- Pedro fala alguma coisa. – gritou a Dra. Alexis.
- Eu... preciso ver meu marido. – falei tentando levantar.
- Ele está sendo atendido também. Você precisa pensar em você primeiro.
- Ok. – disse sentando.
Era impossível não me sentir fraco, naquele momento queria tanto a presença do meu irmão Paulo. Ele saberia o que me dizer. Ele diria as palavras certas.
No lado de fora, a situação era caótica. A polícia conseguiu levar a bomba para longe e lá conseguiram explodi-la. Minha família continuava apreensiva. Meus pais passaram mal ao me assistirem lutar com o bandido na cobertura do hospital. Eleonora e Luis foram surpreendentes naquela situação, pois, em nenhum momento saíram do lado deles.
- Eleonora vou perder meu filho. Ele ficou muito machucado. – disse minha mãe sentada.
- Você não viu que ele conseguiu se livrar do homem. – falou Eleonora.
- Eu não pude fazer nada. – lamentou meu pai.
- Pare com isso. Você esteve aqui. Ainda não saiu de perto do hospital. – protestou Luis. – Você está com medo. É normal nessas situações, tenha fé. Vai dar tudo bem no final.
- O Pedro sempre foi um menino pacifico. Nunca procurou confusão fora de casa. O Paulo já era mais barraqueiro, ele saberia o que fazer nesses momentos. – falou meu pai.
- O seu filho fez a coisa certa. Ele sobreviveu. E ajudou muitas pessoas. – comentou Luis.
Na sala de operação, Priscila, Carlos e Vinicius terminaram a mini cirurgia em Mauricio. Eles levaram meu marido para um apartamento privativo. Enquanto isso, era a minha vez de entrar para ser ‘costurado’. A ferida no meu braço era profunda e eles precisariam ver os riscos de infecção.
- Vai ser rápido. – disse um médico que não reconheci. – Você não vai sentir nada.
- Você tem notícias do Dr. Mauricio? – perguntei.
- Não. Agora apenas relaxe. – ele pediu.
Como se fosse possível. Estava devastado. De todas as situações que vive na minha vida, aquela sem dúvidas foi a mais marcante. Sabia que o ser humano podia ser mal, mas matar pessoas inocentes por causa de uma vingança. Não demorei muito para apagar. Perdi os sentidos.
- Meus filhos passaram por muita coisa, desde problemas pessoais até mesmo desastre. – falou meu pai.
- Lembra quando eles ficaram presos na neve? – perguntou minha mãe pegando na mão do meu pai.
- Presos na neve? – questionou Phelip.
- Sim. – respondeu meu pai
Estados Unidos – 15 anos atrás
- Acorda. Vamos. – ordenou Paulo.
- Espera... o sono estava tão bom. – falei cobrindo o rosto com o lençol.
- Vamos perder a carona. Vamos ficar pra trás. – ele disse me puxando da cama.
- Putz... Paulo... quando Deus te fez... te passou na fila da chatice cinco vezes! – gritei levantando.
- Olha. Sou responsável por você e a Priscila.
- Não preciso de uma babá. Sei muito bem cuidar de mim.
- É mesmo? Quem bebeu e ficou passando mal de madrugada? – ele perguntou cruzando os braços.
- Não posso ser culpado de algo que não lembro. – falei indo para o banheiro.
- Depois conversamos sobre isso. Agora temos pouco tempo. O carro vai sair em alguns minutos. – ele disse arrumando algumas coisas.
- Espero que esqueçam você. – falei enquanto escovava os dentes.
- A Priscila já está lá fora esperando. Está um frio desgraçado. Vamos!!! – ele gritou enquanto batia a porta.
- Depois o viado sou eu. – pensei enquanto pegava as minhas coisas.
O nosso intercâmbio para os Estados Unidos não foi como o planejado. Paulo, Priscila e eu, ficamos decepcionados e acabamos brigando muito por causa disso.
- Eu falei para não vir para esse lugar. – provoquei meu irmão enquanto colocava a bolsa na mala.
- Desculpa se eu fiz a tua viagem infeliz! – gritou Paulo.
- Tá estressadinho.
- Parem com isso os dois. – interveio Priscila. - O Sr. White disse que...
- Quem é Sr. White? – perguntei.
- A nossa carona. – completou Paulo.
- Enfim. Ele disse que está vindo uma tempestade de neve. – informou Priscila.
Durante o percurso chegamos em uma parte íngreme da estrada. Sr. White tinha um gosto no mínimo duvidoso para música. Começamos a brigar por algum motivo e aconteceu algo inesperado, o motorista perdeu o controle e capotamos várias vezes. Sorte é que todos estavam com cinto... quer dizer quase todos. A porta do carro abriu e Paulo foi engolido para fora. Acordei com a neve no meu rosto. Olhei para o lado e vi minha irmã.
- Priscila. Priscila. – acorda. – Falei enquanto tirava minha irmã do carro.
- Estão bem? – perguntou Paulo.
- Onde você estava? – perguntei enquanto rastejava pelo chão com a Priscila.
- O que aconteceu? – ele perguntou.
- Acho que quebrei o pé. – falei quase chorando.
- Não quebrou mesmo. A dor é quase insuportável. – ele disse.
- Sei lá. O Sr. White ainda não acordou. Vai lá.
- Sr. White. Please wake up. (Sr. White, acorde). – falou Paulo tocando no homem.
- Priscila. Por favor. Acorda. – falei batendo levemente no rosto da minha irmã.
- O que aconteceu? – ela disse levantando assustada.
- Calma. Calma. – disse tentando segurar seu casado que caiu.
- Sofremos um acidente... o carro saiu da pista. – informei tudo o que eu sabia.
- E o Paulo. – está no carro com o Sr. White.
- Deixa eu ir lá. – ela falou correndo em direção ao carro.
- Droga. – reclamei pegando na minha perna. – Eu sabia que não era uma boa idéia vir para esse fim de mundo...
- Aaaahhhhh!!!! – gritou Priscila.
Corri para perto deles e vi Paulo colocar o casaco sobre Sr. White. Meu estômago começou a enrolar e vomitei ali mesmo. Eles foram até mim.
- O que aconteceu? – perguntei já sabendo a resposta.
- Ele não resistiu. Acho que morreu na hora.
- E agora? O que vamos fazer? – perguntei sentando no chão.
- Primeiro lugar. Procurar um abrigo. – disse meu irmão.
- Podemos usar o carro? – perguntou Priscila.
- Acho que sim. – falou Paulo. – Por enquanto não existe outra opção.
Entrei com dificuldade no carro. Eu fiquei deitado no banco traseiro e meus irmãos na frente. O sinal do celular para completar não pegou. E haja neve por metro quadrado. Priscila achou um mapa e tentávamos bolar um plano de fuga daquele lugar.
- Acho que essa é a estrada principal. – ela disse apontado para o mapa.
- O problema é que precisamos ver quanto caímos. Afinal, não consegui enxergar nada.
- Sorte que você não se machucou. – falei em tom irônico.
- Vamos parar de brigas. – ordenou Priscila.
- O único jeito é esperar a tormenta passar. – sugeriu Paulo.
Passamos três horas no carro e começou a ficar muito frio. Desci do carro para fazer xixi e pude ver que a neve caia mais forte.
- Essa nevasca não vai parar tão cedo. – falei logo ao entrar no carro.
- Dá pra perceber. Vamos ter que passar a noite aqui. – disse Paulo.
- E o Sr. White? – perguntou Priscila.
- Acho que não tem problema deixar ele lá fora. – falei.
Duas horas se passaram e o frio começou a incomodar. Priscila veio deitar comigo e ficamos abraçados, em seguida Paulo juntou-se a nós.
- Queria te pedir desculpa. – falei ao perceber que ele estava acordado.
- Tudo bem. A culpa é minha. Meter a gente nessa furada. – ele falou sorrindo.
- Precisamos sair daqui. – pedi a ele.
- Vamos sim. Não se preocupa.
Cedo, Paulo saiu do carro e subiu a montanha para pedir ajuda. Depois de algumas horas, um grupo de homens chegou até nós. Eles perguntaram se estávamos bem e nos levaram ladeira a cima. Meu irmão mais velho saiu como o herói da história e quando voltamos para casa não se falava em outra coisa.
Meu pai se sentia muito orgulhoso em ter Paulo como seu filho. Ele era tudo o que um homem precisava ser. E eu por outro lado era fraco e gay. Tudo o que ele detestava em alguém. Até então.
- Eu criei meus filhos para buscarem por algo melhor na vida. Cada um seguiu seu caminho, mas a garra é a mesma.
- Está vendo. Eles são guerreiros. Eles conseguiram. Por isso, pare de se preocupar a toa. – falou Luis.
- Sabe... tem tanta coisa que eu preciso dizer ao Pedro. – falou meu pai chorando. – Que ele é um homem que me enche de orgulho, sobre as conquistas pessoais dele. A família linda que ele formou.
- Para homem. Nosso menino está bem.
- Eu sei.
- Mãe. Acho que vou levar os meninos para casa. - falou Phelip.
- Acho uma boa ideia.
- Não. Queremos esperar o papai. - disse DJ.
- Negativo. Vamos todos para casa. - falou Phelip.
Durante a minha operação sonhei com o Mauricio. Na verdade foi mais uma lembrança de uma viagem que fizemos. Estávamos deitados numa espreguiçadeira na praia.
- Sabia que eu te amo? – ele disse.
- Sério? – perguntei com ironia. – Pensei que estava me iludindo. Depois de três anos descubro a verdade.
- Bobo lindo.
- Eu também te amo. Muito. – falei pegando no rosto dele.
- Sabe. Tenho muito sorte. Um marido lindo, filhos lindos. O que eu poderia querer mais?
- Uma transadinha!!! – gritou Ryan apunhalando ele.
Acordei gritando e ofegante. Sai da cama e procurei o Mauricio. O encontrei dormindo num quarto não tão distante ao meu.
- Amor... eu te amo. – falei chorando e deitando ao lado dele. – Vamos ficar bem. Não vou deixar mais ninguém te machucar. Juro. Eu juro por tudo que é mais sagrado.
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