“Amo-me a mim próprio demasiado para poder odiar seja o que for. - Jean-Jacques Rousseau”
O som da música pop preenchia o quarto de Isabela enquanto ela se preparava para mais um dia de escola. O espelho refletia sua imagem perfeita: cabelos lisos e brilhantes, um toque de maquiagem realçando seus olhos castanhos profundos, e o uniforme ajustado de forma impecável. Ela observava cada detalhe com um olhar crítico, buscando sempre a perfeição. Mas por trás daquela fachada intocável, Isabela escondia segredos que nem suas amigas mais próximas conheciam.
A vida de Isabela parecia um desfile de glamour e controle, mas nos momentos de silêncio, quando as luzes apagavam e ela ficava sozinha com seus pensamentos, a verdade era bem diferente. Sentada na beira da cama, ela olhou para uma pequena foto escondida dentro do seu diário. Era de uma viagem à praia com seus pais quando era mais nova. Na imagem, um sorriso sincero iluminava seu rosto, muito antes das máscaras que agora usava.
Marjorie: Isabela! O café está pronto!
A voz de sua mãe ecoou pela casa, tirando-a de seus pensamentos.
Isabella: Já estou descendo! - respondeu, guardando rapidamente a foto.
Desceu as escadas com a mesma elegância de sempre, encontrando seus pais na mesa. A conversa girava em torno de negócios e eventos, como de costume. Eles raramente perguntavam sobre seus sentimentos ou desejos mais profundos.
Fausto: Isabela, você pensou sobre a proposta da universidade? Aquele curso de administração seria perfeito para você. - seu pai disse, ajustando os óculos enquanto revisava alguns papéis.
Isabella: Sim, pai. Ainda estou considerando minhas opções - respondeu mecanicamente, embora soubesse que eles já tinham suas expectativas para ela.
Na escola, Isabela se movia pelos corredores com a confiança de alguém que tinha o mundo sob seus pés. Larissa, Bianca e Marina a acompanhavam, como sempre. Elas eram uma extensão de sua imagem pública, ajudando a manter a fachada perfeita que Isabela cultivava. Mas dentro de si, ela sentia uma crescente pressão.
Nos últimos meses, algo começou a mudar. Isabela começará a perceber olhares diferentes sobre ela, olhares que antes não eram notados. Quando seus amigos falavam sobre relacionamentos e paixões, Isabela sentia um nó na garganta. Ela sentia atração por alguns garotos, mas também havia momentos em que sua mente vagava para outras possibilidades—possibilidades que ela não estava pronta para enfrentar.
O simples pensamento de gostar de uma garota a aterrorizava. A ideia parecia tão distante da imagem que ela projetava para o mundo. Ela, que era a líder do grupo mais popular da escola, que sempre teve uma imagem impecável, que sempre fez tudo conforme esperado, agora estava confrontando algo que não sabia como lidar.
No fim de semana, Isabela foi com suas amigas para uma festa. Era o tipo de evento que ela já sabia de cor: música alta, luzes piscando, pessoas dançando. Mas, à medida que a noite avançava, algo se destacava de forma inesperada. Uma garota que ela mal conhecia, estava na pista de dança, com uma energia contagiante. Isabela a observava de longe, com uma sensação de admiração misturada com algo mais—aquela atração inexplicável.
Quando os olhares se cruzaram com os de Isabela, ela desviou rapidamente, um calor subindo em suas bochechas. O que estava acontecendo com ela? Por que se sentia tão desconfortável com uma sensação tão nova e intensa?
Ela se afastou da pista de dança e se refugiou no jardim, onde o som da música ficava mais suave. O vento leve tocava seu rosto, e ela fechou os olhos por um momento, tentando se acalmar. Mas as perguntas continuavam a martelar em sua mente: "Será que estou realmente sentindo isso?" "Por que isso me incomoda tanto?"
À medida que as semanas passavam, Isabela tentava se concentrar em sua vida escolar e social, afastando-se dessas dúvidas. Mas sempre que via qualquer outra garota que despertava nela essa sensação confusa, o nó na sua garganta ficava mais apertado. Ela não sabia como lidar com aquilo, e muito menos sabia como contar aos outros, especialmente aos seus pais, que tinham uma visão clara de como ela deveria ser.
Em uma noite de solidão, ela se viu buscando na internet histórias de pessoas que passavam por algo semelhante. Mas, ao ler as palavras de autodescobrimento e aceitação, ela sentiu uma mistura de conforto e pavor. A parte dela que ansiava pela liberdade de ser quem realmente era começava a se fazer ouvir, mas o medo de perder a perfeição que construiu, de desiludir aqueles ao seu redor, a impedia de dar o próximo passo.
"Eu preciso de tempo", pensou, olhando novamente para o espelho. Ela queria ser forte, continuar sendo a pessoa que todos admiravam. Mas, por dentro, estava começando a questionar se poderia ser algo mais—alguém que nunca ousou ser antes. E em seus devaneios aqueles olhos verdes se faziam presentes.