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A História de Caio, completa e revisada para leitura on line e download e contos inéditos no meu blog:
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Após minha conversa com o Yoh estava cogitando que o caso do Carlos podia ser apenas um grande mal entendido. Quem sabe ele foi assaltado por bandidos comuns, que invadiram o apartamento passando pela segurança sabe Deus como e por puro escárnio resolveram estuprar ele e a namorada. Quem sabe ele se negou a mostrar onde estava algo de valor e por isso houve a vingança. Aquela notícia dada pela Samia foi um tapa na minha cara, era a realidade gritando para mim que não tinha como ser coincidencia o Carlos ser abusado, assim como aquele abuso do Flávio com certeza era relacionado.
Fui para o colégio com a cabeça pesada de tantos pensamentos conflitantes. Quem, quem poderia estar fazendo aquilo? Eu já tinha confirmado que o Yoh estava em Curitiba, será o Dan? Se vingou do Carlos e mesmo chateado comigo ainda fez o serviço sujo no Flávio também. Pensando nisso resolvi fazer algo que já deveria ter feito, liguei para a Auxiliadora e a pedi que conseguisse e mandasse pro meu e-mail ou deixasse na minha casa todos os dados que conseguisse sobre os dois casos. Alguém estava se vingando por mim dos meus algozes, e eu tinha que descobrir quem era. E precisava saber se esse justiceiro não era alguém que podia se tornar perigoso até para mim mesmo. Dentre tantas dúvidas eu só tinha uma certeza: O MÁRIO ESTAVA FERRADO. Quem quer que estivesse fazendo aquilo, ele era o próximo alvo.
Fiquei pensando se não deveria avisá-lo, meu instinto samaritano tendo pena daquele estupradorzinho de meia tigela. Mas levantava-se uma questão ética interessante. O que fariam com ele seria muito mais terrível do que ele fez comigo. Compartilhei minha dúvida com a Samia no colégio:
- Ca, faz o que teu coração manda. Mas pensa, e se matarem ele?
- Mas Sa, e se ele for na policia e disser que há uma ligação entre os ataques ao Carlos e ao Flávio?
- E ia dizer o que? Que tentou te estuprar? Ca, ele não tem motivo pra ir na polícia falar nada. E você vai ficar com dor na consciência se não avisar ele do perigo.
Passei a manhã de aula inteira com isso martelando na minha cabeça. Quando sai do colégio pedi ao motorista para dar uma passada na casa do Mário, fiquei 10 minutos parado lá em frente e então percebi que havia uma placa de aluga. Ele morava de aluguel e tinha se mudado. Respirei aliviado. Aquela questão não precisaria mais ficar na minha cabeça, não tinha como avisar ele, podia continuar sendo o mocinho mesmo não alertando ele do perigo.
Quando cheguei em casa havia uma pequena pilha de papeis na mesa do meu escritório. Fui verificar e eram os dados que a Auxiliadora havia tomado. Verifiquei que de acordo com a Olívia , eram 5 pessoas que invadiram o apartamento, todos encapuzados. Nenhum foi visto pelo vigia do horário e as imagens das câmeras de segurança foram levadas. Também de acordo com ela, a violência verificada em penetração anal nela não foi estupro e sim resultado da noite de sexo dela com o Carlos. Porém, os advogados do meu pai resolveram atacar a versão dela, e ela muda o depoimento após dizendo que foi violentada também. Não acreditei naquela mudança de versão, ou meu pai a subornou ou ameaçou para não dar um depoimento que envergonharia a família ainda mais.
Notei que havia uma pilha de correspondências. Fiquei impressionado de estar tão pouco tempo ali e já haver todas aquelas correspondências. Verifiquei uma notificação de abertura de conta e dois cartões de crédito. Aquilo ia facilitar minha vida. Uma apólice de seguro do carro e correspondências oferecendo mais cartões. Cruzes, os bancos não perdiam tempo. Estava pensando em como o sistema bancário é venenoso quando noto um envelope com endereço digitado em ofício, cortado e colado. Parecia uma carta pessoal, mas quem me mandaria uma carta pessoal?
No espaço do remetente havia José Silva da Silva, devia ser uma piada e no destinatário havia meu nome. Não havia selo, então havia sido colocado diretamente por alguém na caixa de correios. Abro apressado, dentro tem uma folha de ofício digitada.
“Mário P. C. : Rua Dom Manuel, nº 678. E aí? ”
Era o novo endereço do Mário, não restava dúvida. Liguei para a segurança e chamei o outro Mário (meu segurança) ele já tinha ido mas o Sérgio veio até mim, ele além de segurança também era meu motorista, segundo ele, não havia como dizer quem colocou aquela carta porque todo dia passam vários entregadores e panfletistas. E não havia câmera que gravasse o local da caixa de correios. As câmeras externas eram voltadas apenas para a entrada.
Pensei que a situação se resolveria facilmente quando chamei o Sérgio. Quando ele saiu do escritório baixou sobre mim uma sombra: alguém estava brincando comigo, estava punindo meus agressores e me dando a chance de avisar um. Aquilo já parecia uma coisa de psicopata. Como essa pessoa poderia saber desse meu dilema, eu só havia falado para a Samia, e não acreditei que pudesse ser ela. Dentre as pessoas que sabiam, eu só conhecia uma pessoa que seria capaz de prever aquele meu dilema, e essa pessoa estava em Curitiba, ou pelo menos dizia. Estava na hora de eu descobrir se estava mesmo, peguei meu celular e disquei:
- Auxiliadora? Me providencia uma passagem para Curitiba, o mais rápido possível, assim que providenciar me avise ok?
- Certo. Logo retorno. - Ouvi do outro lado.
Já tinha ficado viciado em pedir tudo que precisasse à Auxiliadora, me poupava diversas preocupações. Menos de meia hora depois ela retorna dizendo que tem uma passagem para um vôo às 16:00 horas do dia seguinte, perfeito.
Passei o dia no colégio apenas pensando na minha viajem. Tinha aula de educação física mas usei a mesma artimanha do Roney, foi algo descarado mas como o PJ também não estava afim de olhar para a minha cara, colou. O Dan continuava circulando com o Roney pelo colégio, o mais estranho disso era que ele nunca foi assim tão explícito nos sentimentos, nem comigo que ele dizia amar. Eu sentia uma pontada no peito quando via eles juntos, parecia que alguma coisa estava me cortando por dentro. Mas eu não sabia diferenciar se era algum sentimento ou apenas recalque. O Dan era um cara muito bonito, presença mesmo, o tipo que qualquer um adoraria exibir como namorado. Qualquer um menos eu, que o deixei de lado. Eu ainda ia resolver aquele problema, mas tinha um mais urgente.
Preparei uma mala pequena de viajem, a Auxiliadora tinha me reservado passagem para voltar dois dias depois, que no caso seria domingo e também reservou diárias para o fim de semana em um Hotel em Curitiba.
A viajem de avião foi super tranquila. Desde os tempos de minha mãe que eu não viajava. E era uma delícia viajar como adulto em virtude da minha emancipação. Aquilo realmente tinha muita utilidade. Eu não conhecia Curitiba e achei a cidade linda, pensei que aquela era a cidade do Dan, e me bateu uma saudade dele misturada com uma raiva por ele ter ficado com o Roney. Imaginei como teria sido legal ambos termos viajado para visistar o Yoh. Quando me hospedei no hotel, tudo sem maiores contratempos, pensei se tirava um cochilo ou ligava para o Yoh. Resolvi ligar logo, logo ficaria tarde demais para ligar, então disquei o número dele:
- Caio? - Ouvi a voz dele e imaginar que estava tão perto me deixou feliz.
- Estava pensando em te visitar. Posso?
- Poder pode, mas porque dessa visita agora?
- Surpresa. Diz onde você está hospedado. Se eu decidir apareço ai de surpresa.
Ele me deu o endereço rindo, falando que era o apartamento da mãe do Dan, não acreditava que eu iria visitá-lo. Quando verifiquei o endereço dele ficava bem próximo ao meu hotel, apenas chamei o táxi de novo e fui até lá.
Ao chegar, pedi para ser anunciado na recepção. Em segundos o porteiro me informou que eu poderia subir. Era no oitavo andar e fiquei impressionado em como aquele condomínio dele era sofisticado. Era tão luxuoso que nem combinava muito com o Yoh, que era de hábitos simples. O coração bateu forte durante a subida e quando o elevador parou no oitavo andar minhas mãos suaram de ansiedade. Andei pelo corredor procurando o número dele e quando achei, respirei fundo e bati.
Passados uns 20 segundos ele abre, está só de toalha e mais musculoso do que eu lembrava. Seu cabelo está molhado, acabou de sair do banho, consigo ver a barriga dele com aquele caminho de pêlos que já me levaram a loucura mais de uma vez. Ele não demonstra surpresa nem um segundo, apenas sorri e afasta-se fazendo um gesto para que eu entre.
- Um honra receber a sua visita, Sr. Caio. - Falou fazendo uma mesura.
- Uma honra maior ainda vir visitá-lo Sr. Yohan. - Completei. - A gente precisa realmente tirar umas coisas a limpo …
Continua …