O sol estava nascendo quando saí da padaria, segurando um saquinho de pão quente e um copo de café para viagem. Depois de uma madrugada intensa no posto, tudo o que eu queria era tomar um banho e apagar na cama por algumas boas horas. As ruas ainda estavam vazias, e o silêncio da manhã era quebrado apenas por alguns passarinhos e o ronco distante de um motor.
Foi quando o som ficou mais próximo. Uma moto se aproximou e parou do meu lado. Meu coração disparou na mesma hora. O cara estava de capacete, a moto preta e grande parecia coisa de filme de ação.
"Merda, vou ser assaltado."
Segurei o saquinho de pão como se fosse um escudo e me preparei para o pior. O homem ergueu as mãos em um gesto de paz e tirou o capacete, revelando um sorriso. Ele era forte, com um cavanhaque bem aparado e uma regata que deixava suas tatuagens à mostra. A tribal no braço chamava a atenção, mas o jeito descontraído dele acabou me desarmando.
— Calma aí, rapaz. Não tô aqui pra te roubar. — ele disse, rindo. — Meu nome é Murilo, sou seu vizinho.
Olhei para ele, ainda meio desconfiado.
— Tá... E o que você quer comigo às sete da manhã?
Murilo apontou para o logo na minha camisa do uniforme do posto.
— Vi que você trabalha no posto aqui perto. Achei que talvez conseguisse uns descontos ou coisa assim.
Soltei o ar que nem percebi que estava prendendo e relaxei um pouco.
— Ah, só isso? — ri, ainda um pouco nervoso. — Não sei se consigo descontos, mas se passar lá de madrugada, é mais fácil negociar.
Ele sorriu de lado, me agradeceu e recolocou o capacete.
— Valeu, parceiro. Bom descanso.
Segui meu caminho para casa, ainda com a adrenalina no corpo. Depois daquele susto, dormir parecia uma tarefa distante.
Naquela semana, decidi começar a academia. Lucas tinha falado tanto sobre o lugar que acabei me rendendo. Queria ganhar mais massa muscular, e a ideia de fazer algo diferente parecia boa. A academia ficava a algumas quadras da minha casa, o que era conveniente.
Quando cheguei, quase tropecei ao dar de cara com Murilo novamente. Ele estava de regata outra vez, agora com shorts esportivos, o que deixava suas pernas musculosas à mostra. Ele sorriu ao me ver e brincou:
— Calma aí, Joel. Não vou te assaltar de novo.
Ri sem jeito.
— Parece que você tá em todo lugar, hein?
Ele me conduziu até o balcão para fazer o cadastro. Enquanto preenchia meus dados, Murilo perguntou:
— E aí, qual é o objetivo? Definir? Ganhar massa?
— Massa. — respondi, cruzando os braços. — Meu corpo é todo natural, aliás.
Para provar, peguei a mão dele e passei pelo meu abdômen, ombros e peitoral. Murilo engoliu em seco, claramente surpreso. Seus olhos se fixaram nos meus, e eu percebi a faísca ali.
Sorrindo, soltei a mão dele e garanti:
— Relaxa, eu sou super discreto. Tá tudo bem.
Murilo riu, desviando o olhar e tentando disfarçar a tensão no ar.
— Beleza, vamos começar com um treino básico.
Eu sabia que aquilo ia ser interessante. Talvez até mais do que eu tinha imaginado.
Murilo terminou o cadastro e me levou direto para a área dos aparelhos. Ele parecia animado com a ideia de me transformar em seu aluno.
— Beleza, Joel, vamos começar com um aquecimento básico na esteira. Dez minutos. — disse ele, ajustando o equipamento.
Enquanto corria, percebia Murilo me observando, analisando cada movimento. Seu olhar era quase palpável, e confesso que aquilo me dava um certo prazer. Depois do aquecimento, ele me guiou para os exercícios principais.
Primeiro, fomos para o supino. Ele ajustou a barra e, enquanto eu fazia o movimento, Murilo ficava por perto, supervisionando e, claro, aproveitando.
— Ótimo trabalho, Joel. — disse ele, posicionando as mãos na minha cintura para corrigir o alinhamento. — Só mais duas repetições.
Depois veio a rosca direta no halter. Enquanto eu levantava os pesos, Murilo se inclinava um pouco demais, dando-me uma visão clara de suas tatuagens que subiam pelos ombros.
— Segura firme, Joel. Isso, assim tá perfeito.
O treino seguiu com agachamentos, onde Murilo ficou atrás de mim, segurando meus ombros para ajustar a postura. Sua proximidade era quase desconcertante, mas, ao mesmo tempo, extremamente excitante. No final, terminamos com abdominal.
— Vamos, Joel, mais uma série. Quero ver essa barriga de tanquinho em breve.
Eu adorava a forma como ele se aproximava, sempre encontrando uma desculpa para tocar ou ajustar algo. Não era apenas um treino; era um jogo de tensão que me deixava ansioso pelo próximo encontro.
No fim, estávamos suados. Murilo pegou uma toalha e secou o rosto enquanto eu recuperava o fôlego.
— Tá melhor do que esperava, Joel. Seu corpo já é naturalmente bonito. Com um pouco de esforço, você vai ficar ainda melhor.
Ele me entregou uma lista de suplementos e uma dieta que, segundo ele, era infalível.
— Frango, batata, ovo. Repetir até ganhar massa. E toma cuidado com o excesso de açúcar e gordura.
— Sim, senhor. — respondi, rindo.
Quando cheguei ao posto, vi Paloma entrando em um caminhão. Reconheci o motorista de longe. Era um homem negro, alto, com um sorriso marcante e uma presença que dominava o espaço. Lucas, ao meu lado, suspirou alto.
— Que merda. Esse cara paga muito bem.
— É só você ser passivo, Lucas. — aproveitei para alfinetar. — Resolve o problema.
— Você acha que é fácil? — ele perguntou fazendo uma careta. — Dói pra cacete, e ainda tem que ficar se limpando antes. Não é pra qualquer um, Joel.
— Relaxa, tô só zoando. — rindo, dei um tapa leve no ombro dele.
— E aí, como foi a academia? — Lucas mudou de assunto, curioso.
Mostrei a lista que Murilo havia me dado. Lucas a analisou e deu de ombros.
— Ah, isso é padrão. — ele comentou. — Frango, batata, suplementos... Normal. — flexionando o braço, mostrando os músculos bem definidos. — Isso aqui é resultado de muita dedicação, meu amigo. Mas você já tá na frente. Seu corpo é natural e bonito. Não vai ter muito trabalho. — Lucas piscou para mim com um sorriso maroto, e eu revirei os olhos.
— Valeu pelo incentivo, coach.
Paloma voltou saltitante, segurando algumas notas nas mãos e com um sorriso que iluminava a noite.
— Essa foi boa, Joel. O cara além de gostoso ainda paga como se fosse um príncipe. — comentou ela, piscando para mim.
— Que bom pra você. — respondi, meio distraído enquanto organizava algumas notas de combustível.
Não demorou muito para o próximo cliente de Lucas aparecer. Era um homem com aparência de empresário, bem vestido e com uma postura confiante. Ele deu uma olhada em Lucas e pediu, quase sem disfarçar.
— Tem como usar o banheiro dos fundos?
Lucas lançou um olhar rápido para mim e para Paloma, como se pedisse que cobrissem seu turno, e seguiu com o cliente para a área reservada.
— Hora do show. — sussurrou Lucas, com um sorriso malicioso, antes de desaparecer atrás do homem.
Enquanto eu voltava ao meu trabalho, Julia, a moça da loja de conveniência, apareceu com uma expressão de cansaço.
— Joel, você pode me dar uma mão aqui? Tem umas caixas pesadas pra jogar fora. São itens que estragaram na loja de conveniência.
Eu até quis dizer não, mas o olhar exausto dela me convenceu.
— Tá, tá. Vamos lá.
Peguei as caixas e a segui até a área do lixeiro, que ficava atrás dos banheiros. O silêncio da noite foi quebrado por um som estranho. Parei, tentando identificar o que era. Então ouvi claramente: gemidos.
Os sons vinham de dentro do banheiro. Era o cliente de Lucas, e ele não estava sendo nem um pouco discreto. O cara urrava de prazer, soltando elogios exagerados enquanto Lucas o provocava com sua voz firme.
— É isso, gostoso. Vai, mostra tudo que você tem.
Minha curiosidade foi mais forte do que a razão. Olhei em volta e encontrei uma caixa de madeira. Subi nela para alcançar o basculante que ficava na parte superior da parede do banheiro.
O que vi foi... intenso. O cliente estava totalmente entregue, com Lucas conduzindo a situação como se fosse um especialista. Era algo fascinante e um pouco perturbador ao mesmo tempo.
Lucas metia sem dó no homem. Em uma das metidas, ele tirou o pau para fora e fiquei pasmo com o tamanho daquele mastro. Como alguém tão pequeno tem um pau tão grande? Caralho. Através do espelho do banheiro, o meu colega me viu. Ele virou o rosto na minha direção riu e jogou um beijo, enquanto metia no cara.
Desci da caixa rapidamente, tentando processar a cena que acabara de testemunhar. Julia, que estava ocupada despejando as caixas no lixo, não percebeu nada. Eu voltei a ajudá-la, mas minha mente ficou presa naquele momento. Quando Lucas saiu do banheiro, com o cliente logo atrás, ele me deu uma piscadela e um sorriso convencido.
— Teve show bom hoje, hein? — Lucas provocou, sem me segurar.
— Cala boca, idiota! — respondi.
— O público sempre sai satisfeito. — Lucas apenas riu e deu de ombros.
Era madrugada quando um caminhão encostou no posto. O motor roncou alto antes de ser desligado, e de dentro saiu um homem que parecia ter saído direto de uma propaganda de moda. Ele era loiro, com cabelos curtos e bem arrumados, que refletiam a luz dos postes como ouro pálido. Seus olhos eram de um azul intenso, quase hipnóticos, e a barba bem aparada acentuava sua mandíbula forte. O corpo era uma obra-prima — musculoso, com braços que pareciam esculpidos, cobertos por uma camisa justa que deixava adivinhar o contorno de um peito definido. Ele tinha uma postura confiante, um ar de homem que sabia exatamente quem era.
Ele caminhou até o banheiro com uma toalha pendurada no ombro, claramente indo apenas para tomar banho. Quando voltou, fresco e perfumado, ele olhou direto para mim e fez um sinal discreto com a cabeça, chamando-me para perto.
— Ei, garoto. — disse, com uma voz grave e firme. — Me encontra lá no meu caminhão, pode ser?
O coração deu um salto no peito. Era a primeira vez que eu atenderia alguém dentro de um caminhão. Pedi cobertura aos meus colegas e segui em direção ao veículo, que estava estacionado na área mais escura do pátio. O caminhão era azul, reluzente mesmo àquela hora da noite, com detalhes cromados impecáveis. Parecia transportar telhas de alumínio, pelo que vi na carroceria.
Ele já estava dentro quando abriu a porta para mim. Subi os degraus de ferro, segurando firme nas alças, até alcançar a boleia. Lá dentro, o espaço era maior do que eu esperava, organizado e com o cheiro inconfundível de pasta de dente de menta e sabonete fresco.
— Então, você veio. — disse ele, com um sorriso que exalava charme. Antes que eu pudesse responder, ele me puxou para mais perto, suas mãos firmes encontrando minha cintura.
Começamos a nos beijar. Os lábios dele eram quentes e firmes, com um sabor suave de menta que fazia meu coração disparar ainda mais. Ele me pressionou contra o pequeno sofá da boleia, suas mãos deslizando com firmeza, explorando meu corpo com uma intensidade que misturava desejo e controle.
— Você gosta de preliminares? — perguntou ele, a voz quase um sussurro rouco ao pé do meu ouvido.
— Adoro. — respondi, com um sorriso provocador.
Ele desceu os lábios pelo meu pescoço, seus dedos habilidosos deslizando pela minha camiseta e a levantando lentamente. A sensação do toque dele na minha pele era elétrica, cada movimento meticulosamente calculado para provocar. Eu sentia o calor do corpo dele contra o meu, e o cheiro fresco de sabonete misturado com sua essência natural criava um contraste viciante.
Suas mãos exploravam meu abdômen, enquanto ele deslizava a boca pelos meus ombros. Quando seus lábios encontraram meu peito, um arrepio percorreu minha espinha. Ele era meticuloso, como se quisesse memorizar cada detalhe, cada reação.
De uma maneira sexy, o caminhoneiro tirou a minha roupa e beijou cada parte do meu corpo, inclusive, o meu pau. São poucos os clientes que fazem esse tipo de investida. Eu parecia estar flutuando de tão confortável que estava.
Porém, a minha espinha dorsal travou quando o homem mostrou um dildo enorme. Sem muita cerimônia, ele passou lubrificante no objeto e penetrou em mim. Sério, eu nunca fiquei tão assustado na vida.
— Calma. — pedi, gemendo e tentando segurar a sua mão.
— Eu vou com calma, bebê. Não se preocupa, o Geraldo só tem 30 cm. — ele explicou.
— Geraldo? — questionei.
— Sim, o meu amigo aqui. — então, entendi que ele se referia ao dildo.
— Tá, mas o Geraldo pode ir com calma, viu. Eu não sou arrombado não...
— Ainda não, mas vai ser essa noite. — ele se limitou a dizer, antes de socar o dildo mais fundo dentro de mim.
Gritei de dor, mas o homem não parava. E não queria fazer escândalo para não ser demitido. Agarrei as minhas mãos no cobertor da cama e fechei os olhos.
— Isso. Não adianta lutar, bebê. Tá quase na metade.
— Para, por favor. — implorei.
O homem iniciou um vai-e-vem lento, mas gradual. Eu nem acreditava que havia um dildo de 30 cm dentro de mim. Estava na posição de frango assado e pude ver a feição do homem ao me penetrar com o consolo.
— Preciso lubrificar mais. — ele tirou tudo de uma vez e eu gritei. Em seguida, passou mais lubrificante, dessa vez, em todo o dildo. — Agora vai mais fácil. Fica de quatro. — eu obedeci.
Apenas segurei no cobertor e respirei fundo. O dildo parecia me rasgar por dentro, aparentemente, eu não havia melado o objeto, ou seja, a chuca funcionou bem. Porém, a dor continuava a me incomodar. Eu estava suado e ofegante, entregue ao homem que estava me, literalmente, fodendo.
— Pronto. Foi tudo. — anunciou dando uma risada de prazer. — Caralho, moreno. Eu sabia que você conseguiria.
— Eu, eu preciso voltar para o meu turno e...
O homem começou a enfiar de maneira frenética e me tirou outro grito, mas consegui colocar a mão na boca. Aos poucos, a dor começou a se tranformar em prazer. Eu senti o consolo alcançando lugares que nunca imagine alcançar dentro do meu cú.
Aproveitei a sensação boa para me masturbar. Mais uma vez, o cliente não se fez de rogado e aumentou a velocidade. Com a mão livre, ele se masturbava e percebi que ver a minha dor o excitava.
— Filho da puta! — gritei. — Vou gozar!
— Eu também, bebê! — ele disse, antes de explodir em um jato de porra, que caiu em cima de mim.
— Caralho. — falei ao gozar.
O homem puxou o consolo de uma vez só. Dei um outro grito e torci para que ninguém tivesse escutado. Parecia que tinha saído um órgão meu. As minhas pernas estavam trêmulas e o coração acelerado. O meu cú começou a fazer um barulho estranho, talvez sejam as pregas voltando para o lugar.
— Você arrasou, gatinho. — ele me deu uma nota de R$ 200. Era a primeira vez que eu via uma daquelas.
Após o encontro, eu vesti as roupas com pressa. Peguei o dinheiro e enfiei no bolso, tentando não olhar muito para trás. Quando cheguei ao banheiro do posto, a luz fluorescente tremeluzente me deixou ainda mais nervoso.
Lá, abri o zíper da calça para dar uma conferida e... droga. Havia sangue na cueca. Peguei um pedaço de papel higiênico, passei rápido, e o vermelho ali me deixou com o coração acelerado. Não era muito, mas era suficiente para me preocupar.
Tentei não entrar em pânico. Talvez fosse só algo menor, normal, mas a paranoia bateu. Limpei o melhor que pude, ajeitei as roupas e voltei para o balcão, fingindo que estava tudo bem.
No dia seguinte, mesmo com vergonha, criei coragem e fui ao posto de saúde. A sala de espera estava cheia, mas quando o médico finalmente me chamou, fiquei mais nervoso do que nunca.
— O que te traz aqui hoje? — ele perguntou, com um tom profissional e tranquilo.
Engoli em seco antes de responder.
— Bem... aconteceu uma coisa ontem. Depois de, sabe, uma relação, percebi que... — fiz um gesto vago com as mãos —... tinha sangue.
Ele não pareceu nem um pouco surpreso, o que me deixou um pouco mais à vontade.
— Isso pode acontecer, especialmente dependendo da intensidade ou de falta de lubrificação. Vou fazer algumas perguntas, tudo bem?
Concordei, e ele me perguntou sobre minha rotina sexual, se eu usava preservativo, se tinha parceiros fixos ou variados. A parte mais constrangedora foi respondida com honestidade.
— Bom, pela sua descrição, parece ser algo simples. Mas vou te examinar só para garantir que está tudo bem.
Depois de alguns minutos, ele concluiu que não havia nada grave. Apenas uma pequena fissura que deveria cicatrizar sozinha com o tempo.
— E outra coisa, Joel. — ele disse, enquanto anotava algo no prontuário. — Vou aproveitar para te recomendar o PrEP. Já ouviu falar?
— Não. — respondi me sentindo a pessoa mais burra do mundo.
— Calma. Eles são medicamentos que impedem que o HIV se estabeleça e se espalhe pelo corpo.
— Entendi, mas devo continuar usando preservativo, certo? — perguntei.
— Isso mesmo. O preservativo é primordial. — ele respondeu. — Vou te encaminhar para pegar o medicamento aqui mesmo. A equipe de enfermagem vai te explicar como tomar. Não se preocupe.
Saí do consultório aliviado e, ao mesmo tempo, pensando em como minha vida tinha mudado tanto em tão pouco tempo. Enquanto segurava o papel com a receita para o PrEP, decidi que, por mais bagunçada que minha vida fosse, cuidar de mim era algo que eu não podia deixar de lado.