Seco meus cabelos com a tolha, penteio e o prendo em um desajeitado coque. Lingerie, calça justa preta, blusa do uniforme, sapatênis bege e um discreto brilho labial. Estou completamente desperta esta manhã, o que me faz ouvir o leve clique da porta de entrada se fechando. Solto o ar aliviada por não precisar encontrar Flávia.
Desço até a cozinha, repouso minha mochila em uma das cadeiras, rumo até a geladeira e retiro o necessário para um lanche, pão, queijo, presunto e alface. Saboreio com um delicioso suco. Subo e escovo os dentes.
Antes de sair de casa olho por costume o relógio, assusto ao notar que faltam 2 minutos para o inicio da primeira aula. Pego minhas coisas, tranco a porta e saio em disparada até a escola. Estou a 100 metros quando o sinal toca, acelero mais o andar, mal paro na catraca do portão. Ando pelos corredores vazios, chego em minha sala, dou duas batidas na porta e tento recuperar o fôlego. Nunca me atrasei antes, foi um descuido tremendo demorar na primeira refeição do dia. O professor abre a porta e arregala os olhos: Julia, você atrasada?
- Desculpe Senhor, não irá se repetir posso entrar?
-Claro - abre caminho para que eu passe.
A sala que conversava fica muda enquanto cruzo toda a frente até meu respectivo lugar. Anna, noto, observa todos meus movimentos enquanto me arrumo no meu lugar, ao seu lado.
Tento concentrar-me nas anotações e ignorar a inquietante presença de Anna ao meu lado. Em minha cabeça o escrever do professor e os movimentos dela lutam para se sobressair um sob o outro.
O sinal toca surpreendendo-me.
Todos levantam e saem, a vejo exitar ao meu lado por alguns segundos mas acaba se retirando junto com a multidão. Todos parecem estar excessivamente animados aquela manhã, com movimentos exagerados e risadas eufóricas. Ignoro completamente a multidão que se retira para a quadra e caminho até o refeitório.
Na fila encontram-se apenas oito alunos. Sou atendida com a mesma precisão de sempre e retorno. Dirijo-me pelo corredor quando sua voz me chama: Julia, espera um pouco.
Paro e viro em sua direção. Vejo seu caminhar e seu olhar intenso fixo em mim. A cena dela deitada entregue a mim lampeja em minha mente. Afasto como posso tais pensamentos.
-Você quer ir a quadra comigo? - pergunta abrindo seu melhor sorriso.
- Não, obrigada. Vou esperar a próxima aula na sala.
Estou prestes a virar quando ouço: Você não está sabendo?
Aquilo me prende a atenção.
-Sabendo o que? - não consigo evitar o elevar de minha sobrancelha direita.
-Não teremos as próximas aulas. Daqui uns 5 minutos vai começar o campeonato inter-classe de futsal masculino. As meninas me disseram que é uma tradição.
-Eu odeio esse dia - solto sem pensar.
À anos atrás, quando os campeonatos começaram, eu adorava e assistia a todos. Agora faz duas edições que não assisto. Todos animados ao meu redor comemorando lances ou reclamando deles. É doloroso para eu ver, trás lembranças dele..
-Odeia por quê? - seus olhos castanho claros intrigados.
-Sinto muito mas não vou assistir - respondo ignorando sua pergunta e voltando em direção ao meu destino atual.