Cap.1
Perdoem me os religiosos, mas preconceito e religião são duas coisas que se combinam. Um livro te diz que algo é errado, e mesmo não tendo nenhuma prova concreta além daquilo, você passa a abominar pessoas por causa de um livro. Um livro escrito em um contexto totalmente diferente do nosso. Um livro que com certeza foi adulterado, mas mesmo assim convence milhões. Ai vocês devem estar se pperguntando, então você é ateu ? Não. Não sou ateu. Pelo contrário, acredito que existe um Deus. Um Deus de amor e compaixão, que não faz distinção de ninguém, que considera qualquer forma de amor valida, e que tenta manter todas as vidas do mundo em ordem. E acho que foi esse Deus que me deu forças quando um acontecimento ocorreu de forma calamitosa na minha vida. Nunca imaginava que algo assim fosse acontecer, mas aconteceu. A minha vida era extremamente feliz. Minha família era bem unida. Pra quem não sabe, me chamo William Carneiro. Acho esse nome lindo. Eu não me considero um gala, mas não posso negar meus dotes físicos. Eu sou alto, e tenho um corpo proporcional, nem sou bombado, e nem magrinho demais. Tenho cabelos castanhos lisos, que penteio para o lado direito, pele bem branca, do tipo que qualquer solzinho eu fico igual a um camarão, olhos azuis bem claros, cor de piscina. Minha mãe, Diva, e meu pai Afonso sempre foram meus heróis. Sempre me espelhei neles, desde criança, mas não imaginava que um dia eles poderiam ser tao intolerantes como se mostraram. E eu tinha uma irmã caçula, Gina, criança extremamente sapeca, que mais parecia minha filha do que irmã, pois era eu quem cuidava, fazia comida, dava banho, levava e trazia da creche, colocava pra dormir, contava historinhas. Não me surpreendi quando uma vez ela me chamou de pai. Mas ela é um amor, e mesmo com apenas 7 aninhos, foi mais racional que meu pai de 34 e minha mãe de 37. Aos interessados, eu tenho 17. Continuando, nossa família era bem unida. Jantar a mesa, regados de risadas, domingos em família, geralmente divididos, pois eu e meu pai somos fluminense, e minha mãe e minha irmã são vascainas. Shoppings e pizzarias de vez em quando. Meus pais se empenhavam muito pra dar do bom e do melhor pra eu e minha irmã. Ele era advogado, ela nutricionista. Passavam o dia todo fora, por isso eu cuidava de minha irmã. Mas um dia, meus heróis, passaram a ser meus vilões. Tudo começou em um domingo. Eram 17h30, era hora de ir se arrumar pra ir para a igreja. Como sempre, eu usava uma camisa social azul, mangas longas, ligeiramente apertada, um sapato preto e uma calça preta. Ficava bem legal, parecia um nerd, com os meus óculos. Nossa família era evangélica fervorosa, do tipo que não falta um culto.
- Gina, você já está pronta ?- dizia eu, entrando no quarto de minha irmã e vendo ela fazendo bagunça com sua maquiagem.
- Tô acabando- olhei pra ela e ri. Ela estava parecendo uma palhaça.
- Kkkkk, maninha, a gente vai pra igreja- falei, pegando um lenço e começando a tirar toda aquela maquiagem- Não é lugar pra você usar esse batom vermelho, entendeu ?- ela balançou a cabeça. Passei um brilho nos lábios dela, e um pouquinho de pó- pronto, agora você está bonita. Podemos ir ?
- Sim- sorri e fomos saindo do quarto. Aquele domingo se encaminhava pra ser mais um monótono. Iríamos chegar cedo na igreja, sentar na frente ,falar com o pastor, a professora da escola dominical, e todo o resto, ouvir o sermão, ir pra pizzaria, e voltar pra casa. Todo domingo era assim. Porque esse seria diferente ???? Entramos no carro e logo fomos em direção a igreja.
- Bíblia na mão e Deus no coração- minha mãe sempre dizia isso antes de sair de casa. Andamos alguns minutos de um silêncio ensurdecedor. Paramos em um sinal e atravessando a rua, vimos dois rapazes. Os dois usavam shortinhos, e eram tão afeminados, que de longe podíamos perceber.
- Meu deus, mais dois perdidos- meu pai dizia
- Vão queimar no fogo do inferno- me assustava ouvir aquilo. Eu sabia o que nossa religião dizia a respeito dos gays, mas isso me assustava. Meus pais julgavam aqueles dois sem saber se eles tem problemas, como iria a vida deles, cometiam um pecado quase que imperdoável. Além disso, doía no fundo da minha alma ouvir aquilo, foi eu sabia que achava os homens bonitos e não as meninas, sabia disso desde o dia em que, quando criança, beijei um amiguinho, de brincadeira. Mas eu nunca esqueci. Isso me perturbava. Será se eu vou pro inferno ? Mas eu não tenho culpa, eu não quero ir pro inferno, eu não quero pecar. Parecia que ninguém me ouvia, nem Deus. Logo chegamos na igreja. Branca e sórdida como sempre. Percebíamos de longe que os únicos realmente religiosos ali eram minha família e os pastores. As garotas, cada uma com um short mais curto que o outro, sem ofensas. As mulheres, fofocavam no canto da igreja. Alguns garotos tinham escrito na testa "somos viados", outros sentíamos a avareza de longe. Enfim, aquela igreja estava mais pra antro do pecado, e mesmo assim continuávamos indo lá. Subia as escadas de cabeça baixa, olhando meu celular, lentamente, quando sem querer esbarrei em alguém.
- Ai-escutei, era uma voz desconhecida. Ergui o olhar, e senti meu coração acelerar, meu corpo estremecer, meu rosto aquecer, pelos eriçarem, respiração ficar mais forte, Aecio ganhar de Dilma, nevar no saara e tudo mais. Eu ainda não tinha visto aquele garoto ali, ele com certeza era novo. E era bonito. Muito bonito. Tinha cabelos loiros, que estava usando arrepiados, pele bem branca, olhos verdes claros, era mais alto que eu, e tinha um corpo bem malhado. Acho que devo ter suspirado pensando em tudo isso. Seu olhar era sedutor e ao mesmo tempo amedrontador. Queria sair dali, queria me enfiar num buraco por estar sentindo isso que eu sinto agora.
- Me desculpe- sai da sua frente rapidamente e entrei lentamente na igreja. Parei na entrada, e olhei rapidamente pra trás, ele olhava pra mim. Meu deus, porquê diabos eu virei ? Agora vai parecer que eu gostei dele. Mas eu gostei dele. Espera, porque ele olhou pra mim também, será se isso significa alguma coisa. Ai, como eu estou confuso e com medo de estar cometendo um pecado terrível. Se ao menos eu já tivesse namorado alguma vez, mas não. Fiquei diversos segundos relembrando aquela olhar, aquela voz, aquela cena na minha mente, como se nunca mais tivesse que pensar em nada, como se minha vida se resumisse aquilo.
- Wil, o que houve ?- minha irmã puxava meu braço.
- Hã ?- olhei pra ela
- Você tá com uma cara de bocó- ri
- Estava apenas pensando maninha- falei, a pegando no colo
- Pensando em que ?
- Sei lá.
- Como se pensa em sei lá ?- ri
- Você não é adolescente, não vai entender- fui andando lentamente até a parte da frente, onde fiquei jogando um joguinho no meu celular com ela. Ergui o olhar apenas uma vez, justamente na hora que vi ele passar, e sentar na outra ponta da fila, sem olhar para os lados. O acompanhei com o olhar, e vi quando ele rapidamente me fitou, mesmo de longe. Porque eu estava assim tão nervoso ?
Continua
Gostaram ??????? Novidade eeeeeeeeee estava planejando fazer isso a um tempo, mas, como um paradoxo, estava sem tempo. Aos interessados, aqui fala do André :) Não defini uma música tema, peço sugestões. Bom dia, beijinhos
:-)