E não e que João se deu bem kkkk, parabéns foi um ótimo conto
Um Sonho para o Pesadelo I
O João, Pesadelo para os mais íntimos, trabalhava vendendo frutas em uma pequena banca na feira. Trabalhava apenas o suficiente para sobreviver, que para ele significava ter algo para comer e ter dinheiro para de vez em quando afogar suas mágoas em um copo de aguardente de cana-de-açúcar. Ele não era lá muito bonito — como o vulgo do próprio infeliz já dizia —, na verdade ele era bonito ao seu modo. As conversas e prosas com o João, ou Pesadelo, rendiam muitas risadas sempre que ele e os amigos tinham algum tempo para se reunir. As reuniões costumam acontecer na casa dele onde partilhavam de muitas doses de álcool. Foi em uma dessas conversas que um dos amigos comentou:
“Ei, meu amigo Pesadelo, cadê as mulheres? Nunca te vi com mulher nenhuma, nem que fosse uma daquelas putas feias daquele cabaré que fomos outro dia.”
“Do jeito que o Pesadelo é lindo, deve ter um monte de mulher correndo atrás dele”, comentou outro amigo rindo.
“Correndo atrás de mim? Só se for para me colocar dentro de uma jaula!”, comentou o próprio Pesadelo, ou João.
Podia-se ouvir altas gargalhadas há vários metros de distância. Ao fim daquela prosa, quando já tinham virado um ou dois litros de aguardente, um dos amigos do João foi até ele e perguntou:
“Ei, meu amigo, falando sério com você, não tem mulher mesmo? Nunca vi a sua senhora.”
“Tenho não! Na verdade, faz tempo que não sei o que é mulher viu.”
“De verdade? Qualquer dia te levo naquele cabaré e pago a menos feia para você.”
João agradeceu ao amigo e riu, trocaram um aperto de mão e tomaram o último trago de álcool. Aquela conversa foi esquecida durante algum tempo. A vida seguiu. O João continuou sendo o Pesadelo e vendendo suas frutas em sua pequena banca na feira. Em uma tarde, quando o tal amigo que lhe prometeu a puta menos feia, voltava para casa junto com sua esposa, resolveu passar na feira para dar uma olhada. A Esposa queria ver se achava algumas frutas ou legumes com preços bons, pois a feira já estava quase no fim e os feirantes poderiam fazer alguma promoção para ela. O Amigo do Pesadelo acompanhou a esposa durante um tempo, até que a deixou sozinha e foi até a banca do João. Ele ainda estava lá, mas já estava arrumando as coisas para ir embora. Trocaram uma breve conversa e risos, até que sua esposa chegou perto dos dois toda alegre dizendo que comprou umas coisas por preços excelentes, mas que ainda queria ver se achava limões.
"Eu tenho alguns aqui“, João falou enquanto pegava uma pequena caixa cheia de limões verdes e amarelos.
“Quanto é meu, amigo Pesadelo?”, perguntou o amigo.
“Pesadelo? Como assim Pesadelo?”, a esposa perguntou curiosa.
“É porque sou tão lindo quando um ator de cinema, moça!”, João riu e fez uma careta.
João e o amigo riram alto, mas a esposa não riu, só cruzou os braços e se limitou a um olhar de reprovação para os dois. Após o término das gargalhadas, o João deu a pequena caixa de limões para eles. O Amigo quis pagar, mas ele insistiu dizendo que era cortesia. Depois desse dia, o Amigo do Pesadelo passou algum tempo sem ir à feira. Arrumou um emprego temporário na construção civil e além disso estava fazendo alguns serviços por fora, para ter algum dinheiro para fazer reformas em casa. Nos seus dias de folga ele só queria descanso, e mesmo que o convite de amigos para tomar algumas doses de álcool fosse mais que tentador, só tinha forças para ficar em casa e descansar. Em uma das suas folgas, quando estava sentado no sofá, sua esposa foi até ele.
“Amor, vamos comigo lá na feira?”
“Agora? Não está tarde demais e quente demais para ir à feira a essa hora?”
“Mas essa é a hora perfeita para pegar uns precinhos bons!”
“Que bom, meu amor, divirta-se!”, falou enquanto se deitava no sofá e cobria o rosto com uma almofada.
A Esposa do Amigo do Pesadelo se deu por vencida e foi sozinha. Ela voltou para casa um pouco mais tarde do que costumava e foi direto para a cozinha com algumas sacolas de frutas, hortaliças e legumes em mãos. Um tempo depois, ela sai da cozinha com um pedaço de bolo de chocolate em um prato e vai até a porta. Convidou alguém para entrar.
“Ei, meu amigo!”
O Amigo do Pesadelo ouviu uma voz vinda da porta o chamando, e quando olhou na direção, viu o próprio João de vulgo Pesadelo. Levantou do sofá e foi cumprimentá-lo.
“Meu amigo! A quanto não lhe via, meu amigo! E como vai essa beleza?”
“A mesma de sempre, meu amigo! E vim lhe visitar a convite da sua mulher, se é que não lhe incomoda é claro!”
“Incomoda em nada, meu amigo Pesadelo. Vem cá, vamos sentar no sofá e conversar.”
A Esposa do Amigo do Pesadelo entregou o pedaço de bolo ao João e ele a agradeceu, sentaram no sofá e conversaram enquanto ele comia. Conversaram até o sol se pôr. João disse que estava tarde e que precisava ir para casa. A Esposa do Amigo o convidou para jantar, mas ele recusou, ela insistiu um pouco e ele aceitou. Não faltava assunto. Durante o jantar ainda tiveram grandes conversas cheias de risos. Depois do jantar, foi servida uma sobremesa preparada pela Esposa: um mousse de limão.
“São os mesmo que você vende, João”, A Esposa do Amigo comenta com ele.
“É por isso que esse mousse está tão bom! Foi feito com limões de qualidade e ainda por cima foi você que fez!”
A esposa agradeceu o elogio e terminaram de comer a sobremesa. Já era tarde, e dessa vez João disse que precisava ir embora mesmo.
“Eu acho que é perigoso demais ir para casa nesse horário. Você não mora lá perto da área rural, não é?”
“Sim, mas não tem perigo, não! Eu vou bem rápido, porque em minha casa não tem ninguém... E se me roubarem? Já não tenho quase nada!”
“Você pode ficar aqui, João. Podemos arrumar um lugar para você aqui no sofá.”
“Não posso, moça... Assim vou parecer folgado demais...”
“Folgado? Claro que não, meu amigo”, O Amigo comentou enquanto colocava uma das mãos no ombro de João, “A casa é sua, sinta-se à vontade!”
João não viu outra escolha a não ser aceitar, mesmo que ainda tivesse receio de que roubassem suas poucas coisas. Foi tomar um banho, O Amigo lhe emprestou roupas limpas. Algumas horas mais tarde foram se deitar. Antes de se ajeitar no sofá, a Esposa do Amigo lhe trouxe um lençol e um travesseiro.
“João, se precisar de alguma coisa sinta-se à vontade. Durma bem, tenha bons sonhos e até amanhã.”
“Obrigado, moça, tenha bons sonhos você também. E pode dar boa noite ao meu amigo?”
“Claro… Boa noite, João.”
A Esposa se virou e saiu. As luzes se apagaram. João fechou os olhos e o silêncio daquela casa, o lençol e o travesseiro confortável o fizeram logo pegar no sono. Algumas horas mais tarde, João acordou em um sobressalto. Sentiu alguma coisa correr pelo seu corpo. Estava bastante escuro, mas mesmo assim pôde ver uma silhueta nas sombras da sala.
“Sou eu, João.”, João ouviu uma voz suave, e quando se concentrou, viu a esposa do amigo em sua nudez completa.
“Moça? O que está fazendo aqui? E nua ainda?”, João perguntou espantado.
“Eu achei que um simples boa noite não foi o suficiente, então, agora vim lhe entregar uma boa noite de verdade.”