Ok, então algumas pessoas querem me matar de novo. Desculpem-me :(
Esse foi de longe o pior semestre da história das faculdades. Não peçam detalhes. Se alguém ainda quiser acompanhar, estou aqui.
Prólogo III - "Grey ships pass"
No outro dia, quando minha mãe apareceu para me buscar, Henrique e eu apenas nos abraçamos de novo e fui embora. De novo, não era preciso falar mais nada. No caminho para casa, troquei poucas palavras com minha mãe. Ela percebeu meu ânimo, e, compreensivamente, resolveu não tocar no assunto.
Chegando em casa, terminei de arrumar minhas coisas. No total eram quatro malas e três caixas de pertences, principalmente livros, filmes e jogos. Arrumei outras numa mochila para me entreter na viagem. Meu notebook, celular, fone de ouvido, e um livro. Estava lendo A Fúria dos Reis, de George Martin, magnífico por sinal.
Tudo arrumado, desci para almoçar com meus pais. Também pela última vez em um longo tempo. Minha mãe sempre foi uma cozinheira fantástica, com certeza iria sentir falta da sua comida. E das conversas aleatórias durante a refeição. Droga, até daquela mesa velha de mogno eu ia sentir falta.
O almoço se passou normalmente, embora eu tenha me mantido em silêncio. Estava ocupado demais pensando, em tudo. Depois, saí no quintal para passar um tempo com o Pan. Engraçado como ele sempre sente meu estado de ânimo. Geralmente ele é bastante travesso e brincalhão, mas dessa vez, quando me sentei na grama, ele ao invés de lamber meu rosto todo ou me derrubar de costas, simplesmente deitou a cabeça no meu colo. Acariciei atrás das suas orelhas, sentindo o pelo macio de um tom amarelo creme.
- Vou sentir sua falta, garoto - disse baixinho, e ele olhou pra mim com aquela cara pidona.
Apenas continuei ali, por mais alguns minutos, acariciando-o enquanto ele permanecia quieto, sentindo minha tristeza. Logo fomos interrompidos.
-Lucas... Temos que ir, senão vamos chegar muito tarde - meu pai me chamava.
Me levantei e fiz um último cafuné na cabeça do Pan, e fui para a sala. Minha mãe me esperava lá, junto com meu irmão.
Quando me aproximei ela me puxou para um abraço apertado. Ela me largou, segurou nos meus ombros e fez eu olhar para ela.
- Não faça nenhuma besteira, está me ouvindo? Cuide-se bem, tenha responsabilidade, mantenha a casa arrumada, não abra a porta para estranhos, e todas aquelas coisas que eu passei 17 anos te ensinando. Ahh meu Deus, já estou com saudades! - E me abraçou de novo.
- Também vou sentir saudades, mãe - disse a abraçando também.
- Ahh, qual é, não é como se ele fosse ficar um ano fora!
- Também vou sentir sua falta, pirralho.
Apesar de toda a chatice, iria sim sentir falta do meu irmão também. E minha mãe já tinha me contado que levara uma hora pra fazer ele parar de chorar quando soube que eu ia morar em outra cidade. Nós dois sabíamos que iríamos sentir falta um do outro, mas tínhamos um acordo silencioso de nunca demonstrar isso um para o outro. Coisa de irmão. Dei um tapa de leve na cabeça dele e segui meu pai para o carro.
E então, olhei para fora da janela, enquanto o carro começava a se movimentar e minha casa ia ficando cada vez mais distante. Logo passava pelas ruas onde brinquei quando criança. Pelos locais tão conhecidos na minha cidade. Pela saída. E pela estrada a fora.
Tudo que eu estava deixando para trás... Minha família, meus amigos, dezessete anos de vida. Olhei para trás uma última vez. E então, decidido, mantive meu olhar em frenteadendo, com o que eu escrevi na primeira vez em que publiquei essa história:
"Não vou mentir dizendo que isso, ou pelo menos tudo isso, é minha vida. Não, aqui há fatos baseados na minha história de vida, coisas que realmente aconteceram comigo e coisas que eu queria que tivessem acontecido. Aqui há pensamentos que povoaram minha mente nos momentos antes de dormir, reflexões a respeito do que eu já vi e vivi, e opiniões a respeito de assuntos que são, no mínimo, delicados.
Meu objetivo é simples: proporcionar a todos que possam ler o que eu sinto que devia ter lido desde o começo, quando ainda me descobria e lutava contra sentimentos que, no fim, faziam parte de mim, da minha essência. Demorei muito, e muito mesmo, para finalmente aceitar o que estava sentindo. E se eu cheguei a esse nível de aceitação, é porque tive ajuda de textos maravilhosos, já que nunca pude confiar meus segredos a ninguém. Espero, realmente, poder ajudar outras pessoas a chegar nesse nível também.
E foi assim que comecei, já há alguns meses, a escrever esse romance. E digo romance no sentido de narrativa longa. Embora a história se circunde, sim, em volta de um romance no sentido de envolvimento romântico, ela é mais que isso. É quase como um diário, uma transferência das minhas experiências (vividas ou pensadas) para palavras. Por vezes poderá parecer muito detalhado, e em muitas outras entediante, mas tudo tem um objetivo. E o meu é tratar das dúvidas que me atormentaram e que, tenho certeza, atormentam muitos por aí. Sei que esse é um site de contos, mas sinto que ele acabou se tornando um ponto de encontro para pessoas como nós. E apesar de muitos textos daqui terem me ajudado a superar minhas dúvidas, o foco deles geralmente não é este. Apenas aconteceu. E espero que também aconteça com o meu.
Sei que não conseguirei agradar a todos, e nem é esse o meu objetivo. Pretendo apenas ajudar, nem que seja a uma pessoa apenas. Isso já me deixará satisfeito. E, claro, pretendo experimentar minhas habilidades de escrita. Qualquer bom leitor sonha em ser um bom escritor, e não sou exceção. Espero que consiga atingir tal nível.
Peço, como todos os autores daqui, que comentem, critiquem elogiem, exponham suas opiniões. Mais a frente no decorrer da história, pretendo entrar na questão religiosa, na discriminação, bully (é, em faculdade não é muito diferente), enfim, em assuntos delicados. Gosto dessas discussões, e acredito serem necessárias para que, quando nos deparemos com algum idiota a nos criticar, tenhamos respostas elaboradas ao invés de ignorância."
