- Atender, tipo... - Gaguejei.
- Atender, ué. Não acredito que vou ter que ficar traduzindo a gíria logo pra tu, menina. Tu é minha afilhada, tem que saber os babados. - Riu Nicole.
- Nic, eu entendi. Mas, tipo, eu vou transar com o cara e ele vai ajudar a gente?
- Não, você vai transar e ele vai ouvir sua história. Então seja bem convincente.
- Eu topo. Como é o nome dele?
- Samuel. Rubens, você podia levar ele lá, a gente fica de fora esperando.
- Eu não acho essa uma idéia particularmente boa. - Falou Rubens. - Mas se o garoto topou, vamos lá.
Descemos os oito andares pelo elevador e mais uma vez me vi na Pajero cinza de Rubens, Nicole seguiu ao lado dele e eu sentei atrás. Seguimos para uma região litorânea da cidade, mas era diferente da região literânea rica. Essa parte era famosa por ser perigosa. A Nicole foi guiando o Rubens e quanto mais adentrávamos em áreas pouco convidativas, mais ele ficava nervoso. Em certo momento, tivemos que abrir todos os vidros do carro porque carros de vidro fechado naquelas áreas era imediatamente alvo de tiros. Eu era acostumado aquele tipo de ambiente, era a minha vida, minha infância e adolescência.
Subimos uma viela muito estreita até um muro alto e fortificado que parecia estranho à simplicidade das casas ao redor. O cheiro de esgoto era enorme. Rubens encostou a um comando de Nic.
- Se eu soubesse que viríamos a um lugar desses, não teria topado, Nic. - Reclamou.
- Calma, Rubens. Deixa de ser medroso. O Samuel é de confiança, desde que entramos na região já sabiam que não era para mexer com a gente.
- O que acontece se ele não gostar do garoto?
- Tá maluco, sua maricona velha. Perdeu a noção. O Dee é lindo. Ele só não gosta se não for chegado. E eu sei que ele é chegado.
- Tá mesmo disposto a isso, Dee? - Perguntou Rubens, e Nicole também me encarou esperando a resposta.
- Estou. Isso não é nada para mim. Esse cara é traficante né Nic?
- É.
- Tudo bem. Eu posso descer?
- Sim, vai até na guarita e diz que foi mandado pela Nicole.
Era uma guarita alta, não dava para ver quem estava dentro por causa do fumê no vidro. Havia um portão pequeno de ferro e outro maior que devia ser automático. Me aproximei e ouvi uma voz agressiva vinda de um porteiro eletrônico.
- Quem é você?
- Eu fui mandado pela Nicole.
Não ouve resposta. Instantes depois ouço uma tranca abrindo-se. Um homem segurando uma pistola abre o portão pequeno.
- Entra aí, simpatia. - Falou ele.
Entrei. Ele me revistou rapidamente e verificou que eu não andava com nenhum tipo de arma.
- Bora lá.
O segui pelo lado da cara. Aparentamente era apenas uma casa comuns de alvenaria, por fora não se via nada de especial, mas a fachada já deixava claro que não era uma casa comum. Passamos por uma entrada lateral e cheguei a uma sala onde haviam vários homens armados com armas mais pesadas. Parei por instinto.
- Me segue, cara. - Falou o meu guia impaciente.
Apressei-me a passar pela sala e continuei seguindo ele por um corredor. Caminhamos mais alguns metros até chegar a uma sala muito bem decorada, com uma TV enorme, o ambiente era dominado por uma escada em caracol de mármore.
- Pronto. - Falou o vigia. - Sobe ai e lá em cima tem uma porta grande, pode entrar sem bater que o chefe está esperando.
Subi as escadas levemente ansioso. Confesso que tremi as mãos quando cheguei diante da porta. Apesar do aviso para não bater, bati mesmo assim.
- Pode entrar. - Uma voz de homem respondeu de dentro.
Quando entrei, vi que era um quarto enorme, possuía uma cama onde com certeza 6 pessoas dormiriam com folga. Diante da cama havia uma TV que devia ter umas 60 polegadas. Havia ainda uma mesa de vidro com vários pacotes envolvidos em plastico negro e um laptop que parecia ser de última geração. Notei diversos objetos de decoração caros espalhados pelo quarto, que era finamente decorada, em claro contraste com a favela que se via pela janela. Foi então que vi o Samuel, ele estava sentado no centro da cama, sem camisa, só com uma bermuda branca, era possível notar uma cueca preta escapando pela bermuda. Ele era um moreno alto, 1,85. tão musculoso que assustava. No ombro direito havia uma tatuagem de Fênix muito bonita. E no pescoço uma corrente de prata enorme lhe caia sobre o peito. Do seu lado havia uma pistola prateada, brilhando de tão lustrada. Achei ele muito bonito, mas tomei cuidado para não olhar muito, ele podia se incomodar e ser violento comigo.
- Oi, sam. A nicole que me mandou, entregar algo direto ao senhor?
Senhor? - gargalhou alto. - Me poupe leque. Pode chamar de Sam, Samuel, até Samuca, mas se chamar de senhor de novo, hum... não vou gostar. - completou rindo diante da minha cara assustada. - Chega aqui.
Fui até ele e fiquei em pé do lado da cama.
- Tá aqui. Desculpa qualquer coisa. - Falei e fui saindo.
- Ei, ei. Tá tremendo rapaz? - Indagou ele notando meu nervosismo. - Te acalma aê. Vai lá na porta e passa a chave.
- Hã?
- Fecha a porta. - Repetiu ele calmamente.
Fiquei olhando pra ele feito bobo.
- Vamos meu, faz isso logo. Eu não vou te matar não. Deixa de ser fresco e nervoso.
Corri e passei a chave na porta. Me demorei alguns segundos segurando a maçaneta, como a pensar no que ele iria fazer comigo e fui chamado atenção novamente:
- Vem pra cá agora.
Caminhei lentamente até ficar ao lado da cama dele novamente.
- Senta aqui. - Falou ele batendo na cama do seu lado.
Sentei timidamente.
- Qual é o teu nome
- Diego. Pode chamar de Dee, todo mundo chama assim. - Expliquei.
- Pronto. Dee. Tu veio aqui me contar uma história. Mas eu só resolvi ouvir essa história quando Nicole te descreveu, fiquei com vontade de experimentar, saca?
- Entendi.
- Tu não faz essas coisas por grana?
- Faço. - confirmei.
- Então. Eu vou te dar grana. Vou te ouvir depois que tu fizer o que é pago para fazer. - Falou ele enquanto enfiava a mão no bolso da bermuda e tirava duas notas de 100 reais e colocava na minha mão. - Vou te dar grana e te ouvir. Só tem uma condição. Uma só. Bem fácil de cumprir e que você tem que levar muito a sério. Ninguém pode saber. NINGUÉM. Se o que a gente fizer aqui vazar de alguma forma e o culpado for tu. Eu vou saber. E nesse caso, to te achando legal. Simpático. Bonito. Até educado você parece. Mas se tu vacilar comigo. Você morre. Certo?
- Certo. - Falei, num misto de surpresa pela proposta dele e medo das consequências daquilo tudo. Mas eu não tinha escolha. Não podia recusar ele, poderia ser meu fim. Ele era o cliente mais bonito que eu já tinha pego em minha curta vida de garoto de programa, o único porém era ser um chefe do tráfico na cidade.
- Então. Agora que a gente chegou num acordo. - Falou ele afrouxando o cinto da bermuda e expondo sua cueca mais ainda. - Vem aqui fazer o teu trabalho. Que tu é gostoso pra caralho.
Continua...
Até amanha pessoal.