Primeiros capítulos do conto "Jaguar". Deixam a vossa opinião, boa ou máCapítulo 1
Por Uma Noite
Os dois homens mergulharam na escuridão do quarto.
À medida que se despiam um ao outro, enquanto os seus lábios se encontravam unidos, os seus corpos ficavam expostos ao luar prateado que entrava pela janela aberta.
Os olhos verdes de Luís Menezes tentavam lutar contra a escuridão e ver com detalhe o homem que agarrava. Mas era em vão. Luís desistiu de tentar ver, e passou a sentir.
Sentia a textura da pele dele, o sabor da sua boca e o calor do seu corpo, que encantaram os seus sentidos, deixando-o rendido à perfeição daquele corpo. Não conseguiu evitar ser invadido por uma erecção.
Nos últimos tempos, Luís sentira-se perdido por várias vezes, sem saber que rumo dar à sua vida, temendo este futuro desconhecido. Ironicamente, nos braços daquele homem desconhecido, ele sentia-se completo como nunca antes.
Os seus lábios voltaram a encontrar-se. Um arrepio percorreu o seu corpo, fazendo Luís gemer levemente.
Quando ambos já estavam despidos, caíram lentamente na cama. Luís ficou por cima e por instantes pôde admirar as feições masculinas e bonitas daquele homem, cintilando à luz lunar.
Reflectindo o brilho da lua, os olhos daquele homem desconhecido deixaram Luís boquiaberto com a sua beleza. Eram de um tom especial de castanho. Eram praticamente dourados.
As suas mãos percorram o corpo musculado do misterioso homem, sentindo a consistência rígida do seu peito, em contraste com a pele suave. Ele devia ter pouco mais de trinta anos. Luís estava a aproximar-se dessa faixa etária.
E foi então que girou. O homem dera meia-volta sobre Luís, fazendo-o ficar por baixo. Em cima dele, aquele corpo exercia pressão e exalava calor. Para diminuir o peso, o homem apoiou-se nos seus braços, colocados ao lado do corpo de Luís.
E os seus lábios tocaram os dele, convidando as suas línguas a unirem-se. E as mãos dele tocaram-lhe as nádegas, convidando para algo mais. Luís percebeu o convite.
Ele girou sobre mesmo, virando-se de costas para o homem. Sentiu o seu membro a penetrar-lhe o corpo e, após o impacto inicial, soltou um gemido. Enquanto a dor se transformava em prazer, Luís gemia de olhos fechados.
Unidos, os dois corpos moviam-se em conjunto, numa harmonia perfeita. Em uníssono, eles gemiam na escuridão, tirando prazer daquele momento em que Luís sentia o seu corpo ser invadido a cada instante.
E ao mesmo tempo aquele homem enigmático acariciava-lhe os cabelos castanhos. Luís sentia-o mas não o via: a sua cara estava colada à almofada, abafando os seus gemidos de prazer.
Sentiu as suas costas serem beijadas suavemente, com carinho, enquanto aquele pénis rígido invadia o seu corpo sem piedade, cada vez com mais força.
Os dois homens ficaram de joelhos, com os seus corpos colados numa união perfeita. Luís rodou ligeiramente o pescoço para trás, tentando ver novamente o rosto do homem que o penetrava.
– Posso pelo menos saber o teu nome? – Perguntou.
No meio de gemidos, o homem respondeu-lhe com uma voz que era como chocolate para os seus ouvidos… uma voz grave e ao mesmo tempo doce e branda. Apesar da ternura da voz, a resposta não tinha nada de simpático.
– Nada de nomes.
Nesse mesmo instante, a força com que foi penetrado excedeu todos os máximos, e Luís deixou escapar um grito selvagem, vindo das suas mais profundas entranhas.
Ao mesmo tempo, sentiu um líquido quente e espesso entrar no seu corpo.
* * *
Acordou… sozinho.
A janela que dantes deixara entrar o luar era agora atravessada pelo sol da manhã. Os seus olhos abriram-se lentamente, mostrando a sua tonalidade verde. Luís esticou-se, acabado de acordar, e coçou os seus cabelos castanhos e despenteados.
Luís Menezes olhou à sua volta e, perante a ausência de qualquer outra pessoa naquele quarto de hotel, concluiu que a última noite não tinha passado de um sonho. Sem dúvida fora um sonho fantástico, mas agora tinha acordado e devia encarar a realidade.
Mas a verdade é que ele estava num quarto de hotel. Porquê? Haveria alguma possibilidade de aquele homem de corpo perfeito e olhos dourados ser real? Haveria alguma possibilidade de aquela noite ter sido mais do que um sonho?
Sim, havia essa possibilidade. Afinal, Luís recordava perfeitamente a forma do seu corpo, a textura da sua pele, o sabor da sua boca. Recordava-o bem demais para ser apenas uma falsa memória. E sentiu que o agradável cheiro do seu corpo ainda pairava no ar.
Ou seria só imaginação sua? Teria ele imaginado aquele homem perfeito, só para se abstrair do terrível falhanço da sua relação com Pedro?
Pedro era aquilo a que podia chamar de seu namorado. Quando ainda era detective, Luís investigara Pedro por ser suspeito dum crime. Luís sempre achou que ele era culpado, mas mesmo assim não conseguiu evitar apaixonar-se por ele. Felizmente, todas as provas acabaram por apontar outra direcção e ele percebeu que Pedro estava inocente.
Mas o que começara por ser sexualmente tórrido e amorosamente adorável, tornara-se monótono, caindo na rotina que agora era um peso nas suas costas, em vez de o levar às nuvens, como acontecia no início.
Talvez Luís tivesse sonhado com o homem perfeito como escape daquela relação falhada.
Levantou-se da cama e vestiu-se. Poucos minutos depois, quando deu por si, estava na recepção do hotel, a entregar a chave e a preparar-se para abandonar o local do “crime”.
Continuava a duvidar se teria sido de facto real. Mas cada vez mais estava decidido que teria sido apenas um sonho. Afinal, um homem tão perfeito só podia ser uma ilusão criada por si.
Depois de entregar a chave, contemplou à sua volta. Pensava que esse ia ser o último olhar que deitava entre aquelas paredes, como um ritual de despedida, e que depois iria simplesmente embora. Mas estava enganado.
Começou a dirigir-se à saída. Reparou que o hotel estava decorado com bom gosto e vários televisores enormes invadiam as paredes de cada lado do piso inferior.
Olhando melhor para os televisores, Luís imobilizou-se a meio do caminho até à saída.
Estava a vê-lo de novo. O homem perfeito não era imaginação sua. O seu rosto estava ali, em todos os televisores.
Luís chegou-se ao televisor mais próximo, mal contendo a excitação. O homem dos olhos dourados era notícia: procurado por vários assassinatos.
Caramba! Para variar, os criminosos atraíam-no. Seria alguma espécie de destino?
De qualquer forma, tinha agora uma pista. O homem existia de verdade. Tinha de encontrá-lo. E sabia o que tinha a fazer.
Capítulo 2
Interrogatório
Luís percorreu corredores que já conhecia. As paredes austeras de uma insensível cor branca, pessoas movendo-se a passos rápidos por toda a parte, conversas em voz baixa que, em conjunto, formavam um burburinho quase ensurdecedor.
O habitual.
Não sentia a falta daqueles corredores que já não visitava desde que se demitira da Polícia Judiciária, após a morte de uma colega que era também uma grande amiga sua. Todo aquele ambiente trouxe-lhe de novo à memória as condições trágicas em que se dera a morte de Susana, alguns meses atrás, na época em que conhecera Pedro.
Luís sentiu-se como um intruso no seu ex-local de trabalho, à medida que prosseguia o percurso familiar, atrás da mulher que o guiava. Como se ele precisa de guia…
– É aqui. – Disse ela, com um sorriso cortês, apontado uma porta no meio das paredes brancas e intermináveis.
E ele entrou.
A surpresa não foi nenhuma. Além de já conhecer quase todas as salas daquele edifício, o interior não era muito diferente dos corredores; ou seja, não era nem mais colorido, nem mais acolhedor.
Deparou-se com um homem, provavelmente na meia-idade, devido às duas linhas que lhe vincavam a testa, impecavelmente vestido a condizer com as elegantes madeixas cinzentas do seu cabelo.
Ao lado dele, estava uma mulher, mais jovem, talvez nos trinta anos, com longos cabelos negros e um olhar igualmente negro. O rosto dela era magro, com feições rígidas. Não inspirava propriamente confiança… antes, medo.
Estavam ambos sentados a uma mesa, virados para ele.
O homem aproximou-se de Luís, estendendo-lhe a mão por cima da mesa.
– Bom dia, Luís. – Luís apertou-lhe a mão – Eu sou o detective Henrique Mendonça. E esta é a detective Mónica Vieira.
A mulher dos cabelos negros sorriu-lhe. Mónica indicou-lhe uma cadeira perto dele, do lado da mesa oposto a ela.
Quando Luís se sentou, ela falou.
– Então, Luís Menezes… está aqui porque diz ter dados relevantes para encontrar o paradeiro de um assassino procurado por nós. – Sentou-se e sorriu-lhe – O que tem para nos revelar?
Algo no sorriso e no olhar daquela mulher o incomodaram, deixando-lhe o as ideias confusas, turvando-lhe o pensamento. Uns instantes depois, retomou o raciocínio.
– Bem… eu… vi esse homem.
– Claro que o viu, ele está em todos os noticiários, em todos os jornais… Viu-o você e mais meio mundo.
– Não está a perceber. Eu vi-o… pessoalmente.
Ela assumiu uma expressão surpreendida.
– Tem a certeza que era ele?
– Sim, completamente. Eu reconheceria o olhar dele em qualquer sítio. Estou totalmente certo que era ele.
– Muito bem. – Ela e o detective Henrique trocaram um breve olhar. – Então, diga-nos… onde e quando viu este homem?
– Ontem à noite. Vi-o num bar.
Mónica fez um olhar céptico.
– Num bar?! Em que circunstâncias?
O nervosismo de Luís aumentou.
– Eu e ele conhecemo-nos nesse bar. E passamos a noite…
– Passaram a noite?! Como assim? – Interrompeu Mónica, elevando a voz e mostrando uma expressão incrédula, olhando para Luís como se estivesse com algum distúrbio mental.
Henrique permanecia em silêncio, com o olhar balançando entre Luís e Mónica à medida que o diálogo entre estes dois assumia contornos de discussão.
– Sim, passamos a noite… juntos. Num hotel. No Hotel Central.
Mónica levantou-se da sua cadeira, encarando Luís. Ele teve de levantar a cabeça para olhá-la nos olhos.
– Deixe-me ver se entendi… Está a dizer-me que… você… dormiu com o nosso suspeito? Num hotel?
– Exacto.
Por um instante, Mónica olhou Henrique. Depois virou-se para Luís.
– Veio aqui para impedir que esta investigação prossiga?
Luís não a compreendeu. E a sua cara deve ter precisamente mostrado essa incompreensão, pois Mónica voltou a falar para se explicar.
– Você tem noção do ridículo que está a ser o seu depoimento?
– Desculpe, eu não estou a compreender…
Henrique levantou-se, tal como Mónica, tentando acalmar os
ânimos. Falou directamente para Luís.
– Você sabe de que criminoso estamos a falar?
Luís abanou a cabeça alguns milímetros, pois o seu corpo estava quase petrificado pelo nervosismo e pela raiva de estar a ser tratado como um doido varrido.
– Este homem com quem você diz ter… dormido… é um assassino em série – explicou Henrique. – Ele é procurado por vários homicídios de…
– Sim – interrompeu Luís. – Isso eu já percebi…
Mónica voltou a falar.
– Estamos a falar de um homem que assassina as mais importantes pessoas das mais importantes organizações de… direitos dos homossexuais. – Explicou ela, proferindo a última parte com uma expressão enojada, ao mesmo tempo que olhava Luís com desprezo.
O choque atingiu Luís como se tivesse esbarrado contra uma parede.
– Se você tivesse de facto dormido com este homem – disse Henrique – provavelmente estaria morto neste momento. Ele é completamente anti-gay.
– Mas eu dormi com ele – protestou Luís – e não estou morto!
Os seus olhos verdes fitaram os negros de Mónica quando ela voltou a falar.
– Por favor, Luís Menezes… não nos faça perder o nosso tempo.
A mão de Mónica elevou-se no ar e um dos seus dedos apontou na direcção da porta.
– Ponha-se a andar daqui… por favor.
E Luís assim fez, sem voltar a falar ou a olhá-los directamente.
Dentro da sala, após ele sair, Mónica e Henrique quase caíram de tanto rir. Quando as gargalhadas cessaram, Mónica, com um sorriso nos lábios, falou para o colega.
– Francamente. Um gajo como este dormir com este homem… é como pôr o Hitler a dormir com um judeu!"Jaguar" é a sequela do conto "Instinto Homossexual". Este e outros contos em:
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NOS PRÓXIMOS CAPÍTULOS:
"Quando Luís acordou para a realidade novamente, Pedro estava com o seu pénis na boca, percorrendo com a língua cada milímetro da sua superfície.
[...]
Ao pensar no seu homem perfeito, ejaculou, enchendo a boca de Pedro com o seu esperma."
CAPA DESTE CONTO EM:
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