Bom, essa parte é decisiva para o decorrer da história. Muita coisa vai mudar no próximo conto... Espero que gostem e que eu esteja agradando. Comentem bastante, elogiando ou criticando. Vocês é quem fazem todos os autores continuarem escrevendo. Obrigado e boa leitura...
- Alô Lucas.
- Oi Carlos.
- Pode falar.
- Eu... Eu só liguei... Só liguei pra dizer que te amo.
E desligou... Me deixando paralisado.
Murilo me olhava e eu não conseguia processar a fala do Lucas. Murilo estava certo, mais uma vez. Eu estava me envolvendo demais com esse garoto e meu vínculo estava perturbando-o.
- Algum problema amor?
- Nenhum Murilo, é só que... Peraí. Você me chamou de quê?
- Te chamei de amor. É assim que eu vou te chamar agora. A gente tá junto não tá?
Resolvi me fazer de difícil...
- Num sei. Será que é o momento? Você ainda não me provou nada.
- Te deixo pensar.
Fiquei desapontado. Achei que ele iria insistir mais. Fui pra minha sala e me surpreendi muito ao abrir a porta e ver flores na minha mesa. Tá certo, era muito gay, mas a atitude foi bacana.
Olhei as flores e tinha um cartão. Diferente do convencional, dentro do envelope não havia um bilhete e sim um colar com um pingente estranho. Por impulso, coloquei o colar no pescoço e fui atrás do autor dessa façanha.
- Murilo, achei muito legal, mas não entendi o pingente.
- Só falo depois que eu ganhar um beijão de agradecimento.
Rimos juntos e ficamos nos beijando por mais um tempo.
- Pode explicar agora?
- É estranho, eu sei. É um símbolo da psicologia, misturado com um coração. Quis ser original. Eu tô usando um igual, olha.
- Verdade.
- Então, amor, é pra você lembrar-se de mim olhando pra esse colar. Como se fosse uma aliança de compromisso.
- E por que não uma aliança? Medo?
- Não, nada disso. Gostei mais da correntinha mesmo. Já vai brigar com seu namorado no primeiro dia de namoro?
Eu tinha que concordar: ele estava conseguindo o que queria. Suas atitudes mudaram e eu estava sendo conquistado por ele. Fui atender meu primeiro paciente e tentava me concentrar, mesmo minha cabeça estando cheia com a confissão de Lucas e meu “namoro” com Murilo.
À tarde, Lucas chegou de surpresa à clínica. Me aguardou na recepção até que eu terminasse um atendimento e depois entrou:
- O que te traz aqui? Sua consulta é só amanhã, certo?
- É sim. Desculpas por vir, mas eu to precisando conversar com você.
- Lucas, eu entendo que estamos muito próximos ultimamente, mas temos que saber dosar isso.
- Como assim?
- Você dormiu na minha casa essa noite, temos saído juntos. Precisamos colocar um limite nisso. Eu sou seu psicólogo e você meu paciente, lembra?
- Claro.
Seu olhar de desapontamento me afligiu, mas eu precisava seguir com isso.
- Então, peço que você volte amanhã no horário marcado, ok?
- O que eu tinha que falar era sério, mas se você quer assim...
Ele saiu em disparada e eu nem consegui melhorar a situação. Fiquei dentro da sala, tentando planejar minha ação no dia seguinte com Lucas, quando escuto palavras em tom elevado vindos da recepção.
Saio para ver e Murilo e Lucas estão batendo boca. Não atrapalhei e escutei apenas o final da história. Lucas atingia Murilo em cheio com suas palavras:
- E você é um idiota... Lembra disso sempre. Eu posso ser um adolescente mimado, mas não to sendo feito de trouxa.
Não entendi a colocação de Lucas e nem tive tempo de perguntar, já que ele saiu rapidamente, deixando Murilo falando sozinho.
- O que foi isso Murilo?
- Pergunta pro seu paciente preferido.
Ele saiu, me deixou com a cara na poeira. Por sorte a clínica estava vazia e ninguém presenciou a cena. Não fui atrás de Murilo, preferi deixar rolar.
A noite chegou e Murilo foi embora, deixando apenas um papel escrito: “Tive que sair mais cedo. Até amanhã.” Essa frieza toda era ciúmes de Lucas? Isso porque era primeiro dia de namoro.
Cheguei rapidinho em casa e Adriana estava lá me esperando:
- Drica, que surpresa. Tudo bem?
- Tá sim Carlos. Só queria conversar com você.
- Pode falar.
- Eu fiquei meio preocupado com umas coisas. O Murilo veio conversar comigo na minha casa e me contou toda a história do Lucas. Você não acha que está exagerando com ele não?
- O Murilo está com ciúmes dessa história.
- É normal amigos sentirem ciúmes, mas também acho que você está exagerando.
Murilo não teve coragem de contar pra Drica que éramos mais que amigos. Eu também não iria contar, mas já estava de saco cheio desse papo de proximidade com Lucas. Era eu que tinha que resolver isso.
- Drica, eu agradeço muito sua visita, mas eu sei o que estou fazendo.
- Tem certeza Carlinhos? Se precisar de ajuda eu...
- Não, obrigado. E acho melhor você não ouvir muito o Murilo.
- Estamos muito próximos pra não nos ouvir... Mas era só isso. Vou indo então.
Ela se despediu rapidamente e foi embora. Me deixou com a história deles estarem muito próximos na cabeça. Tentei falar com Murilo durante bastante tempo, mas seu celular só estava desligado e o fixo nem pensar em ser atendido. Sou orgulhoso, decidi não ceder. Se ele queria pirraça, teria pirraça.
No outro dia, cheguei mais cedo à clínica, organizei bastante coisa e nem sinal do Murilo. Olhei sua agenda e seu primeiro tratamento seria às 10, logo, explicado seu atraso.
As 9:00, era hora de Lucas chegar.
9:10 e nada dele.
9:15 e ele não aparecia.
9:20 e eu já estava com a certeza de que ele não iria mais.
De certo eu havia estragado todo o tratamento com a história de diminuir a proximidade. Ossos do ofício.
Já planejava ligar pra ele depois e tentar reverter a situação... Mas não foi necessário.
9:35 e ele chegou. Chegou diferente, com um olhar distante, ao mesmo tempo decidido.
Entrou na sala, se sentou rapidamente e antes que eu pudesse fechar a porta disse:
- Carlos, eu vim aqui ontem pra te contar que meu padrasto me estuprou, mas você me ignorou.
- Lucas, não é bem assim. Você poderia ter dito o conteúdo do assunto.
- Isso não importa mais. Eu já resolvi isso.
Sua certeza era assustadora. Comecei a ficar apreensivo, mas acredito ter disfarçado bem.
- Resolveu como?
- Você não gostaria de saber. Não quis me ouvir ontem, eu resolvi sozinho. Mas ainda falta um problema.
- Lucas, você está muito nervoso. Precisa de algo pra se acalmar? Vamos conversar com mais calma.
- Não se preocupe. Só vim te avisar que vou tomar uma atitude. Quando todos souberem o que eu fiz, é isso que vai acontecer. Só vou antecipar as coisas.
- Do que você tá falando Lucas?
- Tô falando disso.
Nesse momento ele se levantou e tirou uma arma da cintura, apontando para a própria cabeça.
- Já tomei uns remédios, mas vai demorar muito. Vou adiantar as coisas.
- Lucas, isso não é brincadeira. Vamos...
- Vamos nada. Eu vou resolver sozinho, mas você vai se lembrar de mim por muito tempo. Adeus Carlos.
Não tive tempo para mais nada. Ouvi o barulho do tiro e fechei os olhos. O barulho de seu corpo caindo bem próximo do meu pé me fez despertar e acordar para a situação.
Lucas havia se matado, diante de mim.
Eu havia falhado!
Numa ação louca, toquei seu corpo ainda na esperança de que estivesse vivo. Foi em vão. Toquei na arma no intuito de procurar alguma numeração, algo que explicasse o fato dela estar em seu poder. Também em vão.
E estava eu, com minha roupa branca suja de sangue, o corpo de Lucas seguro em meus braços, seus olhos abertos a me olhar, mesmo morto, sua arma em minhas mãos e minha expressão de pânico.
O que seria de agora em diante?
Minhas dúvidas só se aumentaram ao ver Murilo na porta, desesperado, com os olhos marejados, me olhando e me condenando:
- Pelo amor de Deus, me diga que não fez isso, Carlos!
CONTINUA...