Continuação da série Reuniões e você somente o entenderá na íntegra se ler os anterioresREUNIÕES, SOB O LUAR DO SERTÃO - A Chegada
Há muito venho temendo o reencontro com Nat, as lembranças de minha primeira visita à fazenda não são tão favoráveis ao primo.
Mas aquele dia foi memorável. Ver mamãe chorando de alegria é uma sensação que não sinto há muitos anos...
(Impressões iniciais de Larissa)
1ª dia.
O dia amanheceu bonito e fresco, em nada se parecia com o calor abafado dos dias anteriores.
- É a lua que ta mudando – falou Ataliba que chegava carregando um leitãozinho abatido e limpo.
Podia-se ouvir o zunido da tensão cortando o ar. Tia Maria estava mais nervosa que sempre, e discutia pelos mais banais motivos.
- Essa velha ta ficando gagá – entrou na copa resmungando – onde já se viu quebrar arroz no pilão?
- Calma mana, é que não encontrei fubá na feira e ela está providenciando algum para o café da noite – acalmou papai – senta aqui e toma logo teu café!
E foi assim até a hora do almoço. O tio João telefonou cedo dizendo que chegariam lá pelas três da tarde.
Passava das cinco quando escutam, ao longe, sons de foguetes e buzinas estridentes.
- Chegaram! Chegaram! – correu Tia Maria para a porta puxando nossos braços.
- Esse cara é maluco – papai não escondia a euforia do reencontro. – Onde já se viu fazer uma algazarra dessa?
- Deixa de ser chato, Julio – reclamou mamãe abraçando papai. – Isso é coisa de teu irmão...
- Que nada! Deve ser o João... – retrucou tia Maria.
Os foguetes estão mais próximos e o buzinaço inquietava as criações enquanto ficam à porta aguardando a chegada dos carros. Papai abraçava a mamãe e a tia e Nat me abraçava. A tensão era visível, estávamos ávidos pela chegada dos parentes.
Aos poucos foi chegando, primeiro a tia Carmem com o tio João, o primo Jonas e as primas Larissa e Silvia que moravam em Belo Horizonte em um carro espalhafatosamente enfeitado com folhas coloridas e depois o tio Manoel com a tia Nininha e as prima Flávia e Isabelle que moravam no Rio de Janeiro com o carro igualmente apapagaiado.
Abraços, choros, beijos em uma alegria efusiva carregada de satisfação. Tia Maria foi quem mais chorou ao abraçar a irmã Carmem que não via desde seu casamento. Tio Manoel também chorava enquanto a tia Nininha enxugava disfarçando, as lágrimas que lhe caiam dos olhos verdes.
As meninas, com exceção de Silvia e Flávia, não demonstraram emoções fortes, mas sim cansaço pela viagem.
Aos poucos todo entram e sentam nas espreguiçadeiras do salão. Tio Manoel e tia Carmem foram explorar a casa de suas infâncias e retornaram emocionados.
- Puxa mano! Tu conseguiu manter tudo como era antes – falou tio Manoel se abraçando com papai e chorando muito.
- Dá até pra sentir a presença do velho gritando de alegria como na ultima vez que estivemos aqui... - relembrou tia Carmem enxugando as lágrimas.
Os tios ainda estavam abraçados chorando de alegria.
- Ô meu irmão! Que saudade do meu tempo de criança... – e chorava convulsivamente não parando de acariciar a cabeça do irmão mais novo. – Que saudades eu tenho daqui, te ti e do papai...
Vendo os tios chorando abraçados Nat não resiste e chora no meu ombro, bem de leve e com muito carinho massageio sua nuca.
- Deixa disso amorzinho – sussurro a seu ouvido. – É tempo de alegria...
Tia Nininha percebeu que tinha o dever de fazer algo, era tempo de alegria e não de tristeza. As cenas que presenciávamos não era bem tristeza, mas sim alegria pelo reencontro transformado em choro convulsivo pelo longo tempo de separação.
- Bem minha gente! – levantou e falou alto. – Vamos deixar desse xororô sem fim e abrir sorrisos... É tempo de alegria...
Tia Maria, que chorava baixinho enxugou as lágrimas e convidou a irmã Carmem.
- Vem mana. Vamos arrumar as coisas nos quartos – e saíram as duas carregando malas com ajuda de Larissa e Silvia. Jonas estava sentado no colo do pai, com os olhos mareados, observando atentamente os tios.
Tia Nininha pegou duas malas enquanto tia Nadir pegava outras.
Tio João se aproximou dos cunhados dando tapinhas em seus ombros.
- Vamos lá rapazes. Vamos arrumar os bregueços – puxou levemente tio Manoel pelo braço. – Tem muito tempo para chorarem de novo...
Os tios foram divididos enquanto permanecíamos silenciosos na sala aguardando as determinações. Pouco se conheciam, apenas Larissa e Silvia já tinha estado na fazenda há muito tempo atrás quando Silvia não passava de uma garotinha chorona.
As tias ficaram no quarto do papai que era maior e tinha banheiro, os tios ficaram no meu quarto e papai com mamãe no quarto da irmã caçula. Terminado a distribuição todos foram para a copa onde Izadora tinha arrumado a mesa do lanche. Convida as “crianças” para também irem para a mesa grande.
Ao verem a preta velha houve nova seção de choro e abraços. Quando Ataliba entrou pela cozinha acabrunhado novamente voltaram os choros.
- Puta merda, parece que os velhos vão passar o tempo todo chorando... – reclamou Isabelle incomodada.
- Deixa de ser chata, Bele! – brigou Flávia. – Não vê que eles estão felizes pelo reencontro.
Lanchamos e levo o pessoal para a casa pequena distribuindo-os pelos quartos: No quarto maior ficaram Larissa, Flávia e Isabelle, no menor eu e Silvia, o Jonas ficou com a rede da sala e Nat na copa em um colchonete.
- Porque tu tens que ficar na cozinha? – questionou Larissa.
- Assim é melhor, pois poderei guardar melhor meus tesouros – Nat responde com aquele sorriso lindo que encanta.
(continua...)
