Serpentes não caçam por instinto, mas por precisão. Algumas esperam pacientemente, enroscando-se na presa, apertando pouco a pouco até que o último suspiro seja arrancado. Outras são traiçoeiras, pequenas e discretas, mas carregam um veneno letal. Há aquelas que crescem sem limites, dominando o espaço ao seu redor, enquanto algumas, divididas entre duas cabeças, se sabotam sem perceber que fazem parte do mesmo corpo.
Matheus trazia na pele a marca da anomalia. Uma cobra de duas cabeças, eternamente condenada a disputar consigo mesma. Ele e Marcus, irmãos siameses pelo destino, sempre se influenciaram. Um puxava, o outro cedia. Um avançava, o outro hesitava. Na superfície, eram opostos. Mas, na essência, faziam parte do mesmo jogo. E quando Matheus sussurrava algo no ouvido de Marcus, era impossível saber qual dos dois realmente tomava a decisão.
Davi não precisava de ouvidos para sentir o perigo. Algumas cobras são surdas, mas percebem o mundo pelas vibrações no solo, captando ameaças antes mesmo que apareçam. Ele lia gestos, olhares, nuances de movimento. Não precisava ouvir Axel para entender suas intenções.
Hiroshi não carregava apenas uma imagem na pele; carregava um instinto. Trocar de pele não era novidade para ele. Ele já fora muitas versões de si mesmo – garoto prodígio, tatuador, carente, astuto, golpista, forte, fraco ou apenas alguém que achava que não tinha escolha.
E então, havia Axel e Diego.
Os dois eram a verdadeira ameaça naquele jogo. Eles não precisavam de tinta na pele para serem predadores. Axel não era uma serpente qualquer. Ele era o veneno infiltrado, se espalhando pelas veias de Diego sem que ele percebesse. Ou talvez... o próprio veneno fosse Diego. Diego, por sua vez, queria ser perigoso, queria crescer rápido, se moldar àquilo que Axel desejava. Mas o desespero de querer ser mais, ser maior, podia ser a própria armadilha.
O que acontece quando duas cobras se enfrentam?
Uma delas morde primeiro.
E a outra precisa decidir se vai revidar ou simplesmente aceitar o veneno.
PARTE 1
Axel sempre soube que, para quebrar um sistema, primeiro era preciso jogar de acordo com as regras dele. Ele havia se afastado do tráfico porque queria algo maior, algo que não o deixasse preso ao ciclo de sempre. Mas agora, precisava se infiltrar de novo — não por ambição, mas por estratégia. Diego era a chave. Se ele conseguisse ser a única ponte entre Diego e as drogas, teria um controle que nem Hiroshi conseguiria prever.
Foi por isso que, antes de convidá-lo para sair, Axel precisou resolver uma última pendência.
Um telefonema discreto, um pedido específico. Seu antigo patrão estranhou a solicitação, mas não fez perguntas. Axel não queria voltar a vender. Pelo contrário. Mas precisava de uma abertura e, para isso, convenceu o ex-patrão a liberar alguns de seus clientes antigos nas noites em que ele fosse à boate. O favor temporário vinha com uma promessa: Axel garantiria um cliente de alto valor, alguém que consumiria em grande escala.
O acordo foi selado sem alarde. Axel desligou o telefone, satisfeito. Agora, tudo estava pronto. Se houvesse um jeito de afastar Hiroshi daquela vida, esse jeito começaria por Diego. E era por isso que, naquela quinta-feira, ele decidiu agir.
***
Quando Diego entrou no vestiário, Axel estava nu, terminando o banho. Secou-se calmamente, sem pressa, deixando sua presença ser sentida antes mesmo de falar.
— Salve, Neto. — A voz saiu seca, casual.
Diego, que já esperava a hostilidade de sempre, franziu a testa, surpreso. Por um instante, pareceu duvidar se tinha ouvido certo. Com um olhar desconfiado, apenas acenou de cabeça, evitando demonstrar qualquer entusiasmo prematuro.
Axel fingiu não perceber a hesitação. Continuou se vestindo no próprio ritmo, aproveitando o silêncio desconfortável para manter Diego na defensiva. Quando terminou de abotoar a calça e passou a mão pelos cabelos ainda úmidos, ergueu os olhos e sorriu de canto.
— E aí, Neto. Se quiser dar um rolê hoje, bora. Tô trampando, mas acho que dá pra se acertar contigo. A gente cola lá na minha antiga quebrada.
Diego ergueu minimamente as sobrancelhas. Axel o esnobara por semanas, mantendo-o na margem, e agora o chamava para sair como se nada tivesse acontecido? Ele sabia que deveria desconfiar, mas a sensação de finalmente receber atenção pesou mais do que o alerta.
— Demorou. Que horas? — tentou disfarçar a animação.
Axel deu um riso curto e puxou o celular do bolso, destravando a tela.
— Manda teu número. Te chamo mais tarde.
Diego hesitou um segundo antes de passar o contato. Enquanto digitava rapidamente o próprio número no celular de Axel, sentia o olhar dele avaliando cada detalhe, como se já soubesse o que ele ia responder antes mesmo de falar.
— Fechou. — Axel confirmou, guardando o celular. — Cê não arregue.
— Eu nunca arrego.
Axel soltou um último sorriso de canto e saiu do vestiário sem olhar para trás.
***
Diego chegou ao local combinado com o coração acelerado, tentando parecer indiferente. Ele não teve tempo de se preparar muito. Mesmo treinando forte, ainda não se sentia satisfeito com o próprio corpo.
Axel já estava lá, encostado na moto, postura relaxada, mas carregada de controle. Vestia uma camisa preta ajustada e uma jaqueta de couro que reforçava a aura de perigo e confiança que ele sempre exalava.
O olhar de Axel percorreu Diego rapidamente antes de estalar a língua no céu da boca e sorrir de canto.
— Achei que ia arregá. — Ele girou a chave da moto no dedo.
— Eu nunca corro de um convite desses. — Diego tentou soar firme, mas havia um resquício de insegurança em sua voz.
Axel riu e fez um sinal com a cabeça para que ele o seguisse.
Quando entraram na boate, o som pesado da música eletrônica bateu contra seus corpos como uma onda. Luzes estroboscópicas cortavam o ambiente abafado, e a pista de dança fervia com corpos suados se movendo num ritmo frenético. O bar estava lotado de clientes pedindo drinks caros e garçons correndo de um lado para o outro.
Axel guiou Diego até um canto mais reservado, longe da bagunça principal. Quando chegaram, ele o puxou levemente pelo braço, um toque rápido, mas suficiente para fazer Diego sentir a pele arrepiar.
— O bagulho é da hora, né? Bora curtir, sem neurose. — A voz de Axel soou leve, mas Diego sabia que nada nele era casual.
O olhar de Axel carregava algo que Diego não conseguia decifrar completamente. Axel não o chamaria para sair apenas por remorso ou boa vontade.
Havia um motivo por trás daquilo. Diego precisava descobrir qual era. Mas antes que pudesse pensar muito, Axel já estava ali, mais perto do que ele esperava.
Axel se movia pelo ambiente como se fosse dono do lugar. Sua presença exalava confiança, e ele sabia disso. Passava pelos clientes com a postura de quem já tinha o respeito deles, trocando palavras rápidas, apertos de mão discretos e olhares carregados de segundas intenções.
Diego acompanhava cada passo, atento. Ele nunca tinha visto Axel daquele jeito. Havia uma naturalidade no modo como ele circulava entre os figurões da casa, um jogo de corpo e postura que mostrava que ele já estava inserido naquele mundo há tempos.
E então, aconteceu.
No meio da conversa com um grupo de clientes bem vestidos, Axel puxou um pequeno pacote do bolso e fez uma troca rápida. Sua expressão permaneceu a mesma, relaxada, como se aquilo não significasse nada. Riu de algo que um dos caras disse, deu um tapinha de camaradagem no ombro do homem e seguiu como se nada tivesse acontecido.
Mas Diego percebeu. Ele ergueu a sobrancelha, cruzando os braços. O convite repentino, a mudança de Axel, tudo se encaixava agora.
Axel se virou e encontrou o olhar atento de Diego.
Com um sorriso torto, caminhou até ele, entregando-lhe um copo.
— E aí, curtindo a noite?
Diego pegou a bebida, mas não bebeu de imediato. Inclinou-se levemente para Axel, mantendo o tom de voz baixo para que ninguém mais ouvisse.
— Então era por isso o convite? Pra eu ver você trampando?
Axel soltou uma risada curta e relaxou contra a parede, encarando Diego com aquele olhar que sempre parecia provocar uma reação.
— Cê é ligeiro, né?
— E você é bom nisso. — Diego deu um gole no drink, os olhos ainda analisando Axel. — Já tá dominando o jogo, hein?
Axel sustentou o olhar por um momento antes de se aproximar um pouco mais. A distância entre eles se reduziu a meros centímetros.
— Sabe qual era a fita real? O que eu queria mesmo te mostrar?
A pergunta veio arrastada, cheia de algo indecifrável.
Aconteceu. Foi rápido. Os lábios de Axel tocaram os de Diego, quase um acidente. Mas Diego sentiu. O choque percorreu sua espinha, e sua respiração travou por um instante. Quando seus olhos encontraram os de Axel, o sorriso malicioso que viu estampado ali foi a última peça que faltava.
Aquilo não tinha sido um acidente. Axel fez parecer casual, mas Diego sentia a verdade.
Desde aquela noite, as mensagens entre eles se tornaram diárias. Axel sempre respondia prontamente, sempre no timing perfeito, sempre deixando Diego no limite da expectativa. Jogando ele pra dentro de uma dança perigosa sem que percebesse.
***
As noites com Axel tornaram-se uma rotina semanal na quinta-feira, dia de folga de Diego no cabaré, e, com elas, Diego mudou. A influência de Axel era sutil, mas implacável.
Foi Matheus quem primeiro sugeriu a Marcus que ajudasse Diego nos treinos — um pedido direto de Axel, que nunca dava um passo sem calcular o próximo. Marcus, mesmo achando a ideia estranha, aceitou. Hiroshi também se envolveu, ajustando a dieta de Diego, cortando excessos, refinando detalhes. O progresso foi rápido.
Os músculos começaram a definir. A postura mudou. A respiração ficou mais controlada. O corpo de Diego tornava-se uma versão melhorada do que ele sempre quis ser. E, junto com as mudanças físicas, veio a transformação mais perigosa: a confiança. Confiança essa refletida no sucesso com os clientes de Diego.
Axel percebeu. Ele deixou Diego se sentir seguro. Confortável. No controle. E então, arrancou isso dele.
As noites na boate começaram a seguir um padrão diferente. Axel, antes presente e envolvente, passou a se dispersar.
Não estava distante. Apenas perto o bastante para Diego vê-lo.
Flertava sem pudor. Ria alto com desconhecidos. Encostava-se em outros corpos como se nem lembrasse que Diego estava ali. E Diego via tudo.
Ele tentava se conter, fingir que não se importava. Mas a raiva subia pelo peito, o estômago revirava em uma mistura de frustração e desejo. Ele odiava ver Axel tocando outros. E odiava ainda mais o quanto isso o deixava louco.
E então, sem aviso, Axel o puxava de volta para o jogo. Um olhar de canto, um sorriso carregado de segundas intenções. Um toque na cintura que parecia casual, mas não era. E Diego voltava.
Era um jogo sujo. Um ciclo vicioso de desejo e punição. E Diego estava cada vez mais preso nele.
***
A semana seguinte trouxe um clima diferente. A boate estava fervendo. Axel estava encostado no bar, uma garrafa d’água na mão, observando Diego de longe. Ele sabia que Diego sentia sua presença. Queria que ele sentisse.
Diego se movia no meio da pista, cercado por desconhecidos. Movimentos calculados, um olhar aqui e ali, aquela velha tentativa de provocar uma reação. Axel deu um gole lento na água, um sorriso torto brotando nos lábios.
Atravessou a pista como um predador indo direto ao alvo. Diego fingiu que não notou. Péssima jogada.
Axel chegou por trás, os dedos deslizando pela nuca suada antes de descerem pelos ombros. Então, inclinou-se, a boca quente roçando o ouvido de Diego:
— Tá querendo testar o quê, Neto? — A voz saiu baixa, carregada de algo indecifrável.
Diego estremeceu. O hálito quente de Axel contra sua pele fez seu corpo reagir no mesmo instante. Antes que respondesse, Axel segurou firme em sua cintura e puxou-o de encontro a si, afastando qualquer outro que estivesse perto sem precisar de uma palavra.
O peito rígido de Axel pressionava as costas de Diego, mantendo-o no lugar. O controle era absoluto.
— É isso que cê quer, né? — murmurou Axel contra sua nuca, as mãos agora ancoradas nos quadris de Diego, ditando o ritmo.
A batida da música reverberava no chão. O som dos graves pulsava na pele, nas veias, nos ossos. Mas Diego só conseguia sentir Axel. A respiração quente. A força das mãos que sabiam exatamente onde segurar. Então, Axel foi além. Deslizou uma das mãos para frente, pousando os dedos contra o volume evidente na calça de Diego. O toque firme e seguro arrancou o ar dos pulmões dele.
Axel sabia que isso estimularia Diego.
— Se quer que eu continue, cê vai ter que pedir. — O tom era um desafio. Uma ordem.
Diego engoliu em seco. Era orgulhoso e tinha medo. Mas o corpo queimava, os músculos enrijecidos de tensão. As palavras saíram antes mesmo que pudesse se conter:
— Continua…
Axel sorriu, satisfeito. Pressionou ainda mais Diego contra si, a ereção dura de ambos se roçando no tecido das calças. O atrito era inevitável.
A boate desapareceu. Só existia a música, o contato, a respiração acelerada e a promessa de algo maior por vir.
Axel não entregaria tudo ali. Ainda não. Mas Diego entendeu o recado. Era dele. Por agora, e sempre que Axel quisesse.
***
A batida eletrônica continuava latejando no peito de Diego enquanto ele se aproximava do bar. Pegaria um drink e voltaria para a pista. Mas, ao se virar, Axel não estava mais lá. Seu olhar varreu o ambiente. Primeiro, a pista de dança. Depois, as laterais. O bar. O camarote. Nada.
Sumiu.
Diego tentou ignorar o incômodo, mas algo começou a corroer seu estômago. Pegou o copo e deu um gole grande, sentindo o álcool rasgar sua garganta.
O tempo passou e Axel não voltou. Cinco minutos. Dez. Quinze. Algo dentro dele começou a gritar.
Ansiedade. Medo. Raiva. Sem perceber, seus pés já estavam se movendo. Caminhou pelos corredores, desviando dos corpos suados, das luzes piscando, da fumaça densa que fazia o ambiente parecer um delírio. Até que soube exatamente onde procurar: os banheiros.
O som abafado da boate ficou distante quando entrou. O ar ali era carregado de cigarro, álcool e luxúria bruta. Alguns caras se amontoavam nas pias, se olhando pelo espelho enquanto ajeitavam os cabelos. Outros conversavam em tom baixo num canto. O restante simplesmente ignorava tudo ao redor.
E então, Diego viu a cabine ao fundo. Porta encostada. O mundo pareceu desacelerar.
“Não. Não pode ser!”
Aproximou-se devagar. Cada passo mais pesado que o anterior. O ar ficou mais denso. Ruídos abafados escapavam da fresta. Respirações pesadas. Barulhos molhados que se misturavam ao som distante da música.
Diego encostou a mão na madeira fria e empurrou. O impacto foi imediato. Axel encostado contra a parede da cabine, a cabeça tombada para trás, a boca entreaberta num suspiro preguiçoso. Os olhos semicerrados em puro deleite. E, ajoelhado entre suas pernas, um desconhecido. Chupando-o sem hesitação, com fome, com vontade.
A mão de Axel afundava nos cabelos do cara, guiando o ritmo com um controle absoluto.
— Assim... — murmurou, a voz rouca de prazer ou apenas aparentando.
Diego congelou. O barulho molhado, os gemidos baixos, a forma como Axel simplesmente se entregava à sensação. Ele queria acreditar que era só coincidência. Mas não era. Axel sabia que ele estava ali. Ou melhor, sabia que ele estaria ali. E ignorava. De propósito.
O nó no estômago de Diego se apertou quando Axel deslizou os próprios dedos pelo abdômen suado.
— Isso… tá ficando bom. — A voz saiu baixa, preguiçosa.
Diego sentiu o chão sumir. A garganta fechou. Ele não precisava ver mais nada. Virou-se e saiu.
O barulho da boate bateu contra ele como uma onda, mas nada parecia real. O mundo girava. O som das pessoas, das risadas, das luzes piscando... Tudo era distante. Mas a dor? Essa, queimava.
Axel não precisava tocá-lo para quebrá-lo. E Diego odiava o quanto isso o afetava.
***
Axel esperou alguns segundos depois que Diego desapareceu. Então, sem olhar, empurrou o cara de joelhos para longe.
— Já deu.
O desconhecido olhou pra cima, confuso, os lábios vermelhos e úmidos.
— Mas você nem…
Axel já puxava a calça de volta, ajeitando sem pressa.
— Terminei.
O outro franziu a testa, mas Axel nem se preocupou em explicar. O que importava já tinha acontecido. Diego viu. E isso era tudo que ele precisava.
Saiu da cabine como se nada tivesse acontecido, passou uma mão rápida no cabelo e se misturou à multidão.
Agora era só encontrar Diego.
E lá estava ele. Parado no bar, com um copo na mão e o olhar perdido. O corpo rígido. O maxilar travado. A humilhação ainda quente na pele. Diego pegou o copo, virou um gole grande, mas o gosto amargo não mascarou a merda que tinha acabado de ver.
Axel se aproximou como se não soubesse de nada e soltou, casualmente:
— Fiquei resolvendo uns corres. Bati muito tempo?
O olhar de Diego queimava. Axel percebeu a dúvida. A tentativa de esconder o orgulho ferido. Ele podia sentir a raiva contida, o desconforto queimando Diego por dentro. Por um segundo, pareceu que Diego ia explodir. Mas ele engoliu seco. Forçou um sorriso.
— Não… tudo de boa.
Axel mordeu o interior da bochecha, segurando um sorriso de satisfação. O jogo continuava. E Diego estava cada vez mais afundado nele.
***
Depois daquela noite, algo começou a corroer Diego por dentro. Não era ódio. Não era raiva. Era pior. Axel não o queria. Não do jeito que ele era. Mas… e se ele mudasse?
A ideia se infiltrou nele como um veneno. No início, era só um incômodo, um pensamento amargo aqui e ali. Mas logo tomou tudo. O espelho virou seu pior inimigo. Cada falha saltava aos olhos. Cada detalhe era insuficiente. Os músculos não eram tão rígidos quanto os de Axel, o peitoral não era tão largo, a postura não transmitia presença. Ele não era um homem como Axel. Mas ele podia ser.
O treino com Marcus ficou mais intenso. A dieta com Hiroshi foi seguida à risca. Mas… não era o bastante. O tempo jogava contra ele. E Diego não podia esperar. Foi assim que os anabolizantes entraram na equação. A primeira dose foi o teste. A segunda foi o começo da transformação. Logo, o corpo respondeu com força. O peito inflou, os braços ficaram densos, as veias saltavam como rios de tensão. O rosto perdeu a suavidade juvenil, ganhou traços mais duros. Quase agressivos.
E então, ele percebeu. Axel olhava para ele diferente. Fingia indiferença, mas Diego conhecia aquele olhar. Axel o escaneava, percebia, analisava. O plano estava funcionando.
Mas Diego não queria só mudar. Ele queria ser notado. Mas uma dúvida cravou os dentes na mente de Diego: “Se eu finalmente for o tipo de homem que Axel quer… ele vai me querer?”
***
Semanas depois, Axel mudou a dinâmica do jogo. Certa noite de quinta-feira, Davi foi à boate e assumiu seu lugar nas vendas. Longe dos olhos atentos de Axel e, principalmente, de Diego.
Pela primeira vez, Axel não vendeu nada. Antes de sair, já tinha conversado com seus clientes e garantido que Davi assumiria todas as transações naquela noite. Ele não levantaria um dedo para vender sequer um grama. E fez questão de ser notado.
Passou a noite isolado, indiferente. Recusou olhares, ignorou avanços, permaneceu distante. Dançava sozinho ou nem dançava. Bebia água, como sempre. Criou um vazio ao seu redor. Repetiu esse padrão por três semanas seguidas.
Foi na terceira que, enfim, Diego percebeu. Axel não estava apenas evitando as pessoas. Ele demonstrava preocupação, amargura. Ignorava todo mundo. Nenhum homem, nenhuma mulher, ninguém parecia existir para ele.
Até que olhou para Diego.
E naquele instante, como se o universo inteiro tivesse se reduzido a apenas eles dois, Axel o fez sentir único.
Diego sentiu o peso daquele olhar. Não era o mesmo de sempre. Havia algo quebrado ali. Algo que ele nunca viu em Axel antes.
Foi aí que a dúvida começou a se infiltrar. A inquietação já era insuportável. Se Axel estava afundando, por que não confiava nele? Diego precisava entender.
— Axel… O que tá pegando?
Axel sustentou o olhar, a expressão cansada, como se estivesse prestes a dizer algo que não queria.
— Não quero falar disso aqui, fechô?
E então, veio o golpe final. Pela primeira vez em meses, Axel o convidou para seu apartamento.
O peito de Diego apertou. Por mais que seu físico estivesse esculpido como ele queria, a insegurança ainda queimava dentro dele. Axel o manteve à distância por tanto tempo. Agora, de repente, o convidava?
O que deveria ser uma vitória era apenas mais uma fase do plano de Axel. Ele precisava que Diego acreditasse que algo estava errado. Se Diego achasse que Axel estava perdendo o controle, que seu trabalho estava ameaçado, ele faria qualquer coisa para ajudá-lo. E no momento certo, confiaria nele.
Era apenas questão de tempo até Diego sugerir que Axel entrasse como fornecedor no cabaré. Que "salvasse" seus negócios. E para conseguir isso, Axel sabia exatamente o preço que Diego exigiria: ele mesmo.
— O quê? — Diego perguntou, tentando disfarçar a surpresa.
Axel sorriu de canto, jogando a isca final.
— Cola lá no meu apê agora, te explico melhor.
O sorriso de Diego foi a resposta.
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PARTE 2
Ao chegarem ao apartamento compacto, Axel manteve a pose fria, jogando a jaqueta sobre uma das cadeiras e largando as chaves na cômoda com um gesto automático. Mas Diego, tão vidrado nele quanto um viciado na próxima dose, percebeu os detalhes — o jeito que Axel evitava encará-lo por tempo demais, a forma calculada como mexia no próprio cabelo, cada gesto feito pra parecer casual, mas que, no fundo, escondia um controle absoluto da situação.
Diego tentou fingir desinteresse, encostando-se na parede, relaxado. Mas seus olhos grudaram no corpo de Axel. No peitoral largo, nos ombros fortes, na linha definida do abdômen sob a camisa preta justa. No jeito que a calça caía perfeitamente sobre a cintura dele.
“Filho da puta gostoso.”
O silêncio no ambiente parecia denso, carregado de desejo. E então, Axel quebrou.
— Se eu jogar uma ideia, cê compra?
Diego ergueu uma sobrancelha. A voz de Axel soou diferente.
— Que pergunta é essa, Axel? Se for pra tu, eu faço. Só manda.
Axel hesitou de propósito, deixando o suspense no ar antes de respirar fundo, como se estivesse admitindo algo difícil.
— Sei lá... sinto que só te usei, tá ligado?
Diego piscou, confuso, um frio estranho subindo pela espinha. Aquelas palavras mexeram com ele de um jeito esquisito.
— Que porra de papo é esse? — A voz dele oscilou entre desconfiança e curiosidade. — Eu percebi que algo tava estranho, mas já deixei pra lá. Agora tu vem com esse papo? Dá pra ver que você não tá legal... Só queria que me dissesse o que tá rolando.
Axel desviou o olhar, fingindo dúvida, antes de encará-lo de novo. Mas, dessa vez, o olhar veio diferente. Mais intenso. Mais perigoso.
— Ainda quer saber ou é melhor deixar quieto?
O coração de Diego deu um salto, e seu pau pulsou dentro da calça.
— Quero, claro. Me diz logo.
Axel se aproximou devagar, deslizando os olhos pelo corpo de Diego, como se estivesse saboreando cada detalhe. O jeito que os músculos de Diego estavam mais definidos, a forma como ele prendia a respiração sem perceber.
Então, Axel sorriu. Sorriso de canalha. De malandro. De macho que sabe que tem o controle na palma da mão.
— Será que tu dá conta de me deixar de boa hoje?
Diego sentiu um arrepio cabuloso subir pela espinha. O tom de Axel, baixo e carregado de provocação.
— Como assim?
Axel não respondeu. Ele apenas puxou a barra da camiseta para cima.
Aquele abdômen perfeito, os músculos desenhados como se tivessem sido esculpidos à mão, se revelando centímetro por centímetro. O corpo quente, o cheiro de pele masculina misturado com perfume amadeirado e um leve toque de suor. A porra de um show silencioso, feito exclusivamente pra Diego.
Diego segurou a respiração, sentindo o calor subir. Os olhos de Axel grudaram nele, predadores, indecentes, um convite sem palavras. Então, Axel soltou, naquela voz rouca e carregada de malícia:
— Sei que tu tá doido pra cavalgar nesse macho aqui, né?
A respiração de Diego travou na garganta. O pau pulsou dentro da calça novamente. O corpo inteiro ficou tenso. Pronto. Ansioso.
Axel avançou um passo, reduzindo ainda mais a distância entre eles. O calor dos corpos se misturava no espaço estreito.
— Vai... tira essa merda de roupa. Quero ver se tá tudo isso mesmo... ou se é só pose.
Diego engoliu seco. O olhar de Axel era um comando silencioso. Não havia margem para dúvidas: naquele momento, ele estava no controle.
O pau de Diego latejava, sua respiração falhava no próprio desejo. O corpo inteiro parecia em chamas.
— Cê sabe que eu quero... — A voz saiu rouca, baixa, carregada de necessidade.
Axel se inclinou, seu hálito quente roçando o rosto de Diego. O perfume amadeirado, a testosterona, o calor da pele... tudo girava ao redor deles.
Mas Diego hesitou.
Seus dedos pararam no botão da calça, tremendo levemente. Não era medo. Era expectativa. Seu peito subia e descia de forma irregular, como se os pulmões tentassem puxar mais ar do que conseguiam. Axel percebeu.
Percebeu cada microexpressão, cada milésimo de segundo de incerteza. E gostou.
— Qual foi? Perdeu a coragem, Neto? — Axel provocou, a voz baixa e arrastada, cheia de desafio.
Diego fechou os olhos por um instante. Respirou fundo. Decidiu. O estalo seco do botão da calça ecoou no silêncio carregado do apartamento.
O zíper desceu devagar, num som quase ensurdecedor. A calça afrouxou na cintura e deslizou lentamente pelos quadris, até cair ao chão, embolando nos tornozelos.
Axel não piscou. Os olhos deslizaram pelo corpo de Diego. A pele branca contrastava com os músculos recém-esculpidos pelo esforço, as coxas firmes, o peitoral marcado pela respiração acelerada. Era uma transformação notável em relação ao garoto magricela que Axel conheceu meses antes no vestiário do clube.
Mas foi quando Diego enganchou os polegares na cueca que Axel se moveu. Deu um passo à frente. Colado. Quente. Presente.
Diego sentiu a respiração dele roçar contra seu rosto, e seu pau pulsou forte dentro da cueca, já completamente duro.
— Tira essa porra. — Axel ordenou, a voz grave, carregada de domínio puro.
Diego sentiu um arrepio subir pela espinha. Esse era o momento que ele queria. Mas, ao mesmo tempo, nunca se sentiu tão vulnerável. Sua autoestima só existia no cabaré, com os clientes. Ali, ele era a presa e Axel o predador.
Ele baixou a cueca lentamente. Quase como um desafio a si mesmo. O tecido deslizou pelos quadris e caiu, revelando tudo. A ereção exposta, firme, pulsante entre eles.
Axel baixou os olhos devagar, sem pressa, como quem saboreia cada detalhe. A língua passou sutilmente pelos lábios, um gesto quase involuntário.
Apesar de estar ali por um propósito maior, Axel gostava do que via. Mesmo que mentisse para si mesmo dizendo que tudo não passava de um teatro.
— Porra… Pauzão do caralho. — Ele murmurou, baixinho, sem esconder o brilho no olhar.
Diego segurou a respiração, sentindo a pele queimar sob aquele olhar. O silêncio pesou. Axel continuou observando.
E Diego soube, naquele instante, que estava fodido.
***
A tensão entre eles era bruta, como um fio de alta voltagem prestes a explodir. Sem aviso, Axel estendeu a mão e segurou seu pau com firmeza. Diego se arqueou no mesmo instante, o corpo inteiro respondendo ao toque, um gemido preso na garganta.
Axel sorriu de canto, malicioso. O polegar deslizou devagar pela ponta molhada.
— Tá tremendo por quê, menor? — A voz saiu baixa, suja, carregada de maldade. — Tá com vergonha agora, Neto? Ou vai querer apagar a luz pra fingir que nem tá rolando?
As palavras atingiram o orgulho de Diego como um golpe certeiro, desarmando qualquer resquício de resistência. Axel não só validava seu corpo. Ele alimentava sua obsessão.
A pele dele arrepiou inteira, os músculos retesando com o choque do prazer repentino. Instintivamente, tentou recuar.
Axel não deixou.
Num movimento ágil, agarrou o pulso de Diego e o segurou firme.
— Vai correr agora, Neto? — A provocação veio carregada de ironia e domínio. — Tu não tava doido pra me dar isso aqui? Agora aguenta.
Diego prendeu o ar.
Axel começou a movimentar a mão. Devagar. Sem pressa. Uma tortura calculada. Provocando. Brincando. Testando. O pau de Diego pulsava sob o toque firme, quente, sedento, cada deslizar da palma uma tortura pior que a anterior.
Então, Axel se inclinou e sussurrou, quente e indecente:
— Olha pra você… todo fodido só porque eu tô pegando na tua pica.
Diego fechou os olhos com força, os músculos tremendo, suando. Ele não aguentava mais. Afundou os dentes no mamilo de Axel, puxando a pele sensível antes de deslizar a língua quente pelo peitoral rígido.
Axel tentou manter o controle, afastar-se mentalmente, mas o gemido rouco que escapou de sua garganta o traiu. Por mais que quisesse se convencer de que era só um jogo, o calor acumulado no baixo ventre o denunciava. Ele sentia cada provocação, cada deslizar da língua de Diego como se seu corpo não lhe pertencesse mais.
Os dedos de Diego percorreram lentamente o abdômen de Axel até a barra da calça jeans dele.
Seus dedos trêmulos deslizaram pelo tecido áspero, puxando a peça até que ela caísse ao chão. Quando ergueu os olhos, encontrou Axel completamente exposto, o pau duro repousando contra o abdômen definido, a glande brilhando, denunciando o quanto ele já estava pronto.
— Pode me usar... eu quero! — Diego soltou, a voz embargada de desejo.
Axel arqueou uma sobrancelha, divertido.
— Ah, é? — A voz veio carregada de marra, desafiando. Ele queria ver até onde Diego ia.
Diego sustentou o olhar, os olhos brilhando de excitação.
— Me faz de objeto. Se quiser me faz de puta.
Axel soltou um riso baixo enquanto Diego o encarava de joelhos.
— É isso que tu quer, seu putinho safado? — Axel provocou, segurando os cabelos com firmeza, o olhar afundando no dele.
Diego tremeu sob o toque.
Seus dedos percorreram o abdômen trincado de Axel, sentindo a pele quente, os músculos tensos sob seus toques. Cada centímetro daquele corpo parecia esculpido para o pecado.
O coração dele disparou quando Axel segurou sua nuca com mais força e encostou a glande molhada em seus lábios.
— Chupa essa porra direito. — Axel ordenou, a voz rouca, carregada de luxúria e domínio. — Quero sentir essa boca me engolindo.
Diego abriu os lábios devagar, sua língua passando primeiro pela ponta antes de envolvê-lo completamente, chupando com vontade. O sabor forte e quente se espalhou por sua boca, e ele gemeu baixo, sentindo o peso daquele pau contra sua língua.
Axel cerrou os dentes, os dedos apertando o cabelo de Diego enquanto assumia o controle.
Seus quadris avançavam ritmados, firmes, cada estocada preenchendo sua vara na boca de Diego ainda mais fundo. Ele segurava firme na base, tentando não engasgar, a saliva escorrendo pelo canto dos lábios.
— Isso... bem molhadinho… engole tudo, porra. — A voz de Axel saiu rouca, entrecortada pelo prazer crescente.
Os gemidos abafados de Diego vibravam contra o membro dele, fazendo Axel fechar os olhos por um instante, a boca entreaberta em um suspiro pesado. E então, ele olhou para baixo.
E congelou. Aquela visão.
Diego ajoelhado, entregue, os lábios vermelhos esticados em volta de seu pau, a língua girando contra a glande. Mas o que realmente prendeu a atenção de Axel foi o que estava abaixo disso.
Diego se tocava.
A mão dele envolvia o próprio pau, subindo e descendo num ritmo sincronizado com o que fazia com a boca. A pele brilhava de excitação, a respiração dele acelerada, ofegante.
Axel sentiu um choque percorrer seu corpo.
O tamanho impressionava. A forma como Diego se masturbava enquanto chupava Axel o deixou mais eufórico.
Sua língua passou sutilmente pelos lábios, o tesão crescendo ainda mais. O controle ainda era dele. A posse ainda era dele.
Mas agora, Axel sabia que queria mais. Muito mais.
***
O ar do quarto parecia ter ficado mais denso, a temperatura subindo alguns graus. Diego ofegava, ainda ajoelhado, a boca úmida, os olhos brilhando de submissão e desafio ao mesmo tempo.
Sem pensar, Diego se ergueu num impulso, agarrando Axel pela nuca e puxando-o para um beijo bruto, intenso. Línguas se chocando, dentes se arranhando.
Os corpos se colaram, o atrito entre os paus duros e quentes fez Axel soltar um riso torto contra os lábios de Diego.
— Tá desesperado pra gozar, hein? — Axel sussurrou, mordiscando o lábio inferior de Diego, sentindo o gosto misturado com saliva.
A pele de Diego queimava, o tesão pulsando forte. Sem pensar, ele empurrou Axel para trás, jogando-o na cama.
Montou sobre ele com força, o peso dos corpos se chocando, os membros escorregando um contra o outro, molhados, sedentos. Axel prendeu um gemido na garganta, os olhos semicerrados de puro desejo.
Mas ele não deixaria Diego assumir o controle. Não naquela noite.
Com um movimento rápido, girou o corpo e o jogou de costas.
As costas de Diego afundaram no colchão, e antes que pudesse reagir, Axel já havia prendido seus pulsos contra os lençóis, dominando-o por completo. Seu peso pressionava Diego contra a cama.
O peito de Axel subia e descia ofegante, a boca entreaberta, os olhos cravados nele como um predador que acabava de capturar sua presa.
O sorriso sacana voltou, carregado de malícia.
Axel segurou Diego pelos cabelos. Os olhos cravados nele como quem detém o controle absoluto.
— Me diz, Neto… quer me ver quicando nessa pica até tu gozar? — A respiração de Axel bateu quente, enquanto a ponta da língua roçava a orelha dele.
Diego estremeceu. Seu corpo inteiro reagiu, a respiração entrecortada, o pau latejando e respondendo que sim.
O tapa veio rápido. Estalado. Direto no rosto.
Diego arfou forte, a pele queimando com a mistura insana de dor e prazer. O sangue pulsava nas veias, a cabeça girando com a excitação sufocante.
Axel segurou o queixo dele com força, obrigando-o a encará-lo.
Os olhos dele brilhavam, cruéis, dominantes.
— Pega a visão: se eu disser que vou sentar na tua pica, tu vai escancarar essa porra desse cuzinho e pedir de joelho pra eu te encher de rola, entendeu, caralho?! — A voz de Axel veio baixa, firme, um comando impossível de ser ignorado.
Diego engoliu seco. A garganta travada. Ele mordeu o lábio, os olhos ardendo de necessidade. Mas não respondeu.
Axel não gostou.
Outro tapa. Rápido. Firme. Preciso.
Diego gemeu baixo, a pele ardendo.
— Fala que entendeu, porra! O macho aqui sou eu, sua puta! — Axel rosnou, os dedos afundando nos cabelos dele.
Diego mal conseguia respirar. O desejo era insuportável. A pressão entre suas pernas aumentava tanto que qualquer provocação a mais o faria perder o controle.
— Então mete em mim, caralho! — Diego explodiu, a voz embriagada de tesão.
Axel riu. Um riso sujo. Satisfeito.
Diego virou-se e dobrou os joelhos, oferecendo-se completamente. O corpo inteiro queimando de ansiedade. Axel deslizou os dedos pelas nádegas dele, apertando, marcando, sentindo a pele macia se contorcer sob seu toque.
Mas ele não iria dar a Diego o que ele queria tão fácil.
Outro tapa veio, direto na carne exposta.
Diego arquejou, o corpo inteiro se curvando ao impacto.
O estalo ecoou pelo quarto, e um gemido rouco escapou de sua garganta, involuntário.
Axel lambeu os lábios, os olhos fixos na marca vermelha se espalhando pela pele pálida.
— Aqui quem manda sou eu, porra! Cê entendeu ou quer que eu te faça entender na marra? — Axel sibilou contra o ouvido dele, os dedos apertando com firmeza sua cintura.
Diego arqueou o quadril, instintivamente rebolando contra o pau duro de Axel, implorando sem palavras.
Axel percebeu. A rendição. A entrega completa.
E só então se posicionou.
A glande grossa e lubrificada deslizou entre as nádegas dele, roçando devagar, provocando.
Diego grunhiu, os dedos agarrando com força o lençol. Axel não entrou de uma vez.
Não.
Ele brincou. Deslizou a ponta contra a entrada quente, pressionando de leve, testando a resistência.
Diego gemeu.
— Quer sentir minha pica te arrombando, né? — Axel murmurou, a respiração quente contra a nuca dele, mordendo a pele sensível.
— Sim… mete pra mim… mete agora! — Diego implorou, a voz rouca, carregada de desespero.
Axel sorriu de canto.
E então, empurrou.
Diego arfou, a boca entreaberta num gemido sufocado.
A resistência cedeu aos poucos. O aperto quente envolvendo Axel o fez soltar um suspiro baixo.
— Isso… — Ele fechou os olhos por um instante, saboreando a sensação.
O ritmo começou lento.
Cada centímetro dele sendo absorvido, enterrando-se devagar, sentindo a carne quente se moldar ao redor de sua pica.
O barulho molhado do encaixe ecoava no quarto abafado, misturado aos gemidos baixos de Diego e à respiração pesada de Axel.
Mas ele não iria manter esse ritmo por muito tempo.
Com um movimento bruto, puxou Diego pela cintura e afundou-se inteiro, de uma vez.
Diego arquejou forte, o choque do impacto subindo pela espinha como um choque elétrico.
— Isso… toma essa pica… — Axel sibilou contra o pescoço dele, os dentes cravando na pele antes de morder forte, marcando.
As mãos dele deslizaram pela cintura de Diego, firmando sua pegada, os dedos afundando na carne suada enquanto o ritmo aumentava.
Os estalos das estocadas enchiam o quarto, sujos, rápidos, ritmados.
Diego rebolava contra ele como se estivesse possuído pelo tesão, o corpo inteiro fervendo, os músculos tensos, prontos para explodir.
A voz dele saiu embriagada de prazer, rouca, suja:
— Porra, Axel... enfia esse ferro mais forte, caralho…
Axel grunhiu, o som rouco, primal, dominador.
O pedido de Diego só fez ele ir com mais força.
Ele puxou Diego pelos cabelos, obrigando-o a erguer o rosto.
— Quer mais, porra? Pede direito!
Diego lambeu os próprios lábios, sentindo o gosto do suor misturado com saliva. Ele estava fodido de desejo.
— Me fode direito, porra! Mete com força nesse cu!
Axel riu baixo, um riso sujo, sacana, absoluto.
E então, atendeu ao pedido.
Ficou insano.
Seus quadris batiam contra a bunda de Diego sem piedade, cada investida mais forte que a anterior.
Diego grunhiu, ofegante, o rosto enterrado contra o colchão, a boca aberta num gemido mudo.
Axel não perdoava.
Agarrou as nádegas dele com força, puxando a carne, abrindo-o ainda mais, enfiando cada centímetro como se quisesse tatuar sua presença dentro dele.
PLAP! PLAP! PLAP!
O som sujo do sexo bruto ecoava no quarto abafado. Misturado ao tesão bruto.
À dominação esmagadora que Axel jogava sobre ele. E Diego se entregava completamente.
Mas Diego queria mais.
Queria ver o rosto dele de perto, sentir cada gota de suor escorrendo pela pele quente. Virou-se abruptamente, empurrando Axel para trás.
Axel ergueu uma sobrancelha, desafiador, mas não resistiu. Deixou Diego assumir o controle — por enquanto.
Diego montou nele, os joelhos cravados no colchão, as mãos firmes no peito largo de Axel. A respiração acelerada, o corpo quente e pegajoso, o desejo estampado nos olhos escuros.
Axel segurou forte sua cintura no instante em que Diego se encaixou de novo, afundando até o limite.
— Porra… cê me deixa maluco, Axel… — Diego gemeu, jogando a cabeça para trás, os lábios entreabertos.
O ritmo veio instintivo. Intenso. Diego cavalgava, os músculos retesados pelo esforço, o peito marcado pelo suor. Ele queria dar um show. Queria que Axel visse. Que Axel soubesse.
Axel olhava para ele agora. Observava cada detalhe. O brilho úmido da pele, a forma como Diego arqueava as costas, os gemidos abafados que escapavam a cada rebolada precisa. Mas então, seus olhos baixaram.
O pau de Diego.
Grande. Grosso. Duro e pulsante.
Escorrendo pela ponta, o pré-gozo acumulando na cabeça vermelha. Diego se masturbava sem hesitação, mantendo o ritmo da cavalgada. O suor escorria pelo meio do peito pálido, brilhando sob a luz fraca do quarto.
Axel lambeu os próprios lábios, incapaz de disfarçar.
— Caralho, Neto… — A voz saiu rouca, carregada de desejo.
Diego sorriu de canto, mordendo o próprio lábio, a respiração entrecortada.
— Tá gostando do que tá vendo, né, macho gostoso?
Axel não respondeu com palavras.
Apenas agarrou Diego pela cintura e o virou de novo — de barriga para cima agora.
Sem dar tempo para reação, segurou as pernas dele e jogou nos próprios ombros, dobrando Diego completamente.
O pau duro e melado de Diego pressionava o próprio abdômen, deixando rastros quentes na pele. Axel se posicionou e entrou de uma vez.
Fundo.
Sem aviso.
Sem piedade.
Diego arquejou, um gemido abafado saindo da garganta enquanto sentia Axel se enterrar ainda mais dentro dele.
Axel cravou as unhas nas coxas fortes dele, os músculos tensos sob seu domínio. As estocadas vieram ritmadas, cada vez mais rápidas, cada vez mais intensas.
PLAP! PLAP! PLAP!
O som do encaixe molhado se misturava às respirações pesadas, ao cheiro denso de sexo e suor. Diego se contorcia contra ele, a boca aberta num gemido sufocado.
— Engole minha pica, porra! — Axel rosnou contra sua boca, os dentes cravando no lábio inferior de Diego.
Diego revirou os olhos, sentindo o sangue ferver.
— Vai… me fode, caralho… arromba tudo!
Axel riu baixo. E destruiu.
O ritmo já não desacelerava mais. O colchão rangia sob a brutalidade das estocadas, os corpos colados, o calor se espalhando entre eles como um incêndio.
Axel baixou a cabeça e deslizou a língua pelo peitoral de Diego, sugando um dos mamilos antes de mordê-lo forte.
Diego estremeceu inteiro, um gemido trêmulo escapando de seus lábios. O gosto salgado da pele, o cheiro carregado de luxúria, o calor latejante em cada estocada—tudo estava levando Axel ao limite.
Mas ele queria ver Diego se perder primeiro. Com um sorriso sacana, soltou uma das pernas dele e deixou sua mão escorregar.
— Cê gosta disso, né, putinho? — murmurou contra seu peito, os dentes roçando na pele sensível.
A mão firme envolveu o pau de Diego, os dedos deslizando com força. O ritmo era o mesmo das estocadas.
Diego jogou a cabeça para trás com força, os dedos cravando no colchão.
— Caralho, Axel… assim eu vou…
— Vai o quê? — Axel riu de canto, apertando ainda mais a pegada.
Diego arquejou, o corpo inteiro se contorcendo sob ele.
— Porra… vou gozar…
Axel se inclinou ainda mais, a boca roçando contra a dele, os lábios apenas um sopro de distância.
— Então goza pra mim, caralho. Quero ver essa porra toda sair.
E Diego não conseguiu segurar mais nada.
O orgasmo explodiu nele como um raio, violento, incontrolável. O jato quente sujou seu próprio abdômen, escorreu pelo peito, pela mão de Axel. Diego tremia, o corpo convulsionando com a intensidade do clímax.
E isso foi o suficiente.
As contrações apertando Axel dentro dele fizeram seu controle desmoronar. Axel gemeu baixo, o corpo inteiro tensionado. Afundou-se até o limite e explodiu ali mesmo, fundo, quente, bruto.
A respiração dos dois se misturou no quarto abafado. Os corpos ainda tremiam em espasmos, consumidos pelo prazer.
Por fim, Axel se afastou. Ainda arfava, observando Diego desabado na cama. Mas ele não podia permitir que Diego achasse que tinha controle sobre aquilo. Com um sorriso malicioso, puxou Diego pelo cabelo e sussurrou contra seus lábios:
— Vai dar um jeito nessa porra e volta pronto, que eu ainda vou te foder mais, entendeu?
E então, Axel o empurrou para o chão.
Diego caiu sobre os joelhos, ainda ofegante. Por um momento, Axel achou que tinha ido longe demais.
Mas então, Diego ergueu o rosto.
No chão ainda, ele sorriu. O sorriso de um homem completamente satisfeito.
— É assim que a gente é, Axel. Dois putos safados.
Axel forçou um sorriso.
Mas por dentro? Ninguém sabia.
Foi definitivo. O veneno das serpentes estava consumado.
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PARTE 3
A semana seguinte trouxe mudanças inesperadas e resultados mais rápidos do que Axel imaginava. Diego, cada vez mais imerso no jogo, convenceu Hiroshi a adulterar as drogas vendidas no cabaré para ter um pretexto que justificasse a troca de fornecedor. Hiroshi poderia intervir, mas sabia que, se Diego o culpasse, a informação chegaria até Axel. Ele não se sentia totalmente à vontade com essa situação, mas resolveu deixar Axel livre para ir em frente.
Foi nesse momento que Diego precisou confessar a Axel que era garoto de programa. Para deixar tudo mais intenso, Axel fingiu um certo ciúme e resistência à oferta de Diego. Tudo parte da encenação. E antes que percebesse, Axel havia assumido o papel de fornecedor da casa. Como efeito colateral inevitável, tornou-se amante de Diego.
Os meses passaram. As regras de Hiroshi foram colocadas em prática há tempos, mas o plano estagnou, e Bianca frequentemente o cobrava por resultados. Diego, por sua vez, se tornou um reflexo piorado do que Axel foi para ele – agora, usava a mesma lógica para manipular clientes mais vulneráveis. Marcus, antes seu melhor amigo, se tornou nada. O próprio Diego, em um momento qualquer, revelou que seu primeiro nome, mas Axel já estava acostumado a chamá-lo assim. Justificou que o nome soava melhor na hora do sexo.
Sua relação com Diego era um acordo sem palavras, um ciclo vicioso que se alimentava de promessas silenciosas. A nova dinâmica o mantinha em um estado de alerta constante. De um lado, a excitação de finalmente se aprofundar no submundo que tanto estudara e ficar mais próximo da rotina de Hiroshi. De outro, um crescente nojo — de Diego, do que fazia, de si mesmo. Não era sobre prazer, nunca foi. Era sobre controle.
Ele se sentia sujo. Não como alguém que vendia o próprio corpo, mas como alguém que entregava migalhas de si em troca de domínio. Ele precisava dessa posição. Precisava estar acima.
Mas Diego via tudo de outro jeito.
Para Diego, cada noite com Axel era uma vitória. Uma obsessão concretizada. Ele se jogava na cama de Axel como quem finalmente havia alcançado algo inalcançável. Como se cada toque fosse uma prova de que estava onde sempre quis estar.
Axel, porém, apenas permitia-se ser desejado. Ele aproveitava. Manipulava. Observava. E, acima de tudo, documentava.
Havia vídeos. Muitos. Axel resolveu gravar as sessões secretamente. Cenas que contavam uma história mais real do que qualquer palavra dita entre eles. Entre gemidos e ordens sussurradas, Diego frequentemente falava de Marcus. Não era um desabafo qualquer, mas algo carregado de rancor, de insinuações veladas. O nome do irmão de Matheus escapava dos lábios de Diego com um veneno que Axel reconhecia bem — o tipo de veneno de quem queria destruir alguém.
Axel escutava tudo. Às vezes, os xingamentos eram combustível para o sexo. Cada palavra dita era armazenada, gravada.
Mas essas gravações eram um segredo pertencente somente a Axel. Por um momento, ele cogitou confidenciar a Matheus. Mas Matheus era… complicado. Um amante eventual. Alguém que orbitava Axel sem nunca realmente alcançá-lo. E Axel não queria abrir mais feridas.
Pelo menos, não antes da hora certa.
Ele nunca mencionou nada a Hiroshi ou Davi. Primeiro, precisava entender onde Hiroshi se encaixava nesse jogo. Se Diego era apenas uma peça descartável ou se ainda servia a um propósito maior.
Pelo menos, era o que Axel dizia a si mesmo.
Mas o tempo provou outra coisa. O tempo revelou um Axel que ele não queria admitir.
O sexo antes mecânico começou a despertar outra coisa dentro dele. No início, ele fazia por controle. Para mantê-lo no lugar, para ter Diego onde queria. Mas em algum momento entre os lençóis revirados e os gemidos abafados contra o travesseiro, Axel percebeu algo que o fez estremecer.
Ele estava gostando.
Sentia um prazer sujo, um desejo que nunca havia planejado sentir. Algo que não era só físico, mas psicológico.
E ele começou a mentir.
Para Hiroshi, dizia que mal transava com Diego. Fazia parecer casual, algo sem importância. Mas, na realidade, as noites eram intensas. Sujas. Tomadas por ordens, domínio e um jogo perigoso de poder. Axel começou a se perder no próprio plano.
Mas a grande pergunta era:
Axel manipulava Diego… ou Diego estava manipulando Axel? Ele precisava de uma prova. Algo concreto. Algo que ele pudesse controlar. Foi assim que surgiram as gravações.
No final das contas, será que Diego estava apenas tentando se tornar Axel… Ou Axel estava, sem perceber, se tornando um pouco de Diego?
Era tão difícil distinguir os dois. Como se fosse a pergunta tradicional: quem veio primeiro? O ovo ou a galinha? Os venenos dos dois estavam tão parecidos.
***
O quarto estava escuro, mas o pensamento de Axel era um labirinto de luzes vermelhas e sombras. Ele sentia a pele quente, os músculos relaxados, mas algo ainda pulsava dentro dele. Um incômodo. Uma inquietação. Algo que nem todo o sexo do mundo podia resolver.
Virou-se na cama, pegou o celular, desbloqueou a tela e rolou a galeria sem saber o que procurava. Então, parou. Léo. O brilho da tela projetava a imagem no escuro do quarto. O sorriso safado, os olhos cheios de vida, aquele ar de quem não se leva a sério, mas que é impossível ignorar. Axel sentiu um aperto no peito. Há quanto tempo não se falavam? Dois anos, talvez. Mas, porra… ele ainda lembrava de cada detalhe. O cheiro. O gosto não provado. A voz. E, mais que tudo, o que ele quase teve.
Aquele dia… Léo nu na frente dele.
“Apaga a luz”. Parafraseou Léo em sua mente
Axel passou a língua pelos lábios. O corpo já tinha respondido antes da mente. A cueca já estava desconfortável. O pau, duro. Tão duro que doía. Com Léo, ele queria fazer coisas que nunca quis com ninguém. Queria chupar. Sentir o gosto dele. Fazer o moleque se contorcer na cama. Talvez… talvez até deixar Léo o foder. Axel nunca cogitou isso antes. Nunca sentiu necessidade. Mas com Léo… ele sabia que se Léo pedisse, ele daria.
A ideia fez seu pau pulsar ainda mais forte. A mão já estava ali, apertando, começando um ritmo lento, pesado. Fechou os olhos. Se permitiu imaginar. A boca de Léo no pau dele. Axel gemeu baixo, ofegante.
Mas então… a imagem mudou. E não era mais Léo. Era Diego. Diego de joelhos. Diego arquejando. Diego implorando. Axel sentiu um frio subir pela espinha. A mão parou no mesmo instante. Abriu os olhos, irritado. Frustrado. Que porra estava acontecendo com ele?
Virou-se na cama, jogando o celular de lado. Respirou fundo. E então, como um pensamento solto, que escapou sem aviso… “O que Leleco está fazendo agora?” Axel franziu a testa. Ele não sabia.
***
Nessa noite inquietante, Axel não sabia de duas coisas importantes.
A primeira era que, em poucos meses, ele, Davi e Hiroshi estariam dentro do mesmo objetivo. Axel e Davi encontrariam a motivação que os levaria a se tornarem garotos de programa, arquitetando um plano para isso acontecer. Um plano que culminaria no dia em que Hiroshi faria Felipe ser enganado e, no mesmo dia, mais cedo, Marcus descobriria sobre a farsa do “hétero ativo” na casa, escutando tudo pela porta do apartamento de Axel.
A segunda era que seus devaneios sobre Léo estavam se tornando perigosos de um jeito que ele nem imaginava. Porque, naquele momento, Léo já não era mais o mesmo garoto daquela noite de dois anos atrás, jamais seria o Leleco. Ele tinha mudado. Os traços no rosto, no corpo e a forma como encarava o mundo.
E, acima de tudo, um novo habito e um novo amigo.
O skate e Caio.
Mas isso era algo que Axel só descobriria depois...
Depois dos eventos que já estavam em movimento, longe dali.
Depois do que estava acontecendo com Léo, em outra cidade.
.
Por R. Rômulo (Novatinho)
***
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