Telles, estava sentindo falta dos seus comentários. Que bom que não desistiu do conto. GatoPEBR, me divirto muito com os seus palpites! Isabela^^, que bom que tenho o seu carinho, muito obrigado! Guininho, obrigado pela nota máxima! KaduNascimento, pra você ver, o cara não esgota o estoque de surpresas. Talys, obrigado pelos elogios, assim fico sem jeito. Docinho, adoro os seus comentários. Vou te chamar pra entregar o “troféu fofura” pro Rodrigo junto comigo (hehe)! Irish, que surpresa! Tinha outra imagem na mente, mas adorei saber que estou falando com uma fiel leitora (rs)! Valeu pelo carinho e torcida de sempre! A todos que arranjam um tempinho para ler, votar e comentar, não tenho palavras para agradecer, de verdade. No próximo capítulo, tudo o que eu prometi explicar ao longo da história! Sim, é o último. Até lá! Abração!