<<<<Fabi>>>>
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Eu fiquei boba quando minha mãe me contou tudo que Gabi tinha resolvido enquanto eu dormia. Eu não teria pensado em algo melhor. Fiquei muito feliz em saber da ajuda do Mathias e que o meus funcionários fixos estavam dispostos a ajudar. As coisas pareciam começar a dar certo. Porém eu ainda tinha uma dívida enorme para pagar e eu não sabia como. No momento, a minha única opção era tentar renegociar essa dívida. Eu ainda não sabia se eu iria recuperar meu café que foi roubado e se eu recuperasse, quando eu teria ele de volta.
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Durante o almoço Gabi me deu uma ótima notícia. Se José Roberto fizesse o que falou eu teria um ponto de partida. Talvez não desse para eu pagar a dívida toda, mas daria para eu pagar um pouco e tentar renegociar o restante. E quem sabe ter condições de manter a fazenda até a próxima colheita. Não ia ser fácil, mas eu iria tentar pelo menos. Eu ainda tinha outras coisas para resolver e depois do almoço fui resolver uma delas. Dar meu depoimento.
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Eu tinha que ir até a cidade e mesmo já com a minha caminhonete comigo, eu resolvi ir com Gabi de moto. Apesar de ter gostado de andar com ela, eu ainda tinha um pouco de medo. Então eu passava os braços ao redor da sua cintura e grudava meu corpo no dela. Não demorou muito e estávamos na porta da delegacia. Gabi ficou me esperando e eu fui falar com o delegado. Infelizmente ou felizmente tive um encontro chato no corredor. A esposa do Carlos estava lá com a filha do casal. Quando me aproximei ela veio até mim e me pediu desculpas pelo que o marido tinha feito. Jurou que não sabia de nada e disse que ia fazer ele me devolver cada centavo do dinheiro que ele recebeu pelo roubo. Se por um acaso ele não devolvesse iria se separar dele. Ela estava com os olhos cheios de lágrimas e notei que a filha deles também tinha chorado. Eu dei um abraço nela e disse que o que ele fez não era culpa dela. Que ela e a filha podiam ficar tranquilas que sempre seriam bem-vindas na minha casa. E que não era para ela se preocupar com o dinheiro no momento. Era melhor esperar a justiça resolver isso. Ela me agradeceu e se desculpou de novo. Fiquei com pena delas. Eu as conheci bem, eram boas pessoas. Carlos também sempre pareceu ser um homem de bem, mas pelo jeito me enganei feio com ele.
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Quando cheguei na porta da sala do delegado, Marcelo me viu e fez sinal para eu entrar. Tinha um homem conversando com o delegado. Marcelo disse que era o advogado do José Roberto. Assim que me aproximei eles pararam de falar e o delegado pediu para eu me sentar ao lado do advogado. O delegado me passou o que Gabi tinha me contado. O advogado disse que o cliente dele precisava de uma conta minha ou da fazenda para fazer os pagamentos se eu aceitasse receber o dinheiro que eles tinham estipulado. O delegado disse que pelo depoimento dos outros envolvidos e pelo café encontrado no galpão as contas batiam. Eu disse que eu aceitava sim o dinheiro, mas que eu queria todo o dinheiro do café que foi roubado da minha fazenda. E não só isso, eu também queria o dinheiro que gastei para recuperar o solo da fazenda. Algo que foi inventado como parte do plano para seu cliente adquirir minha fazenda. Se ele fizesse isso eu deixaria o café com ele e até testemunharia a favor do cliente dele na frente do juiz. O dinheiro que fosse recuperado com os outros seria para reparar os demais prejuízos como o uso dos caminhões da fazenda, petróleo e tudo mais. Mas se ele não quisesse eu poderia entrar com um processo por dados físicos e morais contra o cliente dele para tentar receber uma indenização para cobrir os prejuízos.
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O delegado sorriu e disse que era bem justo o cliente dele pagar por todos os prejuízos que me deu e que meu testemunho mostrando o arrependimento dele e sua colaboração com a justiça seria de grande ajuda. O advogado disse que precisava consultar seu cliente e depois daria a resposta. O delegado pediu Marcelo para acompanhar o advogado até a cela. Eu chamei Marcelo e pedi para ele avisar Gabi que eu iria demorar um pouco mais do que pensei. Marcelo arregalou os olhos. Eu sorri e disse que a gente tinha se acertado e estava tudo bem. Ele abriu um sorriso. Quando saíram o delegado disse que com certeza o José Roberto iria aceitar. Primeiro porque ele era muito rico e estava desesperado para sair dali e responder o processo em liberdade. E segundo que meu testemunho poderia ajudar muito ele a pagar a sua sentença sem ser em regime fechado.
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O delegado chamou um escrivão e colheu meu depoimento. Depois disse que já tinha o caso totalmente esclarecido. Que todos os envolvidos já tinham dado seus depoimentos e esses depoimentos batiam, a não ser por dois dos que trabalhavam na minha fazenda que disseram não saber de nada. Que só fizeram o que o encarregado mandou, mas seus próprios parceiros desmentiram eles nos seus depoimentos. José Roberto no primeiro depoimento negou ser parte de qualquer plano e dizia só ter errado em comprar o café mesmo sabendo que era de origem duvidosa. Mas depois pediu para dar outro depoimento e contou a mesma história que Sebastião e Carlos. O delegado falou que provavelmente ele foi instruído pelo seu advogado a fazer isso depois que o advogado soube das provas e sobre o depoimento dos outros dois. Mudar o depoimento aqui é melhor que depois que o inquérito estivesse na mão do ministério público.
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Eu estava curiosa para saber como tudo aconteceu. O delegado disse que podia dar uma resumida para mim, ou eu poderia arrumar um advogado para tentar ter acesso aos depoimentos. Eu preferi saber da boca dele, estava muito curiosa e era melhor a história resumida. Ele começou a contar mas nem terminou a primeira frase e foi interrompido por Marcelo e o advogado que voltaram com uma boa notícia para mim. José Roberto concordou em pagar tudo. Ele só precisava da minha conta para fazer os depósitos. Mas pediu para dividir os depósitos em 4 vezes. Uma vez por semana. Eu disse que por mim estava tudo bem. Eu só passei o número da minha conta, não registramos nada já que Marcelo e o Delegado eram ótimas testemunhas. Os depósitos bancários seriam anexados ao processo. Eu falei para o advogado que podia dar meu nome como testemunha de defesa, que eu iria cumprir minha parte.
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Logo depois ele saiu. Marcelo perguntou se a gente precisava de algo. O delegado disse que só de uns minutos de paz e sorriu. Marcelo entendeu, deu um sorriso e saiu. O delegado voltou ao início.
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Delegado: Como eu estava dizendo antes, esse plano começou a algum tempo atrás. José Roberto queria sua fazenda a qualquer custo porque é a melhor da região. Quando Carlos comentou que Mathias iria deixar o cargo no final da safra daquele ano, José Roberto teve a ideia de colocar um homem da sua confiança dentro da sua fazenda para colher informações. Ele comentou esse assunto com Tião que era seu encarregado e de sua inteira confiança. Os dois foram trocando ideias até bolar o plano de pôr o Tião lá dentro, mas não só para colher informações.
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A ideia era fazer você contrair uma grande dívida para ter que vender a fazenda. Mas para por ele lá dentro eles precisam de ajuda. Aí que entra o Carlos. Ele era seu agrônomo de confiança a muito tempo e com certeza com a indicação dele Tião conseguiria entrar. Carlos era agrônomo do José Roberto e também amigo pessoal do Tião. E tinha um problema, o vício no jogo, Tião sabia disso e sabia das suas dívidas. Não foi difícil convencer ele a ajudar a pôr o Tião lá dentro. No início era só isso que ele iria fazer em troca de uma boa grana. Porém com o tempo ele precisou de mais dinheiro e mais porque seu vício sempre deixava ele com dívidas. Logo ele já estava no esquema e totalmente de acordo com tudo.
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No início Tião não fez nada de errado porque ainda não tinha a ajuda de Carlos e nem a confiança necessária. Com o passar do tempo ele foi ganhando a confiança de todos, inclusive a sua e já tinha a ajuda de Carlos. Ele foi colocando os homens da sua confiança em lugares estratégicos. Homens esses que ele mesmo contratou com seu aval. Aí começaram a agir, claro que não podia ser tudo de uma vez. Começaram a roubar seu café aos poucos. Carlos sempre passava produtos caros que nem eram necessários. Seu lucro foi só diminuindo, mas mesmo assim você ainda sobrevivia porque suas lavouras eram muito boas. O pior foi que você acompanhou uma colheita de perto e isso dificultou um pouco para eles. Mas continuaram a te minar. As mudas que você plantou e morreu quase a metade foi obra deles. Aí resolveram dar o golpe final nesse ano.
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Como eles fizeram um grande desfalque na safra passada você teve que fazer um empréstimo. Aí Carlos deu a ideia que foi o problema no solo. Você teve que fazer outro empréstimo e dessa fez foi um grande. A ideia do Carlos era perfeita para eles. Deu a desculpa para a safra passada ser ruim, fez você se endividar de vez, dava a desculpa para essa safra ser ruim e ainda uma oportunidade de José Roberto comprar sua fazenda abaixo do preço. Porém as lavouras na maioria carregaram e ia ser difícil você acreditar que a safra foi ruim. O pior, você começou acompanhando a colheita. Porém teve o azar da doença da sua mãe. Aí eles aproveitaram e roubaram muito e deram a desculpa da quebra do café depois de limpo. Eles faziam as pias com café bom e cercava elas com sacos de café ruim.
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Se alguém fosse conferir dificilmente iria achar o café bom. Eles te levaram lá te mostrou as pias falsas e até você acreditou. O roubo era sempre à noite. Como eram os homens do Tião que tomavam conta de todo processo de seca, limpa e armazenamento do café foi fácil. Eles ficavam para trás com desculpa de fazer hora extra. Carregava os caminhões da própria fazenda. Levava o café para a fazenda do José Roberto, descarregava e voltava. Eles sempre saiam pela estrada do fundo, o barulho das colheitadeiras não deixava o barulho dos caminhões serem ouvidos. Era perfeito até sua amiga Gabriela ouvir uma conversa aleatória e filmar o roubo.
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Sua sorte foi que eles não podiam destruir suas lavouras. Como José Roberto queria a fazenda para ele, eles não podiam prejudicar a lavoura gravemente para te causar um problema maior. Fora que o perigo dos funcionários da fazenda descobrir era grande. Isso também te ajudou. E também o roubo era lucrativo para José Roberto que comprava o café quase pela metade do preço e para os que roubavam, já que o café saia sem nenhum custo para eles. Isso foi outra coisa que evitou um problema maior para suas lavouras.
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Como eu disse, os depoimentos deles batem. Eu acredito que essa é a verdade. Vou fechar o caso e encaminhar para o ministério público. Aí eles vão ser julgados e com certeza condenados no mínimo por três crimes. Infelizmente os três maiores culpados não têm passagem pela polícia. Como estão colaborando deve pegar a pena mínima, mas provavelmente todos vão pagar um tempo em regime fechado. Talvez José Roberto não se você for mesmo testemunhar ao seu favor. Além do mais, ele deve ter no mínimo uns três ótimos advogados para tentar livrar ele de uma pena maior.
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É para encerrar vou dizer só mais uma coisa. Você deu muita sorte por ter uma amiga corajosa e inteligente como Gabriela. Essa garota te salvou de perder quase tudo que seu pai construiu.
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Eu sabia daquilo, eu ia ser eternamente grata a Gabi. Bom, e eu já esperava algo do tipo sobre o roubo, então não foi nenhuma surpresa para mim saber de tudo. Mas saber os detalhes foi importante para eu ficar mais esperta dali para frente. Conversei mais um pouco com o delegado e depois fui para casa com Gabi. Pedi para ela vir dormir comigo. Eu precisava resolver um monte de problemas e talvez ela pudesse me ajudar de novo.
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Continua..
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Criação: Forrest_gump
Revisão: Whisper