A clínica I

Um conto erótico de Mauricio Vilar
Categoria: Homossexual
Contém 1522 palavras
Data: 11/05/2014 01:09:55
Última revisão: 12/05/2014 02:08:29

- Depois a cor

O amor tem cor?

Cada amor tem uma cor... - lia até interromperem no fim do verso.

- Isso é uma folha de um livro de aritmética.- Tentei explicar, a fim de que o colega da clínica não reconhecesse a letracomo aqui não tem nada pra fazer to fazendo isso... - continuei.

- Sandro, você que pensa... Tem coisas bem melhores, melhores até mesmo que essa poesia de Cazuza. -ele respondeu. O texto era gay, como ele soube?

- Não precisa se espantar, eu não desmereci o Cazuza, você não é o único fã dele por aqui não, nem o único gay.- finalizou rindo.

- Mas talvez eu seja o único com histórico de latrocínio nessa clínica de viciado filhinho de papai; ah Beto, larga de mim!- acabei com o jogo de ironia.

Sem corpos sarados, isso não é uma academia, eles nos mantém magros por pura conveniência financeira.

Um pouco sobre mim e como vim parar aqui:

tenho vinte anos, mas desde os quatorze uso pó, nunca me envolvi em problemas financeiros mas meu vício é caro, meus pais me escondiam, fingiam que eu sempre estive bem. Ele com seu filho de um outro casamento, minha mãe sempre apática, vivia para seus alunos, trabalhando como professora em duas escolas. O outro filho do meu pai roubara meu lugar quando meu pai pegou sua guarda, ele é três anos mais velho que eu e por isso tem mais em comum com meu pai, eu me sentia preterido. O pó era meu escape, e assaltava pra tê-lo. Eram gatunos, nunca à mão armada, um dia caí na onda de um amigo meu e acabou sobrando pra mim, tentamos assaltar uma mulher, ele era maior de idade, logo, a arma ficou nas minhas mãos, a vítima reagiu e atirei com medo dela mesma fazê-lo. Foi escolher entrer matar ou morrer... Fiquei um tempo detido, fugi com alguns internos. Fiquei um tempo nas ruas -escondido- até voltar pra casa, quando voltei fingiram me receber bem, porém enquanto eu dormia aproveitaram pra me sedar e me internar; aqui nada entra -exceto pessoas- e nada sai, é sufocante viver num espaço geograficamente delimitado sabendo que há um mundo. E foram quase seis anos nesse inferno, essa é a verdadeira prisão, temos diversão controlada, comida controlada e medicações diária, mas nenhuma informação nos é dada, visitas são consideradas retardantes do tratamento, estranhamente tive seis visitas dos meus pais durante esses cinco anos, eram visitas só pra verem meu aspecto físico.

18:30, estava jantando com os outros, uma garota me sorri, mas a miss não tinha dentes, e se usasse chapa, tinha perdido. Será que ela usava isso pra atrair alguém pra o sexo oral? Porque com certeza ela tava jogando charme, mas se parecia com o Marquito do Ratinho.

- Aqui tem uma fraternidade, e como você é legal eu quero te convidar.- disse Beto interrompendo a minha reflexão da beleza da miss banguela.

- O que é isso, uma sociedade secreta?! Vai agora dizer que os donos da clínica são illuminatis e vão dominar o mundo?

- Não! Cuspa o comprimido disfarçadamente por uma semana, acho que esse tempo é o suficiente. Você não irá voltar a ter tédio por um bom tempo se fizer isso. - ele disse e saiu sem me dar tempo pra falar. O que seria essa fraternidade que se criara ali dentro daquele aquário? Em tanto tempo ali eu não me fazia perguntas óbvias, mas durante a primeira semana que cuspi os remédios comecei a fazer. Fiquei ansioso, tinha sonhos eróticos todas as vezes que sonhava, em tanto tempo vi poucos casos de pessoas que foram pegas transando. Mas o estranho é: nunca ninguém parou pra pensar nisso, tínhamos quartos, área verde e adolescentes e adultos transitando pelo mesmo ambiente fechado. Como eles previnem casos de estupro?

Na segunda semana eu tive tonturas e sentia todas as emoções numa intensidade sem limite. O tesão era constante, a irritabilidade também.

Por fim o Beto veio falar comigo no banho de sol, eu estava lendo "Macário" pela milésima vez - escondido embaixo de uma mangueira.

- Eu não vou inflar o seu ego, vou fazer bem mais por você. Levar um mundo novo dentro desse cubículo, fazer você ver os comportamentos aqui com outros olhos. - disse ele, parecendo ser sincero.

- Porra, não entendo o que você diz, coloque um contexto porque posso interpretar errado. Você tem quase trinta, esta aqui há mais tempo que eu, há quanto tempo? Por que ninguém consegue sair daqui, isso é uma prisão perpétua? - indaguei angustiado.

- Você começou com os questionamentos óbvios, não posso te responder agora. Hoje de duas da manhã, espero você na biblioteca, vá com o pijama da clínica. E como você interrompeu bruscamente a medicação, vou te dar agora um pra ansiedade pra amenizar os sintomas da abstinência. - ele me deu um comprimido e o tomei com a própria saliva.

Adormeci ali, embaixo da árvore. Acordei pouco antes da janta ser servida, comi rápido, nem percebia a comida. Queria que a madrugada chegasse, porque não havia mais nada que eu quisesse fazer.

Sala da biblioteca. Eu estava quase ali, menos de um metro da porta, ouvia as vozes que sobressaía, um cheiro de perfume, o ar era fresco(sem trocadilhos), não fedia a mofo, ou papel velho. Mesmo do lado de fora, aquela sala não aparentava ser a biblioteca. Converteram-na em alguma coisa que logo eu descobriria.

-Pode entrar.- falou Beto com o pau ereto e sem qualquer peça de roupa. Pra minha surpresa ele não era o único, havia homens e mulheres todos sem roupa alguma. Se ficaram me olhando? Não. Eles estavam transando, fodendo de verdade. Um cara borrifava perfume e uma mistura com cheiro de desinfetante pelo ar.

- Cadê a banguela?- pensei em voz alta.

- Hã?

- Por que tanta vela? - disfarcei.

- Se tivesse poucas aqui estaria uma penumbra.

Um cara me puxou e me beijou, deixei ir, logo estava beijando o Beto enquanto uma mulher tirava a minha roupa. Mãos passavam e me tocavam, elas vinham de toda parte pra me acariciar, apertar e arranhar.

Beto já parecia outro, ajudou a tirarem minha roupa, mas não deixava chegarem perto do meu pau, ele chupava e às vezes puxava o ar tentando secar o meu pau que babava e era molhado por sua saliva, depois ele cuspia até escorrer pela sua bochecha e recomeçava aquele boquete dos deuses. Tirava a fileira de baba do seu rosto liso com o dedo e fazia ele limpar. Perdi a paciência com aquilo, eu queria gozar o mais rápido possível pra me recuperar antes que a festa acabasse e aí foder de novo. Segurei firme sua cabeça e meti como se aquela boca fosse uma boceta molhada, quando gozei senti cada jato percorrendo o meu pênis até a "cabeça", esse trajeto era sentido aproveitado, quase não aguentava, fechei a boca forte mordendo o nada. Ele me olha com o canto de sua boca transbordando porra. A feição sem-vergonha, como quem diz "sou sua putinha", mas que falácia, se sendo puta ele não é minha.

- Engula! - e ele engoliu.

- Quero sair daqui, ir pra uma praia ou só ver os carros na avenida da sacada da minha casa. Fala aí Beto, as coisas que você iria revelar...

- Morreremos aqui.

- Eu já morri desde que parei de viver a realidade, dentro desse mundo artificial. - respondi .

- Venha.- ele falou levantando-se do chão e em seguida me levou até a seção de livros esotéricos.

- Eles são grandes sádicos, essa clínica é ligada a uma seita; as grandes famílias e os filhos indesejados são depositados aqui, exilados, ilhados, seja por serem viciados ou ameaçarem a imagem de sua família. Uma vez aqui somos quimicamente castrados com medicações, acalmados com remédios e nossas psicoterapias semanais fazem parte dessa lavagem cerebral. O governo faz vista grossa e não fecha esse lugar porque vários políticos, empresários, figuras públicas e sacerdotes da igreja fazem parte da seita. Eles brincam de deus controlando o destino de cada um aqui, movendo as pessoas como num jogo de xadrez. - disse Beto.

- E como você sabe?- perguntei.

- Eu fiz parte disso. Eu estou aqui por ter tentado fugir da "sociedade" e acabei vítima. Todos da sala sabem e querem fugir, temos ajuda aqui dentro de pessoas da sociedade que querem nos ajudar. - ele explicou, mas não entendi onde que as orgias tinham a ver com a estória.

- Eu tenho que sair daqui! Eu vou pegar os responsáveis e expor isso. Todos vão saber... - falei.

- Você não seria o primeiro a fazer isso, e como os outros, ninguém iria acreditar. Você seria morto em seguida.- ele falou.

- Que porra! Vai se foder, que merda de mundo é esse? Ninguém acredita mais em ninguém, é o progresso que nos fez tão frios, práticos em tudo, nunca ter o benefício da dúvida? - tirei do âmago essas palavras tão cansadas.

- Eu só morreria feliz se tivesse você. - ele falou olhando pro meu rosto.

- Se você morrer antes de mim eu me mato.- respondi.

As respostas não foram esclarecidas naquela noite, só surgiram novas perguntas, mas é a falta que nos movem.


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