Eu voltei pra casa no mesmo dia, mas eu estava muito triste, muito mesmo. Peguei quase um mês com o médico e nesse período eu só saia do quarto para ir ao banheiro, comer e ir ao psiquiatra. Eu passava o dia todo na net, pensando na minha vida e tentando entender a merda que estava acontecendo comigo... eu percebia que estava virando viado, mas não ia aceitar isso facilmente, eu ia lutar. Nas sessões com o psiquiatra eu batia na mesma tecla sempre, que era só uma fase, que eu não iria mudar porra nenhuma e quem fez isso comigo iria se fuder muito. Mas ele insistia que eu tinha que entender o processo e as causas disso tudo, assim como não deveria procurar culpados.
Mas eu alimentava um ódio enorme pelo Bruno, ele tinha desgraçado minha vida e a cada sonho com ele, cada pensamento me deixava com mais raiva e quanto mais raiva eu sentia mais eu pensava nele e quanto mais eu pensava nele, mais eu lembrava que ele era lindo, tinha uma bunda deliciosa e isso me dava mais raiva. Isso mostra quão confusa minha cabeça estava e tudo isso era culpa dele!
Nas duas semanas que se passaram eles não apareceram lá, acho que minha irmã queria me deixar em um ambiente sossegado, não queria que eu me irritasse, então pediu a eles para não irem lá. Mas um momento eles tinham que voltar, e assim foi. Em duas semanas e com 4 sessões, eu já estava mais tranquilo e minha raiva pelo Bruno já tinha passado. Eu simplesmente o ignorava e todas as vezes que ele aparecia na minha cabeça, quase diariamente, eu o afastava.
Mas o destino parece brincar com a gente... Um dia, estavam tocando a campainha e como não tinha ninguém em casa eu fui atender. Quando abri o portão e vi que era ele meu coração acelerou. Ele estava diferente, seu cabelo estava o mesmo, preto, curto e meio arrepiado em cima, uma argola pequena na orelha, um alargador na outra, um piercing no nariz, mas estava de camiseta branca e bermuda xadrez vermelha, uma graça. Quando nos vimos, nossos olhos se chocaram... aquele olho que mais parecia um dia nebuloso... eu perdi a fala, mas ele tomou a iniciativa:
- Como você está?
- Bem.
- Eu estou bem também, não se incomode em perguntar...
- Entra ae! – abri o portão e ele entrou, fui andando na frente até chegarmos a sala.
- Sua irmã tá ae?
- Não, ela foi ao médico, mas logo chega, quer esperar?
- Não, não quero te incomodar.
- Para de palhaçada! Fica de boa ae. Quer água? Alguma coisa?
- água seria uma boa. – Ele fixou os olhos em mim e não tirava por nada nesse mundo.
Eu sentei no outro sofá e fiquei vendo TV, não tinha assunto entre a gente, algo segurava nossa língua, mas eu percebia que ele me olhava e olhava muito.
- Tira uma foto, dá pra olhar mais... – falei ainda olhando pra TV.
- Como?!
- Cansei!! – levantei e fui até ele, ficando em pé na sua frente. – O que você quer?!! Me fala! – ele permanecia em silêncio – O que você quer!? – minha voz já se alterava – Porque você é assim?! Qual é a tua cara? – mas ele se mantinha em silêncio – Fala porra!! Qual é o teu problema comigo? Fala!!
- Eu te amo – saiu como se fosse um sussurro. Eu não acreditei que ele admitiu. – eu te amo Eduardo.
- Me ama? – mas uma raiva me subiu a cabeça e eu puxei ele pela camisa. – Você desgraçou a minha vida!! Você me enfeitiçou! Acabou comigo... agora eu não consigo dormir, não consigo namorar... fiquei internado numa clinica psiquiátrica, faço acompanhamento psiquiátrico... minha família tem medo de mim... não falo com meu pai...
- Edu, eu não quis f... – eu o calei com um tapa forte no rosto.
- Some da minha vida! Seu infeliz! Eu não quero te ver nunca mais! Eu odeio você seu filho da puta, te detesto desgraçado! – Ele ficou em silêncio, com a mão no rosto e seus belos olhos soltavam lágrimas.
Ao vê-lo chorando me dei conta da merda que tinha feito, mas não fiz nada para tentar remediar, só fiquei olhando ele sair correndo de lá de casa. Não aguentei e comecei a chorar, me fechei no quarto e chorei demais, maldizendo o momento que cruzei com ele... Eu chorei a tarde toda e passei o restante do dia trancado no quarto, não queria ver nem falar com ninguém. Minha mãe, preocupada, pedia para eu abrir, mas nada me fazia mover aquela maçaneta. Só sai de lá de madrugada, comi alguma coisa, bebi água e voltei pro quarto.
No outro dia eu estava parecendo um zumbi, mas tive que me arrumar pra ir pro psiquiatra. Lá eu contei tudo o que tinha feito e ele falou que toda essa raiva, todo esse desespero, toda essa briga tinha um motivo, eu o amava. Mas eu mandei ele tomar no cu e fui embora, me recusava a acreditar naquilo. (sim, o Edu era muito idiota – by Luiz)
Em casa eu não parava de pensar nele e no que o psiquiatra tinha falado...
-“Será que eu estava apaixonado por aquele garoto?? Não, claro que não! Ele deve estar mais maluco que eu! Se bem que eu nunca me apaixonei, então como sei se isso é amor? Mas não pode ser, ele é um moleque, um homem, isso faria de mim definitivamente gay. Tenho que tirar isso a limpo, preciso de ajuda”. – minha mente ficava dando voltas e voltas.
Dias depois eu estava em um bar com meus amigos da faculdade, sim eu tinha retornado às aulas e estava feliz pra caralho por causa disso. Então, depois das aulas fomos beber. Lá estavam alguns amigos meus de sala e foram se juntando algumas pessoas que eu não conhecia e ficamos em uma mesa grande com umas 8 pessoas e o papo, claro, era mulher, falávamos como que uma mulher pode arrasar a vida de um homem, na verdade eles falavam e eu só ouvia. Mas minha boca se abriu pra fazer a pergunta que estava a uma semana martelando a minha cabeça:
- Alguém aqui já ficou apaixonado de verdade?
- Eu já cara! – falou um rapaz que eu tinha acabado de conhecer.
- E como você sabe que estava apaixonado?
- Bem... primeiro, você não para de pensar na pessoa, é incrível, ela vem o tempo todo na sua cabeça, e você fica imaginando o que ela está fazendo e o que fazer para estar com ela.
- Ah que viadagem! Se apaixonar é querer transar com a mina todo dia! Isso é amor! – falou um outro cara na mesa.
- Porra, nada haver! Você nem pensa em sexo com a pessoa... bem, não a princípio. O segundo ponto é quando você está na presença dela, é uma loucura: o coração bate descontrolado, a respiração fica acelerada, as mãos ficam trêmulas e suadas e frias; a boca fica seca e claro dificuldade para dormir porque você só pensa na pessoa a noite toda! – puta que merda, tudo isso eu sentia...
- Fala mais cara!
- Bem, tem a fase da maluquice...
- isso tudo já não é maluquice? – o mesmo amigo interrompeu de novo.
- Ridículo você! Bem, depois que você tá louco louco e já teve algum contato físico você começa a ter fantasias sexuais com ele, fica criando estratégias para encontrá-lo e abordá-lo de forma inusitada, fixação em seus traços físicos e da personalidade... a mente não para! E por fim... você admite que ama a pessoa e passa a desejar ela, ela tem que ser sua de qualquer jeito.
- Deus me livre passar por isso!!! – disse um outro rapaz.
- É, mas acontece, mais cedo ou mais tarde acontece com todo mundo. O problema é saber lidar com isso, mas c’est la vie! Tu nunca se apaixonou Edu? –
Mas eu estava em outro mundo, enquanto ele falava eu ia viajando pela minha memória e me identificando com todos aquele sintomas, eu verdadeiramente estava apaixonado por ele, eu o amava, mesmo não querendo, mesmo não sendo o certo, eu o amava... e agora?! O que fazer?! Não tinha como eu simplesmente parar de sentir isso, ele falou que iria piorar.
- Edu?! Acorda cara!!
- Desculpa, eu viajei aqui!
- Tá apaixonado cara?
- Não, claro que não... tenho que ir embora!
Levantei e voltei pra minha casa pensando nele e nesse sentimentos que eu sentia, nessa loucura que era amar ele, porque sim, eu o amava. Cheguei em casa e deitei na minha cama... como antes eu não conseguia dormir, agora eu pensava em como ele era lindo, como seus traços de menino em um corpo de homem me deixava excitado... sua bunda empinada, sua sunga azul... sem perceber eu estava apertando e mexendo na minha cueca e logo comecei a me masturbar pensando nele, e lembrando o sonho que tive, onde aliviava toda o tesão que estava sentindo. Ao contrário das outras vezes, eu não liguei pra Cris... bem, com essa eu estava por um fio, porque depois do meu surto, eu mau a via. Ela me ligava sempre, mas muitas vezes eu desligava sem falar com ela.
Não tinha como eu ficar com ela, eu não queria estar com ela, eu queria outra pessoa. Era muito estranho pra mim admitir que eu queria ele, queria pelo menos tocar sua pele, sentir seu beijo uma única vez.
Estava mais claro que nunca que eu o amava e do momento que eu admiti que o amava, tudo pareceu mais claro. Parece que o mundo ficou mais fácil de se levar, parece que tudo ficou mais simples. Mas mesmo assim, ainda tinha uma parte de mim que lutava contra esse sentimento, ainda era muito preconceituoso.
Os dias se passaram e eu esperava todo dia ele ir lá em casa. Mas depois do outro dia que nos vimos e ele assumiu que me amava, eu nunca mais o tinha visto, mas os amigos dele iam lá normalmente, porém ele não aparecia. Eu era orgulhoso demais pra perguntar, então fiquei me remoendo de agonia por não vê-lo mais.
Foi assim quase um mês e com os passar desses dias eu fui percebendo que ele fez o que eu mandei, sumiu da minha vida e eu já estava triste e fiquei mais ainda. Um dia estávamos, eu, minha mãe e minha irmã tomando café da manhã, e nessa noite eu rolei na cama pensando nele, não aguentava mais de vontade de pelo menos saber noticias dele, assim eu perguntei a minha irmã:
- Carla, o que aconteceu com o Morcego?
- O nome dele não é esse! E não sei porque você quer saber, você detesta o garoto!
- Eu não detesto ele, só gosto de brincar com o cara, ele fica engraçado rsrs.
- Não interessa, por causa de você ele não vem mais aqui em casa! Você é um babaca sabia?! Com essa palhaçada de não gostar de receber ninguém e sua ignorância, o garoto se afastou de mim! Ele é tão maneiro... muito diferente de você.
- Mas ele não vem mais aqui por minha causa?
- claro, você trata mau o mokeque toda vez que ele vem aqui, o que você queria??
- Seu pai vai conversar com você sobre isso senhor Eduardo! – disse minha mãe.
- Vai falar a toa, porque você sabe muito bem que não quero papo com ele.
- Você não escolhe isso, o que você fez foi muito errado!
- Mãe, se meu pai quiser falar comigo, fala com ele que estou fumando uma pedra de crack no meu quarto e não quero ser incomodado – falei levantando da mesa.
- Eduardo!! Não fala isso nem brincando!!
- Tá vendo mãe como ele é?! É um cavalo ao invés de gente, esse idiota!
Cansei de ouvir as vozes das duas, então fui pro meu quarto. Já estava puto comigo mesmo por ter afastado ele de mim, ainda ficar ouvindo chilique da minha irmã não dá né!! Acho que eu nunca me senti tão culpado e tão arrependido por alguma atitude minha, eu acabei com a chance de estar com ele, fui ignorante pra caralho e ainda bati no cara, até eu não gostaria de me ver mais.
Bem, mas uma coisa era certa na minha cabeça, eu iria atrás dele. Os dias se passaram eu pensava em como me aproximar. Decidi encontrá-lo na escola, mas como eu tinha estágio só tinha um dia na semana para tentar uma aproximação. Eu passei a semana inteira ensaiando o que ia fazer, mas no dia em questão eu amarelei. Na minha cabeça era uma humilhação eu correr atrás dele, então na hora “h” eu desisti. Mas era incrível como que nós nos atraíamos... No outro dia eu segui minha rotina, fui para o estágio e na volta, ao passar em frente ao colégio, eu o vi saindo. Puxei a campainha na hora e desci. Fui andando com os olhos fixos nele.
Ele estava com o uniforme da escola e um jeans meio grande, que deixava sua cueca aparecendo... delícia. Eu fui me aproximando e vi algo que fez meu sangue ferver. Uns três garotos chegaram perto dele e ficaram rindo e empurrando ele. Quando cheguei perto ouvi o que eles estavam dizendo:
- Toma vergonha nessa cara Bruno! Vai ficar usando maquiagem, Gisele!
- Pow galera, me deixa em paz porra!
- Ih ele tá nervosinho! Vai fazer o que princesa?
- Porra, mó infantis vocês são!!
- Infantil é seu cu, seu merda! – não resisti.
- E ae galera! O que o moleque aprontou? – cheguei perguntando.
- ih se mete não meu irmão!
- pow, eu quero sacanear ele também, qual é?! – ele me olhou furioso.
- Essa bixa fica usando maquiagem, olha que escroto! Tem que aprender a ser homem. – e deu um soco no braço dele. Aquilo fez meu sangue subir mais ainda. Não me segurei mais e dei um soco na cara dele.
Eu dei um certeiro no rosto dele, o garoto cambaleou pra trás, mas logo veio pra cima de mim, eu esquivei e comecei a socar ele, dava um soco atrás do outro, logo o sangue começou a espirrar. Os amigos dele tentaram me segurar, mas eu queria matar o cara. O meu ódio era tanto que fui pra cima dos outros dois, dei mais uns socos e chutes neles, mas eles saíram correndo, deixando o amigo no chão, pegando fôlego.
- SEU FILHO DA PUTA!! APRENDE A NÃO MEXER MAIS COM OS OUTROS NA RUA, VOCÊ NÃO SABE QUEM TÁ COM ELES! ENTENDEU SEU VIADO!
- entendi, foi mau, entendi...
Após afugentar os caras eu me virei pra ele, mas ele não estava mais lá. Procurei em volta e o vi caminhando para o ponto. Corri e logo o alcancei, segurei seu braço e ele se virou:
- Você está bem?
- Não precisava fazer aquilo.
- Claro que precisava! Você ia...
- Não preciso de você pra nada!
- Mas Bru...
- Cala a boca! – ele me olhou no fundo dos meus olhos, mas não gostei do que vi, tinha raiva ali. – Me deixa em paz! – ele virou as costas e foi embora.
Aquilo doeu no fundo da minha alma... como eu era burro por ter feito aquilo com ele!Estamos muito felizes com os comentários e que todos estão gostando. Valeu meu povo! Abração
e