Retorno ao site, após vários meses para definitivamente finalizar MEMÓRIAS DE UMA MENINA MULHER, não que eu vá morrer ou então me tornar vítima de amnésia, mas sim, pelo fato de que as vivências anteriormente relatadas já não me fascinam mais, tão pouco as pessoas citadas fazem mais parte de minha vida.
Minha rotina após o término dos relatos era basicamente da casa para faculdade, da faculdade para o escritório e do escritório para casa, tediosa, sem lazer ou prazer, até o sexo era escasso. A Paula se mantinha calada e distante, sem um motivo plausível, quando conversávamos, por insistência minha, eram apenas brigas, eu perguntava se ela me escondia alguma coisa, se estava drogada ou se andava bebendo e ela logo se ofendia e alterava a voz me deixando sem ação. Eu ainda paraliso perante gritos. Deixava-a de lado. Pouco nos falávamos e tudo de ruim me vinha a cabeça, ou eram drogas, ou traição ou pior, desamor.
Anteriormente éramos uma única pessoa, não estávamos juntas apenas no horário vespertino, eu estagiava nesse período, mas nos demais, nossos corpos estavam colados e nossos batimentos em sintonia, na faculdade ou em casa estávamos sempre unidas, uma parte da outra, como sempre havia sido, antes mesmo do nosso relacionamento. Mas ela gradativamente se afastava de mim, desviava de meus toques e carícias e eu não entendia seus porquês. Eu a amava e tentei de todas as formas salvar nosso casamento, foi sem sucesso.
Quatro meses depois que findaram-se meus relatos, eu estava prestes a comemorar meu aniversário, faltavam apenas três dias, eu estava tão desgostosa, minha vida parecia estacionada e eu nunca havia sido assim, não me permitia ser assim. Eu pensava constantemente que meus dias não poderiam acabar-se desta forma, estava tão insatisfeita e por mais que buscasse um motivo não o encontrava, salvo o desatre que havia se feito meu casamento.
Nessa data, três de setembro de dois mil e doze, eu chamei ela para uma conversa, possivelmente definitiva, há tempos não conversávamos, abordei-a quando chegava, obtive a seguinte resposta:
PAULA: Não quero transar hoje, não estou no clima.
GISELA: Oi? Não entendi o que disse.
PAULA: Eu não quero transar! Tudo bem?
GISELA: Paula você pensa que eu sou o quê? Uma garota de programa que está lhe oferecendo seus serviços? Você está muito enganada.
Falava pausadamente e sem alterar o tom dle voz.
Desisti da conversa e reuni forças para mudar a fase de minha vida, o para sempre sempre acaba. Incrivelmente não chorei, estava bem menos chorosa nessa época. Ela nada mais disse e me deixou sozinha, se direcionando ao nosso quarto. Eu ali permaneci, assentada, silenciosa, mas não chorava, só pensava e sussurrava coisas desnexas que hoje não sei o que eram, mas que eu sussurrava, a sim, eu sussurrava. Talvez fosse um mantra, uma oração ou meus pensamentos estavam altos demais. Naquela noite não dormi, não dormia perfeitamente há dias, uma noite a mais não importaria.
Por volta das sete horas da manhã a Paula saiu do quarto e eu ainda ali permanecia, ela me olhava intrigada e estática, conseguia contemplá-la perfeitamente com minha visão periférica. Ela apenas vestia uma camiseta, sexy, eis uma coisa que ela sabe ser. Eu estava imóvel e com uma feição sem vida, até que ela me indagou:
PAULA: Ainda quer conversar?
GISELA: Não tenho muito a dizer, mas posso lhe ouvir caso precise.
PAULA: Não sei o que falar, mas devemos conversar, não acha?
GISELA: Quer começar?
PAULA: Pode dizer.
GISELA: Eu quero me separar.
PAULA: Eu imaginava isso, venho te notado estranha há tempos.
Fitei-a desacreditado no que havia ouvido, como pôde colocar em meus ombros uma culpa que claramente seria dela, estava indignada, mas calei-me.
GISELA: Ótimo, eu vou procurar um local para me instalar e saio assim que possível.
PAULA: Como quiser. Mas eu poderia sair.
GISELA: Não se incomode!
Levantei-me e fui me arrumar para ir a faculdade. Estava atrasada, mas não perderia a manhã por nada. Nessa época Paula não estudava mais, ela havia desistido no fim do semestre anterior, então sempre ia à faculdade sozinha.
Chegando na faculdade estava desanimada para assistir as aulas, então me tranquei em uma das salas de estudos em da biblioteca. Revisava Direito Comercial ou Empresarial, depende da faculdade e da localidade do país. E involuntariamente reproduzo, assim como um filme, toda a minha vida com Paula e imagino como seria dali para frente minha vida sem Paula. Escorreu-me uma lágrima, apenas uma e nada mais.
Tem cerca de quinze meses que me encontro separada. Voltei a casa de meus pais, optei por deixar o curso de Direito, iniciei os estudos em Administração na minha atual cidade, infelizmente não me livrei dos direitos Empresarial e Tributário, pois, fazem parte da grade curricular, mas estou contente e satisfeita, minha vida mudou completamente, eu não me relacionei mais com mulheres, não foi devido a um possível trauma, foi apenas por desinteresse.
Eu e Paula não mais nos falamos e isso foi bom, desanuviou minha mente em relação a quaisquer sentimentos que eu acreditei nutrir por ela. Foi bom e intenso enquanto durou, por mais que não tenha sido assim dizíamos e estava em tatuagem no corpo dela "Para sempre, como sempre".