Um cuzinho indeciso
São Paulo, 30 de novembro de 2016 – Madrugada de Sábado na suíte de um hotel
- Ai, ai, ai, não estou aguentando, está doendo muito! Mais devagar! Você é enorme! – gani quando o caralhão grosso dele entrou no meu cuzinho arregaçando tudo que encontrava pela frente, movido pelo tesão incontrolado do Derek.
- Desculpe! Me desculpe! Desde o primeiro instante em que coloquei os olhos em você não penso noutra coisa que não comer o seu cuzinho apertado! Não foi minha intenção te machucar! Posso parar se você quiser. – devolveu ele, com um sorriso meio desajeitado e sem a menor vontade de cumprir suas últimas palavras.
- Não! Não precisa, só me dê um tempo. Ufa! Como foi que esse troço cresceu tanto? Caraca! – retruquei arfando, enquanto tentava ganhar tempo para que meus esfíncteres se acostumassem àquele volume enorme que simplesmente os dilacerou ao atravessá-los naquela intemperança toda. Perguntei-me por que ele tinha esse sorriso de garotinho desemparado que em nada combinava com seu jeitão de macho naquele corpão pesado e dotado de músculos, e que estava me deixando com tanto tesão a ponto de deixá-lo arrebentar meu cu.
- Nunca senti um cuzinho tão estreito feito o seu apertando meu pau, estou maluco de tanto tesão! – confessou ele, acariciando delicadamente meu rosto com sua mão enorme.
- Somos dois então, também estou louco de tanto tesão por você. – admiti, aproximando minha boca da dele num beijo devasso que sinalizava que eu estava pronto para continuar.
O Derek recomeçou as estocadas devagar, gentil e com o olhar focado nas expressões do meu rosto, para se assegurar de que não estava forçando demais aquelas preguinhas úmidas que agasalhavam sua rola. Eu me contorcia, sentia aquele tremor incessante agitando todo meu corpo e procurava uma posição debaixo do peso dele na qual a penetração do cacetão fosse mais suportável. Aos poucos, fui me sentindo preenchido como se ele, inteiro, estivesse entrando no meu corpo e essa foi a melhor sensação da minha vida. Ele imprimira um vaivém rítmico às estocadas que começaram lentas, me permitindo sentir o caralhão pulsando enquanto esfolava minha mucosa anal que, no entanto, foram acelerando à medida em que o desejo desenfreado ia se apossando dele, voltando a me fazer ganir, enquanto procurava desesperadamente me agarrar aos seus ombros largos. A saliva dele escorria para a minha boca enquanto nossas línguas entrelaçadas saboreavam um ao outro. Ele era intenso, como seu próprio corpanzil e sua determinação me fizeram perceber assim que meu olhar cruzou com o dele pela primeira vez no meio daquela multidão que nos cercava. Agora eu estava sentindo toda essa intensidade pulsando fundo nas minhas entranhas, e me fazendo ver que eu dificilmente me esqueceria desse homem depois daquela noite de luxúria. Por uns instantes, eu queria saber o que se passava dentro da cabeça dele naquele momento em que estava me fodendo feito um garanhão. Queria saber se tinha sido apenas a atração carnal que o levara a se acercar de mim até conseguir me levar para cama, ou se algo mais em mim o tinha seduzido. Sentindo-o mover os quadris com toda aquela agilidade e sensualidade, a cada impulso que enfiava sua jeba em mim, eu percebi que não ia conseguir mais segurar o gozo por muito tempo, que o calor da pele dele roçando a minha estava me levando ao clímax. Eu o envolvi em meus braços, cravei meus dedos nas costas largas e suadas dele e o beijei intensamente. Assim que meus lábios tocaram os dele, eu gozei, esporrando sobre o meu ventre, enquanto soltava um gemido longo carregado de prazer. Ao notar o que tinha feito comigo, como tinha feito aflorar o prazer em mim, as estocadas dele se tornaram mais brutas. O cacetão socava minha próstata e me fazia ganir, enquanto ele me encarava sentindo o tesão levando-o ao gozo. Ele grunhiu soltando o ar entre os dentes cerrados e ejaculou, se despejando todo dentro de mim. Só então, sentindo aquela umidade quente e pegajosa escorrendo nas minhas entranhas, me dei conta de que não estávamos usando camisinha. Uma sensação de desespero tomou conta de mim, já era tarde, pois ele não parava de esporrar, lançando jatos abundantes de esperma num gozo que parecia não ter fim. Por alguma razão inexplicável, não consegui afastá-lo de mim ao tentar empurrar seus ombros pesados para longe e, quanto mais força eu punha nas minhas mãos, mais ele em envolvia num abraço apertado que me fez ficar grudado no peito sólido e deliciosamente peludo dele. Sucumbi aos beijos lascivos dele retribuindo-os com toda ternura de que era capaz. Adormeci com a cabeça deitada no peito dele, afagando os pelos mais densos que estavam entre seus mamilos, enquanto a mão dele deslizava sobre a minha nádega. O estranho foi eu não estar nem um pouco preocupado com a loucura que tinha acabado de cometer, trepando com um homem estranho do qual nada sabia, só que era um macho delicioso, o que fugia totalmente do meu comportamento sempre precavido e, muitas das vezes, exageradamente cauteloso. Estava feito, não dava para voltar atrás e, certamente se o desse, teria cometido a mesma insanidade, pois havia no Derek algo que eu nunca tinha visto ou sentido em outro homem, embora não soubesse dizer o quê.
Eu estava sob a ducha quando ele veio ter comigo na manhã seguinte logo após acordar sozinho na cama. Observei-o parado ali ao meu lado, um tesão de macho, indubitavelmente. Ele olhava para a minha bunda, onde a água que descia pelas minhas costas entrava feito um rio caudaloso no meio do meu rego, fazendo com que o cacetão à meia bomba voltasse a sentir um latejar impulsivo que o enrijecia a olhos vistos.
- Tesão de bunda! – grunhiu ele junto ao meu ouvido, enquanto seus braços se fechavam ao redor do meu tronco.
- Tua umidade ainda está formigando dentro dela, e isso é maravilhoso! – devolvi, num sussurro sensual, enquanto empinava o rabo contra a virilha dele.
- Maravilhoso foi o que você me proporcionou! Eu quero mais! – balbuciou ele, enquanto chupava e beijava a pele do meu pescoço, ao mesmo tempo em que ia enfiando lentamente o caralhão completamente rijo no meu cuzinho lanhado, o que me fez gingar em seus braços para suportar a dor lancinante que senti enquanto ele me rasgava novamente.
Tomamos o café da manhã juntos, pois estávamos hospedados no mesmo hotel. Por sobre a mesa, trocávamos olhares de cumplicidade pelo que tinha acontecido na noite anterior e naquela manhã. Acredito que por nossas mentes passavam pensamentos semelhantes, uma atração tão intensa e inexplicável que nos levou a transar mesmo sabendo que aquilo não tinha nenhum futuro. Nossos caminhos se cruzaram por obra do destino durante aquela feira de negócios, e o que sentimos no instante fugaz em que nossos olhares se encontraram nada mais era do que uma cilada que só serve para instigar e avassalar sentimentos sem nenhuma lógica. A troca de telefones foi mais uma formalidade do que propriamente uma esperança de outro encontro, mesmo assim, ela aconteceu seguida de um demorado e libidinoso beijo trocado no corredor do hotel diante da porta da suíte dele, antes de eu sair correndo em direção ao aeroporto, já com certo atraso. No táxi que me conduzia até lá, senti como se o Derek estivesse me abraçando, até seu cheiro viril parecia estar penetrando nas minhas narinas, o que me fez sorrir inexplicavelmente, ao voltar a sentir que a umidade dele ainda estava no meu cuzinho ardente.
São Paulo, 25 de novembro de:00 horas – Centro de convenções de uma feira em tecnologia de softwares
Eu fazia a apresentação do software que a minha equipe havia criado para a automação de diversos equipamentos e máquinas com aplicabilidade em variados ramos fabris quando notei o olhar dele me examinando da primeira fila do auditório cheio. Já no início da apresentação senti a garganta seca e precisei recorrer a água que estava sobre uma pequena mesa de onde eu seria entrevistado após a apresentação, por um mediador. Atribuí essa necessidade exclusivamente àquele homem que me secava com seu olhar másculo de predador. Ele era grande, sabidamente um estrangeiro pelas feições e pelos olhos azuis e cabelo quase loiro, os músculos dentro do terno pareciam querer explodir para fora, como numa das clássicas cenas em que o Hulk se transforma. Apesar do tamanho que, embora eu não pudesse precisar àquela distância e por ele estar sentado, eu arriscaria dizer que estava por volta de um metro e noventa, havia algo de menino travesso naquele rosto anguloso que não via um barbeador há pelo menos dois dias. Acostumado a falar em público e a dar palestras como aquela, eu subitamente me senti acuado, não sabia o que fazer com aquele par de mãos que pareciam estar sobrando de alguma forma, tinha a sensação de estar nu no palanque, por duas vezes perdi o rumo do que estava falando ciente de que isso tudo era consequência do discreto, mas incisivo sorriso que aquele homem me dirigia. Ele não estava atento ao que eu dizia, mas estava focado no meu corpo, lascivamente focado no meu corpo, sem a menor sombra de dúvida. E, isso explicava as minhas mãos suadas e aquela estranha sensação de calor que abrasava meu peito.
- Hi! Quero dizer, oi! Sou o Derek! – cumprimentou ele vindo diretamente a mim, assim que terminei de responder às perguntas da plateia. Pela atitude dele, eu meio que já esperava por isso, e tentei manter o controle, algo que já tinha perdido há mais de meia hora atrás.
- Oi! Tudo bem? Meu nome é Bruno! Deseja saber mais alguma coisa? – perguntei solícito, afinal eu estava ali para vender o nosso produto, dando meu primeiro fora, pois ele já sabia que eu me chamava Bruno, o mediador já havia me apresentado antes de eu começar a palestra.
- Sim, Bruno! Se você tem um tempo para almoçar comigo. – respondeu ele, sem nenhum rodeio com um forte sotaque de quem cresceu falando inglês.
- Eu ... bem, eu ... sobre o que seria? Isto é, o almoço seria para falar sobre o software? Ou seria apenas para comermos alguma coisa? – eu parecia uma besta cujo raciocínio estava bugando e, diante da estupidez da minha pergunta, corei feito uma donzela medieval. Ele abriu um sorriso, estava se divertindo com meu embaraço.
- Sim, um almoço para comermos alguma coisa, é para isso que eles servem, não é? E sim também para a questão do software. – respondeu ele, continuando a me secar com aquele olhar de lobo faminto.
- Bem eu ... eu estava mesmo ... eu estava pensando em almoçar, quero dizer, eu estava pensando em comer alguma coisa rápida na lanchonete do centro de convenções mesmo, entende? – que porra está acontecendo comigo, caralho! Pareço um pateta! Respire fundo, Bruno, apenas respire fundo e pare de olhar para o puta volume que esse cara tem no meio das pernas, sua bicha assanhada!
- Posso sugerir um restaurante nas imediações? Tenho aqui um prospecto da feira e de algumas comodidades nos arredores. Pensei numa churrascaria, me apaixonei por elas desde que me mudei para o Brasil. – disse ele.
- Tudo bem, pode ser! – respondi, não sendo nem um pouco fã de carnes. – Você é americano? Faz tempo que está no Brasil? Seu português é bastante bom! – continuei, evitando olhar também para aquele tórax que mais se parecia com um porta-aviões de tão largo, e onde eu me esbaldaria sem nenhuma dificuldade, especialmente se ele estivesse nu.
- Obrigado, você e muito gentil, ainda faço muita confusão com os verbos. Sim, de Ohio, conhece? Mason para ser mais exato, isto é, onde nasci e fui criado. Mas trabalhava numa empresa em Los Angeles antes de vir para o Brasil. – respondeu ele, despojadamente, como se quisesse se fazer conhecer.
- Conheço! Quero dizer, a Califórnia. Já estive em São Francisco e Los Angeles. Visitei umas empresas em Newark, Saratoga, Cupertino, Fremont e Los Gatos, há uns dois anos atrás. Também já estive algumas vezes em Nova Iorque, Boston e Chicago à trabalho.
- Então conhece praticamente tudo por lá! Legal! – exclamou ele, exagerando.
- Quem me dera! E você, trabalha com o quê? Onde? – perguntei, quando percebi que estava recuperando meu autocontrole.
- No momento estou em plena transição, isto é, me mudando de empresa e cidade. – respondeu ele, sem entrar em detalhes, o que respeitei, pois também já tinha passado por essa experiência e aprendido que não se deve falar demais antes de tudo estar concretizado. – Você acha que o produto que apresentou vai ter boas vendas?
- Ainda é um pouco cedo para afirmar com certeza, mas o potencial é promissor. A aplicabilidade do software é bem abrangente, é nisso que estou apostando. – respondi
- Foi você quem o criou?
- Com uma excelente equipe de colaboradores, um pessoal muito empenhado e de uma capacidade e criatividade acima da média. – respondi orgulhoso. – Pena que nem sempre a visão do CEO da empresa seja a mesma, o que a torna um pouco sufocante às vezes, e até já me levou a considerar uma mudança.
- Por que, não gosta da empresa?
- Para ser sincero, não sei. Há dias em que detesto estar lá. – respondi honesto.
Percebendo que eu não estava disposto a entrar em detalhes, ele logo mudou de assunto e o almoço que deveria ter sido algo rápido estendeu-se até mais da metade da tarde. Por mais algumas vezes as perguntas dele foram bastante pessoais na tentativa de descobrir se eu era casado, se tinha alguém, o que me fez sacar que ele talvez também fosse gay, ou estivesse afim de um. Respondi-as com algumas evasivas, o que o deixou ainda mais intrigado. Àquelas alturas já estávamos flertando um com o outro, e não era preciso ser nenhum gênio para perceber que estávamos atraídos um pelo outro, ao menos fisicamente, pois a cobiça brilhava nos olhares de ambos. Declinei do jantar que ele havia sugerido, pois já tinha um compromisso agendado com uma galera que tinha conhecido em eventos anteriores daquele mesmo naipe.
Fui reencontrá-lo apenas dois dias depois, já bem no final da tarde, num estande onde ele se divertia com um videogame que estava sendo lançado. Apesar do terno, ele parecia um moleque diante da tela, vibrando a cada estágio em que avançava.
- Se nossos empregadores soubessem que viemos a essas feiras para nos divertir teríamos nossas cabeças cortadas sumariamente! – exclamei, quando me pus ao lado dele.
- Oi Bruno! Só se tiverem uma visão tacanha da nossa atividade! – respondeu ele, sem se voltar na minha direção, de tão empenhado que estava no jogo.
- Foi só essa a sua pontuação até o momento? – provoquei ao examinar a tela
- E você, se sairia melhor?
- Aposto que sim!
Sentei-me diante do outro console e iniciei a participação. À medida que minha pontuação se aproximava da dele, senti o quanto ele era competitivo, o que me levou a provocá-lo mais uma vez. Não sei porque fiz aquilo, mas algo me instigava a atiçar os brios daquele homem que tinha dado todas as mostras de se exibir como um machão para mim.
- Não consegue avançar mais? Estou na sua cola! – caçoei, deixando-o inseguro quanto a vitória.
- Ainda não estou derrotado, e vou te dar uma lição, você não perde por esperar! – retrucou ele desafiador.
- Iiiiééé! Quem é mesmo que ia derrotar quem, hein? Ganhei, e não foi de pouco, mesmo tendo iniciado o jogo depois! – vibrei quando terminei a última etapa do jogo, diante de um Derek que não estava nem um pouco feliz com aquele resultado.
- Sorte de principiante! – zombou ele para me provocar.
- Quer uma revanche? Deixo você começar primeiro! – devolvi
- Convencido! – rosnou ele, mais conformado, porém com um estranho sorriso iluminando seu rosto.
- Você é sempre tão competitivo assim? – questionei
- Não sou competitivo, só não gosto de perder! – devolveu ele
- E isso não é a mesma coisa?
- Não, não é! – retrucou ele afrontoso
- Então tudo bem! Se você diz!
- O que vai fazer esta noite?
- Vou me encontrar com uns amigos que moram na cidade. Por que?
- Nada, não! Pensei que talvez quisesse sair comigo.
- Quem sabe outro dia! Nos vemos por aí! Não vá perder o sono só porque perdeu o jogo para mim! – exclamei ao me despedir dele.
- Sem chance! Até mais! – devolveu ele, sem mais nenhum resquício de contrariedade, o que me deixou feliz, pois não queria que ele guardasse uma imagem ruim da minha pessoa.
Nos dois dias seguintes estive envolvido com visitas a outros estandes da feira de empresas concorrentes para conhecer melhor seus produtos, com palestras de personalidades da tecnologia em informação e com compromissos com potenciais futuros clientes. Chegava ao hotel sem disposição para mais nada, e só descia para dar umas voltas pelos quarteirões próximos ao hotel até encontrar um lugar descolado para jantar. Se por um lado eu gostava de passar uma semana inteira fora da empresa, por outro, achava esses eventos enfadonhos por quase sempre estar desacompanhado e sem ninguém para trocar umas ideias. A única vantagem que via em estar sozinho era que ficava mais fácil paquerar outros carinhas que também estavam desacompanhados e procurando basicamente o mesmo que eu, conhecer alguém interessante.
Eu tinha dois amigos gays que tinham se mudado para São Paulo por conta dos empregos e continuava a manter contato com eles, Luca e Alex, pois éramos muito chegados desde os tempos da faculdade. Eles conheceram uma galera legal depois de se mudarem e foi com essa turma que saí naquela noite, fazendo um tour pelas baladas gays da cidade. O Luca sempre teve uma queda por mim e nunca escondeu o tesão que sentia pela minha bunda, o que o levou a querer me proteger de todo e qualquer garanhão mal-intencionado, como ele classificava todo carinha que se aproximava de mim. Por meu lado, nunca lhe dei qualquer esperança de algo vir a rolar entre a gente, embora o achasse um tremendo tesão e gostasse de me refugiar nos braços dele toda vez que ficava deprimido por alguma razão. Eu via nele um irmão mais velho, um cara que estava sempre ali quando eu precisasse, um cara com quem podia contar sem ser julgado. Dormimos juntos muitas vezes, sempre que um precisava de um colo amigo, mas só avançamos o sinal uma única vez, quando tomei um porre por conta de um carinha, que eu estava afim, ter se envolvido com outro. Com a cabeça rodopiando feito pião, o pauzão do Luca me pareceu a solução mais imediata para os meus problemas, e eu caí de boca nele num boquete que ambos guardariam na lembrança até o último dos nossos dias. Já o Alex fazia o estilo depravadão, nenhum cu ou cacete passava ileso por ele quando dava vazão à sua tara constante. Éramos o oposto um do outro, eu o gay certinho e comportado, ele a bicha safada que sempre tinha alguém à tiracolo, mas com quem nunca tinha um relacionamento que durasse mais que um punhado de meses. Mesmo assim, a gente se gostava, embora alguns bate-bocas já tivessem nos mantido afastados por semanas.
Como tinha chegado bastante tarde no hotel na noite anterior, fiquei a manhã toda na cama e só fui ao último dia da feira no período da tarde, uma vez que aquele seria meu único compromisso do dia. Eu conversava com um sujeito com o qual já havia tido contato em outras ocasiões e que também era um desenvolvedor de softwares. Trocávamos umas ideias diante de um estande para o qual ele havia me levado afim de me mostrar alguns detalhes que um dos nossos concorrentes havia recém trazido de uma viagem à Seul, quando senti um braço me enlaçando pela cintura.
- Por onde andou nesses últimos dias, você sumiu? – questionou o Derek, me deixando constrangido com aquele gesto de intimidade diante do sujeito com o qual eu conversava.
- Andei ocupado, por aqui mesmo! – respondi, sentindo que estava com as faces coradas. – Saulo, esse é o Derek! Derek, Saulo da Handcraftweb! – fiz a apresentação com um sorriso amarelo sentindo a mão do Derek apalpando descaradamente meus flancos, embora o Saulo aparentemente não estivesse dando importância a esse detalhe.
Passamos ainda cerca de vinte minutos trocando umas ideias antes de eu me despedir do Saulo e seguir sem um rumo predeterminado pelos corredores da feira com o Derek se mostrando bastante à vontade e até meio folgado.
- Senti sua falta! Andou paquerando muito? Esse tal de Saulo é um velho conhecido ou um candidato a algo mais ousado? Pela maneira como o olhar dele me fuzilava enquanto eu te abraçava, posso concluir que ele está cheio de segundas intenções com você. – sentenciou ele.
- O que é isso, outra competição? – indaguei
- É você quem deve me responder isso! Tenho que competir com ele? – devolveu malicioso
- E pelo que você competiria com ele?
- Por você!
- Além de competitivo você também é bem safado! O que te leva a pensar que eu gostaria de te ver competindo por mim? – indaguei despretensioso
- E não gostaria? Você não vai negar que te deixei bastante impressionado, vai? – questionou sorrindo
- Presunçoso! – exclamei, devolvendo o sorriso
- Essa você vai precisar traduzir, meu vocabulário português não é tão vasto assim. – devolveu ele.
- E cara-de-pau, conhece essa? – perguntei, pois sabia que ele estava mangando de mim.
- Bem, você ainda não me respondeu o que esteve fazendo nesses últimos dias, além de fugir de mim.
- Que motivos eu teria para fugir de você? Quem os têm é você, ou já se esqueceu da revanche que está me devendo. – provoquei
- Esse é o único motivo que tem para se encontrar comigo? Puxa, não sabia que estava em tão baixa cotação! – retrucou jogando charme.
- Já é um bom motivo, não acha?
- Pois de minha parte eu tenho pelo menos uma dezena deles para enumerar, começando por um jantar essa noite, uma esticada para dançar e, quem sabe, desvendar todos os mistérios que esse Bruno sedutor continua escondendo de mim. – respondeu ele, num assédio explícito. – O que me diz?
- Eu, sedutor? Vou fingir que acredito!
- Você não tem feito outra coisa desde o nosso primeiro encontro. Você não sai dos meus pensamentos, sabia.
- Vai ficar muito convencido se eu te disser que você também? – não costumava ser tão ousado, mas esse cara estava me dando tanto tesão que eu só pensava em dar o cu para ele.
- Viu como eu estava certo quando disse que você tinha ficado impressionado comigo. Mas, foi bom ouvir você confirmando, muito bom! – exclamou ele, roçando disfarçadamente a mão na minha enquanto caminhávamos.
Até então, eu não sabia que estávamos hospedados no mesmo hotel, apenas dois andares distantes. Fizemos o programa sugerido por ele, jantar, uma balada gay na sequência, onde dançamos bastante e ele me deu uns amassos e uns beijos aproveitando a proximidade e o anonimato da casa noturna lotada. Rolou um show no pequeno palco com uns garotões malhados enfiados em sungas sumárias depois de se livrarem de suas vestimentas de bombeiro, mecânico, policial, Tarzan, executivo, marinheiro e por aí vai; performances clichês de muitas baladas gays que tinham por objetivo instigar a imaginação e a libido dos frequentadores, mas que para mim, particularmente, nunca despertaram o menor tesão, mesmo alguns desses garotões sendo muito gostosos.
Desde que me descobri gay, sempre achei que tinha algo de errado comigo. Enquanto muitos gays se excitam vendo revistas, sites de homens malhados e viris, eu me sentia atraído por caras comuns, desses que são de carne e osso, que você encontra andando por aí e não posando nus num estúdio fotográfico onde depois as fotografias são retocadas para acrescentar músculos, aumentar o tamanho do pau, dar virilidade aos rostos. Não nego que curto caras musculosos e viris, mas isso tem que ser natural neles, e não montado, ficando ainda mais atraentes quando se descobre esses detalhes sob suas roupas. O Derek se encaixava exatamente nesse perfil. À primeira vista, era um tipo comum. Apenas um olhar mais aguçado via o quão expressivos eram seus olhos, como seu rosto era viril, como suas mãos tinham uma pegada forte, como seus ombros largos e seu tronco sólido pareciam uma fortaleza, como suas pernas grossas se pareciam com o tronco de uma árvore, como seu sorriso dava àqueles lábios um contorno no qual a gente sentia vontade de se perder.
As vezes em que transei não somavam os dedos de uma mão, não que tivesse faltado oportunidade ou com quem transar, mas por um princípio meu, me guardar para alguém que realmente valesse à pena e por quem eu preferencialmente nutrisse algum sentimento. Um gay careta, é assim que eu sou, para o bem ou para o mal. Também era essa a razão de meus amigos gays me chamarem de – gay virgem – quando queriam zoar comigo. Isso me obrigava a ouvir os maiores descalabros, muitas propostas indecentes e o mesmo tanto de cantadas impudicas. Sinceramente eu não sabia o que queria da vida. Diante de tantas histórias tristes com finais trágicos de gays em filmes ou mesmo na vida real, eu pouco acreditava que nessa condição poderia ter uma vida feliz com alguém. Eu tinha quase certeza de que gays tinham nascido para serem infelizes nos relacionamentos, e isso me retraia, me deixava com o pé atrás quanto a qualquer envolvimento mais sério. Eu tentava me poupar do sofrimento, como se isso fosse possível, como se correr riscos no campo amoroso não fizesse parte de quem somos.
O Derek com seu charme, sua sensualidade, estava me pondo em xeque, desafiando minhas convicções, me deixando com um tesão crescente cada vez que ele se aproximava de mim. Mesmo sabendo que provavelmente nunca mais no veríamos, eu entrei na suíte dele naquela noite quando regressamos ao hotel um pouco menos sóbrios do que deveríamos.
- Não vejo a hora de te foder! Quero enfiar minha pica até o talo nessa sua bunda tesuda! – exclamou ele, assim que fechou a porta da suíte e partiu para cima de mim, prensando-me contra ela e começando a arrancar as minhas roupas, enquanto colava sua boca à minha e enfiava sua língua sequiosa em mim.
- Faz o que quiser comigo, machão gostoso! Sou todo seu! – ronronei me entregando à sua lascívia e abrindo a calça dele para pegar aquela ereção que estava dentro dela.
Curitiba, 2 de dezembro de 2016 – Segunda-feira – Sede da CBG Software Tech
- Olha quem está de volta! Oi chefinho! Como foi a semana de gandaia em São Paulo? – cumprimentou o Hiroshi assim que me dirigi à minha estação de trabalho naquela manhã de sol raro em Curitiba, o que só aumentava a sensação de preguiça por ter que encarar uma semana de trabalho árduo que havia se acumulado durante a minha ausência.
- Péssima semana para você também! – devolvi, para tirar aquele risinho debochado da cara dele. Ele riu.
- Já vi que não trepou nenhuma vez durante esses dias, caso contrário, não estaria com esse humor azedo. – tripudiou ele, que sabia que eu era gay e era, além de meu subordinado, um dos meus melhores amigos heterossexuais.
- Por que vocês sempre acham que nós gays só trepamos? Isso é muito preconceituoso! Vocês nos pintam como se fossemos todos depravados, que sinônimo de gay é safadeza e sexo, quando vocês trepam e fazem mil vezes mais sacanagens do que nós. – protestei, o que o fez rir mais ainda.
- Esqueci que você é uma exceção, que você é o gay mais comedido e santinho que existe, chefinho! – retrucou ele.
- Que porra é aquela? – indaguei elevando a voz sem me dar conta disso, diante do que vi através dos vidros que separavam a sala do diretor das nossas estações de trabalho.
- É o novo diretor! Derek Lowell! Aliás, ele pediu que você fosse à sala dele assim que chegasse. – avisou o Hiroshi
- Merda! Merda! Isso só pode ser um pesadelo! Merda! – repeti inconformado com aquela visão.
- O que deu em você essa manhã, chefinho? Já tínhamos sido avisados que teríamos um novo diretor, por que essa bronca toda? – questionou meu amigo. – Ele nos pareceu um cara legal! Aposto que você vai gostar dele, vocês têm tudo para se dar bem! - emendou
- Caralho, é só comigo que acontecem essas coisas! Porra! – esbravejei, enquanto o Hiroshi tentava adivinhar o que se passava comigo, o porquê daquela reação sem sentido.
- Acho melhor você tomar um calmante antes de ir falar com ele, pois nesse estado ele vai ter uma péssima impressão a seu respeito! – aconselhou
De dentro de sua sala, o Derek já tinha lançado por duas vezes seu olhar para mim, não tinha como fugir daquela situação. Sou mesmo um idiota, pensei com meus botões, enquanto caminhava em direção à sala dele. Falo mal da empresa, me declaro insatisfeito com meu trabalho, critico o CEO e trepo com um desconhecido que vem a ser meu chefe, pode haver alguém mais imbecil do que eu?
- Oi! Bom dia! – eu estava tão constrangido que nem sabia como agir.
- Oi! Conseguiu se recuperar? – ele nem desviou o olhar da tela do computador ao me fazer aquela pergunta embaraçosa.
- Sim, obrigado! Descansei o domingo todo! E você, como está? – eu sabia que a pergunta dele não se referia ao meu cansaço, mas à maneira como ele tinha deixado o meu cuzinho depois de me foder por duas vezes com seu cacetão grosso.
- Bem! Melhor agora que você chegou! – aquele jogo de gato e rato estava me deixando tenso.
- Por que não me disse que seu novo emprego era aqui? – perguntei, sem rodeios.
- Você não me perguntou!
- Perguntei sim! Você me disse que estava numa transição, foi evasivo! – retruquei exasperado.
- Você teria se entregado para mim se soubesse que eu seria seu chefe? Era um risco que eu não podia correr!
- Preferiu me enganar! Deve estar se divertindo, conseguiu sua revanche, não foi?
- Não te enganei! Só omiti algumas informações. Não encaro isso como uma revanche, que aliás, ainda vou cobrar! – a calma com a qual ele falava, sem olhar para mim, com um certo tom de ironia na voz, me deixou bravo mas, ao mesmo tempo, não conseguia sentir raiva dele.
- Quando você quiser! – revidei desafiador. – Você acha que isso pode dar certo, eu continuar na sua equipe, depois de ... depois de nós ... – procurava questionar quando ele concluiu meu pensamento.
- Depois de transarmos! Sim, claro, acho perfeitamente viável, e até bom, se você quiser saber! – asseverou. – Quero você na minha equipe aqui na empresa e isso nada tem a ver com eu te querer na minha cama, são coisas distintas, mas que se harmonizam muito bem.
- Não sei o que pensar a respeito disso! Francamente, estou chocado! – confessei
- Pois eu sei no que você deveria estar pensando, no nosso próximo encontro! Não vejo a hora de ter você em meus braços novamente! Você só precisa dar uma conferida para saber o quanto eu te quero. – afirmou, afastando as pernas para que eu pudesse ver sua ereção.
- Você é maluco, Derek! Maluco, sabia! – só de ver aquele volume latejando dentro da calça dele meu cuzinho começou a piscar alucinadamente. – Tem certeza de que quer que eu continue na sua equipe depois das bobagens que falei e depois de nós ...., enfim, depois do que aconteceu entre a gente? – questionei.
- Plena certeza! Não seja tão crítico consigo mesmo! Você não falou nada demais, apenas expressou sua opinião! – respondeu, ainda sem ter olhado nenhuma vez na minha cara, disfarçando estar entretido com o que via na tela do computador.
- Bem, se é assim que você pensa! Há trabalho me esperando, já devem estar à minha procura. Até mais!
- Só para constar, você está lindo, uma delícia! Bom dia! – exclamou, antes de eu sair da sala, acompanhado por seu olhar cobiçoso, que me fazia sentir nu.
Havia um enorme ponto de interrogação na testa do Hiroshi quando voltei ao meu posto. Por hora resolvi me manter calado quanto àquela afinidade com meu chefe, até porque eu não sabia se haveria algum futuro nessa relação.
- E aí, o que achou dele? Simpático, extrovertido, não é? – questionou ele.
- Sim, também achei! Extrovertido, bem extrovertido! – respondi. Extrovertido, atrevido e muito gostoso, pensei comigo mesmo.
Como no final do expediente o Derek voltou a me cobrar aquela revanche, convidei-o para o meu apartamento num gesto que fugia do meu padrão comportamental, porém cada vez que olhei na direção da sala dele durante aquele dia, não conseguia esquecer do quanto tinha sido maravilhoso sentir aquele macho fogoso me fodendo, aqueles beijos com sabor de luxúria, aquele caralhão pulsando fundo no meu cu.
Eu tinha cedido um quarto do apartamento para um antigo amigo da época de colégio quando ainda morava em Ponta Grossa. Tínhamos praticamente a mesma idade, mas tínhamos personalidades muito distintas, e eu muitas vezes me questionei como foi que nos tornamos amigos, especialmente, tão bons amigos. Ele havia se assumido gay já nos tempos de colégio, e eu ainda me lembro de como ele sofreu bullying por não esconder sua sexualidade. Naquela época, eu o tinha como um herói, afinal, ter a coragem de não se esconder por trás de uma carapaça aos dezesseis anos, como eu, era um ato de heroísmo, embora na época eu achasse que fosse uma atitude maluca. Ele era provocado pelos colegas, debochavam da maneira ousada como se vestia e, batiam nele toda vez que a oportunidade surgia, geralmente quando ele estava sozinho e eles num grupinho. Ainda tenho viva na memória a cena de quatro deles batendo nele no vestiário depois da aula de educação física. Tinham arrancado a cueca dele, arrastado para os chuveiros e dado socos nele até surgir um filete de sangue no canto de sua boca, enquanto a galera assistia e berrava como selvagens em volta deles. Saí correndo até a sala do diretor para relatar o que estava acontecendo nos vestiários e, desde então, senti que aquela era uma situação perigosa, que ser gay e se assumir como tal, era temerário, que gays precisavam de proteção. E, acho que foi isso que eu fiz com o Felipe depois daquele episódio, protegi-o o quanto pude, e nos tornamos amigos. Ele veio para Curitiba morar comigo depois que o pai o expulsou de casa ao descobrir que ele tinha um caso com o dono de uma farmácia do bairro em que eles moravam, que esse cara era casado e tinha dois filhos, mas que nos bastidores enrabava o filho. O mal do Felipe era aquela sua sede por machos, ele não podia ver um pinto que já dava um jeito de se enroscar nele, e esse comportamento influenciava negativamente toda a sua vida, especialmente a profissional. O Felipe não terminou a faculdade de direito, o que o obrigava a aceitar qualquer emprego que pagasse minimamente suas contas. Foi desde barman, garçom, vendedor de loja de roupas masculinas até gigolô. Sua bela aparência, o bom humor e o talento nato para se comunicar eram seus grandes trunfos, e que o ajudavam a seguir adiante. O pedido de asilo temporário, só por algumas semanas, já durava dois anos e, embora muitas vezes eu precisasse dar umas duras nele por conta da bagunça na qual deixava o apartamento, a presença dele me fazia sentir menos solitário.
- Essa é a última vez que eu vou te avisar, se encontrar mais uma vez tuas cuecas sujas e, mais as de sabe-se lá quem, largadas no banheiro, aquela zorra na pia da cozinha e suas coisas espalhadas pela sala você vai direto para o olho da rua, estamos combinados? Caralho, você é foda Felipe! – ameacei pela centésima vez, quando ele veio me abraçar jurando que seria um bom menino. A promessa, como das outras vezes, durou apenas algumas semanas, quando ele deixou o apartamento tão impecável quanto o de uma revista de decoração.
Eu tinha mandado uma mensagem para o Felipe no meio da tarde avisando para ele se escafeder e procurar abrigo na casa de algum amigo, pois estava levando alguém para casa e não queria topar com seu jeito espalhafatoso de abordar os carinhas que eu tinha acabado de conhecer, nem com o caos reinando no apartamento bagunçado.
- Ui! Quem é o sortudo? É gato? Não vejo a hora de conhecê-lo! Se está me mandando sumir pela noite toda, é sinal de que vai transar com ele. – respondeu o Felipe numa ligação que se seguiu à minha mensagem.
- Deixa de ser enxerido! Só trate de fazer o que combinamos, desapareça e deixe o apartamento organizado e limpo, está me entendendo, Felipe? Não estou brincando! – devolvi impositivo.
- Tá, tá, tá bom, seu Mister Certinho! Já entendi! Só me fala, você já botou a mão no pau dele? – retrucou
- Vá se foder, Felipe! Isso, por acaso, é da sua conta?
- Então só me responde se já viu a pica dele. – insistiu, bem à sua maneira de encarar alguém que estava conhecendo, olhar primeiro para o cacete do cara e ver se valia à pena investir no sujeito.
- Vá à merda! Bom, você está avisado! – revidei zangado
- Nossa, chefinho! Você voltou dessa feira com um humor do cão. Pode-se saber o que te deixou tão transtornado? – questionou o Hiroshi, que sempre me parecia estar com a orelha espichada quando eu estava ao telefone.
- Quer que sobre para você também? Vá caçar o que fazer, se não tiver nada de melhor para fazer do que ficar ouvindo a minha conversa! – esbravejei. Ele começou a rir. Me conhecia tão bem que sabia que bastava eu estar sob pressão para sair chutando o pau da barraca para todos os lados.
- Sabe do que você precisa, chefinho? Um namorado que te coloque um cabresto e que te mantenha ocupado e dócil. – afirmou ele, zombando.
- Vou te dizer quem é que está precisando de um cabresto, talvez até de uma demissão. Vá cuidar da Eiko com esse hashizinho que você tem no meio das pernas e me deixe em paz! – resmunguei, extraindo mais risos dele.
- A Eiko que não me ouça, chefinho, mas mesmo sendo hétero, eu já senti vontade de te mostrar como o meu hashizinho funciona, talvez você até se surpreenda com o potencial dele e pare de o depreciar. – revidou o Hiroshi
- Se eu não gostasse tanto de você, Hiroshi, dava um jeito de cortar essa sua língua e esse seu pauzinho só para você parar de me aporrinhar. – devolvi.
Eu devia estar mesmo insuportável naquele dia. Chegar logo cedo ao trabalho e descobrir que tinha trepado com meu chefe, que tinha que lidar com uma semana toda de trabalho acumulado e, de receber o Derek pela primeira vez na minha casa, estava me deixando tenso e irritado. O fato é, que eu sempre lidei mal com essa questão de conhecer e deixar alguém novo entrar na minha vida, a sensação que eu tinha era que estava exposto e vulnerável, que estava sendo invadido naquilo que me era mais caro, a minha privacidade. Para piorar tudo, o Derek me mandava mensagens no celular a cada duas ou três horas, fazendo alguma insinuação de cunho sexual e até me mandando uma foto tirada no banheiro da empresa do cacetão dele todo excitado. Ele olhava pelos vidros da sala dele quando me mandou a foto, só para ver a minha reação, e o diabo tinha um sorriso tentador naquela cara safada quando me espiava.
Ao chegar com ele em casa, mais um contratempo, o Felipe ainda estava lá. Tinha feito de propósito, eu sabia, pois a curiosidade dele não conhecia limites. Ele alegou que já estava de saída, pediu desculpas esfarrapadas por ainda estar lá contrariando minha ordem, mas foi o suficiente para examinar o Derek da cabeça aos pés com uma cara deslavada e sacana.
- Uau! Me conta onde encontrou esse bofe gato. Vê se não estraga tudo dessa vez com essa tua mania de ficar com o pé atrás. Se entrega que a vida é uma só, e com um cara como esse dá para ter a vida dos sonhos. – sentenciou baixinho no meu ouvido ao se despedir, divertindo-se com o meu acanhamento.
- Me lembre de te matar amanhã! – rosnei em resposta.
Assim que fiquei a sós com o Derek, ele me enlaçou pela cintura, começamos a nos beijar, eu sentia a excitação dele escapando por suas mãos que tateavam meu corpo num frenesi descontrolado. Abri a camisa dele e acariciei seu tórax peludo, fui depositando beijos sensuais sobre ele, lambi seus mamilos, o que o fez arfar e lançar a cabeça para trás com os olhos fechados. Abri o cós da calça dele e a braguilha, enfiando meus dedos lá dentro até encontrar sua ereção babada. Baixei as calças dele e me ajoelhei diante do caralhão pesado, lambi a cabeçorra vertendo pré-gozo e, lentamente, fui dando mordiscadas ao longo de toda a caceta até chegar às bolas peludas, coloquei alternadamente cada uma delas na boca e as massageei com a língua, ele gemia e agarrava meus cabelos. Com a pica completamente dura, ele a socou na minha garganta a intervalos curtos, deixando que eu a chupasse à vontade na maior parte do tempo. O cheiro e o sabor dele me inebriavam, eu parecia estar prestes a explodir de tanto tesão, meu cu se contorcia de desejo. Para ter minha calça e minha cueca embolados aos meus pés não demorou mais que alguns minutos e, debruçado sobre o espaldar do sofá, tive minhas nádegas afastadas deixando a diminuta fenda anal rosada exposta e acessível a sua língua devassa, antes de sentir o caralhão dele entrando no meu cuzinho e me obrigando a gemer de dor e tesão. Precisei pegar minha camiseta e esporrar nela quando gozei com ele bombando buliçosamente meu cuzinho em brasa, antes de deixa-lo me foder até gozar. Tirei a camisinha cheia de porra do pau dele à meia bomba debaixo do chuveiro, me espantando com a quantidade de porra que havia dentro dela, sob o olhar cúmplice dele. Carinhosamente ensaboei e massageei o pauzão e o sacão dele, encarando-o e admirando seu sorriso de prazer. Ele me puxava pela nuca para mais perto dele e me beijava, metendo a língua na minha boca e me fazendo sentir seu sabor. Suas mãos apertavam minhas nádegas, trazendo-me para mais junto dele e, enquanto os beijos se sucediam, cheios de tesão, ele roçava o dedo sobre as minhas preguinhas anais que tinha acabado de arregaçar.
- Você é tão gostoso, Bruno! Me sinto mais homem quando estou com você! – balbuciou ele, enquanto eu brincava com sua rola, e a água morna descia pelos nossos corpos colados.
Jantamos enrolados tão somente nas toalhas de banho, sem falar muito, trocando olhares e sorrisos comedidos cheios de significado e incógnitas, ambos pensando aonde nos levaria aquela atração forte que estava nos conectando. Quando levei os pratos à cozinha, ele me seguiu, ficou me observando dando uma geral rápida e se postou atrás de mim. Dava para sentir o calor que o corpão dele emanava roçando o meu, e o ar quente de sua respiração resvalando na minha nuca, o que fez minha pele ficar toda ouriçada. Ele demorou propositalmente a me tocar, esperando o tesão que eu estava sentindo com ele ali à espreita, pronto a atacar, ficar tão evidente que me seria incapaz disfarça-lo.
- O que está fazendo comigo, Derek? – perguntei, quando meu corpo todo clamava por ele.
- Diga-me você! – respondeu ele, beijando suavemente meu ombro
- Preciso mesmo responder? – indaguei, quando ele fez a minha toalha cair aos meus pés.
- Quero te ouvir pedindo por mim. – sussurrou ele, prendendo minha orelha entre seus lábios úmidos, enquanto amassava meus glúteos.
- Quero que entre em mim! – exclamei implorando.
No mesmo instante, com um único e potente impulso, ele enfiou o cacetão no meu cuzinho. Agarrei-me à borda da pia pois achei que minhas pernas não iam dar conta de me sustentar quando aquela dor nos meus esfíncteres se dilacerando se espalhava por todo baixo ventre. Foi ele quem me segurou, apertando seus braços musculosos ao redor do meu tronco e pousando mais um beijo alentador sobre meu ombro.
- É assim que você quer? – indagou, penetrando a pica mais fundo.
- É Derek! Só vai devagar, com calma. – pedi ao me virar em sua direção e ter minha boca coberta pela dele, onde os gemidos que soltava iam se depositar.
Segurei-me em seus braços e passo-a-passo levei-o para o quarto sem que ele tirasse o caralhão do meu cu. O gingar dos meus passos trôpegos fazia a rola se mover dentro do meu cuzinho massageando-a sensual e carinhosamente, o que ficava explícito através dos grunhidos guturais que ele soltava. Deitado de bruços meio de lado sobre a cama, ele me fodeu mais uma vez até ambos estarmos saciados. Sem pressa de tirar o cacetão do meu cuzinho, ele ia amolecendo devagar, enquanto o peito suado do Derek se fazia sentir colado nas minhas costas, e sua mão bolinava um dos meus mamilos.
- Gostaria de ficar deitado assim com você por toda a eternidade. – disse ele, pausando as palavras como se estivesse exaurido.
- Eu também, Derek! É tão bom ficar assim juntinho com você. – devolvi, expressando toda a felicidade que ele estava me fazendo sentir.
Pensei que ele fosse passar a noite toda comigo, mas, no meio da madrugada, acordei com ele se vestindo. Pedi que ficasse, ele alegou precisar partir, sem citar uma justificativa.
- Vejo você amanhã na empresa! Durma com os anjos e sonhe comigo! – disse ele, antes de me deixar com uma estranha sensação de abandono palpitando no meu peito.
- Seria mais fácil se você ficasse aqui! – exclamei, numa última tentativa de mantê-lo junto a mim. Ele me sorriu, me beijou e foi embora.
Ao agarrar o travesseiro e enfiar o rosto nele, senti o cheiro que o Derek havia deixado nele, e um calor reconfortante se apossou de mim. Eu queria aquele homem, aquele estranho do qual não sabia nada a respeito, aquele homem que em menos de três dias já tinha me enrabado mais vezes do que qualquer outro em toda minha vida.
Antes daquela semana terminar, a galera toda, com a qual eu costumava sair, já sabia que meu chefe estava me fodendo, por obra da língua solta do Felipe.
- Anda, conta os detalhes! Não se atreva a esconder nada! – exigiu o Felipe, ante os olhares não menos inquisitivos do Tadeu, Pedro, Marcos e Carlão.
- Bem que dizem que os mais quietinhos são os mais safados! – vociferou o Carlão. – Você está dando o cu para o seu chefe, Uau! Cara, quem diria, justo você, o mais santinho de todos nós. – emendou para que quase toda casa noturna pudesse ouvir.
- Cala a boca, Carlão! Isso não é para ser espalhado aos quatro ventos! Aliás, Felipe, a sua lista negra só está crescendo, quem mandou você abrir essa boca? Estou puto com você, se te interessa saber. – sentenciei zangado
- A gente te ama, você sabe disso, só queremos o seu bem! Estava mais do que na hora de você deixar um cara se aproximar de você. Você precisa parar de fugir de todo homem que fica afim de você. Quer envelhecer virgem? Não foi para isso que a natureza te dotou com uma bunda gostosa como essa. – afirmou o Marcos.
O Carlão era o garanhão da turma, ele havia descoberto cedo sua inclinação para foder passivos, e tinha um poder de persuasão espantoso, bastava o safado fazer algumas trocas de olhares e logo tinha um cu à sua disposição. Minha amizade com ele começou na faculdade, fui sua primeira foda no início do curso e ele o primeiro cara a entrar no meu cuzinho, não sei porque cargas d’água, nossa amizade enveredou por um caminho no qual ele se sentia responsável por cuidar de mim, de me proteger, e isso fez com que parássemos de transar, mas continuávamos a trocar beijos e carícias. Ele me atraia fisicamente, achava-o um tesão de macho com todo aquele tamanho, força, músculos e uma jeba para ninguém botar defeito, linda, sensual e saborosa. Trocávamos confidências o tempo todo, enquanto ele me instigava a ser mais ousado, eu era o freio das suas ousadias, e isso criou um vínculo muito forte entre nós. Em segredo, eu nutria uma paixão por ele, queria tê-lo como meu homem numa relação monogâmica e permanente. Mas a personalidade do Carlão não combinava com esse meu desejo. Ele era tipo o macho de todos, aquele a quem todos admiravam e queriam, e ele não se furtava a satisfazer essa gana. Talvez por continuar alimentando a esperança de um dia ele me querer como seu único passivo e querer viver comigo como um casal, eu nunca tenha dado muita chance aos que me abordavam. Ao menos era essa também a opinião do restante da galera. Todos sabiam que entre nós dois rolava uma situação não resolvida, uma paixão confusa cheia de contratempos, mas indisfarçavelmente verdadeira.
- Finalmente você resolveu sair da concha e se dar uma chance! Estou feliz que tenha encontrado alguém. Você é daqueles que precisam de um cara cuidando de você. – afirmou ele.
- Não preciso de homem cuidando de mim! Do jeito que você fala até parece que me acha um incompetente, um gay submisso e dependente. Eu não sou nada disso! Pago minhas contas sem depender de ninguém, sei o que quero da vida e faço isso acontecer, e não pretendo virar um brinquedo de homem algum me dizendo o que posso ou não fazer. – retruquei com firmeza.
- Você entendeu o que eu quis dizer! Sei de tudo isso, mas também sei que esse coração vive um grande vazio. – concluiu. Pensei comigo mesmo – se você fosse um pouco mais sensível, já teria notado que faz tempo que eu te quero – mas talvez ele estivesse certo, uma vez que sempre me faltou coragem para dizer isso a ele. Por outro lado, eu não saberia dizer se o admirava justamente por ele ser esse garanhão que saia pegando todo mundo, ou se isso não passava de uma fixação, uma fantasia minha. Por via das dúvidas e, para manter a nossa amizade que me era tão preciosa, eu me mantinha calado.
Já o Derek era esse garanhão, mas não fazia nenhum alarde sobre isso e estava disponível e dando em cima de mim. O que mais eu poderia querer? Como a galera estava toda doida para conhecê-lo, convidei-o a ir comigo numa das baladas gays da cidade que costumávamos frequentar, geralmente sextas-feiras e sábados. Ele me pediu um tempo para pensar, disse que não era baladeiro e que também não curtia esses guetos que, segundo ele, careciam de criatividade e tinham sempre as mesmas pessoas frustradas com sua condição homossexual e desesperadas para trepar com alguém em relações que nunca se sustentavam.
- Prefiro ficar só com você! – costumava alegar quando eu lhe fazia esse pedido. – Um jantar gostoso e calmo num lugar bacana, só você e eu; um filminho no streaming com você nos meus braços na cama; um final de semana num hotelzinho na praia ou nas montanhas com você inteirinho só para mim, é isso que eu curto e desejo para nós dois. – argumentava ele.
- Só de vez em quando então! Dessa vez, para que você conheça a galera, hein! São meus amigos, estão curiosos, querem te conhecer. Por mim, vai! Não precisamos ficar muito tempo, depois prometo te recompensar pelo sacrifício. – pedi cheio de dengos, afagando-o na nuca onde apenas um leve toque dos meus dedos fazia a pele dele se arrepiar, enfiando o indicador entre dois botões da camisa dele na altura da cintura onde havia um caminho denso de pelos a serem acariciados e que o levavam a sentir o fluxo sanguíneo aumentando na virilha.
- Se você continuar com esse dedo safado onde não deve, daqui a pouco vou te jogar em cima dessa mesa e te foder na frente dessa turma toda. – advertiu ele, apontando para fora de sua sala na direção dos demais funcionários.
- Sei que está blefando! Você não é nenhum louco! Hoje à noite, às 11:00 horas, vou ficar te esperando. – intimei. – Você vai gostar, tenho certeza!
- Se eu fosse você, não pagaria para ver se estou blefando! – ele tirou meu dedo do meio da camisa e o levou aos lábios, depositando um beijo nele enquanto me encarava como se fosse um lobo faminto.
- Larga mão de ser assanhado! – protestei, quando vi alguns olhares acompanhando nossa conversa através dos vidros da sala dele. Ele riu libertinamente, e eu me convenci de que ele seria mesmo capaz de me enrabar diante de todos.
Ele fez sucesso entre a galera, todos o adoraram. Eu sabia que a beleza e virilidade dele eram os motivos principais dessa admiração, mas a simpatia e o jeito carinhoso como ele me tratava também os convenceu. O Carlão foi o único reticente, ter diante de seus olhos outro macho me cercando era algo a que ele não estava acostumado. Não que ele e o Derek tivessem se estranhado, mas ambos queriam deixar claro o quão íntimos eram de mim, numa espécie de afronta para ver quem mijava mais longe. No geral, a noitada foi bem divertida. O Derek dançou comigo quase o tempo todo, me ocupando para que ninguém mais se aproximasse, e isso todos sacaram.
- Cerco fechado, hein! O bofe não dá uma folga! Ai, como eu queria um machão desses cuidando assim de mim. – suspirou o Felipe, quando o Derek foi até o banheiro.
- Impressão sua! Não viaja! Começamos a sair há pouco, ele é meu chefe, e ninguém falou nada ainda em namoro ou algo do gênero. – retruquei. – E pare de fazer o papel da bicha louca só porque viu uma pica, toda vez que encontra com o Derek! – exigi. Eu ficava constrangido quando ele resolvia soltar toda sua viadagem, até porque era isso que sempre afastava os carinhas que se interessavam por ele num primeiro momento.
- Ei viado preconceituoso! Como quer que eu me comporte, como um macho hetero fingindo ser o que não sou? Eu sou uma bicha! Tenho orgulho de ser bicha! E quem não gosta, que se foda! – devolveu ele, num de seus acessos por liberdade de expressão, por imposição forçada de princípios e crenças que eram dele, mas que queria que a sociedade engolisse à força.
- Não foi isso que eu disse! Também sou gay, mas não fico esfregando isso na cara dos outros! E você só faz isso quando está diante de uma plateia te assistindo, começa a se exibir e falar coisas que normalmente não costuma falar. – argumentei
- Vá se foder! – esbravejou ele
- Vá se foder você! – retruquei com ênfase.
- Você é o protótipo do gay que denigre a classe, o gay enrustido que se esconde atrás de uma carapaça para que ninguém te questione, o gay filho da puta que é mais homofóbico que muito hetero! Você é um bosta, Bruno! Um bosta! – berrou ele, afastando-se de mim e deixando o restante da galera boquiaberta.
- Não esquenta, Bruno! Você sabe como ele fica quando bebe! Entra em crise consigo mesmo e sai dando coices para todos os lados. Hoje, a vítima da vez foi você, pode estar certo que isso é inveja de você estar com um cara feito o Derek e ele só conseguir carinhas sem caráter. – afirmou o Tadeu
- Juro que não sei como você aguenta morar com esse cara, Bruno! Vocês não têm nada em comum, são como óleo e água. Não é a primeira vez que vejo ele falando assim com você. Cara, você não precisa dar uma de santo abrigando esse cara no seu apartamento. – emendou o Pedro, solidário.
- Ele não tem onde ficar! Não posso jogá-lo na rua! Somos amigos desde o colégio. – ponderei
- Ah, meu bom samaritano! Quando é que você vai se dar conta de que ele não é seu amigo? Tudo bem, vocês foram colegas de escola, ele vive na pindaíba, não consegue ficar em emprego algum, mas você não tem responsabilidade alguma para com ele, enfia isso na sua cabeça! – argumentou o Pedro.
- Vamos esquecer esse assunto, viemos aqui para nos divertir e é isso que pretendo fazer. Lá vem o Derek e, pelo amor de Deus, nada de contar esse episódio para ele. Ele já torce o nariz para o Felipe e não quero que isso estrague a nossa amizade.
Achei melhor encerrar a noitada por ali mesmo e, quando o Derek me abraçou, diante dos meus amigos calados e com expressões taciturnas no rosto, pedi que fossemos para casa.
- Está tudo bem? – perguntou ele, sacando o clima pesado pairando no ar.
- Sim, está! Podemos ir? – respondi.
- Claro, quando você quiser!
Despedimo-nos do pessoal e fomos para casa, o Derek insistiu mais uma vez na pergunta, e eu respondi que ele não precisava se preocupar, que estava tudo bem, que tinha me aborrecido com o Felipe, nada além disso. Ele voltou a fazer suas objeções quanto ao Felipe e também questionou o porquê de eu continuar a mantê-lo no meu apartamento. No fundo, eu tinha pena do Felipe, de seu passado tumultuado e triste que acabou por moldar sua personalidade, e isso me fazia aturá-lo e, às suas grosserias para comigo.
Demorei um pouco a perceber que meus encontros com o Derek só aconteciam em determinados dias da semana e, que seus convites para passarmos um final de semana todo juntos também eram esporádicos e sempre tinham que acontecer quando ele determinava e não quando fosse mais propício. Porém, nunca o indaguei a respeito, achava que era mais uma de suas inflexibilidades de macho ditatorial. Com o tempo, percebi que ele era impositivo, que sempre queria estar no controle da situação, que minhas vontades tinham que se sujeitar às dele, embora ele nunca tivesse sido rude ao impô-las, pelo contrário, ele tinha todo um jeitinho de conduzir as coisas até eu ceder, muitas vezes sem nem ao menos me dar conta disso. No sexo e na cama isso nunca foi um problema, eu gostava de me submeter a ele como um bom passivo que, embora fosse homem, não curtia nem mesmo ter o pau chupado. A minha passividade no sexo era absoluta, e levar a pica de um macho no cu sempre foi não só meu sonho, mas a mais expressiva fonte de prazer.
Fazia meio ano que estávamos saindo com regularidade e transando numa frequência como nunca antes eu tinha transado com outro cara. Tínhamos nossos encontros e jantares reservados, longe do agito dos meus amigos, tínhamos nossos finais de semana em Guaratuba ou na Ilha do Mel só para namorar e fazer amor, tínhamos algumas raras saídas para baladas gays da cidade tipo Vu Bar, Bwayne e Verdant onde a galera costumava se juntar para dançar e curtir a noite. Na empresa formávamos uma equipe coesa e com excelentes resultados financeiros. Como casal, eu me sentia nas nuvens por ter o amor daquele homem carinhoso, protetor e um tremendo fodedor que sabia como deixar meu cuzinho arregaçado, dolorido e pedindo mais daquele caralhão colossal. Pela primeira vez, eu sentia estar numa relação, sentia que amava o Derek e que queria viver para sempre ao lado dele.
Estávamos na Verdant comemorando o aniversário do Pedro, o primeiro dos meus amigos a romper a barreira dos trinta anos. Rolava uma noite temática com muitos go-go dancers quase nus exibindo suas rolas metidas em jockstraps brilhantes e suas bundas de fora agitando seus corpos sarados para delírio da galera. Fazia calor na balada lotada, eu havia tirado a camiseta e dançava com o Derek com o torso exposto e, embora estivéssemos ao som de música eletrônica, ele dançava quase colado em mim, a todo momento colocando seus braços ao redor do meu pescoço ou da minha cintura, só para deixar claro para os carinhas que se aproximavam de mim que eu tinha um dono muito do possessivo. Eu fazia questão de retribuir aquele cuidado, beijando-o e acariciando seu rosto tesudo e hirsuto, isso desestimulava qualquer um de se aproximar seduzido pelo meu corpo gingando em consonância com o ritmo da música. De vez em quando, eu dirigia uns olhares em direção ao bar e não tinha dúvida de que o assunto da conversa dos meus amigos éramos eu e o Derek.
Quando demos um tempo e fomos nos juntar a eles, a cara do Carlão já falava por si só. Eu conhecia aquela cara, eu sabia o que ela significava, eu aprendi a ler a contrariedade e o cinismo que estava embutido por trás dela. Ele tinha tratado o Derek com frieza desde o primeiro instante naquela noite, o que não era nenhuma novidade, mas que me pareceu ainda mais fria e crítica naquela noite.
- Posso tirar uma casquinha do seu namorado, afinal é meu aniversário e eu acho que mereço um presente especial do Bruno! – exclamou o Pedro, puxando-me dos braços do Derek e me levando para a pista de dança novamente.
- E aí, qual é a bronca dessa vez? O que estavam falando de mim e do Derek? – perguntei, assim que chegamos à pista.
- Nenhuma! De onde você tirou essa ideia de que estávamos falando de vocês? – disfarçou ele
- Você mente muito mal, sabia! Anda, me conta! Aposto que o Carlão estava envenenando vocês outra vez. Ele não curte o Derek e faz questão de deixar isso bem claro. – retruquei
- Você conhece bem esse cara? Sabe tudo da vida dele, ou está caindo de cabeça numa piscina sem saber a profundidade?
- Que tipo de perguntas são essas? Conheço, é claro! Quer dizer, conheço o suficiente para saber que ele é um cara legal, que eu estou apaixonado por ele. Nunca se conhece ou se sabe tudo sobre a vida de alguém, isso não existe. – respondi.
- A gente só não quer que você se machuque, sabe que te adoramos, não sabe?
- Por que isso agora? O que você sabe sobre o Derek que eu não sei?
- Nada! Nada, não. Só estamos preocupados, só isso!
- O que estão me escondendo? Eu já te disse, você mente muito mal e não sabe disfarçar. Me conta. – pedi, pois sabia que estavam me escondendo alguma coisa. Ele continuou negando e eu desisti de dançar e voltamos a nos juntar a eles no balcão do bar.
Pela cara do Derek e do Carlão dava para saber que tinham se estranhado novamente.
- O que está rolando aqui? – perguntei aos dois. Ambos deram uma desculpa esfarrapada.
- Nada! O Derek e eu só estávamos tendo uma conversa amigável, não é? Ele estava me contando como achou interessantes os calçadões do bairro Santa Felicidade, não é? – o cinismo na voz do Carlão denunciava tudo.
- Não sabia que você esteve por lá. Vocês se encontraram? – perguntei ao Derek, visivelmente perturbado por estar sendo encurralado.
- Sim, casualmente! – limitou-se a responder. Enquanto o olhar do Carlão estava a lhe exigir mais explicações. – Podemos sair daqui? Essa noite já deu o que tinha que dar! – emendou
- Claro! Vamos para casa. – respondi. A cara da galera me dizia que eles estavam me escondendo alguma coisa.
O Derek quase não falou enquanto dirigia para o apartamento, e aquele silêncio estava me assustando, pois me parecia o prenúncio de más notícias.
- O que foi aquilo na balada? O que aconteceu entre você e o Carlão? – perguntei, assim que ele se sentou num canto do sofá com o olhar vagando sem um objetivo definido.
- O Carlão e o Tadeu me viram acompanhado de uma pessoa no domingo passado circulando pelas lojas do Santa Felicidade. – eu estava prestes a perguntar que mal havia nisso quando ele continuou. – De mãos dadas! – por uns segundos, pensei ter ouvido – de mãos dadas – tanto que repeti as palavras.
- De mãos dadas! Como assim? – fui me sentar na poltrona diante dele.
- Eu tenho um relacionamento de seis anos! O nome dele é Brian, ele é médico, veio comigo quando me mudei para o Brasil, nós moramos juntos, mas estamos passando por problemas de relacionamento. Eu ia te contar, mas não encontrava o momento certo, não queria perder o que tenho com você. Me perdoe por não ter tido coragem. Eu gosto de você, Bruno! Gosto muito, de verdade. – enquanto ele falava as paredes da sala giraram ao meu redor, cada vez mais intensamente, como se eu estivesse no centro de uma centrífuga. – Eu ainda não falei para o Brian que quero terminar, mas vou fazer isso, o mais breve possível. – continuou ele.
- Então tanto o Brian quanto eu estamos sendo enganados! – exclamei, quando senti que conseguiria proferir as palavras sem começar a chorar.
- Não veja as coisas por esse ângulo, Bruno, por favor.
- E por qual ângulo você quer que eu enxergue as coisas? O Brian sabe de mim? Por que nunca me falou nada? Por que deixou que eu me apaixonasse? Por que está fazendo isso comigo, Derek, por que? – desabei aos prantos.
- Meu relacionamento com o Brian chegou ao fim, eu estou prestes a ter uma conversa definitiva com ele, juro. Eu não queria te magoar, não queria ver você passando por isso. Eu te amo, Bruno, acredite em mim, por favor. – suplicava ele. – Me dê uns dias para falar com o Brian, para resolver tudo com ele.
- Eu estou sem chão! Não sei o que pensar! Eu confiei tanto em você Derek! Cegamente! Apaixonadamente! Me sinto um idiota. – proferi confuso e, subitamente perdido.
- Não, não diga isso! O fato de eu não ter te contado nada não faz de você um idiota ou alguém com quem eu estivesse trapaceando. Eu amo você, Bruno. Você precisa acreditar em mim e no meu sentimento por você. Nós nos amamos. Eu vou resolver tudo, juro. – afirmava ele, mas eu sentia um vazio enorme naquelas palavras.
- Você sempre resolve tudo, não e assim? Me deixe sozinho, por favor. Me deixe, Derek! Vá para casa. – implorei. Assim que a porta se fechou atrás dele, eu me encolhi na poltrona e chorei como uma criança abandonada. Meu mundo de felicidade estava ruindo, sem que eu pudesse fazer nada para salvá-lo.
O peso de estar me relacionando com o meu chefe se fez sentir quando tivemos que nos encontrar na empresa todos os dias com aquela situação mal resolvida e constrangedora pairando sobre nossas cabeças. Aquela espontaneidade para tratar das questões rotineiras se tornou um fardo, ficávamos medindo as palavras tentando disfarçar nossos sentimentos. Todos na empresa perceberam o clima opressivo que havia se formado entre nós dois.
- O chefinho e o big boss brigaram? Que bate-boca foi esse entre vocês dois, nunca discordaram tão agressivamente de uma opinião? O cliente saiu daqui com a impressão de que vocês dois têm posições bem antagônicas em relação às soluções que ele pediu para estarem contempladas no software do sistema dele. Não é por nada não, chefinho, mas pegou muito mal vocês dois se engalfinharem na frente dele. – observou o Hiroshi, ao sairmos de uma reunião de negócios com um de nossos clientes mais importantes.
- Não começa você também! Não estou nos meus melhores dias, portanto, me dá um tempo! – devolvi exaltado, ainda puto com o Derek por ele ter colocado em dúvida a minha opinião diante do cliente.
- Faz uma semana que você não está nos seus ‘melhores dias’, chefinho. E, pela cara do big boss, ele está padecendo da mesma síndrome. Está na cara que vocês brigaram. Para o bem de todos nós, seja lá o que tenha rolado, vá até ele dá uns daqueles seus beijões apaixonados nele, se for preciso, chupa a rola dele que na mesma hora tudo se resolve. – sentenciou o desavergonhado.
- Vá à merda, Hiroshi! Não sei por que eu ainda continuo te aturando, japonês folgado! – revidei
- Porque você me ama? Porque sabe que só te dou bons conselhos? – indagou ele, com aquela cara de malandro que, em nome de nossa amizade, se metia na minha vida sem a menor cerimônia.
- Bons conselhos? Você é um abusado, isso sim! Cadê o design do projeto daquela empresa de logística, você já definiu qual vai ser a linguagem de programação mais indicada, faz uma semana que eu te pedi essa porra e até agora nada. É melhor você guardar seus conselhos e fazer o que te mando. – despejei irado contra ele.
- Chefinho, você me pediu isso anteontem no meio da tarde, eu te entreguei a solução e justificativa por escrito num e-mail que te enviei ontem mesmo. Caralho, chefinho! Você anda uma pilha de nervos. A briga com o big boss deve ter sido feia! – retrucou ele.
- Para mim deu! Se, por acaso, o big boss perguntar por mim, diga que tive que ir respirar, que aqui dentro estou sufocando. Estou indo para casa, mas esse detalhe você não precisa mencionar. E, me desculpe, não quis ser grosseiro com você, você sabe, não é?
- Deixa comigo, eu seguro as pontas por aqui. Mas, antes de você ir, mais um conselho, leve um papo com ele! O big boss te ama, se ele pisou na bola, converse com ele e tentem se acertar. Você estava tão feliz, ele te faz bem e você sabe disso! – aconselhou o abelhudo.
- Ele pisou feio na bola, feio mesmo, não sei se tem como consertar, cupido de meia-tigela. Obrigado, cara! – devolvi antes de encerar o expediente bem antes do normal.
- Te ligo à noite para ver se está melhor! – afirmou ele. – Beijos!
- Beijão! – ele esboçou um sorriso amistoso, antes de voltar a se compenetrar na tela do computador.
Ao chegar em casa me enfiei num short, fui até o terraço do apartamento e me pus a observar o horizonte daquela tarde ensolarada na qual os tons vermelho-alaranjados do sol atravessavam nuvens azuis ao som dos Noturnos de Chopin. Eu precisava dessa calmaria, precisava digerir a mentira do Derek, precisava ter coragem para abrir mão daquele sentimento que havia se arraigado no meu peito. Só percebi que tinha anoitecido quando o Felipe chegou em casa. Vendo-me ali sentado com o olhar perdido, ele nem se atreveu a me perturbar, foi direto para o quarto dele. O interfone tocou umas cinco vezes, antes que me dispus a atender praguejando pelo Felipe não mover a bunda para fazê-lo.
- Podemos conversar? – perguntou o Derek quando abri a porta e o deixei entrar.
- Acho melhor darmos um tempo! – exclamei depois longos minutos de silêncio.
- Eu não quero dar um tempo! Eu quero você! Sei que não agi direito, mas eu te amo, Bruno. Não quero perder o que tenho com você! – afirmou ele
- Como também não quer perder o que tem com seu marido, parceiro, ou seja lá o que vocês dois são! – explodi em novo acesso de raiva.
- Não te culpo por estar zangado, mas me ouça, querido.
- Não me chame de querido! Não seja tão cínico, eu não mereço isso! – devolvi
- Eu ia te contar, juro! Só que as coisas se precipitaram quando o Carlão e o Tadeu me viram com o Brian naquele dia. Faz tempo que as coisas não andam bem entre nós, estávamos levando com a barriga para ver se elas se resolviam, mas isso não aconteceu. E aí, apareceu você, lindo, meigo, carinhoso, com tudo que estava me faltando, foi quando achei que tinha chegado a hora de colocar um ponto final na minha relação com o Brian. Só que as coisas não aconteceram como eu tinha planejado e você veio a descobrir tudo antes do devido tempo. – explicou ele.
- E quando seria esse devido tempo? Faz seis meses que estamos juntos, isto é, estávamos. Nesse tempo todo não deu para você resolver a sua situação? No que você pensou, vou arrumar um estepe e deixar as coisas rolarem, quando a situação com um se complicar eu tenho o outro para foder? – vociferei
- Você sabe que eu não sou esse tipo de homem que engana os outros. Eu entendo a sua raiva, não te culpo por isso, o único culpado sou eu. – admitiu ele.
- Aí é que está, eu não sei mais que tipo de homem é você! Diz que me ama quando me fode, mas vai para casa se encontrar com um cara com o qual vive um relacionamento de seis anos. Que tipo de homem é esse, Derek? Dá para me explicar? – questionei. – Eu preciso de um tempo! Estou pensando em pedir demissão. Não dá mais para trabalharmos juntos, para ficar tantas horas perto de você, sabendo que fui enganado. – concluí
- Não diga um absurdo desses, Bruno! No fundo você sabe o quanto eu te amo e que você também me ama. Não cometa esse erro! Não peça demissão! – pediu ele. – Está bem, eu concordo com um tempo para você refletir e se dar conta de que nunca quis te enganar e que te amo. Mas, pedir demissão não, isso não!
Depois disso nos afastamos. Voltei a me sentir solteiro e livre e a ter a vida de antes de conhecê-lo. Voltei a sair com meus amigos, a agir profissionalmente dentro da empresa e a não deixar que aquela situação interferisse no nosso trabalho. Não foi tão fácil como eu tinha imaginado. Toda vez que ficávamos próximos um do outro, parecia que se fechava um circuito elétrico, parecia que uma energia se formava e atraia nossos corpos. Eu mal podia ficar a alguns passos dele para que seu cheiro se impregnasse em mim e fizesse meu cuzinho se ouriçar. Ele não conseguia olhar para os meus lábios se movendo durante uma conversa sem que a rola começasse a endurecer, colocando-o em situações embaraçosas. Ao menos, ele cumpriu a promessa de não me procurar, de me dar espaço sem me pressionar.
Havia quatro meses que havíamos rompido quando conheci o Marcelo. Foi num sábado à noite, a galera havia se reunido numa balada gay, quando fui alertado pelo Pedro do carinha que estava me observado de longe enquanto eu dançava com o Carlão e ele com um carinha que tinha acabado de conhecer. Olhei discretamente na direção que o Pedro havia indicado, quando o vi sorrindo para mim, assim que nossos olhares se encontraram. Grande, muito forte, cabelo curto, rosto viril, tronco sólido, braços musculosos saindo das mangas da camiseta, pernas grossas enfiadas num jeans e um sorriso de fazer palpitar corações. Olhei novamente na direção dele, nova troca de sorrisos. Outra virada de cabeça e uma troca de olhares, olhos brilhando como faíscas numa noite escura. O DJ que animava a balada tinha dado um tempo e o salão foi preenchido pela voz de Billy Idol cantando Eyes Without a Face. As mãos do Carlão estavam na minha cintura sentindo meu corpo gingando ao som da música quando em nova virada de olhar me vi ao lado dele movendo o corpão sensualmente. Um – Oi! – grave e firme chegou aos meus ouvidos, ao qual respondi interessado. Sorri, fiquei cara-a-cara com ele, o Carlão me soltou e suas mãos assumiram a posição antes ocupada pelo Carlão. Continuamos a dançar Hear me Now do Alok, aquelas mãos enormes começaram a incendiar meu corpo, ele me puxava para mais perto dele, baixei meus braços erguidos sobre seus ombros quentes, ele tinha um perfume amadeirado que foi atraindo meu rosto cada vez para mais perto, nossas bocas se tocaram, ele fechou as mãos numa apalpada potente, eu fui abrindo lentamente os lábios e a língua dele me penetrou, saborosa e cheia de tesão.
- Você dança muito bem! Me deixou excitado! Marcelo! – disse ele, quando deixamos a pista de dança e fomos para um canto mais isolado.
- Bruno! É sempre tão direto? Não devia ao menos tentar disfarçar um pouco? – questionei sorrindo, quando dirigi meu olhar para abaixo da cintura dele e vi aquela ereção enorme.
- Fica difícil quando se tem um corpo tão lindo nas mãos e esses olhos azuis te encarando. – respondeu ele.
Quando o DJ voltou, dançamos mais algumas vezes, os braços dele não me soltavam e eu estava amando aquilo, estava amando a sensualidade e a virilidade daquele macho que não se furtava ao prazer de ter meu corpo colado ao dele. Apresentei-o à galera, trocamos telefones e o alvorecer do domingo dava seus primeiros sinais num céu dominado pelos azuis profundos quando nos despedimos com um demorado beijo na calçada da balada esvaziada.
- Eu já estava vendo a hora que o carinha ia te levar para um canto e te enrabar de tão tarado que você o deixou. – disse o Pedro no carro à caminho de casa
- Será que vocês só conseguem pensar em sacanagem? Mal conheço o cara, não saio dando o cu para a primeira pica que me aparece. – retruquei.
- Você deveria ter sido pelo menos gentil com ele, e o recompensado por deixá-lo de pau duro. Depois vem falar que nós falamos sacanagem. Quer sacanagem maior que deixar o macho de pau duro e não atender as necessidades dele. – revidou o Pedro.
O Marcelo me ligou no início da tarde do domingo.
- Topa um café no Lucca Cafés?
- Topo!
- Daqui a uma hora, pode ser?
- Combinado! Estarei lá. – a perspectiva de sentir aquele par de olhos verdes me examinando extasiado era mais do que suficiente para eu aceitar o convite.
Ele esperava por mim quando cheguei ao café. O corpão musculoso dele me pareceu maior à luz do dia, bem como mais excitante. Abri um sorriso contido quando o avistei, ele se levantou me devolvendo um sorriso largo com dentes bem alinhados e lindos. A sensação de ele me examinando da cabeça aos pés me excitou, aquele olhar quente e cobiçoso foi uma das coisas mais deliciosas que já senti. A conversa fluiu como se nos conhecemos desde há muito. Descobri que ele era policial rodoviário federal, o que explicava aquele corpão atlético e aquela postura rija. O que me cativou foi sua simplicidade, a maneira como se expressava quanto à impressão que teve de mim na balada, de como deixava escapar sutis elogios.
- Nunca tinha te visto na Vedant. – afirmei
- Foi a primeira vez que fui até lá. Sou novo em Curitiba, estava lotado num batalhão no interior do Estado até há pouco. – respondeu ele. – Você costuma ir muito lá?
- Mais ou menos! É um dos lugares preferidos da galera quando saímos juntos. – respondi
- O carinha com quem você estava dançando é seu namorado? – ele fez a pergunta ao mesmo tempo em que dava um gole na xícara de café para disfarçar.
- O Carlão? Não, é um amigo, só amigo.
- Fiquei com inveja da maneira pela qual ele te segurava. – disse ele esboçando um sorriso. – Tem namorado? – emendou em seguida
- Não! Não tenho. Foi por isso que também resolveu me segurar daquele jeito? – perguntei
- Ahã! Queria saber como é gostoso segurar um corpo lindo como o seu, ainda mais quando ele está se movendo com toda aquela sensualidade. – respondeu ele
- Você não está querendo me encabular, eu espero.
- Longe disso! Você gostou?
- Gostei! – respondi sincero, mais tímido do que gostaria.
- Bom saber! Quero repetir a experiência o quanto antes. – confessou ele.
O Marcelo me acompanhou até em casa, subiu, entrou, me apertou em seus braços, tirou minha camiseta enquanto me beijava avidamente, lambeu meus mamilos, esmagou-os entre os dedos, chupou-os vorazmente, apalpou minhas nádegas e me ergueu do chão quando enlacei minhas pernas ao redor dele. Fomos para o quarto, nos despimos, lambi-o, chupei-o e beijei-o da boca até o umbigo afagando aquele tórax hercúleo e excitantemente peludo, até me ver diante da jeba colossal dele. Sem perder mais nenhum segundo, coloquei-a toda melada pela excitação dele na boca e comecei a chupar feito um bezerro faminto. Quando minha mão se fechou ao redor da rola pesada, reta e grossa ela ainda não estava completamente dura, mas bastaram algumas sugadas minhas para vê-la crescendo vertiginosamente até chegar à sua plenitude. Seu aroma almiscarado e seu sabor amendoado eram simplesmente maravilhosos e, enquanto eu sorvia aquele sumo, o Marcelo se contorcia e gemia, cerrando os olhos como que concentrando toda sua energia no prazer que advinha da pica. Ele agarrou meus cabelos, prendeu minha cabeça e empurrou na caceta na minha garganta, mal me deixando respirar. Ele estocava a minha goela com a cabeçorra da pica, e pude sentir que ele era um pouco bruto, usando uma força desnecessária para foder minha boca preocupado unicamente com seu prazer, mesmo assim, continuei mamando e lambendo sua jeba latejante. Dadas as dimensões da rola e especialmente da cabeçorra que se destacava do corpo já bastante grosso, menos de um terço dela cabia com muito esforço e determinação dele na minha boca. Como o sacão dele balançava a cada nova estocada, eu comecei a acariciá-lo, sentindo os enormes bagos borrachóides que havia dentro dele completamente abarrotados. O Marcelo gemeu mais alto quando os acariciei.
- Está querendo acabar comigo? E eu que achava que conhecia uma bela mamada de cacete. Isso que você está fazendo comigo só pode ser um devaneio, um devaneio sem precedentes! – exclamou ele, entre os gemidos guturais que saiam de seus lábios contraídos pelo tesão.
Eu estava tão concentrado no sabor daquele caralhão que não consegui pensar numa resposta, e continuei chupando cada vez mais avidamente sua carne quente e indômita. O resultado não poderia ser outro, com um urro contido ele gozou, enchendo minha boca com jatos de esperma cremoso e levemente alcalino que eu ia engolindo vorazmente para não me engasgar. Ele havia puxado minha cabeça para trás pelos cabelos e me observava extasiado engolindo toda sua porra sem desperdiçar uma única gota.
- Cacete, Bruno! Você sabe como deixar um homem maluco! – exclamou ele em jubilo.
- Você é delicioso, sabia! – devolvi, ao terminar de lamber o caralhão esporrado dele. Ele me retribuiu com um sorriso largo e significativo.
Enrosquei-me no corpão dele e ficamos deitados nos acariciando, minha cabeça apoiada no ombro dele, enquanto minha mão deslizava sobre seu tórax e abdômen, afagando aqueles pelos sedosos que as pontas dos meus dedos encontravam pelo caminho. De vez em quando, ele tomava minha mão entre a dele e beijava carinhosamente, antes de devolvê-la ao lugar onde queria ser acariciado.
- Com esse corpo e tão carinhoso como você é, não consigo entender como está sem namorado. – comentou ele.
- Eu tinha um até uns meses atrás, mas não quero falar sobre isso. Não agora que estou nos teus braços e sentindo como seu coração está batendo forte, isso aqui é o paraíso e eu queria poder ficar assim por toda eternidade. – devolvi sincero.
- Eu não sabia que estava com essa bola toda! Por mim você pode ficar aqui o quanto quiser, eu acho que nem mesmo minha mãe me paparicou tanto quanto você nesses poucos momentos que estamos juntos. Quero você para mim, Bruno! – confessou ele.
Ele veio rolando para cima de mim, segurou meu rosto entre as mãos e me beijou. Eu devolvia cada beijo receptivo e sugava a língua que ele havia enfiado na minha boca. À medida que nosso tesão aumentava, nossas mãos incontroláveis tateavam sobre nossos corpos, explorando cada centímetro deles. Ele amassava minhas nádegas, valendo-se novamente da incrível força que havia em suas mãos enormes, chegando a ser bruto, o que logo percebi que ele fazia sem ter consciência disso. Era apenas o tesão desmedido dele controlando seus atos. Minhas mãos percorriam seu rosto que, com aquela barba por fazer, parecia uma lixa e me deixava tão fascinado que eu só pensava em me entregar para ele. Com o polegar, ele contornava meus lábios úmidos, me provocando até eu os abrir o suficiente para lambê-lo, demonstrando todo meu desejo que também se refletia no brilho do meu olhar encarando-o.
O Marcelo me virou de bruços, abriu minhas pernas, apartou meus glúteos e começou a mordiscar as laterais do meu rego, como se quisesse me devorar. Meu tesão era tanto que eu gemia baixinho, sentindo a barba dele pinicando minhas nádegas à medida que ele afundava o rosto no meu reguinho para linguar minha rosquinha anal, umedecendo-a com sua saliva. Meu corpo tremia todo, eu parecia estar perdendo o controle sobre ele. Eram as mãos do Marcelo que o controlavam e ele se deleitava com os espasmos que vinham dele. Ele foi me cobrindo aos poucos, fazendo seu corpo pesado deslizar sobre o meu até que sua boca alcançou minha nuca e começou a me lamber e mordiscar. Eu me agitava debaixo dele, nossos corpos roçavam um no outro, cada vez mais quentes e mais necessitados. Ele puxou minha cabeça para trás e colou sua boca à minha num demorado e sensual beijo que me fez gemer em sua boca, enquanto ele movia a pelve e fazia o caralhão duro deslizar dentro do meu reguinho apertado. Guiando o pauzão com uma das mãos, ele o pincelou sobre as minhas preguinhas excitadas. Tentei ao máximo controlar a agitação do meu corpo para me manter o mais imóvel possível, até arrebitei a bunda contra a virilha dele quando senti que ele estava prestes a enfiar o cacetão no meu cuzinho. Eu nunca havia sentido tanto receio inexplicável quanto naquele instante. Talvez fosse o arfar ruidoso e predador dele junto ao meu ouvido, talvez fosse aquela força exagerada que da qual ele se valia para me conter, talvez fosse pelo tamanho cavalar do cacetão dele que me deixava tão inseguro.
- Eu só me pergunto com o que foi que te alimentaram para você ficar com um pau desse tamanho. É assustador! – sussurrei temeroso. Ele esboçou um sorriso.
- Você é sempre assim, tão espontâneo ao revelar seus receios?
- É o meu pavor falando por mim, pode ter certeza! Sei que um cacetão desse é o sonho de todo gay passivo, ainda mais quando o dono dele é um cara lindo e tesudo como você, mas eu estou morrendo de medo. Pronto, falei! – as palavras saiam da minha boca sem nenhum filtro, era algo dentro de mim deixando-as escapar em toda sua franqueza.
- É muito bom saber que me acha lindo e tesudo, especialmente quando tenho a mesma percepção em relação a você. – retrucou ele.
- Promete que vai ser cuidadoso? – indaguei, ao sentir que ele começava a pressionar a pica na minha fenda anal.
- Prometo! – exclamou ele, embora eu não me sentisse confiante o bastante para acreditar nele.
Eu gritei com o rosto afundado no travesseiro quando a cabeçorra atravessou meus esfíncteres apertados, distendendo-os e dilacerando-os com a estocada abrupta que ele deu para enfiar a rola no meu cuzinho.
- Ai, devagar, Marcelo! Por favor, devagar! Está doendo! – gani, tentando tirar o cu da reta daquele caralhão determinado.
- Desculpe, não quis te machucar! – sussurrou ele ganancioso, enquanto me impedia de escapulir com seu corpão pesado contendo o meu.
Inspirei fundo, minhas mãos crispadas se agarravam aos lençóis, me faltava o ar e o caralhão continuava a deslizar para dentro do meu cuzinho enquanto eu gania num misto de dor e prazer. O Marcelo cobriu minhas mãos com as dele e nossos dedos se entrelaçaram, um beijo úmido na minha nuca veio para me dar segurança, junto com um sussurro arfado.
- Nunca senti um cu apertando tanto a minha rola! Você me deixa doido, Bruno! Doido de tanto tesão! Me deixa ser seu macho, deixa! – o que mais eu podia fazer a não ser me entregar de corpo e alma para ele, se aquela voz grave e doce já reverberava fundo dentro de mim?
Ele me estocava com força, suas coxas batiam contras minhas nádegas fazendo aquela caceta enorme desaparecer dentro das minhas entranhas, até o sacão peludo ficar espremido no meu reguinho. Meus ganidos preenchiam o quarto, como sua jeba preenchia meu cu. A cada vaivém mais intenso, eu sentia minhas forças sucumbindo. Eu me questionei o porquê de sempre atrair homens desse tipo, com cacetes enormes que forçavam minhas preguinhas ao limite de sua resistência até estarem todas rasgadas e doloridas, enquanto eles só vivenciavam o prazer de ter seus caralhos agasalhados pelos meus esfíncteres. O meu prazer crescia lentamente entre a dor, era algo tão entranhado que me fazia querer ficar indefinidamente atado ao macho, como se eu dependesse de sua energia. E era exatamente isso que eu estava sentindo crescer em mim enquanto o Marcelo movia cadenciadamente sua rola no meu cuzinho. A mucosa em brasa levava esse calor até lá no fundo, revolvia minhas entranhas e ia retesando meu baixo ventre como uma onda que se avolumava até explodir num gozo incontrolável. Gani tão alto quando comecei a gozar que o Marcelo não teve dúvida de que tinha me levado ao clímax. Seus braços fortes me envolviam pelo tronco, uma de suas mãos deslizava pelo meu rosto e dois dedos dela estavam na minha boca gulosa que os chupava alucinadamente. Enquanto isso, a outra mão dele apertava um dos meus mamilos e tracionava seu biquinho rijo à mercê de sua volúpia desenfreada.
- Isso, goza meu tesudinho, goza para o teu macho! – exclamou ele, quando viu meu pinto ejaculando. – Estou louco por você, Bruno! Louco por me dar tanto prazer com esse rabo apertado!
A gozada exauriu minhas forças, ele continuava bombando meu cuzinho, cada vez mais afoito, arfando e gemendo até liberar um urro gutural e se despejar todo dentro de mim. Ele inundou meu cu com sua porra pegajosa e formigante que escorria lentamente sobre a minha mucosa anal esfolada. Gemi o nome dele, antes de ele se deixar cair pesadamente sobre mim, todo suado e arfando feito um touro saciado. O pauzão dele continuou quicando duro e frenético dentro do meu cu, como se não estivesse disposto a abandonar aquele casulo quente e úmido que o acolhia. O Marcelo deslizou ligeiramente para o lado, continuou me abraçando para que não nos desengatássemos, ficando mais da metade do caralhão dele ainda dentro do meu cuzinho quando me virei de lado. Afaguei o braço peludo dele e pousei um beijo nas costas de sua mão, para garantir que ele não me soltasse. Eu queria ficar envolvido na segurança daquele corpo, e esquecer que havia um mundo lá fora.
Nas semanas seguintes assumimos oficialmente nosso namoro diante da galera, não havia porque esconder o que sentíamos um pelo outro. À exceção do Felipe, todos aprovaram minha escolha, se bem que o Carlão não o demonstrasse tão abertamente quanto os demais. Ele nunca se mostraria completamente de acordo com minhas escolhas, talvez nem ele próprio saberia dizer por que se sentia enciumado toda vez que eu me mostrava interessado num cara. O que ele sabia era que precisava me proteger de um jeito ou de outro, de impedir que eu me machucasse. Nenhum de nós dois saberia explicar essa relação ambígua que havia entre nós, não era uma questão sexual, era um amor diferente, um amor que jamais resultaria num relacionamento normal como um casal, era um amor que não encontrava explicação dentro do campo da racionalidade, mas que sempre estava ali, e ambos sabíamos disso.
- Já assumindo outro macho, não se passaram nem cinco meses que você largou o último! Tudo isso é vontade de dar o cu? – questionou o Felipe quando soube do meu novo affair com o Marcelo, como se ele, que trocava de parceiro quase mensalmente, fosse um poço de virtude.
- Quem deveria estar fazendo perguntas seria eu, o que deu em você para ficar me criticando por qualquer coisa que eu faça? Segundo me consta não tenho que te dar satisfações da minha vida. Do jeito que você fala parece que eu só vivo correndo atrás dos caras, o que você sabe muito bem, não é verdade. – rebati
- Não é o que parece! Para quem até ontem estava dando o rabo para o chefe, a troca foi bastante rápida e sem nenhuma seleção, diga-se de passagem. – continuou ele
- O que você quer dizer com isso? E eu não estava dando o rabo para o meu chefe, eu tinha sentimentos por ele, achava que tinha encontrado o cara certo, mas ele preferiu me esconder que estava num relacionamento. O que você queria que eu fizesse, ficasse chorando pelos cantos pelo resto da vida? Não faço bem o papel de vítima, e a vida segue. – retruquei
- E esse agora é o cara certo? Deve ser, porque está te fodendo, então é o cara certo, mesmo que ele esteja longe dos teus padrões. Afinal, fora o fato de ele ser bonitão, isso eu admito, ele não passa de um policial rodoviário. Já pensou quando sua mãe souber que você está tendo um caso com um sujeitinho assim? Pobre, sem futuro, fora do seu meio social. – ironizou ele
- Eu gosto do Marcelo, não por que ele me fode, mas por que é um homem de princípios, um cara que vale à pena se relacionar. Se vamos ficar juntos eu não sei. O que eu sei é que vou fazer de tudo para que isso aconteça. – devolvi, já irritado com os comentários ácidos dele. – Também seria bom você guardar sua opinião para si mesmo, não estou interessado nela. Talvez fosse melhor você cuidar da própria vida e não da dos outros! – acrescentei.
- Não está mais aqui quem falou! Mil perdões, senhor certinho! – debochou ele. Fiquei remoendo as palavras dele durante dias, e me aborrecia a cada vez que elas pareciam soar novamente nos meus ouvidos.
Na semana em que ia comemorar meus vinte e quatro anos, senti que a turma estava me escondendo alguma coisa, especialmente o Carlão que costumava liderar as festas surpresa de aniversário da galera. Inquiri-o, para dizer a verdade, encostei-o contra a parede, mas ele despistou o tempo todo e me fez acreditar que não estavam tramando nada. Eu tinha pedido para não fazerem nada, que eu estava me sentindo confuso em relação a tudo ultimamente e que não estava em clima de festa.
- Promete para mim que não está armando nenhuma surpresa, Carlão. Já me basta ter que ir ao casamento do meu irmão no início do mês que vem, e aguentar todos os comentários da família a meu respeito, e a minha mãe me forçando a conhecer ‘boas moças de família’ como ela se refere às candidatas à nora que ela fica me arranjando.
- Fica tranquilo, não estou aprontando nada! – respondeu ele. Estava mentindo, na cara dura.
- Mentiroso! Por favor, Carlão, eu imploro, nada de festa, OK?
- Ok!
- Vou me zangar seriamente dessa vez, juro! – insisti
- Sei! – esse ‘sei’ falava por si só.
Na véspera do meu aniversário eu já não tinha nenhuma dúvida, estavam armando uma surpresa, a cara deles não mentia tanto e nem com a mesma ênfase de suas bocas. Para piorar, encontrei com o Derek e o marido numa balada gay à qual tínhamos ido. Eu nunca os tinha visto juntos e encontrá-los constatando que eram realmente um casal, doeu mais do que eu podia imaginar. Eu ainda pensava nele, ainda não tinha conseguido tirar completamente o Derek do meu coração e estava mais confuso do que nunca, pois meus sentimentos pelo Marcelo eram verdadeiros, eu gostava muito dele. Eu nunca tinha sentido essa ambiguidade, tinha por certo que é impossível amar verdadeiramente duas pessoas ao mesmo tempo, porém era exatamente isso que estava acontecendo. Como é que o destino me apronta uma cilada dessas me faz gostar de dois homens ao mesmo tempo, divide meus sentimentos esses dois caras maravilhosos, me deixa tão indeciso e perdido? Por mais que eu tentasse, não encontrava uma resposta.
Oi! – cumprimentou o Derek quando nos encontramos. – Este é o Brian! – apresentou ele. Pela maneira como o cara me encarou, ele devia estar sabendo do que rolou entre o Derek e eu.
- Oi! – devolvi constrangido pela situação. – Este é o Marcelo! – apresentei, sem mencionar que era meu novo namorado. Não sei o que me levou a omitir esse ponto, mas o próprio Marcelo se encarregou de deixar tudo claro.
- Oi, prazer! Sou o namorado o Bruno! – exclamou ele, me puxando com força para junto dele e me beijando na boca, o que deixou o Derek momentaneamente abismado.
- Prazer! Brian, meu parceiro. – devolveu gentil o Derek. – É tão raro conseguirmos sair juntos, nossos horários quase nunca combinam, não é querido? – continuou, dando rumo à conversa.
- Eu e o Bruno também ainda estamos tentando conciliar nossos horários. – afirmou o Marcelo.
- O Brian é médico intensivista, está eternamente de plantão. Nunca sobra um tempinho para nós dois. – revelou o Derek, achando que talvez eu também revelasse a profissão do Marcelo, mas eu não o fiz, apenas dei um jeito de nos afastarmos deles, antes que mais revelações me deixassem numa situação embaraçosa.
Assim que o Derek me viu seguindo na direção dos banheiros, veio atrás de mim.
- Eu queria te explicar, o Brian e eu voltamos, resolvemos tentar mais uma vez. – disse ele, se justificando.
- Legal! Fico feliz por vocês dois. Você não me deve explicações, nós terminamos, lembra? – eu não estava feliz, estava com ciúmes, estava me sentindo traído pela segunda vez.
- Que bom que você entendeu! Eu gosto de você Bruno, gosto muito! A última coisa que eu queria era te magoar, acredite. – não sei por que acreditei na sinceridade dele, talvez por que ela estivesse sendo verdadeira.
- Não se preocupe comigo, está tudo bem! – desconversei
- Também fico feliz por você, pode acreditar. Seu novo namorado parece estar bastante apaixonado por você, o que é bem compreensível. Você é lindo, cativante, meigo, carinhoso tudo que um cara pode querer de um parceiro. – seu tom de voz me deixava certo de que ele estava com ciúmes também, e que não queria dar o braço a torcer fingindo que não sentia mais nada por mim.
Eu estava me demorando mais do que o esperado, e logo o Marcelo veio atrás de mim, nos encontrando no corredor que levava aos banheiros.
- Estava te esperando para dançarmos mais pouco antes de voltarmos para casa. – disse o Marcelo ao se juntar a nós, disfarçando o incomodo que estava sentindo por nos ver ali juntos e longe das vistas de todos.
- Vamos sim! – retruquei, afagando seu rosto tenso, antes de deixar ele me conduzir de volta à pista de dança.
Num primeiro momento, pensei em explicar a minha demora, mas pela cara do Marcelo, qualquer coisa que eu dissesse poderia acabar com a nossa noite e eu não queria isso. Eu queria deixá-lo feliz, queria curtir aqueles momentos com ele, e simplesmente coloquei meus braços nos ombros dele e o beijei com toda ternura. Ele me abraçou, me puxou para junto dele e me envolveu como se tivesse medo de me perder. De repente, sem nenhuma explicação a voz de Calvin Harris cantando Blame fez lágrimas rolarem pelo meu rosto. O Marcelo, sem entender o que se passava, só as aparou com os polegares e me sorriu. Encostei minha cabeça no ombro dele e deixei que ele me conduzisse pela pista. Era disso que eu precisava naquele momento, colo e o calor silencioso de um homem apaixonado.
Meu instinto poucas vezes me deixou na mão, ou seria o meu sexto sentido. No dia seguinte, era para eu estar na casa do Pedro às 20:00 horas, pontualmente, enfatizou ele ao praticamente me intimar a comparecer, à despeito de eu ter inventado umas três ou quatro desculpas para não ir, já desconfiado de que tinham armado uma festa de aniversário surpresa. Quando falei com o Marcelo, ele me disse que iria mais tarde, que tinha que resolver uns assuntos no batalhão, mas que me encontraria lá, sem falta. Acreditei, fingindo ser um inocente que não desconfiava de nada.
A casa do Pedro está localizada numa rua arborizada do bairro Cristo Rei, herança de uma avó, que ele reformou e modernizou, deixando um amplo jardim nos fundos onde costumava fazer seus famosos churrascos. Toquei a campainha uma meia dúzia de vezes, antes de ele atender. Nada de luzes, nada de vozes, nada de carros na rua que indicassem que a galera estava lá reunida. Será que desta vez meu instinto falhou?
- Oi!
- Oi!
- Você está dez minutos atrasado! – exclamou ele, num tom de censura.
- Bem, e daí? Alguém vai morrer por conta disso?
- Está de mau humor? Deve ser a TPM. Cadê o Marcelo para resolver esse problema? – questionava ele
- Não estou de mau humor! Não sofro desse problema e, portanto, deixe o Marcelo fora disso. – retruquei, enquanto caminhávamos em direção à porta de entrada.
- Surpresa!!! Happy Birthday!! Feliz Aniversário!! – gritaram todos em coro assim que o Pedro abriu a porta e as luzes se acenderam. Estavam todos lá, sem exceção.
- Vocês deveriam ser mais criativos e, especialmente, mais sutis, pois faz dias que eu estou sabendo que vocês estavam aprontando alguma comigo. – revelei, feliz por meu instinto não ter falhado e por ter aquela galera como amigos.
- Marcelo, toma que o garotão é seu e deve estar numa carência danada pelo humor azedo! – afirmou o Pedro, enquanto o Marcelo se aproximava e me abraçava forte rodopiando comigo, enquanto sua boca se ajustava à minha. Entre palmas e risos, a turma foi se acercando de nós a fim de que todos pudessem me cumprimentar individualmente.
- Parabéns! Feliz aniversário, amor! Amo você! – exclamou o Marcelo, relutante em me entregar nas mãos daquele bando de safados que ia aproveitar a ocasião para tirar uma casquinha.
Dei um beijo cinematográfico nele antes de o soltar, sob ‘Uis’, ‘Ais’, assobios e observações libertinas. Cada um, a seu modo, foi me cumprimentando, uns mais ousadamente me apalpavam, outros me davam beijos na boca e, alguns até insinuaram que eu estava cheiroso e lindo demais para me safar ileso de uma boa foda.
- Vocês são um bando de pervertidos! – afirmei caçoando das safadezas com as quais estavam me assediando.
- E você é o nosso passivinho mais tesudo e menos fodido, praticamente ainda um virgenzinho com pouco uso. – bradou o Carlão, fazendo todos rirem.
- É o protótipo do gay certinho! Seletivo, contanto que seja o macho de outro gay, que tenha status e seja tipo galã para que possa esfregar na cara dos outros que consegue pegar os melhores bofes. – sentenciou o Felipe, em sua primeira investida maldosa. Formou-se quase um silêncio, apenas alguns esboços de sorrisos amarelos lhe deram algum suporte, para que ele não ficasse com cara de tacho.
- Obrigado, Felipe! Apesar de sua visão distorcida a meu respeito, valeu a intenção de me cumprimentar! – revidei, engolindo mais aquele sapo.
- Vá se foder, Felipe! Todos já sabemos qual é o seu problema com o Bruno, inveja. Inveja por estar longe de ser tão lindo quanto ele, tão meigo e companheiro, tão carinhoso e preocupado com os amigos. – afirmou o Tadeu, um dos mais revoltados com as grosserias do Felipe para comigo.
- Então um brinde ao nosso dileto amigo! – retrucou o Felipe, erguendo o copo após dar um último gole no uísque que havia nele. Todos sabíamos que aquele era o combustível para que se tornasse agressivo e desagradável, ninguém dava mais bola para seus disparates.
O último a me cumprimentar e me entregar o presente foi o Derek. Ele veio desacompanhado do Brian, justificando que ele estava de plantão. Ele me trouxe para junto da solidez de seu tórax como se ainda fossemos namorados, tive que desviar um pouco o rosto para que ele não me beijasse diretamente na boca diante do Marcelo, que nos observava de soslaio. Fiquei sem ação ao abrir a pequena caixa que ele me deu, era um relógio notoriamente caro de uma marca de luxo.
- Você não deveria ter comprado algo tão caro, Derek! Não posso aceitar um presente desses. – afirmei, ao constatar o que a caixinha continha.
- Você merece! Sabe que eu te daria o mundo se fosse preciso, não sabe. – afirmou ele, fazendo com que os mais próximos de nós ouvissem suas palavras e soubessem que ele ainda estava bastante ligado em mim.
- Fico sem jeito de aceitar um presente desses, Derek! – insisti.
- Vai combinar muito com você! Vou me sentir ultrajado se você recusar até esse pouco que eu estou te dando de coração. – disse ele, enquanto os ouvidos espichados ao nosso redor assimilavam com prazer e interesse aquela declaração inusitada.
- Olha que lindo, amor, o presente que o Derek me deu! – exclamei, assim que o Marcelo se aproximou de nós, pois para ele aquele cumprimento já estava durando além da conta.
- Você tem mesmo um chefe muito generoso! Ele deve estar bem contente com seus serviços! – retrucou o Marcelo, num tom áspero de ciúmes.
- Não é um presente de chefe para funcionário, mas de amigo para amigo, para um grande e querido amigo! – revidou o Derek, igualmente enciumado, por ver o Marcelo me enlaçando pela cintura numa intimidade que ele também já tivera um dia.
- Quem sabe, Marcelo, você juntando seus salários de um ano, também consiga dar um presente assim para o seu namorado. Não se esqueça de que ele só gosta de coisas boas! – intrometeu-se mais uma vez o Felipe com seu sarcasmo turbinado pela bebida. A rodinha se dispersou depois do comentário dele, ninguém estava afim de ouvir suas sandices.
O Marcelo e o Derek, juntos num espaço, me deixava tenso, eu conseguia sentir o clima de animosidade entre eles e ficava pisando em ovos para que eles não se atracassem por minha causa. Um pequeno deslize, uma palavrinha mal colocada, um olhar mais desafiador e eles perderiam a compostura e se engalfinhariam feito dois leões disputando território. Meu grau de ansiedade subia tanto que eu não conseguia agir com naturalidade, e isso me desgastava mais do que se eu subisse num rinque para disputar uma luta de pesos pesados.
- Você foi convidado para o casamento do irmão do Bruno daqui há três semanas em Ponta Grossa, Marcelo? – provocou novamente o Felipe, quando interrompeu sem nenhuma sutileza um demorado beijo que o Marcelo e eu estávamos trocando. – Aposto que ele se esqueceu de te avisar! Apesar de todos estarem sabendo, ninguém foi convidado. A festa é só para a elite. O Bruno já te contou que o pai dele é dono de quase toda a cidade de Ponta Grossa, um megaempresário que todos adoram bajular. E a mãe dele, você conhece? A socialite mais cheia de etiquetas que eu conheço, e que está casando o filho predileto dela, enquanto tenta arrumar uma namorada para o filho problemático, o filho que ela quer livrar das más influências. – o Felipe já proferia as palavras com a língua embolada, seus olhos injetados eram puro ódio que ele disseminava com um prazer mórbido.
- Já chega, cara! Vou te levar para casa antes que você passe da conta! Uma chuveirada fria e cama é do que você está precisando, vamos! – disse o Carlão ao se intrometer para tirar o desagradável do Felipe da festa.
- Só vou se você me prometer que vai me enrabar com esse seu pintão de cavalo! – revidou o Felipe, afastando bruscamente a mão do Carlão do braço dele. – Me solta, caralho! Você vai ter que se contentar comigo, pois com o Bruno você não tem nenhuma chance, nunca teve, não é? Não adiantou você arrastar as asas para ele, ele nunca quis o teu pauzão, não foi? – provocou o Felipe.
- Não pense que por você estar bêbado que eu não vou meter a mão na sua cara, seu imbecil! Você já fez o seu showzinho e está na hora de se mandar. – sentenciou o Carlão, que foi acudido pelo Alex na tarefa de levar o Felipe para casa.
A muito custo e sob uma saraivada de palavrões e ameaças, tiraram o Felipe da festa. A turma havia algum tempo que o estava afastando do nosso convívio por conta de seu temperamento que vinha se tornando inconveniente e desagradável. Afundando-se cada vez mais em seus problemas pessoais, ele vinha descontando suas frustrações em cima de todos. Nunca se estabilizava num emprego nem num relacionamento, vivia endividado pelo consumismo excessivo na tentativa de manter as aparências, tinha uma língua ferina que caluniava os pontos fracos de todos, era incapaz de guardar uma informação sigilosa de qualquer pessoa, apenas a guardava como um trunfo para uma ocasião propícia. E, acima de tudo, me tinha como sua vítima preferida quando se tratava de caluniar as fraquezas de alguém. Porém, desta vez ele tinha ido longe demais me intrigando com o Marcelo, expondo as minhas incertezas quanto ao Derek, explicitando publicamente o tesão que o Carlão sentia por mim, ao qual eu nunca fui indiferente, mas nunca deixei que se transformasse em algo que poderia comprometer a nossa amizade.
- Você não acha que está na hora de terminar com isso? Você não precisa aturar os desaforos desse cara, Bruno! Estamos querendo nos livrar dele, mas isso só vai acontecer de fato, quando você o tirar do seu apartamento. Deixe de dar guarida a quem não merece. Você já fez mais do devia para um sujeito que só vive tentando te denegrir. – disse o Tadeu, revoltado com mais essa atitude do Felipe.
- Eu vou fazer, prometo! – respondi
- Você já disse isso uma centena de vezes, mas nunca fez! Sempre fica com dó do que ele te fala quando está prestes a tomar uma atitude. Não se deixe envolver mais pelas palavras vazias dele. Só faça o que tem que ser feito! – complementou o Pedro que também havia assistido à cena e se juntado a mim solidário.
Eu já não via a hora de a festa terminar, parecia um tormento sem fim e, pela cara do Marcelo, eu previ que ainda vinha mais coisa por aí. O que poderia ter sido uma noite especial para mim e para ele, só nós dois num jantarzinho romântico com um final tórrido na cama, se tornou um verdadeiro martírio e uma lavação pública de roupa suja.
- Quando é que você planejava me contar sobre o casamento do seu irmão, se é que pensou em me participar essa informação? – questionou o Marcelo à caminho de casa, enquanto ele dirigia e eu, ao lado dele, estava refletindo sobre tudo que aconteceu na festa.
- Eu ia te contar, juro! Só não contei por que eu mesmo ainda não sei se vou. – respondi
- Como não sabe se vai? Ele é seu irmão!
- Você não entenderia! Nunca fomos muito ligados e, depois que contei para os meus pais que era gay, ele mal fala comigo. Chegou a me dar uma surra uma vez que me viu conversando com um carinha numa festa de Ano Novo na casa de uns conhecidos da família. Ele me detesta pelo que sou, acha que sou uma aberração, um safado promíscuo que dá o cu para os homens. Acha que eu envergonho a família por ser gay, evita me apresentar aos amigos achando que vou dar em cima deles para conseguir uma transa. Fica me envenenando contra meus pais. Não são motivos mais que suficientes para eu não querer ir a esse casamento? Isso sem mencionar a minha mãe. Ela acha que eu vou me curar dessa doença, como ela diz, quando encontrar uma moça que vai dar um jeito nesse meu comportamento desviado. Em pleno século XXI e com todas as informações que são disseminadas por aí, ela ainda acha que a homossexualidade tem cura, que ela é fruto de más companhias, que uma mulher vai me transformar num macho da noite para o dia. Não há um único encontro nosso em que ela não fica enchendo meus ouvidos com essas baboseiras, com os conselhos que me dá influenciada por suas conversas com um padre homofóbico que ela elegeu como orientador espiritual. Me diga, que clima eu vou enfrentar indo a esse casamento? – expus sincero.
- Vá lá que seu irmão seja um babaca, mas você precisa ser superior a isso e, indo ao casamento dele, um evento importante da vida dele, você demonstra que não sente raiva dele. Quanto a sua mãe, ela é de uma geração onde não se falava com tanta abertura sobre a sexualidade, é natural que tenha dificuldade em lidar com o fato do filho ser gay e não lhe dar netos. – devolveu ele.
- Por que eu tenho que ser superior? Por que eles não podem me aceitar assim como eu sou, um gay que só quer ser feliz do jeito que eu sou? Por mais absurdos que o Felipe fale, numa coisa ele tem razão, eu sempre sou o ‘certinho’, aquele que cede, aquele que é compreensivo, aquele que perdoa. Eu te pergunto, para quê e, para quem? Eu também sinto raiva, eu também sinto insegurança, eu também estou cheio de incertezas. – retruquei
- E eu sou uma dessas suas incertezas, não é? Você tem vergonha de mim, de me apresentar a sua família, de dizer para seus amigos que eu sou apenas um policial rodoviário, que não sou nenhum diretor de empresa, que não sou nenhum médico cheio de pós-graduações, que não venho de uma família abastada como a dos teus amigos. Foi por isso que você não me contou do casamento do seu irmão, é por isso que você acha que eu vou fazer feio diante do seu chefe, dos teus amigos e seus respectivos namorados. – afirmou ele
- Não é nada disso, Marcelo! Ah, santo Deus, que noite! O que eu fiz para merecer tudo isso? – extravasei agoniado.
- Talvez você precise repensar sua vida, seus planos! – exclamou ele
- Está bem, você quer que eu vá ao casamento, eu vou. Você quer que eu te apresente a minha família como meu namorado, eu te apresento. O que mais preciso fazer para você acreditar em mim, para saber que eu te amo e que quero ficar com você? Diga, vamos, eu faço! – devolvi.
Pelo restante do caminho para casa havia se formado um silêncio embaraçoso entre nós. Eu não consegui dizer mais nada, o nó que havia se formado na minha garganta me levou a um choro silencioso que disfarcei a todo custo. Ele queria me deixar em casa e ir embora, mas mesmo sem dizer nada, eu o puxei pelo braço até o quarto, valendo-me de beijos carinhosos que pousava suavemente sobre os lábios dele, algo que tinha o poder de derrubar qualquer barreira que ele levantasse. Fui mais longe, me despi com sensualidade e fiz o mesmo com ele, abrindo primeiramente os botões de sua camisa e deslizando libidinosamente as mãos sobre o peito peludo dele; quando tive a atenção dele totalmente voltada para meus afagos, desabotoei a calça e enfiei minha mão sob a cueca até a fechar ao redor de seu falo grosso que já se mostrava receptivo a minha licenciosidade.
- Eu não queria nenhuma festa de aniversário, eu só queria ter uma noite maravilhosa com você. O único presente que eu queria é você. – sussurrei, enquanto cobria seu rosto de beijos e acariciava seu sacão globoso. – Entra em mim, Marcelo! Me deixe todo molhado! Eu te amo! – emendei com ternura.
- Do jeito que estou zangado com você com toda essa situação, teu chefe de presenteando com um relógio de luxo e deixando claro que ainda te quer, você me escondendo as coisas e se sentindo envergonhado por não ter um namorado com o mesmo status social dos teus amigos, é melhor eu não tocar em você, pois tenho vontade de te dar uma surra para você parar de me enfeitiçar com seu charme, seu jeitinho desprotegido. Tenho vontade de arregaçar teu cu até você pedir arrego e não conseguir andar de tão rasgadas que estarão suas pregas. Eu vou te machucar, certeza que vou, para extravasar tudo que está entalado aqui dentro. – afirmou ele, batendo contra o peito.
- Então me dá uma surra, me fode, me arregaça, faz o que você quiser comigo! Só não me negue seu amor, só não me deixe nesse vazio. Me preenche, Marcelo, por favor me preenche! – implorei, uma vez que aquele homem diante de mim era o único bastião que me restava, era a única certeza que eu ainda sentia.
- Ah, Bruno! O que é que eu faço com você, seu tesudo do caralho? – grunhiu ele, quando o puxei sobre mim na cama.
- Me ame e entre em mim, só isso! – murmurei, deslizando meus dedos a partir da nuca para dentro de sua cabeleira, instantes antes de ele enfiar bruscamente metade do caralhão no meu cuzinho e me fazer gritar de dor.
Apesar da insistência da minha mãe, deixei a viagem para Ponta Grossa para o casamento do meu irmão para o dia da cerimônia. Já me bastava ter que pousar na casa dos meus pais por uma noite e enfrentar tudo que sabia pelo que teria de passar. Mesmo assim, eu estava uma pilha de nervos. Não tinha conseguido pregar o olho na noite anterior à viagem, só imaginando o que todos diriam quando me vissem chegando com o Marcelo. Eu tinha contado, em ligações com meus pais, que estava namorando outro cara.
- Não mãe, não é o meu chefe, o americano! É o Marcelo, mãe, o nome dele é Marcelo! Ele é um cara muito especial, você vai ver, é lindo, é inteligente, é muito bom comigo, tenho certeza que você vai gostar dele, mãe! Faça pelo menos um esforço, ok. E, mãe, por favor, não me faça passar vergonha fazendo comentários sem sentido! – despejei sobre ela quando confirmei que iria ao casamento e que levaria o Marcelo.
- Mas até ontem você estava com esse americano. Como é que você fica trocando de parceiro a cada semana, Bruno? Isso não te parece indecente? – questionou ela.
- Santo Deus, mãe! Faz quase um ano que eu terminei meu relacionamento com o Derek, não foi ontem, santo Cristo! Concentre-se no que eu te pedi, por favor, mãe. Não fale coisas das quais você não tem certeza. – retruquei exasperado.
- E como é que a gente pode ter certeza de qualquer coisa referente a você? Você nunca conta nada, nunca se sabe o que você está aprontando! O que eu sei é que você vai aparecer aqui com um homem à tiracolo e do qual não se sabe absolutamente nada. Isso não te parece um erro? – questionou ela.
- Por isso mesmo, quanto menos você souber, menor a chance de falar o que não deve! – devolvi aborrecido.
- Você me respeite, Bruno, eu ainda sou sua mãe!
- Tá mãe, eu sei disso! E como sei! Então até sábado!
- Você devia vir antes, uns dois dias, pelo menos! Sabe que faz tempo que não nos vemos, temos muito para conversar e durante a festa não vai ser possível. Depois, se houver qualquer imprevisto na estrada, você vai acabar se atrasando para cerimônia. Você tem certeza que sabe qual é o horário certo? Teu pai também acha que você deveria vir antes. – ela me atormentava com esse falatório todo.
- Eu trabalho, mãe, esqueceu! Eu sei qual é o horário e estarei aí, não se preocupe! Além do que, não vou ser eu a subir ao altar, se eu me atrasar por algum motivo você não vai ficar sem o casamento com que sempre sonhou, o Thiago vai estar lá para te deixar feliz. – retruquei
- Que absurdo de se dizer, Bruno! Você deveria estar aqui, convivendo conosco, assim não falaria esses disparates! – devolveu ela. Era impressionante como numa simples ligação nós conseguíssemos discutir pelas coisas mais insignificantes.
Bem, esses parênteses foram só para mostrar que eu tinha meus motivos para estar uma pilha de nervos naquela manhã de sábado. Além disso, eu tinha acordado com uma terrível dor de cabeça pela noite insone, o Marcelo não pode vir dormir comigo por conta do trabalho e estava atrasado uma hora do combinado. A mensagem dele de – estou quase chegando – não me tranquilizou. Quando ele finalmente chegou, meia hora depois da mensagem, e eu estava a poucos metros do pontilhão da BR 376 dirigindo na Rodovia do Café, o Hiroshi me ligou da empresa informando que um cliente estava tendo problemas com o software que acabáramos de instalar no negócio dele.
- Parece coisa simples, chefinho! Só estou te comunicando para que saiba que estou indo até lá tentar resolver o problema com dois membros da equipe. Queria que você ficasse a par antes do big boss, por isso estou te ligando. – não sei porque eu tive a impressão de que a tempestade estava só começando. Desferi um soco no volante e um – puta merda – sonoro.
- Acalme-se, Bruno! O que deu em você? Por que está tão agitado? – questionou o Marcelo. – Deixa eu dirigir, você não está no seu normal.
- Porque está acontecendo de tudo, só por isso! Acha pouca coisa? – devolvi exasperado
- Tudo o que, Bruno? É só uma bobagem qualquer, você sabe que o Hiroshi é bom no que faz, ele vai dar um jeito. – ponderou ele tranquilo.
Uns três quilômetros antes de chegarmos a Campo Largo, uma carreta, do nada, resolveu ultrapassar outra mais lerda, exatamente quando eu estava emparelhado com ela, quase nos lançando para dentro da vala gramada que separava as duas pistas da rodovia. O carro chegou a embicar na rampa de descida e, por pouco, não perdi o controle do volante. Tive um acesso de choro, socava o volante numa fúria desatada, a pressão era demais, tudo era demais, eu estava no limite do suportável.
- Desce do carro, Bruno, eu dirijo! – o tom de voz do Marcelo era tão autoritário que meu sangue ferveu.
- Não foi culpa minha! Foi esse filho da puta que resolveu ultrapassar sem se preocupar em olhar para os lados, você viu que nem seta o imbecil deu. – protestei.
- Você está fora de controle, Bruno! Admita, porra! Não sei que bicho te mordeu para você estar desse jeito. Acalme-se, cacete! – revidou ele.
- Eu não vou descer, eu vou continuar dirigindo até a porra daquela maldita cidade, até a porra daquela merda de casamento, até a gente chegar onde tem que chegar, e não me dê ordens como se eu fosse um moleque! – berrei furioso.
- Sabe por que você está assim, agindo feito um lunático? Porque você está com receio de enfrentar sua família, porque você só está preocupado com o que eles vão pensar e falar sobre mim e sobre nosso relacionamento, porque você acha que eles vão julgar a sua escolha. É isso que está te deixando fora de controle. – sentenciou ele.
- Pronto, falou o psicólogo! Agora todo mundo sabe o que eu penso, como devo agir, como devo me comportar, como dirijo mal, e o que mais, hein? O que mais eu faço de errado? O que mais eu não sei? – desabafei
Ainda tremendo, com as mãos agarrando o volante com uma força desmedida, voltei à pista e segui rumo a Ponta Grossa. Em frente a uma igreja as margens da rodovia em Campo Largo, o Marcelo me mandou parar o carro, fiquei indeciso por alguns segundos antes em parar no acostamento. Ele desceu, tirou sua valise do porta-malas e me mandou seguir viagem.
- Ficou louco, o que está fazendo? – perguntei
- Vá para o casamento do seu irmão, vá se encontrar com sua família sem se preocupar comigo, você não vai precisar me apresentar para ninguém, não vai precisar ficar dando explicações. Só se acalme e dirija com cuidado. Nos vemos quando você estiver de volta, ok. – disse ele, debruçado na janela do carro.
- O que é isso, Marcelo? Não faz isso comigo! Você não pode ficar aqui no meio do nada, como você vai voltar para casa? Pelo amor de Deus, Marcelo, entra no carro. Eu deixo você dirigir, pronto, o volante é todo seu. – retruquei, mais perdido e inseguro.
- Eu vou estar bem, não esquenta! O que não dá é você continuar tão tenso e sob pressão. Eu sei o que é melhor para nós dois nesse momento, e o melhor é você seguir sozinho. – ele chamou um carro de aplicativo e logo estava embarcando nele, após me dar um beijo frio. Vi o carro se afastando pelo retrovisor e comecei a chorar, a merda estava feita e eu ainda não sabia que desdobramentos estavam por vir.
Os jardins da casa dos meus pais em Ponta Grossa, que ocupava um quarteirão inteiro, pareciam um mercado persa com funcionários da empresa de eventos e do bufê correndo de um lado para o outro para dar os últimos retoques na luxuosa recepção que havia sido montada. Era um sábado ameno de primavera, o céu azul tinha lindas formações de nuvens que vagavam sem pressa, enquanto o sol apenas emprestava seu brilho esplendido sem encher o ar de calor. Numa das extremidades da piscina fora montado um palco para acomodar os músicos e o DJ que animariam a festa, próximos a um tablado montado sobre o deque que serviria como pista de dança. Os convidados seriam alojados sob tendas cobertas e cercadas de um cortinado leve e transparente que flanava com a brisa, em mesas decoradas com requinte. O cenário de final de tarde parecia fazer parte de uma grande produção cinematográfica quando desci enfiado num smoking e circulei pelo gramado bem cuidado do qual eu me lembrava de ter brincado com meus dois cães quando criança. Agora esse ambiente todo só fazia parte das minhas lembranças, eu, curiosamente, não me sentia mais fazendo parte dele. O casal da empresa de eventos que estava organizando a festa parecia um par de gralhas num ritual de acasalamento dando ordens aos funcionários, discutindo entre si sobre uma questão ou outra, esculachando o pessoal da floricultura que estava atrasado e comprometendo a pontualidade da festa, e tendo aqueles chiliques próprios dessas pessoas que acham que o mundo real se resume ao glamour das festas luxuosas que promovem.
- Quem é o senhor? Os garçons ainda não estão servindo as bebidas, o senhor terá que esperar mais um pouco e, por favor, não toque em nada por enquanto! – exclamou, estabanada e descontrolada, a mulher do casal com uma voz de tabagista inveterada.
- Por acaso eu sou o irmão do noivo, o filho do homem que está pagando a conta desse circo todo. Essas credenciais são suficientes para você, ou precisa de mais alguma, para que eu me sirva de uma taça de vinho? – respondi agressivo.
- Oh, me desculpe! É que primamos pela qualidade dos nossos serviços, e toda vigilância é pouca para poder controlar tudo. – respondeu ela, mais cordial.
- Então vá primar pela qualidade e fazer jus à fortuna que entrou na sua conta bancária e me esqueça! – revidei ofensivo.
- Sim, claro! Me perdoe mais uma vez, senhor!
Eu havia cumprimentado minha mãe ligeira e circunstancialmente assim que cheguei em casa, ela estava mais histérica do que nunca e procurei me distanciar dela o mais rápido que pude. Troquei uma dúzia de frases com o meu pai, o único naquele lugar que ainda se mantinha centrado e indiferente ao manicômio que reinava à sua volta. Eu sempre o admirei por isso, pela sua capacidade de manter tudo sob controle, de se guiar pelo bom senso, de analisar as questões de modo racional e ponderado não se deixando levar por sentimentalismos. Foi com esse mesmo espirito que ele recebeu a notícia de que eu era gay no dia em que resolvi me abrir com a família. Eu sempre soube que ele ficou desapontado comigo, embora não o tenha expressado verbalmente. Porém, ele nunca me recriminou por isso e jamais se deixou influenciar pelos apelos da minha mãe para que tomasse providências no sentido de me impedir de seguir com aquele ‘absurdo’ como ela classificou inicialmente minha homossexualidade. E ainda, mesmo tendo dificuldade em aceitar que eu era gay, eu podia sentir através do brilho de seu olhar, a cada um de nossos reencontros, que o afeto dele por mim continuava lá, intacto, no fundo de seu coração.
- Como você está, meu filhote? – perguntou ele, assim que nos afastamos de minha mãe.
- Bem pai! E você?
- Indo! Cumprindo mais uma etapa da vida, como você pode ver. – respondeu ele, o que eu interpretei como ‘fazendo mais um dos desejos de sua mãe’. – Pensei que fosse nos apresentar seu novo namorado. – continuou ele.
- Ele teve um contratempo de última hora e não pode vir. – menti, pois não era hora e nem lugar para falar sobre meus problemas pessoais.
- Traga-o noutra ocasião menos tumultuada para que possamos conhecê-lo. – ele estava sendo sincero e eu lhe devolvi um sorriso carinhoso por me compreender. Ele sabia que eu estava omitindo algo importante, que havia certamente razões bem menos gloriosas para eu estar ali sozinho, mas não me obrigou a nada, só aceitou minha resposta.
- Vou trazer, sim!
Meu irmão tinha saído com uns amigos para farrear o dia inteiro e só apareceu duas horas antes da cerimônia para se preparar para o casamento. Como sempre, nos cumprimentamos friamente. Desde o dia em que ele me deu aquela surra e, depois de eu ter me mudado para Curitiba, nosso distanciamento só aumentou, nos tornando praticamente dois estranhos que nada sabiam um da vida do outro, a não ser por informações filtradas por terceiros.
- Ao menos você teve a decência de não trazer seu macho para humilhar sua família na frente de todos. Ainda bem que algum juízo ainda restou em você. – afirmou ele, ao nos cumprimentarmos, enquanto os amigos dele me encaravam como se eu fosse um alienígena, embora dois daqueles babacas tivessem me assediado ao descobrirem que eu era gay.
- Eu não faria isso com você, maninho! Afrontá-lo com o amor que existe entre o meu macho e eu, para que você tenha parâmetros para comparar com esse amor interesseiro que existe entre você e sua noiva, como é mesmo o nome dela? Seria muita crueldade com você nesse dia tão especial, não é mesmo? – retruquei
- Vá se foder, Bruno! Vá se foder, viadão! – revidou ele, furioso. Era isso que restava da nossa relação de irmãos, incompreensão e incompatibilidade, nada além disso.
Eu já havia feito quase cem ligações para o Marcelo e ele não atendia. Tinha enviado dezenas de mensagens sem obter nenhuma resposta. Minha agonia só crescia. Por que tudo aquilo estava dando errado? A cada dez minutos eu tirava o celular do bolso para conferir se ele tinha enviado alguma resposta, mas sempre encontrava a tela vazia. Minha irritação foi aumentando à medida que em que vi obrigado a cumprimentar toda aquela gente com a qual não tinha nenhuma afinidade, quando tinha que responder a perguntas estúpidas e capciosas de meus tios e tias me cobrando atitudes de homem como as do meu irmão e fazendo comparações ridículas entre nós dois. Eu só pensava no Marcelo, nele descendo do carro em plena estrada, por onde estaria agora, o que estaria se passando na cabeça dele, o que estaria fazendo. Mais da metade daquelas pessoas que participavam daquele circo não tinha vinculo algum com meu irmão e sua noiva, eram empresários e suas esposas que estavam ali para verem e serem vistos e admirados pelo sucesso e pelo dinheiro que tinham, não porque gostassem ou se preocupassem com a felicidade dos noivos.
O crepúsculo foi dando lugar a uma noite agradável, uma centena de garçons percorria as mesas e corria com bandejas nas mãos entre os convidados, como se fossem abelhas visitando as flores. Eu tinha um nó imenso na garganta querendo explodir. O Marcelo mantinha silêncio absoluto, o que só contribuía para aumentar aquele sufoco que estava esmagando meu peito.
- Querido, você se lembra da Melissa? Ela é filha da minha amiga Thais e do Gabriel, você deve se lembrar dela do colégio, vocês estudaram juntos. – disse minha mãe ao trazer a garota da qual eu mal me lembrava, fazendo mais uma vez um meio de campo para me apresentar a uma candidata a futura nora. – Ela não ficou uma moça linda? Acabou de voltar da Itália onde passou dois anos cursando o que mesmo, Melissa? – continuou, com aquela sua costumeira insensibilidade aos sentimentos dos outros.
- Não, não me lembro! Você já falou para ela que eu sou gay? Que eu estou muito mais interessado naquele bonitão musculoso que está ali perto do gazebo, do que conhecer uma moça de boa família? Falou, mamãe? – respondi, deixando minha mãe furiosa e a infeliz da garota tão perplexa que até perdeu as palavras.
- Ele é bonitão mesmo, concordo com você! – afirmou ela, quando o choque da informação passou.
- Então é nele que você deve investir, por que desse mato aqui não sai coelho! – exclamei, ante o olhar embasbacado da minha mãe.
- O Divino ainda vai te punir por ser assim, Bruno! Você é um cretino por nos fazer passar por esse vexame num dia tão especial. O que é que vão falar da nossa família, Bruno? O que vão falar de você? Você não pensa nisso, não tem vergonha nessa cara expressando abertamente essa sua aberração? – questionava ela, num ódio que lhe fluía dos olhos como se quisesse me aniquilar.
- Pois eu vou contar para qualquer uma que você venha a me apresentar que eu sou gay e que gosto de trepar com homens se você continuar insistindo nessa merda de me colocar diante de garotas pelas quais sabe que nunca vou me interessar. Pare com isso de uma vez por todas! Aceite que seu filho é gay, que sempre vai ser. Pare de fingir que não me ouve, que não sabe do que eu quero para a minha vida, só pare! – aquilo tinha sido a gota d’água que faltava para entornar tudo.
- Então saia daqui, volte para a sua depravação, volte para aquele antro de transviados a que você pertence e não nos envergonhe mais! – berrou ela, perdendo a compostura.
- Eu nem deveria ter vindo para essa merda de casamento, para esse show degradante de horrores, de gente fútil fechada num círculo vicioso e doentio. Eu quero que você, seu amado e dileto filho e toda essa gente vão à merda, está entendendo, mãe! Vão à merda! – gritei na tentativa de tirar aquele nó estrangulador da minha garganta. Quem estava próximo assistiu à cena com risinhos sarcásticos de jubilo pelo barraco que estava rolando. Festa de rico não é imune a barracos, e eles ajudam a fomentar as colunas sociais no dia seguinte.
Entrei na casa, me livrei do smoking e juntei minhas coisas numa valise antes de pegar meu carro. Para mim aquilo terminava ali.
- É tarde para pegar a estrada, filhote! Vá para o seu quarto, esfrie a cabeça e amanhã você vai mais tranquilo. – aconselhou meu pai que veio ter comigo logo após a briga com a minha mãe.
- Não dá mais, pai! Não dá mais, eu preciso sair daqui ou vou acabar enlouquecendo! – desabafei, quando ele veio me dar um abraço.
- Você está preocupado com seu namorado, não é? Vocês brigaram. Se o que sentem um pelo outro for verdadeiro, tudo se arranja, não se desespere por tão pouco. – sentenciou ele, matando a charada do meu nervosismo incontrolado.
- Eu sou um péssimo filho, não é pai? Eu sou um péssimo filho, um irmão horrível, um namorado pior ainda, uma pessoa odiosa. Eu só faço mal às pessoas, elas deviam ficar longe de mim, longe, bem longe. – balbuciei em meio ao choro que não consegui mais segurar.
- Você não é nada disso, filhote! Você é uma criatura meiga e doce, só está confuso e indeciso por que ainda não descobriu o que quer da vida. Isso passa, tenha paciência e, nunca deixe de ser você mesmo. É assim como você é que as pessoas vão gostar de você, não tente agradar a todos, isso é impossível, só gera frustrações. – talvez aquele homem tenha relutado consigo mesmo ao descobrir que tinha um filho gay, mas estava me provando que seu amor por mim não tinha mudado desde quando ele me carregava nas costas brincando de cavalinho extraindo gostosas risadas da minha cara de felicidade.
- Obrigado, pai!
- Não tem do que me agradecer! Essa sempre será a sua casa e sempre estará de portas abertas para te receber, jamais duvide ou se esqueça disso. – asseverou ele, me abraçando com força.
Era madrugada quando cheguei a Curitiba. Fui deixar minhas coisas no apartamento e como tinha deixado inúmeras mensagens no celular do Marcelo dizendo que estava voltando sem que ele me respondesse, saí à procura dele.
- Já de volta? O que foi, a festança dos milionários não tinha nenhum macho que valesse à pena você dar em cima, ou roubar de alguma incauta vacilona? – questionou o Felipe, assim que entrei em casa.
- Sabe do que mais, Felipe! Primeiro, vá se foder! E em seguida, saia da minha casa, agora! Eu aturei tudo que fui capaz, agora chega! Pegue suas tralhas e suma da minha frente! Não quero mais olhar para essa sua cara de vagabundo fracassado que vive às custas da bondade alheia enquanto critica e ofende a quem te dá guarida. – despejei resoluto.
- Qual é? Só por que eu estava brincando sobre a festança do casamento para o qual você não convidou nenhum dos teus amigos pobres. – retrucou ele.
- Não, não é por isso! É por que eu estou cheio de você! Saia do meu apartamento agora, seu cretino! Sai! – berrei raivoso
- É madrugada! Para onde eu vou a uma hora dessas? Você só pode estar de gozação!
- Vá para os quintos dos infernos! Vá à merda! Vá para debaixo da ponte, vá para o raio que o parta, Felipe! Mas some da minha frente. Eu vou atrás do Marcelo e quando voltar não quero ver mais nenhum vestígio da sua presença na minha casa, entendeu! Some, caralho! – continuei possesso.
Fui ao apartamento do Marcelo, ele não estava, o porteiro do prédio me fuzilou com o olhar quando o tirei do cochilo na portaria àquela hora. Liguei para toda a turma perguntando por ele, ninguém o tinha visto o dia todo, e me questionaram por eu não estar no casamento do meu irmão. Saí percorrendo os redutos e baladas gays atrás dele, ainda havia um bom movimento nas ruas onde ficavam as casas noturnas. Entrei numa atrás da outra e não o encontrei, já estava perdendo as esperanças quando vi uma pancadaria em frente ao Spot Bear. Ao me aproximar, percebi que era o Marcelo embriagado trocando socos com três outros caras.
- Parem! Parem! Não estão vendo que ele não está legal! Que puta covardia! – intervi, me interpondo entre os socos dos caras e o corpo caído do Marcelo.
- Covardia o caralho! Esse desgraçado sabe muito bem como se defender! – respondeu um dos sujeitos.
- Chega! Olha o que fizeram com ele! – exclamei, ao constatar que saia sangue do nariz do Marcelo.
- E o que ele fez com a gente, não conta? Puta que o pariu! – esbravejou outro dos agressores, antes de me deixarem ali acudindo ele.
- Ei, ei, ei, chega Marcelo, sou eu, pare ou vai acabar me acertando um murro na cara. Pare, cara! Pare! – demorou até que ele me identificasse em meio ao olhar embaçado pela bebida.
- Bruno? – balbuciou ele, quando me encarou.
- Sim, sou eu! Vem, vamos para casa. Que loucura você está aprontando? Olha o seu estado! – devolvi, constatando o farrapo humano em que havia se transformado.
- O que você está fazendo aqui? Me deixa, eu sei caminhar por conta própria. – esbravejou ele
- Estou aqui verificando a encrenca em que você se meteu. O que deu em você, ficou maluco?
- Eu estou bem, não me meti em encrenca alguma, foram esses filhos da puta que começaram, foram eles. – as palavras dele saiam atropeladas.
- Tá bom, foram eles! Agora vamos para casa, vem! – ele ainda relutou em se apoiar em mim, agitou os braços querendo me afastar, mas quando o contive mais energicamente, ele se deixou conduzir.
O quarto que o Felipe ocupava estava com a porta aberta e as coisas dele haviam sumido, não sei e nem estava interessado em saber onde ele tinha ido procurar abrigo, só estava contente de ter me livrado dele. Sentei o Marcelo numa poltrona e fui procurar as coisas para limpar o sangue da cara dele e fazer os curativos.
- Como é que você pretende explicar essa cara toda fodida lá no batalhão na segunda-feira? Olha o tamanho desses hematomas! – observei
- Sei lá, não estou interessado nisso!
- Mas alguma explicação você vai precisar dar.
- Vou dizer que foi culpa sua!
- Culpa minha! Você sai esmurrando as pessoas por aí e a culpa é minha. Bela história!
- Eu não saí esmurrando as pessoas, eu esmurrei aqueles filhos da puta.
- E o que foi que aqueles filhos da puta fizeram de tão grave para vocês os esmurrar?
- Ficaram me encarando, ficaram vendo que eu estava na merda, aí eu precisei dar um jeito neles. A minha vontade era quebrar a sua cara, mas como você não estava eu precisei quebrar a deles. – quase precisei rir do jeito embolado que as frases saiam de sua boca inchada.
- Entendi!
- Não, você não me entende! Você nunca me entendeu!
- Tá bom, eu vou dar um jeito para te entender. Agora vamos para cama que você precisa curar essa bebedeira, amanhã vai se sentir melhor.
- Eu não quero ir para a cama com você, não tenho o menor interesse.
- Ah não! Então por que é que mesmo bêbado você está com o pau duro aí dentro da calça?
- Porque ele nunca me obedece quando você chega perto de mim. O desgraçado nunca me obedece!
- É bom eu saber disso! Agora vem, se apoie em mim e vamos deitar, você já fez estripulias demais para um único dia.
Arrastei-o até o quarto, deixei-o cair sobre a cama, enquanto tirava os sapatos e roupas dele. Mesmo naquele estado deplorável ele continuava lindo, tão másculo com aquele caralhão excitado balançando pesadamente quando ele se movia. Acomodei-o o melhor que pude e me deitei nu ao lado dele. Fiquei imaginando que àquela hora meu irmão devia estar trepando com a mulher em sua lua-de-mel. Eu nunca teria uma lua-de-mel, era o preço a se pagar por ser gay. Ao virar meu olhar para o lado percebi que isso não tinha importância, aquele homem respirando ruidosamente ao meu lado compensava qualquer coisa que porventura eu estivesse perdendo.
- O que foi, por que está me encarando? – perguntou o Marcelo
- Só estou constatando como sou sortudo por ter um homem lindo em todos os sentidos, como você, aqui comigo. – respondi. Ele fez uma careta e rolou para cima de mim com o cacetão rijo.
- Viado puto do caralho! Acho que estou bêbado demais para te foder. – sussurrou ele, com o rosto quase colado ao meu.
- Você está fedendo, sabia? – devolvi, abrindo as pernas e as cruzando ao redor da cintura dele.
- Não consigo enfiar o caralho no teu cu.
- Então deixa que eu guio esse caminhão para dentro do túnel. – afirmei, pegando o caralhão e o levando até a minha rosquinha anal.
- Esse teu túnel é muito estreito. Você é um viado muito tesudo da porra! – murmurou ele, enquanto movia desordenadamente a pelve como se estivesse fodendo, sem, contudo, conseguir meter a rola no meu cuzinho.
- Pare de se agitar assim, eu coloco para você! – exclamei, erguendo meus quadris contra a virilha dele enquanto forçava a cabeçorra entre as pregas úmidas. Nesse mesmo instante, ele deu um forte impulso e pauzão deslizou para dentro de mim, me fazendo soltar um grito.
- Eu gosto de ficar aqui dentro! – sussurrou ele, enquanto terminava de enfiar o membro colossal no meu cu.
- Eu sei! Eu também gosto muito quando você está aqui dentro. – devolvi, contraindo os esfíncteres para apertar o caralhão latejante dele, ao mesmo tempo em que o envolvia em meus braços e acariciava suas costas.
- Eu te amo, viadão puto! – balbuciou ele, fungando e chupando a pele do meu pescoço, enquanto sua mão pesada apertava meu queixo.
- Eu também te amo muito, Marcelo! Muito, está me ouvindo? – respondi, mas ele já tinha caído no sono, exausto e aconchegado onde mais gostava de estar.
Tinha sido um dia difícil, houve momentos em que eu senti tanto medo que achei que não conseguiria suportar, mas com o ressoar sereno da respiração dele e de seu corpo quente sobre o meu, sentindo sua virilidade pulsando nas minhas entranhas eu percebi que talvez nem tudo estava perdido, e deixei as lágrimas escorrerem pelo meu rosto até o sono me dominar.
Acordei sozinho na cama no meio da manhã do dia seguinte, um mau presságio. Ainda estava cansado da maratona do dia anterior e me deixei ficar, me espreguiçando entre uma cochilada e outra. O apartamento estava silencioso demais, sem vida. Sinal de que o Marcelo tinha saído não apenas para buscar alguma coisa nas redondezas, mas desaparecido efetivamente. Liguei no celular dele, porém ele não atendeu, bem como não respondeu nenhuma das minhas três mensagens. Que raios de homem difícil, pensei comigo mesmo. Será que nem meu gesto carinhoso de resgatá-lo e fazê-lo adormecer em meus braços como forma de me desculpar tinha conseguido amolecer o espírito dele? O que mais seria preciso fazer para voltarmos às boas, me ajoelhar na frente dele e implorar por perdão? E, afinal, perdão pelo quê, o que fiz de tão abominável para não merecer sua empatia?
Quando finalmente resolvi levantar e me dirigir à cozinha para preparar alguma coisa para comer, pois estava desde a véspera sem ingerir nada substancial, encontrei um bilhete deixado por ele com frases curtas e secas – Acho melhor darmos um tempo. A coisa não está funcionando. Considere se vale à pena continuarmos com isso. Pense no que quer para sua vida. Não me procure antes de ter certeza do que deseja – li estarrecido. Assim que superei o tranco do conteúdo daquele bilhete, me pus a chorar. Para ele, ‘a coisa’ e o ‘isso’, era o amor sincero que eu nutria por ele. Como alguém que também se dizia apaixonado por mim conseguia usar adjetivos tão impessoais para se referir a um sentimento tão profundo e verdadeiro?
Continue insistindo na tentativa de obter uma resposta aos meus repetidos contatos, mas ele permanecia inflexível e calado. Fiquei arrasado, e não consegui esconder isso de ninguém.
- O que acontece, chefinho, por que desses faróis baixos? Não me diga que despachou o namorado! – observou o Hiroshi no segundo dia em que mal tive forças para ir à empresa.
- Dessa vez foi ele, seu enxerido! Vê se não sai por aí espalhando a notícia, ou a Eiko vai ter um marido sem pinto. – retruquei, fazendo-o rir.
- Nem preciso abrir a minha boca, todo pessoal já notou como você anda jururu, e isso, no seu caso, só tem uma explicação, falta de homem. – revidou atrevido
- Deixa de ser folgado, seu japonês de meia tigela! Desde quando a falta de homem fez alguma diferença na minha vida? Vocês acham que todo gay só é feliz se tiver uma rola comendo o cu dele, o que não é verdade. Homem só se valer à pena, se acrescentar, caso contrário, totalmente dispensável. – sentenciei
- Eu já vi esse filme há uns meses atrás, quando você rompeu com o big boss. Os sintomas são os mesmos por que você estava apaixonado, e isso faz diferença na vida de qualquer um, não só de gays. – afirmou ele
- Há três dias expulsei o folgado do Felipe do meu apartamento, não sei se não seria o caso de fazer o mesmo com você aqui na empresa.
- Não faça isso, chefinho! O amor que você sente por mim é muito maior do que o que sentia pelos seus dois namorados juntos, vai doer bem mais, pode ter certeza. – retrucou ele rindo.
- Você é o japonês mais folgado que eu já conheci. Vai comprar uma passagem só de ida para o Japão, vai, seu ... seu ... piquinha de hamster! – ele quase se desequilibrou da cadeira de tanto rir, enquanto eu tentava fazer cara de bravo.
Não foi só o Hiroshi que me interpelou sobre o meu humor. O Derek também o fez.
- Como foi o casamento do seu irmão, se divertiu?
- Foi uma merda! Quebrei o pau com todo mundo, inclusive antes de chegar à casa dos meus pais, está bom para você?
- Como assim, antes de chegar lá? Brigou com o Marcelo, é isso?
- Sabichão!
- Por quê? O que foi que ele fez?
- Melhor perguntar o que foi que eu fiz! Merda! Uma atrás da outra, até ele ficar puto comigo e descer do carro no meio da estrada. – revelei
- Você não é assim! O que deu em você?
- Sei lá! Eu estava sob tanta pressão imaginando o que minha família ia dizer a respeito dele, se iam destratá-lo, ou pior, se iam humilhá-lo como são experts em fazer quando alguém está fora do meio social deles que acabei pirando e descontando todo meu medo em cima do Marcelo. – confessei.
- Ele não é nenhum ingênuo, saberia revidar à altura sem se deixar intimidar por quem quer que seja. Ele sabe que você estava ansioso demais com esse encontro e vai entender seu comportamento. – ponderou o Derek
- Pois se entendeu, não perdoou! Ficou tão puto que saiu arrebentando a cara de meio mundo depois de encher a cara e me deixou um bilhete terminando tudo.
- Ele deve ter feito isso de cabeça quente! Vai te procurar daqui a uns dias e vocês vão se acertar, tenha calma.
- É só o que me dizem, para ter paciência que tudo vai melhorar, para ter calma que tudo vai se arranjar, mas acontece que as coisas só estão piorando.
- Então, para que não se sinta um caso isolado, eu tenho uma notícia para você. O Brian e eu rompemos de vez, não estamos mais morando juntos. Me mudei para um flat na semana passada. – revelou ele.
- Sinto muito por vocês!
- Não sinta! Você bem sabe que não estávamos na mesma sintonia.
No final daquela semana o Derek me chamou para sair. Eu achei que o Marcelo ia me procurar ou, ao menos, responder a alguma das minhas mensagens nas quais eu pedia para termos uma conversa, mas ele não me respondeu. Por conta disso, relutei em aceitar o convite do Derek, ia parecer que eu estava trocando de parceiro como trocava de cuecas.
- Bobagem sua! Você não vai estar sozinho com ele, estaremos todos lá como sempre, caso o Marcelo apareça de surpresa ou fique sabendo que vocês fizeram um programa juntos. Além do mais, vocês estão juntos o dia inteiro na empresa, se fosse para rolar alguma coisa entre vocês dois novamente seria lá que isso ia acontecer, não num encontro com a galera. – argumentou o Tadeu quando reforçou o pedido para eu me juntar a eles.
- É tudo tão recente, não me sinto confortável saindo para me divertir quando rompemos há tão pouco tempo. Isto é, se realmente rompemos, pois eu ainda não desisti do Marcelo, aquele cabeça dura. – respondi.
O Derek veio me buscar em casa, não dava para continuar tão impassível, até porque todos eles só queriam meu bem e algumas horas descontraídas em minha companhia. Fomos a duas baladas, em nenhuma delas encontrei o Marcelo, embora o tivesse procurado com o olhar no meio da multidão. Na primeira balada a qual fomos, rolou basicamente rock e eletrônica, e estava faltando alguma coisa que desse um up, o que nos levou a partir para a segunda, animada por um DJ e uma banda estreante muito boa. A casa estava lotada, a pista de dança fervendo, os cantinhos ocupados por casais se devorando mutuamente sem o menor pudor, os dark rooms repletos de corpos nus ou seminus ao longo das paredes. Lá o som da pista chegava abafado, imperando os gemidos de satisfação dos carinhas recebendo um boquete ou transando. O Carlão tinha me arrastado para eles, ele fazia sucesso assim que os carinhas colocavam os olhos sobre o torso musculoso e nu dele. Logo apareceu um novinho se insinuando e levando a mão tarada até o volumão do jeans dele. O Carlão o deixou apertar a jeba volumosa, mas continuou andando depois de uns instantes, deixando o rapaz na vontade.
- Você é um cínico sem precedentes! – afirmei quando saímos de lá e fomos para a pista de dança.
- Por que? Só porque dispensei o carinha? Não deu tesão, que é que eu posso fazer? Se a mão tivesse sido a sua, a gente estaria lá, eu ia te fazer inteirinho até te deixar sem forças. – afirmou trocista.
- Deixa de ser besta! Vá fazer seu namorado!
- O Rafael não é meu namorado, é só um ficante.
- Ele gosta de você, não o magoe!
- Se ele não quer se magoar é só sair do meu pé!
- Quanta insensibilidade, Carlão! Não alimente as esperanças dele se não quer nada com ele. É mais honesto!
- Foi o que você fez com o Marcelo? – questionou ele com um ar de superioridade, como dono da verdade.
- Caralho Carlão! Como você consegue ser tão imbecil! – protestei, deixando-o na pista de dança.
- O que foi, mais uma briga? – indagou o Derek, assim que me juntei a ele no balcão do bar.
- Me deixa, Derek! É esse tonto do Carlão me enchendo o saco. – respondi.
- Vem dançar comigo, foi para isso que eu te convidei. – disse ele com brandura na voz.
O DJ estava tocando uma seleção romântica e dançante, muitos carinhas dançavam colados, trocando beijos e se acariciando. O Derek me segurou pela cintura, me encarava com um sorriso afetuoso, embora mantivesse as mãos vigorosas paradas nos meus flancos, com o gingar do meu corpo dançando elas se moviam sobre a minha camiseta e ele foi ficando excitado. Eu apoiei minhas mãos nos ombros sólidos dele, fitei aquele par de olhos que me cobiçavam e voltei a sentir aquele encanto que pensei ter superado com a nossa ruptura. Num momento bastante cool, com uns acordes suaves dominando a pista, os casais começaram a se beijar e o Derek me puxou para junto dele e também colou sua boca à minha. Eu me perguntei por que aquele beijo estava sendo tão gostoso, por que aquela língua se movendo junto com a minha ainda me deixava tão arrepiado e trêmulo, mas não procurei pela resposta.
Faltava pouco para o dia amanhecer quando chegamos em casa. O Derek subiu comigo até o apartamento, me despiu, me envolveu em seus braços caminhando até o quarto, me sentou na cama, tirou o jeans e aproximou o caralhão à meia-bomba cheirando a macho do meu rosto, eu o segurei sentindo as grossas veias que o revestiam se enchendo e pulsando, e o levei à boca fechando meus lábios ao redor da cabeçorra para sorver a umidade que gotejava dele. Ele gemeu e puxou minha cabeça pelos cabelos para que eu o encarasse enquanto chupava o pauzão. Uma vigorosa esporrada de uns nove jatos encheu minha boca com o esperma viscoso dele.
- Caralho, Bruno! Como você mama bem! – grunhiu ele entre gemidos lascivos.
Ele me mandou ficar de quatro, abriu as bandas da minha bunda e enfiou a cara barbada no meu rego para lamber minha rosquinha rosada. Eu me contorcia, gemia, sentia o frenesi dominando meu corpo e, numa centelha de êxtase sussurrei meu desejo.
- Entra em mim, Derek!
Era pelo que ele estava esperando ouvir. Um puxão forte nos meus flancos trouxe minha bunda para junto da virilha dele, o cacetão deslizou apenas duas vezes dentro do meu reguinho aberto antes de ser enfiado no meu cuzinho com um tesão desmedido. Eu gritei, instintivamente tentei escapulir com os esfíncteres travados em volta da rola grossa, mas ele me conteve puxando-me de volta ao mesmo tempo em que dava outra estocada potente terminando de atolar a jeba no meu rabo. Servi-o como uma cadelinha mansa, sentindo suas estocadas profundas reverberando nas minhas entranhas, enquanto gania de prazer e dor. Louco para se saciar, o Derek me deitou de costas, abriu minhas pernas e tornou a meter o cacetão no meu cuzinho bombando meu rabo com tanta força que achei que não conseguiria aguentar. Gozei forte sobre a minha barriga, o primeiro jato veio parar entre meus mamilos. Eu me revolvia sobre o colchão, me agarrando às laterais da cama enquanto ele continuava a socar o caralhão insaciado no meu cuzinho. Seu rosto, seu peito, suas costas estavam cobertas de suor, ele arfava, bramia sons guturais que pareciam vir de suas vísceras, o abdômen foi se retesando, as estocadas ficando truncadas e com um urro, ele encheu meu cu de porra. Ela se entranhava escorregadia entre as vilosidades da minha mucosa anal adentrando impune e aguerrida no meu corpo. Ele se deixou cair sobre mim, beijou avidamente minha boca, chupou meu pescoço, abocanhou um dos biquinhos salientes do meu mamilo e o mordeu até me ouvir gemer com as pontas dos dedos cravadas em suas costas. O Derek ainda mexia muito comigo, não havia como negar.
O Marcelo estava desaparecido havia dois meses, nenhuma notícia, nenhum contato, nem um simples ‘oi’ por tudo que tivemos juntos. Enquanto isso, o Derek se valia de cada momento na empresa para sussurrar no meu ouvido o quanto ele ainda me queria, o quanto estava apaixonado por mim e querendo oficializar nossa união. Fui com ele procurar por um apartamento, pois ele estava cheio de ficar no flat, queria se sentir em casa num lugar que fosse só nosso.
- Os bons ares voltaram a soprar nessa empresa, finalmente! O chefinho e o big boss juntos outra vez, glória aos céus! – zombou o Hiroshi quando lhe confirmei que tinha reatado com o Derek.
- Japonês, japonês, segura sua onda! – advertia-o quando ele me importunava com suas observações sarcásticas.
- Agora sem gozação, chefinho, eu estou feliz por vocês dois terem se acertado, formam um casal perfeito. Opinião que todos aqui compartilham, pode sair perguntando. – continuou ele, com seu jeito amistoso e sincero.
- Vocês deviam se preocupar com suas funções e não ficar bisbilhotando o romance alheio!
- Como é que a gente vai se concentrar em coisas chatas quando vocês dois ficam se agarrando dentro daquela sala feito dois faisões acasalando, protagonizando cenas bem mais tórridas e interessantes? – indagou ele
- Larga mão de falar besteira, piquinha de hamster! Nós nunca protagonizamos cenas tórridas naquela sala, isso aqui é um lugar de trabalho. Vocês é que têm uma imaginação fértil demais! – retruquei, confrontando-o com a verdade. Ele apenas piscou para o colega da frente numa cumplicidade safada.
A realidade era que eu tinha perdoado e superado o fato de o Derek ter omitido que estava num relacionamento conturbado com o Brian, e aceitado sua proposta de morarmos juntos no apartamento que ele havia acabado de comprar. Tínhamos fixado uma data para ali a três meses oficializar nossa união com uma grande festa para os amigos.
O Marcelo reapareceu inesperadamente depois de dois meses no James Bar e Garden, ele estava agarrado com um carinha na pista de dança quando eu cheguei acompanhado do Derek, do Pedro e do Tadeu. Foi o Tadeu que me cutucou as costelas assim que avistou o Marcelo na pista. Senti um calafrio perpassando meu corpo quando o vi dançando com o rosto quase colado ao do carinha.
- Tudo bem? – perguntou o Pedro ao ver a perturbação estampada no meu semblante.
- Tudo!
- Tem certeza? – perguntou o Derek. – Podemos ir para outro lugar se você quiser.
- Não! Vamos ficar. Não tenho do que fugir. Vida que segue, a escolha foi dele. – respondi, mas fui me abrigar nos braços dele e o beijei, o que ele logo entendeu como um pedido de suporte e força, retribuindo meu beijo com carinho.
Não demorou para que o Marcelo nos visse. Ele acenou discretamente de longe e, quando aquela música terminou, ele veio em nossa direção trazendo o carinha consigo.
- Oi! Esse é o Douglas. Pedro, Tadeu, Derek e Bruno. – apresentou, apontando para cada um à medida que citava os nomes.
- Oi! – respondemos em uníssono.
O Douglas me mediu da cabeça aos pés, o Marcelo devia ter contado que tivemos um caso recente e ele parecia estar procurando em mim qualidades que lhe faltavam. Ele era bastante jovem, uns vinte anos, se muito, eu pensei, o que destoava um pouco dos trinta e dois do Marcelo, mas não foi isso que me incomodou nele. Foi o jeito como ele me encarava, como se tivesse mais informações a meu respeito do que o desejável. Ele era bem falante, alardeou seu blog voltado para o público LGBT como se fosse um doutor no assunto. Tinha uma voz irritante, áspera, cansativa de se ouvir. Demorei mais de meia hora para sacar de onde eu conhecia aquele rosto fino de olhos inexpressivos e profundos, ele andou uns tempos com o Felipe, quando ele se drogava com uma galera maltrapilha metida a ideais comunistas que se juntava à noite sob a marquise do edifício da faculdade de Ciência Política da Universidade Federal. Também o havia encontrado uma vez rapidamente nos corredores de um shopping quando estava acompanhado do Felipe e mais outros carinhas, os quais eu havia proibido o Felipe de trazer para o apartamento. Questionei-me do Marcelo estar andando com esses tipos que estavam a um passo da marginalidade, quando ele não era assim.
- Oi! Como você está? – perguntou o Marcelo, assim que o carinha deu uma folga, e se afastou um pouco nos dando um pouco de privacidade.
- Bem! Ainda tentando entender o porquê de você me deixar sem nenhuma explicação. – respondi.
- Foi melhor assim! Você vê que até voltou com seu ex, sinal de que não rolou nada de importante entre a gente! – continuou ele, sem me olhar nos olhos.
- Talvez não tenha sido nada importante para você, mas para mim foi. – afirmei, fazendo-o desviar o olhar à nossa volta.
- Você supera! Aliás, pelo que vejo, já superou! – havia desdém em sua voz.
- Você não sabe o que se passa dentro de mim, portanto, não fale sobre o que desconhece. Eu voltei com o Derek porque ele terminou com o Brian, estamos planejando morar juntos dentro de uns meses. – revelei
- Bom para você! Desejo sorte! – exclamou ele.
- Onde conheceu o Douglas? – indaguei por curiosidade
- Por aí!
- Por aí, ou através do Felipe? – insisti
- É foi ele quem nos apresentou. Isso faz alguma diferença?
- É no mínimo estranho, você há de convir. Quantos anos ele tem? Não sabia dessa sua atração por novinhos. – dessa vez eu estava sendo sarcástico.
- Já tem idade para levar uma pica no cu, é o que basta! – respondeu ele.
- Você é um cara incrível, Marcelo! Homens como você são um tesouro. Não estou dando uma de preconceituoso, mas você merece coisa muito melhor, merece mais do que só um cu afim de pica. – afirmei
- Já tentei, mas me dei mal. Eu não estava à altura do cara, eu era pouco para as expectativas e inseguranças dele. – disse ele, numa clara referência a mim.
- Se estiver se referindo a mim, está muito enganado, eu reconheci seu valor desde a primeira vez que te vi, e isso só foi se confirmando à medida que me envolvi. Posso ter ficado com medo de muita coisa em relação a opinião dos outros a seu respeito, mas eu sempre soube quem você é e que atributos têm. Não jogue nas minhas costas a culpa por não termos dado certo, não sou certamente o único culpado. – conclui.
Nisso o Douglas se aproximou, beijou a boca do Marcelo de forma acintosa só para me provocar, e passou a mão sobre o membro dele como se quisesse me afrontar demonstrando que o dono daquilo agora era ele. O sujeitinho era vulgar ao extremo, e deixou o Marcelo constrangido, quando a galera toda repudiou com os semblantes aquela atitude obscena.
Eu estava empolgadíssimo com os preparativos para me mudar com o Derek para o novo apartamento, o nosso apartamento. Toda vez que que eu ouvia esse ‘nosso’ ou ‘nossa’ em alguma circunstância, eu tinha uma sensação de plenitude, de parceria, de companheirismo, algo como se uma parte que me faltava viesse se juntar formando um todo muito mais completo. Ele também estava diferente, como se algo dentro dele estivesse renascendo. Estava mais comunicativo do nunca, na empresa demonstrava um dinamismo que contagiava a todos, comigo era só carinho e, quando estávamos só nós dois, não conseguia ficar perto de mim sem que uma necessidade frenética de fazer sexo o impulsionasse.
Não que a opinião da minha família fizesse a menor diferença em relação aos nossos planos de vivermos uma vida em comum, mas eu quis que eles soubessem que o fato de eu ser gay, não me impediria de ter um parceiro, de formar um casal como qualquer casal heterossexual, usufruindo desse amor e dessa cumplicidade que mantem duas pessoas unidas e felizes.
Acabei por me espantar com o comportamento da minha mãe. Pela primeira vez, ela não disfarçou o incomodo que lhe causava me ver ao lado de outro homem, parecia ter desistido de me converter num macho, de me empurrar uma garota goela abaixo. Que ela não estava satisfeita com essa situação era visível, no entanto, ela foi bastante civilizada no trato com o Derek, com o fato de ele se referir a mim como ‘morzão’ e de agir com naturalidade toda vez que me dava um beijo carinhoso diante de todos. Acho até, que ela chegou a ter certa admiração por ele agir como se a opinião dela a esse respeito não tivesse a menor importância. Ele não a quis impressionar, não a adulou, não deu a mínima para os requintes e convenções a que ela estava habituada. Quanto ao meu pai, ele me recebeu e me abraçou com o afeto de sempre. Dificilmente se conseguia saber com exatidão o que se passava na cabeça dele. Ele e o Derek tinham muito em comum, eram reservados, taciturnos em muitos momentos, não se deixavam levar pela opinião dos outros, tinham uma confiança inabalável em si mesmos. Logo de início a conversa entre eles fluiu fácil e até bem mais amistosa do que eu podia imaginar. Meu irmão, mais uma vez, mostrou o tremendo imbecil que era. Foi seco e até grosseiro com Derek, tratou-o como se fosse uma bicha qualquer, uma pessoa de segunda classe, um pervertido sexual qualquer. Isso lhe custou constrangimentos e humilhações pelas quais mereceu passar, pois o Derek a cada menção ignóbil dele tinha uma resposta em contraponto que mostrava toda sua superioridade tanto intelectual quanto emocional. Ao final daquele feriadão de três dias que havíamos passado com a minha família, meu irmão estava reduzido a um Zé Ninguém encolhido em sua insignificância. A esposa até tentou se mostrar amistosa, ao tentar uma aproximação conosco como uma cunhada que, ao menos socialmente, seria capaz de manter um relacionamento respeitoso. Mas a infeliz era dominada pelo meu irmão como um cãozinho bem treinado que agia e falava segundo a maneira pela qual meu irmão lhe lançava olhares de aprovação ou recriminação. Ela padecia com as atitudes machistas dele, se sentia inferiorizada e era tratada por ele como alguém incapaz de pensar por si própria. Era notório que após poucos meses de casados, ela já começara a sentir a infelicidade daquele casamento. Apesar disso, aproveitando que estávamos todos reunidos, ela anunciou a gravidez, não com aquele brilho no olhar que toda mulher satisfeita com seu homem anuncia, mas como uma consequência fatídica daquela união tão celebrada a questão de um ano atrás.
- Me promete uma coisa, querido? Nunca vamos deixar de ser sinceros um com o outro, nunca vamos nos tratar com essa hipocrisia com a qual a minha família está acostumada a se relacionar entre si? – perguntei.
- Prometo! Vou te mostrar que podemos ter uma vida totalmente diferente dessa, que podemos ter uma relação sólida e verdadeira. Eu te amo, Bruno, e só quero te ver feliz Morzão. – respondeu ele, quando estávamos na estrada voltando para Curitiba.
Não é fácil sair da casa dos seus pais ou sair da casa em que você morava sozinho e ir dividir a vida com outra pessoa. Se relacionar é difícil. Dividir casa, rotina, planos. O que fortalece é olhar para o outro e pensar: minha vida está junto da dele, então vou fazer o meu melhor para ele estar feliz, foi imbuído dessa vontade que acreditei conseguir ter uma vida plena ao lado do Derek.
Com o apartamento pronto, o Derek e eu tiramos quinze dias de férias, fizemos a festa para celebrar nossa união e partimos para Mason, Ohio onde os pais e parte da família do Derek moravam. Foi a lua-de-mel com a qual eu tanto sonhei, por mais brega e heterossexual que parecesse, eu sempre me imaginei fazendo uma primeira viagem com meu parceiro para algum lugar onde pudéssemos fazer amor a todo instante, a cada vez que que nossos corpos sentissem essa necessidade. Os dias que passamos nos Estados Unidos foram simplesmente maravilhosos, eu me senti realizado e completo, tinha um homem amoroso ao meu lado compartilhando cada momento de felicidade.
Quando regressamos, passamos a noite fazendo amor, como se aqueles quinze dias trepando mais do que coelhos acasalando não tivessem sido suficientes para saciar nossa libido. No voo entre Chicago e São Paulo chegamos a transar dentro do banheiro do avião da United Airlines numa das transas mais hilárias e intensas que tive com o Derek. Ambos somos altos, mais de 1,85 metros, ele é enorme e corpulento, a cabine restrita mal nos acomodava, eu parecia uma lagartixa grudada na parede enquanto ele me enrabava e seus ombros e braços batiam contra as paredes finas denunciando o alvoroço que acontecia lá dentro. Procurei gemer o mais baixinho possível, o que nunca foi fácil com um caralhão daquele tamanho enfiado até o talo dentro do cu, mas mesmo assim os sons lascivos de nosso comportamento voluptuoso podiam ser ouvidos quebrando a monotonia do ronco dos motores do avião. Além disso, o Derek nunca foi muito discreto quando gozava, seu urro se assemelhava ao brado de um bisão quando terminava de copular, e foi o que levou um comissário de bordo a bater na porta do banheiro perguntando se tudo lá dentro estava bem. Contivemos o riso enquanto voltávamos a nos vestir. O Derek saiu primeiro com aquela cara de moleque travesso que tinha acabado de aprontar alguma; eu o segui, minutos depois, sob o olhar inquisitivo do comissário que acabou esboçando um risinho ao notar minha dificuldade para caminhar até a poltrona, onde um longo e apaixonado beijo entre o Derek e eu aconteceu na madrugada apés de altitude.
Foi nossa primeira noite estreando a cama nova no apartamento novo. Já durante o preparo do jantar daquela noite, ainda exaustos pelo longo voo de volta cheio de conexões, o Derek me perseguia por todo lado com uma ereção explícita roçando minhas nádegas a cada abraço que ele me dava, enquanto chupava minha nuca e me sussurrava sacanagens junto ao ouvido para me deixar excitado; o que eu sentia só de vê-lo com aquela estrovenga cavalar enrijecida balançando de um lado para outro dentro da bermuda de seda do pijama, enquanto seu tronco viril e peludinho se encarregava de completar meu tesão. Assim que fomos para cama, enfiei minha mão sob a bermuda e comecei a acariciar o sacão e a pica dele, tirei-os para fora, coloquei a cabeçorra na boca e comecei a chupar. A caceta crescia a olhos vistos, se encorpava, com a ponta da língua eu percorria as sinuosidades das veias que iam se enchendo para nutrir a ereção. O bufar entre dentes do Derek foi se transformando em gemidos contidos. Mordidinhas delicadas ao longo do caralhão grosso foram me guiando em direção ao sacão peludo, onde abocanhei seguidas vezes ora um daqueles testículos enormes, ora outro, chupando-os e massageando-os com a língua. A mão pesada do Derek afundava meu rosto na virilha pentelhuda dele e, os impulsos que ele dava erguendo os quadris enfiava a jeba até a minha garganta. Chupei-o devota e carinhosamente até ele gozar, engolindo sofregamente os jatos abundantes que ele esporrava na minha boca. Me deitei em cima dele ao terminar e o cobri de beijos, enquanto ele apalpava minhas nádegas e, com um dedo devasso, roçava minhas pregas anais lanhadas por quinze dias de sexo intenso ininterruptos. Mesmo o mais sutil toque sobre elas se mostrava bastante sensível e me fazia travar involuntariamente os esfíncteres como um meio de defesa, o que deixava o Derek louco de tesão. Ele rodou abraçado a mim de modo a eu ficar embaixo dele, e começou a manipular meu mamilo com seu biquinho saltado e enrijecido pelo tesão. As marcas dos dentes dele estavam espalhadas ao redor de ambas tetinhas como prova da sua voracidade libidinosa.
- Essa sua tara por deixar marcas pelo meu corpo toda vez que transamos precisa ser estudada pela psicologia, sabia. – afirmei, enquanto ele tracionava com os dentes o biquinho do meu mamilo inchado, me fazendo gemer.
- Isso é para deixar claro para qualquer outro macho que esse corpão lindo tem dono, é tipo uma advertência, não toque, não disponível para mais ninguém que não seja eu. – retrucou ele, me fazendo rir.
- E que outro macho seria esse, se o único que eu quero e amo é você, seu tonto?
- Sei lá! É melhor prevenir que remediar! – respondeu ele
- Palhação! Você é meu macho, só você! – asseverei, o que o deixou mais assanhado, o fez se encaixar nas minhas pernas abertas e enfiar o caralhão do meu cuzinho até suas bolhas globosas e pesadas ficarem batendo num ‘shlap’ ‘shlap’ ‘shlap’ cadenciado no meu rego apartado.
Muitos minutos depois, chegamos ao clímax juntos. Isso começou a acontecer durante as nossas últimas e recentes transas, como se até nisso comungássemos do mesmo prazer. Enquanto eu lambuzava meu ventre com o meu gozo, ele inoculava o dele profundamente na minha carne, arrefecendo o ardor da minha mucosa anal esfolada. Parecia que o universo era pequeno para todo aquele amor, e eu não conseguia deixar de sentir certo temor inescrutável bem lá no fundo, na mais recôndita estrutura da minha mente.
O domingo de verão havia amanhecido lindo, a chuva que caiu durante a noite enquanto fazíamos amor, tinha deixado o céu limpo. Como tínhamos acabado de voltar de viagem, nossa geladeira estava vazia e resolvemos ir tomar o café da manhã numa cafeteria a poucos quarteirões do apartamento. Curitiba é uma cidade provinciana, o que nos levou a fazer a caminhada até a cafeteria com um comportamento ilibado, embora estivéssemos loucos para fazê-lo de mãos dadas e até ir trocando uns beijos, tamanha era nossa felicidade. Enquanto eu fiquei esperando nosso pedido chegar à mesa, o Derek foi ao banheiro. Ele tinha essa mania de sair de casa sem antes mijar e mal saiamos de casa ele precisava procurar um banheiro para se aliviar. O celular dele tinha ficado sobre a mesa e, de repente, os sons obstinados de mensagens entrando chamou minha atenção. A tela ia se iluminando a cada nova mensagem e eu acabei visualizando os textos cada vez mais estarrecido e com a cabeça começando a zunir como se fosse arrebentar. O cara que estava mandando as mensagens pelo Grindr se identificava como Junior e estava cobrando o encontro que o Derek havia lhe prometido, se dizia ansioso por sentir o cacetão dele, estava propondo um lugar e horário para o encontro durante aquela semana num início de noite. Minhas mãos tremiam segurando o celular do Derek, enquanto minha visão começava a embaçar com as lágrimas profusas que inundavam meus olhos, chegando a gotejar na borda na mesa. Recoloquei o celular no lugar quando vi o Derek voltando do banheiro e procurei enxugar as lágrimas o melhor que pude.
- O que aconteceu? Você estava chorando? – perguntou ele, assim que se sentou à minha frente. Não sei de onde tirei forças para responder.
- Quem é Junior, Derek? – questionei sem pestanejar
- Junior? Não sei de nenhum Junior. Onde ouviu esse nome e por que eu deveria saber quem é Junior? – senti meu rosto abrasando, meus punhos cerrando com tanta força que quase entraram em tetania.
- Por que ele está te cobrando aquele encontro que você lhe prometeu tão logo voltasse de viagem para que ele conheça seu pinto! – respondi encarando-o.
- Isso não é possível, isso deve ser um engano, isso é .... isso não existe! – foi a primeira vez que vi o Derek gaguejar, não ter firmeza na voz, se sentir pego de surpresa.
- Tanto existe que eu li cada uma das mensagens que ele acabou de te enviar, pode conferir aí no seu celular. Eu não ia invadir a sua privacidade, só peguei o celular por que as mensagens desesperadas do sujeito não paravam de entrar. Por que você fez isso comigo, Derek? Por que? – voltei a ficar com a voz embargada e precisei enxugar as lágrimas que não paravam de aflorar.
- Não é nada disso que você está pensando, Bruno! Eu entrei no aplicativo depois que terminei com o Brian, eu nunca te traí desde estamos juntos, nunca! – respondeu ele, mas estava mentindo.
- Não minta para mim, Derek! Não subestime minha inteligência, isso é mais ofensivo do que a própria traição que está cometendo. – afirmei
- Vamos tomar nosso café e depois voltamos para casa para termos uma conversa civilizada e sem exaltações. – propôs ele.
- Como você tem coragem de me pedir um absurdo desses? Que casa, Derek? Que conversa civilizada? Eu estou aqui sentado na sua frente com o cu todo encharcado do sêmen que você despejou em mim há pouco mais de uma hora. Mal consigo andar de tão arregaçado e sensível que meu cuzinho está de tanto eu me entregar inteiro para você achando que estava me pegando por que sentia algo por mim. Você faz ideia de como estou me sentindo? Meu mundo acaba de desmoronar, Derek! Você está me traindo no momento mais sublime da minha vida! – sentenciei, tentando evitar que meu choro atraísse a atenção das pessoas ao redor.
- Eu te amo, Bruno! Isso não está em questão! Nós podemos conversar sobre a nossa relação, podemos ter uma relação aberta, nada precisa ser taxativo. – comecei a sentir raiva dele
- Relação aberta? Eu não quero uma relação aberta, Derek! Você sabe disso, me conhece, sabe que detesto promiscuidade. Eu quero um relacionamento monogâmico, um relacionamento mais careta, fiel e conservador que você possa imaginar com a pessoa que eu amo. Eu sou egoísta nesse sentido, Derek! Quero meu homem só para mim, quero me entregar só para ele! Não preciso mais que isso para ser feliz, não preciso de intrusos disputando o que conquistei.
- Nós vamos chegar a isso, Bruno! É apenas uma questão de ajustes, eu garanto! Prometo que vou te fazer feliz, eu juro!
- Não jure nada, Derek! Eu fui um idiota ingênuo, já deveria ter aprendido quando você saiu comigo por mais de seis meses enquanto traia o Brian. Como pude ser tão estupido? Como pude cair numa cilada dessas? Se não fosse pelos meus amigos te flagrarem com ele, talvez até hoje eu não saberia de você com o Brian.
- Isso não é verdade! Eu só estava esperando o melhor momento para te contar, só isso! Meu relacionamento com o Brian já estava esgotado, tanto que acabamos nos separando. E, só então, eu voltei a te procurar por que te amo e quero viver ao seu lado. – afirmou ele.
- Será mesmo? Por quanto tempo? Até você encontrar outro que aceite levar sua rola no cu sem fazer muitas exigências, talvez esse Junior? – questionei
- Isso é só sexo! O que eu sinto por você é diferente, é amor, é paixão!
- Mas eu não consigo e nem vou aceitar que meu parceiro faça sexo com outro independente de sentimentos. Eu te disse, sou egoísta! – retruquei.
Eu sentia dores por todo o corpo, não tinha certeza se ao me levantar conseguiria sair dali.
- Ainda bem que não desfiz as malas, meu sonho de viver toda uma vida ao seu lado em nossa casa acabou. – comuniquei
- Você não está nem tentando, Bruno! Não está dando nenhuma chance para o nosso relacionamento! Está terminando e jogando fora a oportunidade de sermos felizes juntos! – sentenciava ele, nervoso por ver ruir o que havia imaginado estar consolidado.
- Nunca seremos felizes, Derek, com todas essas mentiras entremeadas nesse relacionamento. – asseverei, com minha decisão tomada.
Eu havia alugado meu apartamento e agora não tinha nem para onde ir. Desolado e sem saber o que pensar, o que fazer da minha vida e como agir dali em diante, fui bater à porta do Carlão. Ele me deixou chorar em seu ombro, me envolveu em seus braços, secou minhas lágrimas, quis dar uma surra no Derek por me fazer sofrer daquele jeito, e foi mais uma vez o mais confiável e querido amigo que podia ser.
Não voltei à empresa, exceto para pedir minha demissão, o que me custou horas de uma desgastante reunião para ser aceita. Vi minha equipe aos prantos sem entender por que eu estava fazendo aquilo com eles depois de tantos anos sendo mais do que um time de trabalho, sendo praticamente irmãos com um ideal comum. O Hiroshi chorava feito uma criança abraçado a mim.
- Deixa de ser molenga, piquinha de hamster! Estou te indicando para o meu cargo, vê se dá um sorriso em vez de ficar aí se debulhando em lágrimas feito um viadinho. O gay aqui sou eu, não você!
- Eu te amo, seu gayzão sem noção! Todos aqui te amam!
- Eu também amo vocês! Mas agora vão caçar o que fazer que a vida continua. E você, seu japonês de uma figa, trate essa turma como merece. Não deixem que o poder suba à cabeça desse japonês falsificado! – foram minhas últimas palavras para aquela equipe que fez de mim um líder mais do que amado.
Uns quarenta e cinco dias depois, eu estava me mudando para São Paulo, tinha sido contratado pela mesma empresa na qual o Saulo trabalhava. Foi uma guinada na minha vida. Nunca tinha ficado longe dos meus amigos, sentia uma falta enorme deles, das coisas que fazíamos juntos, dos lugares que frequentávamos para nos divertir, da consideração e do carinho com o qual me tratavam e cuidavam. Seria uma nova experiência, um novo modo de viver, como se estivesse começando tudo de novo.
Bem que dizem que não adianta fugir dos problemas, de si mesmo, que seja lá para onde formos eles nos acompanharão. Não foi diferente comigo. Depois de cinco anos morando e trabalhado em São Paulo, consolidando minha carreira, eu ainda sentia um grande vazio dentro de mim. O que descobri nesse exílio, foi que estava pagando pela minha insegurança, aquela que vinha me acompanhando desde criança. Meus pais foram ótimos em suprir minhas necessidades materiais, mas não as emocionais, o que precocemente me levou a ser uma criança tímida e retraída. Com o advento da adolescência e a descoberta que eu era diferente dos outros, que era homossexual, essa insegurança passou a reger meus passos. Eu nunca sabia se estava tomando a decisão certa, se aquilo que eu estava fazendo era mesmo o que precisava ser feito. Com relação às pessoas, eu relutava em me envolver com elas. Por ter me tornado um rapaz atraente, os assédios me assustavam, os de outros homens, então, nem se fale. Perdi minha virgindade tardiamente e, no dia em que isso aconteceu, parecia que eu tinha cometido um sacrilégio imperdoável, embora tivesse gostado da experiência. A resolução que tomei passados esses cinco anos, foi a de que estava na hora de voltar, de enfrentar as coisas sem medo, mesmo que o desfecho não me fosse satisfatório. Eu estava com trinta anos, a antiga insegurança não fazia mais parte da minha vida. Saí do emprego sem nada em vista e voltei para Curitiba. Por alguma razão achei que minhas raízes estavam nessa cidade.
- Como é bom ter você de volta! – disse o Carlão ao me abraçar no aeroporto naquela manhã fria de inverno quando foi me buscar.
Quando avisei que ia para Curitiba ele logo se prontificou a me acomodar em sua casa, tinha alertado a galera e feito a expectativa deles por aquela visita se transformar numa programação intensa por toda uma semana.
- Também é bom te rever! Como você está?
- Bem melhor agora com você aqui! – respondeu ele me apertando com força em seus braços. Aquele torso enorme e quente sempre seria uma referência de acolhimento e proteção para mim.
- Tem certeza que não vou atrapalhar ficando na sua casa? Tem alguém com você? Posso ir para um hotel sem problema.
- Nem se atreva! Juro que vou ficar muito puto com você se não me der o privilégio de aproveitar cada minuto do seu lado. Quem sabe você não se comova com a minha solidão, não custa tentar. – disse ele rindo e dando um tapão nas minhas nádegas quando caminhávamos em direção ao estacionamento.
- Contanto que você se comporte! – adverti, retribuindo o sorriso.
- Isso eu já não posso prometer!
- Não sei como um cara maravilhoso como você não se estabelece, não deixa alguém entrar na sua vida e te dar todo o amor que merece. Você precisa deixar de ser tão galinha, meio mundo já conhece esse bagulhão que você tem no meio das pernas, não acha que está na hora de deixar apenas uma pessoa cuidar dele? – argumentei.
- Veja só quem fala! Não sou só eu quem não deixa ninguém entrar em sua vida, você é a prova viva disso! Ademais, não acredito nessa bobagem de união, de relacionamentos para toda vida, isso é tão hetero, tão fora da realidade dos gays que mais parece utopia. Esse tal de amor não existe no universo gay. A paixão e o amor gay estão concentrados nas rolas e nos cus, não no coração. É por isso que boto o meu amigo aqui para funcionar sem ficar esperando pelo impossível. – respondeu ele.
- Que filosofia de botequim! Aposto que não faltam candidatos a se apaixonarem por um cara feito você, dê uma chance a eles. – eu antecipadamente já previ a resposta dele.
- Faz anos que espero você se apaixonar por mim! Como isso não acontece, vou satisfazendo o tesão de outros.
- Bestalhão! Não dá para falar sério com você! – exclamei, colocando um beijo na bochecha dele enquanto ele dirigia.
Naquela mesma noite a galera se juntou, fizemos um giro pelas baladas da cidade, pouca coisa estava mudada, os mesmos tipos, as mesmas atrações, muitos troncos nus e suados se agitando nas pistas, muita sacanagem rolando nos dark rooms, muita pegação rolando pelos cantos e indo terminar nalgum lugar longe dali numa trepada que quase nunca levava a nada. Será que aos trinta a gente começa a ficar careta? Nada daquilo fazia mais muito sentido para mim. Tive que contar meus cinco anos em São Paulo uma dezena de vezes, a cada conhecido que ia encontrando pelo caminho. Se por um lado eu estava contente em revê-los, por outro tinha a impressão que todos continuariam a procurar por algo que jamais encontrariam nesses lugares. Antes de voltarmos para casa, em plena madrugada, resolvemos dar uma passada na Verdant para encerrar a noite. Como sempre, o local estava lotado apesar do frio que estava fazendo. Não cabia mais ninguém na pista de dança e a galera estava agitadíssima com o som que um DJ estava tocando. A disputa por uma bebida fazia do balcão do bar um aglomerado de mãos pedindo atenção. O Carlão foi me puxando até os fundos do salão, o Pedro estava lá numa mesa com o namorado e mais dois colegas desse namorado. A cada dois passos eu era retido por alguém conhecido que trocava meia dúzia de frases e me parabenizava por estar de volta. Foi durante uma dessas paradas que o avistei, o Marcelo com aquele carinha amigo do Felipe do qual já não me lembrava o nome, e o próprio Felipe formando um trio excêntrico.
- Douglas! – respondeu o Carlão quando lhe perguntei. – Continua o mesmo babaca, filho da puta de sempre. Só fala daquela merda de blog que ninguém acompanha e acha que é a última bolacha do pacote. Um cretino! – emendou.
Foi inevitável passar perto deles. O sujeitinho me reconheceu, cutucou o Marcelo que estava de costas para mim e, fazendo uma careta espalhafatosa veio direto na nossa direção.
- Ora, ora, sejam só quem ressuscitou! O Bruninho caça-macho! Andou sumido! Me disseram que você passou uma temporada em São Paulo roubando os machos da bicharada de lá. É verdade? – o sujeito era mesmo um idiota, nem me dei ao trabalho de responder.
- Oi! – cumprimentou o Marcelo, esboçando um daqueles seus sorrisos de arrasar corações. Ele estava mais lindo do que nunca, másculo, de olhar penetrante que faz a gente se sentir nu diante dele, predador como um grande felino que é, ao mesmo tempo, sutil e certeiro no abate de suas presas. Um macho fascinante.
- Oi! – respondi com um sorriso franco.
- Preciso fazer um registro no meu blog alertando as bichas para esconderem seus machos se não quiserem perdê-los para o gay magia de Curitiba. – continuou o Douglas destilando seu veneno.
- Oi bicha rica! Voltou para ver se os pobres ainda estão vivos? – questionou o Felipe
- E ainda tem gente lendo seu blog? – provoquei
- A última vez que eu o abri mal tinha passado de cem seguidores. Um sucesso! – ironizou o Tadeu que acompanhava a conversa, fazendo o Pedro, o namorado dele, o Alex e o Marcos darem risada.
- O blog é só um passatempo, sou jornalista e minhas ‘reportagem’ são muito bem aceitas! – defendeu-se o babaca, deslizando no português.
- Sorte a sua, não é? Te desejo sucesso! Mas, por via das dúvidas, vá ter umas aulas de português para descobrir o que vem a ser concordância nominal. Vai te ajudar a não passar por ignorante! – devolvi, sem olhar na direção dele
- Não esquenta Douglas, essa bichinha sempre dá uma de superior, de culta, de dona da verdade! – defendeu-o o Felipe.
Meus olhos ainda estavam concentrados no Marcelo, estava o achando lindo e tentava adivinhar o porquê. Seria aquele cavanhaque contornando seu queixo anguloso e sua boca, acentuado a sensualidade dela, e que ele não tinha na época que estávamos juntos? Seria aquele brilho nos olhos claros que se mostrava feliz por me rever e não escondia o tesão que ainda sentia por mim?
- Não é sorte, é talento! – exclamou o Douglas, querendo prolongar aquela discussão sem sentido.
- Depende do que você considera talento! – revidei, já farto de sua insolência.
- Dá um tempo, fulaninho! Que saco! Puta cara desagradável! – exclamou o Carlão também farto de ouvir as asneiras do cara.
- Não estou falando com você, seu puxa-saco! Aproveita que o gayzinho rico está solteiro, talvez ele até te deixe enfiar o pau no cu dele, como um grande favor que está te prestando. – sentenciou o imbecil, antes de uma bordoada do Carlão no meio da cara dele quase tê-lo derrubado.
- Vá se foder, viado do caralho! – berrou o Carlão.
O Douglas encarou o Marcelo esperando pela solidariedade e ajuda dele para enfrentar o Carlão, o que não aconteceu. O Marcelo continuou impassível, como se tudo aquilo não lhe dissesse respeito.
- Você vai só ficar aí olhando? Ele me deu uma porrada! Não vai fazer nada? – questionou o Douglas, humilhado e vencido.
- Se você não tivesse começado as provocações, não teria que passar por esse vexame! A escolha foi sua! – exclamou o Marcelo.
- Você está do lado dele, é isso! Bastou ele voltar e você já quer rastejar aos pés dele novamente. Você é um idiota, Marcelo! Aprende cara, esse gayzinho filhinho de papai nunca vai olhar para você! Você é o mesmo que um empregadinho qualquer dele, um servo, um capacho! – vociferava o cara transtornado. – Você vem comigo ou fica? Essa noite já deu para mim!
- Me desculpe te fazer passar por isso! Estou contente por te ver de volta. Quem sabe possamos tomar um café um dia desses. – disse o Marcelo ao se despedir de mim.
- Não foi sua culpa! Também gostei de te rever! Vamos combinar sim, fico esperando a sua ligação, pode ser assim? – devolvi. Ele sorriu me deu um beijo na face se foi no encalço do Douglas.
- Você é um traíra, Marcelo! Como aceita que esse cara esbofeteie seu namorado, sem tomar uma atitude? Que tipo de macho é você? – interveio o Felipe, solidário ao amigo ultrajado.
- O tipo que não compra briga pelo que não vale à pena! – respondeu o Marcelo.
- Vem, vamos até a mesa do Pedro, o papo lá deve ser bem mais agradável. – disse o Carlão, continuando a me puxar através da pista.
- Rolou um barraco ali, pelo que deu para ver daqui. Os cretinos do Douglas e do Felipe outra vez, aposto! – disse o Pedro assim que nos juntamos a eles.
- Perdi a cabeça, mandei a mão na cara dele. Faz tempo que minha mão coça toda vez que ele começa com aqueles insultos gratuitos, hoje não deu para segurar. – admitiu o Carlão. Passei a mão no rosto contraído dele em sinal de aprovação pelo que tinha feito.
- Juro que não entendo o que o Marcelo viu nesse cara! Eles não combinam em nada! – sentenciou o Pedro.
- Eu também não esperava que eles ainda estivessem juntos depois desse tempo todo. – afirmei.
- Eles terminaram logo depois que você foi embora e só voltaram a sair juntos faz uns dois meses, no máximo. – revelou o Tadeu.
- Estamos aqui para nos divertir, e é isso que vamos fazer! – exclamei, erguendo um brinde junto com todos eles. Nosso círculo estava outra vez reunido e isso merecia brindes e risadas, não aborrecimentos.
Depois de uma meia hora o Marcelo estava de volta, sozinho. Sentou-se conosco e participou do papo como um velho e querido amigo. Ele soube cultivar a amizade com meus amigos mesmo após nosso relacionamento terminar, e eles gostavam dele. Ele se sentou bem ao meu lado. Senti-o roçando o joelho nas minhas coxas e soube que não era por acaso. A ereção dentro da calça dele falava por si só. Eu quis que ele soubesse que eu sabia que ela estava lá, atormentando-o, fazendo a virilha dele queimar de tanto tesão e, por duas vezes, discretamente, pousei minha mão sobre ela, enquanto trocamos sorrisos. Aquele clima de – love is in the air – parecia estar renascendo, mas eu não queria precipitar as coisas.
Até então, todos achavam que o motivo da minha volta à Curitiba era o casamento do Hiroshi. Ele e a Eiko resolveram finalmente se casar e eu era um dos padrinhos. Durante esses anos que estive em São Paulo, o Hiroshi e eu nos comunicávamos quase diariamente. Era ele quem me passava as notícias da empresa e, por conseguinte, do Derek. Ele havia me dito que no princípio o Derek fez todos crerem que não sentia a mínima falta de mim, que o fim do nosso relacionamento não o abalara. Porém, segundo ele, aquilo não durou mais do que algumas semanas, período em que ele havia se retraído em sua sala, quase não falava com ninguém e, quando o fazia, parecia estar em outro mundo. Depois, passou por um período no qual se transformou num verdadeiro déspota, xingando, brigando por qualquer bobagem e até demitindo pessoas nos acessos de fúria. Por fim, parecia estar conformado. Não era mais o mesmo Derek de antes e tinha refeito as pazes consigo mesmo e com o mundo.
No dia do casamento foi quando revelei ao Carlão que tinha pedido demissão do meu emprego em São Paulo e que estava de volta não só para o casamento, mas definitivamente.
- Uau! Quanta coragem! Era um super emprego, você saiu daqui tão animado com a perspectiva de trabalhar numa empresa daquele porte, sem mencionar o salário. O que te levou a abrir mão de tudo isso? – questionou ele.
- Uma série de fatores! Um deles e, talvez o mais importante, foi que perdi aquela insegurança que eu tinha em relação a tudo e todos. Eu não estava feliz lá sozinho, longe de vocês, longe dessa cidade que, por mais provinciana que seja, é onde me sinto em casa. Hoje eu sei exatamente o que eu quero, se vou encontrar não sei dizer, mas vou tentar com toda a garra. – respondi.
- Para nós essa sua volta é motivo de comemoração. Você fez muita falta durante os nossos encontros, eles tinham perdido parte de seu glamour sem você por perto. A galera vai vibrar quando souber. – retrucou ele.
- Eu amo vocês!
Sempre achei as cerimônias de casamento um tanto quanto bregas, todos aqueles ritos, todas aquelas pessoas vestidas com o que havia de mais esdrúxulo em termos de gosto, contudo, o casamento do Hiroshi, ridiculamente, me levou às lágrimas. Em dado momento, feito o mais palerma dos românticos, eu estava com os olhos cheios d’água. Patético, preciso admitir.
- Não precisa chorar, chefinho! Sei que sempre foi apaixonado por mim, mas eu não vou sumir, não é por que agora estou casado que não podemos nos tornar amantes, que tal? Uns encontros furtivos, tudo às escondidas, fazendo as coisas mais excitantes! Já pensou? – caçoou o Hiroshi quando lhe dei os parabéns.
- Ô piroquinha de hamster, larga a mão de sem-vergonhice! Você ouviu isso, Eiko? Abre teu olho por que esse japonês safado já está botando as manguinhas de fora bem no dia do casamento. – devolvi zombando
- Pode deixar, eu boto ele na linha. Ele que se atreva e vai conhecer como é uma nissei enraivecida. – sentenciou a Eiko, quando a abracei.
Desde a noite anterior eu me preparei para o encontro inevitável com o Derek, afinal ele era o chefe do Hiroshi e estaria entre os convidados. Demorou até eu me dirigir até ele, esperei pelo momento de ele se afastar da rodinha onde estava para abordá-lo.
- Oi! – exclamei com a voz firme
- Oi! – percebi que ele estava nervoso, o que me deixou mais relaxado.
- Tudo bem com você? A empresa, como vai? – questionei
- Tudo em ordem, e com você?
- Também! Tudo bem. – comecei a sentir que não teríamos assunto para continuar e minhas mãos começaram a suar.
- Volto para os Estados Unidos daqui a dois meses! Não contei nada para ninguém ainda, portanto, se você puder ser discreto. – a notícia me deixou surpreso.
- Claro! Nem precisava me pedir. O que te levou a tomar essa decisão, se não se importa em me responder.
- Sem problema! As coisas não deram muito certo para mim aqui, eu tinha outras expectativas e nenhuma delas se concretizou. Fui percebendo que era mais feliz nos Estados Unidos, por isso resolvi voltar. Também voltei com o Brian. Vamos tentar mais uma vez. Ele também não está gostando daqui. – eu estava perplexo, mais com a notícia de que ele e o Brian reataram do que com a questão da empresa. Esses dois viviam uma relação bizarra, um vai e volta que só eles entendiam.
- Surpreso? – questionou ele, talvez por que eu devia estar com essa sensação estampada na cara.
- Para ser bem sincero, sim! De qualquer maneira, fico feliz que tenham se acertado novamente. – afirmei
- Muitas vezes nem eu consigo entender meu relacionamento com o Brian. Até já desisti de entender, é muito louco! Ele ao menos tenta, dá uma chance a essa relação, por mais conturbada que ela seja, algo que você nem tentou, nem uma única vez sequer. – dava para sentir a magoa nas palavras objetivas dele.
- Provavelmente por que o Brian é mais flexível com suas puladas de cerca do que eu. Para mim um relacionamento precisar ser necessariamente monogâmico. Não consigo entender se uma pessoa está com outra por livre escolha por que precisa sair procurando mais alguém. Quando se ama alguém de verdade, todos os outros deixam de importar, não se precisa mais sair procurando outras coisas nelas. – afirmei
- Meu amor por você era real, verdadeiro. Eu te amei muito, Bruno! Muito mesmo! Mas você não quis me compreender, não quis me dar uma chance de mudar, não quis nem tentar ser feliz ao meu lado. Você simplesmente largou tudo para trás, me abandonou sem ao menos uma chance, por menor que fosse! – descarregou ele.
- Eu não consegui acreditar nesse amor, Derek! Não basta verbalizar o amor em palavras, é preciso demonstrá-lo com ações. E o que foi que você fez? No dia que deveria ter sido o mais importante de nossas vidas, quando fomos viver sob o mesmo teto, você estava trocando mensagens com outro carinha pelo aplicativo de relacionamentos. Como você acha que eu me senti ao ler aquelas mensagens, ainda sentindo a sua umidade viril formigando dentro de mim? Eu nunca me sentiria seguro ao seu lado. Cada vez que você se ausentasse, cada vez que você chegasse atrasado, minha cabeça estaria explodindo de dúvidas. Será que ele está trepando com alguém? Será que ele vai me trocar por outro? Como eu ia viver com isso, Derek? – indaguei.
- Faltou você confiar em mim! – exclamou ele.
- Não! Faltou você me dar segurança!
- Bem, isso já não importa mais! Em breve deixo isso tudo para trás!
- Também acabo de deixar tudo para trás! Estou voltando para Curitiba, sem namorado, sem emprego, tudo partindo do zero novamente. – revelei
- É pena que nosso timing tenha coincidido por tão pouco tempo. Com a minha volta para os Estados Unidos a vaga de CEO está em aberto, vou te indicar para ela, você já conhece tudo por lá, eles certamente vão ficar contentes com a sua volta. – afirmou ele.
- Obrigado, Derek! É um gesto muito nobre de sua parte! – exclamei
- Eu te amei muito, Bruno! – devolveu ele, deixando a festa. Foi a última vez que o vi.
A empresa me recontratou na posição deixada pelo Derek, eu vendi meu apartamento alugado e comprei outro, voltei a sair com a turma como antes, sem me preocupar em procurar por alguém. Eu já estava só há mais de cinco anos, não transava pelo mesmo período, já me sentia um celibatário e, mesmo assim, não estava afoito para me meter em outro relacionamento. A galera me achava meio maluco por só transar com quem eu nutria algum sentimento. Diziam que essa era a atitude menos gay que eles já tinham visto. Afirmavam que gays primeiro trepam para ver se é bom e se dá química, depois pensam nos sentimentos e todo aquele blá, blá, blá.
- Vai ver você é mais hétero que gay, ou o que os psicólogos andam estudando agora, os assexuais. Você deve ser dessa categoria, por que tu é bizarro, cara, muito bizarro! – conjecturou o Pedro.
- Que bobagem é essa agora! Se eu tenho uma certeza, essa é que eu sou gay. Não me venha querer confundir a cabeça a essa altura do campeonato, por que sei muito bem o que eu quero. Eu quero um homem, um homem hétero de preferência, que seja tão macho que prefira um cu à uma buceta. – asseverei.
Embora o Marcelo estivesse saindo conosco como antigamente, não voltamos mais a falar em ficar juntos, mas a turma não perdia a oportunidade de dar umas cutucadas, de dar indiretas alegando que formávamos um belo casal, que ainda nos amávamos, que deveríamos voltar a transar e todo esse tipo de insinuações. Nenhum dos dois dizia nada, não assumia nada, apenas devolvíamos sorrisos amarelos como se fossemos alheios aos comentários. Apesar disso, estávamos sempre juntos, dançávamos coladinhos, dividíamos os pratos quando a turma saia para jantar, um era a sombra do outro. No entanto, tudo terminava quando chegava a hora de ir para casa, cada um ia para a sua; tudo terminava quando era hora de ir para a cama, cada um ia sozinho para a sua, o que não significava que não nos gostássemos, que sentíamos tesão um pelo outro.
Eu já estava em Curitiba há pouco mais de seis meses quando o Marcelo me convidou para um churrasco de aniversário do sobrinho dele, um adolescente. Ele me passou o endereço da irmã dele em São José dos Pinhais e ficamos de nos encontrar lá. Era um domingo, meados de um verão ameno. Acordei tarde, por volta das 11:30 horas, tomei um banho e segui na direção do endereço que ele passou. Ao chegar à casa da irmã, ele e o cunhado tinham saído para comprar as carnes do churrasco. Foi a irmã dele quem veio me abrir a porta.
- Oi! – só então me lembrei que não sabia o nome da irmã dele.
- Então você é o famigerado, Bruno! Entre! Meu marido e o Marcelo deram uma saída, já devem estar de volta em breve. – sentenciou ela, com cara de poucos amigos. Algo me dizia que eu estava entrando numa fria. A palavra ‘famigerado’ ainda ecoava no meu ouvido.
- Prazer! O Marcelo se esqueceu de me dizer seu nome, me desculpe! – senti como se estivesse pisando em ovos, e antevi uma tarde que não seria uma das melhores pelas quais já passei.
- Cecília! – respondeu ela secamente, caminhando casa adentro. Fiquei sem saber se a acompanhava ou se ficava ali parado com as mãos abanando. Fui atrás dela.
- O aniversariante, onde está? – perguntei
- Na edícula, vamos fazer o churrasco lá, é mais arejado e próximo do jardim. – respondeu ela. Essa mulher me odeia, pensei comigo mesmo, mas mantive um sorriso na cara. Seja o que Deus quiser.
- Posso ajudar nalguma coisa? Eu trouxe essa lembrancinha para o aniversariante, espero que tenha feito uma escolha acertada. – fazia tempo que eu não me sentia tão tenso, e isso era um mau sinal, pois nesse estado eu sempre acabava fazendo alguma cagada. Mas, essa mulher não estava disposta a colaborar.
- Você é um convidado, não precisa fazer nada! Apenas fique à vontade. – cacete, que bicho mordeu essa mulher?
- Eu estou, obrigado! Eu estou! – uma ova, buceta! Eu estou uma pilha de nervos. Cadê esse Marcelo que não chega?
- Eu amo muito o meu irmão, sabe. Ele sofreu bastante quando estava com você. Eu nunca o tinha visto tão arrasado. – afirmou ela. Ah! Então estamos chegando ao ponto, agora estou entendendo essa belicosidade toda.
- Também fiquei muito abalado com o nosso rompimento. – esclareci
- Abalado? É, eu posso imaginar como você ficou ‘abalado’! Sorte sua que esse abalo durou pouco, não é? Logo você se acertou com aquele americano que trabalhava com você. – o Marcelo devia ter desabafado com ela, e ela tomado as dores do irmão.
- Não sei como a história lhe foi contada, mas quem me deixou apenas com um bilhete, sem nenhuma explicação, foi o Marcelo. Se usei a palavra abalado para me referir ao que senti, foi para amenizar a expressão. Ele ter me deixado como deixou doeu muito, doeu fundo. Mas, eu não estou aqui para me vitimizar. – devolvi.
- O Marcelo nunca se sentiu à altura de você! Somos pessoas simples, classe média. Nunca convivemos com pessoas abastadas como você. Não sabemos como agir nos ambientes que vocês frequentam ou, no mínimo, nos sentimos intimidados. Você não faz ideia do quão angustiado o Marcelo ficou quando você quis que ele te acompanhasse no casamento do seu irmão. Ele não falava noutra coisa, ficava perguntando se devia ir ou não. Saiu para comprar o terno mais caro que encontrou no shopping, quando ele detesta usar terno e gravata. Tudo para que você e sua família não achassem que ele não fazia jus a você. Quando vocês brigaram na estrada, ele viu que vocês nunca dariam certo, que o abismo social entre vocês dois era tão grande que seria impossível superá-lo. Foi isso que os separou, não a falta de amor que ele sente por você. Acho que isso ele nunca cogitou. – revelou ela, me deixando estarrecido.
- Eu nunca segreguei o Marcelo por ser quem é, pelo contrário, eu o amei justamente por isso. Eu até posso entender que diferenças sociais possam deixar as pessoas incomodadas, estar num ambiente que não é o seu nunca é algo confortável. Mas, esse mito construído por filmes, novelas e narrativas desse gênero, que ricos não prestam, não tem caráter, são sempre os vilões das histórias, enquanto os pobres são os coitados, os honestos, as pessoas boas cheias de qualidades, nunca foi verdade. Existem pessoas boas ou más, independentemente de seu nível social. Meu pai é um empresário de sucesso, não porque tenha passado a rasteira nos ouros, mas porque trabalhou duro para isso. Minha mãe tem lá seu lado esnobe e preconceituoso, fruto da criação que recebeu, mas é uma mulher justa e que nunca desmereceu alguém por não ter tido as mesmas oportunidades que ela. Eu fui discriminado dentro e fora da família, por ser gay, por ser rico, por agir assim ou assado. Contudo, nunca maltratei uma mosca, nunca fiz diferença entre as pessoas, abriguei e sustentei até quem me desprezava por ser quem eu sou. Eu dei ao Marcelo todo amor que eu tinha, por mais inseguranças que eu tivesse em relação ao nosso futuro, eu nunca o discriminei. Se ele se queixou disso, é porque nunca se deu conta do quanto eu o amei. – despejei sobre a infeliz que me ouvia me encarando muda.
- Ele nunca se queixou de você! Sempre exaltou suas qualidades! – afirmou ela.
- Eu posso ir embora, se você quiser. Não quero que se veja obrigada a me receber em sua casa só porque o Marcelo me convidou. – asseverei.
- Não, fique! Ele vai ficar muito bravo se souber que tivemos essa conversa. – retrucou ela
- Não se preocupe, eu posso ligar ou mandar uma mensagem para ele dizendo que não dá para ir ao churrasco, ninguém precisa ficar sabendo dessa conversa. – respondi.
- Não é preciso! Sou a mais velha, meus dois irmãos são muito importantes para mim, às vezes, exagero na proteção deles. Só te peço uma coisa, não o magoe. – retrucou ela, mais mansa. – Numa coisa ele tem razão, você é lindo! Pessoalmente é muito mais bonito do que nas fotografias que ele me mostrou. Agora entendo porque ele gosta tanto de você e, que sem dúvida, ainda te ama. – completou.
- Eu jamais quis magoá-lo! Eu amo o Marcelo, esteja certa disso! Admito minha parcela de culpa pelo fim do nosso relacionamento, minhas inseguranças minaram o que havia de mais puro e sincero entre nós. – devolvi.
- Acredito mais que ele se sentiu intimidado por você, pelo que você representa do que por qualquer outra coisa. Sabe, nós mulheres agimos diferente com os homens. Sabemos que eles querem sempre dominar, que acham que estão sempre com a razão, que não suportam se sentir diminuídos perante nós, então usamos a estratégia de fazê-los crer que estão no comando, mesmo que façam tudo do jeitinho e na hora que queremos. Talvez isso não funcione para os gays, afinal também são homens. – argumentou.
- É talvez não seja tão fácil assim para nós nos colocarmos numa posição de submissão o tempo todo, e eu nem cogitaria me posicionar dessa forma, exijo e quero me sentir respeitado. Sei o quanto o Marcelo é machista nesse aspecto, o que eu talvez possa fazer é me mostrar mais condescendente. Não sei se ele se contentaria com tão pouco, ou até mesmo se deseja voltar a se relacionar comigo. – ponderei.
- Nunca é tarde para recomeçar! Acho que vocês dois são dois tolos, perdendo tempo quando podiam estar se curtindo. – aquilo me espantou, afinal ela não era tão megera quanto quis demonstrar.
- Quem sabe! – exclamei, percebendo que ela podia ter razão.
Depois da primeira impressão negativa que tive sobre aquele domingo em companhia da família do Marcelo, as coisas saíram melhor do que esperava. O cunhado dele é sujeito divertido, os sobrinhos inicialmente tímidos logo se entrosaram comigo, a irmã foi baixando a guarda e, embora ainda continuasse a me analisar, foi se dando conta de que eu não era aquele bicho-papão que sua imaginação havia criado. Ao me despedir, ela até me deu um beijo e voltou a me pedir desculpas pelas palavras duras que me falou.
- O que rolou entre a minha irmã e você antes de eu chegar? – o Marcelo era perspicaz, tinha notado aquele clima belicoso do começo.
- Nada! – respondi, sem querer colocar lenha na fogueira.
- Você mente mal para caramba! Ela te deu um esporro, aposto! – afirmou ele
- Tomou suas dores, estava só te defendendo.
- Eu sabia! Preciso ter uma conversa com aquela enxerida que não para de se meter na minha vida. – garantiu ele
- Se quiser nos jogar um contra o outro, faça isso! Só vai piorar as coisas. Eu até me arrisco a dizer que a opinião dela sobre mim mudou ao longo da tarde.
- Ela se mete demais na minha vida e na do meu irmão, a esposa dele também penou na mão dela. Ela que vá cuidar da vida dos filhos, e nos poupe! – disse ele arredio.
- Bem, eu não penei e nem vou penar na mão dela, fique sossegado! Entendi a preocupação dela. Além do mais, tive um dia muito agradável. – asseverei. Ele se virou para mim e riu.
- Vê se olha para frente enquanto dirige, pretendo chegar inteiro em casa! – adverti
- Começo a entender o porquê de um bando de gaviões se apaixonar facilmente por você. Parece que de cada limão azedo você faz uma limonada saborosa. Como eu gostaria de ocupar um lugar maior nesse seu coração. – sentenciou, voltando a me encarar para ver minha reação a essa afirmação.
- Já é dono de todo ele, e ainda quer mais? Seja um pouco mais generoso, deixe sobrar um pouco para os outros. – respondi, o que o fez rir.
- Sério? Estou com essa bola toda?
- Engraçadinho! Fala de uma vez o que quer ouvir, e não fique dando uma de desentendido!
- Quer namorar comigo?
- É só isso que você quer de mim?
- Para começar, sim! – foi minha vez de lhe dirigir um sorriso. Eu gostava desse sujeito mais do que seria capaz de admitir, mas isso eu o faria descobrir com o tempo. – Sabe que fiquei de pau duro quando te observei à distância disputando, feito um moleque e com seu sorriso gostoso, com meus sobrinhos aquele jogo no videogame? – revelou
- Tem alguma vez que você não fica de pau duro? – indaguei, lançando disfarçadamente um olhar de soslaio para as pernas dele, onde o contorno monstruoso da jeba confirmou minha suspeita.
- Perto de você quase nunca! – respondeu sincero. Coloquei meu braço sobre o encosto do assento dele e afaguei sua nuca musculosa. – Você sabe o que acontece quando você fica acariciando essa região, não sabe?
- Estou apenas testando para ver se continua como eu me lembro! – respondi sussurrando e lambendo o lábio superior.
- Espera só a gente chegar em casa, vou refrescar sua memória! – retrucou libidinoso.
Só fui perceber como aqueles mais de cinco de abstenção sexual tinham encruado meus esfíncteres anais quando o Marcelo meteu seu caralhão no meu cuzinho.
- Ai, calma! Calma! Devagar com esse troço, está doendo muito! Ufa! Me deixe respirar! – gani ao sentir minha carne se dilacerando e aquela dor lancinante se espalhando nas minhas entranhas.
- Fui muito afobado? Não foi minha intenção!
- Afobado também, mas você parece ter se esquecido do tamanho do seu cacete. Eu venho de um jejum prolongado, e me deparar com ele afoito desse jeito não é moleza. – afirmei. Ele deu uma risadinha malandra, o que o tornava ainda mais gostoso.
- Vou enfiar devagarinho então, no seu ritmo, no quanto você se abrir para mim. Vou te machucar o mínimo possível! Você me deixa maluco com esse rabão apertado.
Durante o coito, voltei a me sentir como se estivesse sendo desvirginado. Meu corpo todo tremia, se contorcia em espasmos incontroláveis e recebia aquele macho maravilhoso entrando em mim com sua intrepidez, envolto numa sensação sublime. A dor foi se dissipando e abrindo lugar para o prazer, o prazer de sentir o caralhão do Marcelo pulsando lá no fundo, como se fizesse parte de mim, como se fosse um dos meus órgãos se manifestando de felicidade. Meu pinto precisou se contentar com a minha mão durante meu jejum, foram as masturbações que me fizeram atravessar esse período turbulento, mas agora ele gozou sem nem ao menos eu tocar nele, um gozo que há muito me faltava.
- Gozou rápido! Está tão gostoso assim? – perguntou ele
- Muito! – respondi. – Muito! Você é um homem maravilhoso, sexy, gostoso, um tesão de macho! – exclamei entre gemidos, enquanto cobria seu rosto hirsuto com meus beijos delirantes de prazer.
- Tesudo do caralho! Senti tanta falta disso, de estar dentro de você, desses gemidos alucinantes, desse cuzinho estreito que me deixa doido. – grunhiu ele, ao mesmo tempo em que me estocava vigorosamente antes de se derramar todo em mim.
A turma já esperava pelo nosso reatamento, e receberam a confirmação sem grandes surpresas. Estava na cara que aquela chama ainda queimava lá dentro de vocês, disseram quase com as mesmas palavras.
Agora que eu não tinha mais nenhuma dúvida do amor que sentia pelo Marcelo, da reciprocidade do dele por mim, não havia motivo para adiar o que eu já deveria ter feito há muito tempo, apresentá-lo à minha família. Fiz certo mistério ao lhe perguntar se teria o final de semana livre para sairmos um pouco da cidade.
- Onde quer ir?
- Segredo, precisa confiar em mim!
- Lá vem! – exclamou desconfiado.
- Não confia em mim?
- Depende!
- Cínico! Eu me entrego todo nas tuas mãos e você me responde que ‘depende’!
- Está bem, eu vou!
Antes de pegar a estrada deu-se um bate-boca, ele insistia em dirigir, não só em dirigir, mas em dirigir o próprio carro.
- Eu estou te levando! Eu dirijo! E vamos no meu carro, fim de papo!
- Sim, senhor comandante!
Quando percebeu para onde estávamos indo começou a me encher de perguntas, que fui driblando como pude.
- Está me levando para a casa dos teus pais! Não me disse nada, nem me preparei direito, como é que vai ser isso?
- Tudo que você precisa, está bem aí, um corpão fantástico, uma cabeça inteligente, argumentos sensatos, tudo aí!
- Você esqueceu de mencionar o cacete! É com ele que eu vou te ensinar a me fazer esse tipo de surpresas. – observou rindo
- Vou adorar aprender!
- Vamos ver se vai continuar com esse sorrisão todo quando eu enfiar ele, de jeito, no seu cuzinho! – ameaçou. – E qual a finalidade disso tudo, posso saber?
- Quero que vocês se conheçam, ora! Precisa mais que isso? Quem sabe você não se anima e pede a minha mão para eles! – provoquei, o que o fez soltar uma gargalhada.
Tenho que confessar que eu mesmo não estava totalmente tranquilo com o que podia acontecer, mas tinha perdido aquele receio que sempre me travou. Acabou correndo tudo bem, melhor do que eu esperava. Apresentá-los pela segunda vez a um homem com quem estava me relacionando não era propriamente algo que os deixou confortáveis. Contudo, o traquejo social nunca foi um obstáculo para eles, e a recepção do Marcelo foi bastante amistosa. Durante o almoço do domingo, poucas horas antes de pegarmos a estrada para voltar para Curitiba, com toda minha família à mesa, o inesperado aconteceu.
- Peço um minutinho de atenção! – começou o Marcelo. – Em primeiro lugar quero agradecer pela hospitalidade, foi muito bom conhecê-los e passar o fim de semana aqui. – continuou, eu já sentia o calor se apossando do meu corpo, a boca ficando seca, o receio crescendo. – Em segundo lugar, quero dizer que estou apaixonado pelo filho de vocês. Na verdade, eu o amo! – minha mãe olhou para o meu pai e eu quase interrompi o Marcelo. – Dito isso, gostaria do consentimento de vocês para me unir ao Bruno, para morarmos juntos. Foi o que ele insinuou enquanto me trazia para cá, e sei que esse é o desejo dele também, não só o meu. E ter o aval de vocês nos deixaria muito felizes, mais ainda do que já somos, não é amor? – concluiu.
Minha mãe pousou a mão sobre a do meu pai enquanto se entreolhavam, talvez não acreditando no que tinham acabado de ouvir. Eu chorava feito um pateta, surpreendido pela atitude do Marcelo. Meu irmão tinha uma cara de não sei quê, com a qual procurava alguma resposta no sorriso da esposa.
- É querido, os tempos estão mudando, e nós ficando velhos! Você alguma vez imaginou que nosso caçula seria pedido em casamento ou, seja lá como isso se chama agora, por outro homem? – indagou minha mãe, na mais estupenda mudança de conceitos que eu já tinha visto.
- Nunca! – respondeu meu pai sincero, mas achando graça da situação. – E aí, a gente concede a mão dele, ou não? – perguntou para deixar tudo ainda mais descontraído.
- Acho que o que ele queria pegar ele já pegou, então a mão deve seguir junto! – o humor da minha mãe devia estar nas alturas.
Minha cunhada foi a primeira a se levantar e vir me cumprimentar. Não sei o que ela viu em mim que a fez se simpatizar comigo, mesmo nós tendo tão pouco contato. Seguiu-se meu pai, de quem eu já esperava aquelas palavras de compreensão e aceitação; para ele a minha felicidade estava acima de qualquer preconceito. Minha mãe me abraçou em seguida, eu certamente não era o filho que ela esperava, mas rendeu-se ao inevitável e, solidária a mim, também estava chorando. Meu irmão foi o último, não esperava muito dele.
- Seja feliz, viadão! – exclamou, foi a primeira vez que vi uma nesga sutil de afeto sincero no olhar dele para comigo. – Isso é que é coragem! Seja lá o que o Marcelo tenha feito para isso, tenho que admitir que valeu à pena!
- Obrigado!
O Marcelo se aproximou de mim depois de também ter sido cumprimentado por todos e me aconchegou em seus braços.
- Era assim que você queria? – perguntou, me encarando com o mais doce dos sorrisos.
- Bobo! – balbuciei, recomeçando a chorar, recostado em seu ombro e mais apaixonado do que nunca.