May:
Eu não sei exatamente a quantos dias estou aqui nesse apartamento, mas deve ter quase uma semana. Não liguei mais meu celular. Também não liguei nem a TV. Eu só dormia, chorava, bebia e escutava músicas no som, As vezes pedia pizza ou qualquer outra besteira para comer. Nem sei a última vez que vi a luz do sol. Acho que isso não estava ajudando em nada. A dor continuava a mesma. A cena da Marcela com aquela loira não sai da minha cabeça. Até em sonhos aquela cena fazia questão de me assombrar. Eu precisava reagir mas eu ainda não tinha forças.
Até pensei em ligar para Anna para desabafar, mas achei melhor não. Eu não queria que ninguém me visse naquele estado que era de dar pena.
Deve estar tudo bem no Brasil porque meu irmão não deixou nenhum recado para mim.
Quando cheguei deixei claro que só era para me chamar se caso meu irmão ligasse. E que eu não queria ser incomodada. Não esqueço do olhar triste do Philip quando falei com ele. Ele é um dos porteiros do prédio e é muito simpático. A gente fez uma certa amizade quando morei aqui. Com certeza ele percebeu que eu não estava bem.
Eu estava sentindo falta dos meus treinos. Seria bom treinar para pôr tudo para fora. Mas para isso eu iria precisar ir à academia e eu não queria sair. Então achei melhor adiar. Vou ficar no meu canto mais um tempo depois vou tentar voltar a viver de novo.
Não sei exatamente que horas eram, mas fui acordada com o telefone tocando. Era dia porque dava para ver uma certa claridade através das cortinas da janela. Levantei com alguma dificuldade. Para variar eu tinha bebido para conseguir dormir. Eu estava com uma puta dor de cabeça, de ressaca e de mal humor, mas mesmo assim fui atender o maldito telefone.
Era o Philip falando que tinha uma pessoa querendo me ver e insistiu muito por isso me ligou. Eu nem quis saber quem era. Só disse que nem que fosse o papa eu iria atender e desliguei. Sinceramente fui um pouco grossa, mas depois eu pediria desculpas a ele. Voltei pra cama e apaguei.
Não sei quanto tempo ainda dormi, mas acordei com fome. Comi dois pedaços de pizzas amanhecidas. Depois fui tomar um banho e fazer minha higiene. Provavelmente minha boca estava fedendo bebida.
Fiquei um bom tempo no banho e para variar pensando na Marcela. Estava com saudades dela. Apesar de tudo eu a amava e pelo jeito aquilo iria durar muito. Agora eu entendia o sofrimento de algumas pessoas quando sofria por amor. Essa porcaria dói muito.
Voltei e me lembrei da ligação. Será que era Anna? Provavelmente não. Ela nem sabe que estou aqui. Ou talvez algum conhecido me viu no dia em que cheguei e comentou com ela. Talvez era alguém da minha antiga faculdade que me viu e veio me visitar. Bom seja quem for não quero ver ninguém.
Me deitei e a saudade voltou a me atormentar. Pensei em ver nem que fosse uma foto da Marcela e das meninas. Mas para eu fazer isso teria que ligar meu celular, então tirei a ideia da cabeça. Aumentei o volume do som. Fiquei ali com meus pensamentos e minhas dores.
Depois de horas ali resolvi levantar. Meu corpo já estava doendo de tanto ficar deitada. Resolvi ir para sala. Olhei na janela e notei que já era noite. Quando cheguei na sala olhei no relógio de parede. Já eram quase 23 horas. Mais um dia ia acabar e eu estava na mesma. Fui até a geladeira e peguei uma cerveja. Nunca fui de beber, mas nos últimos dias bebi bastante. Acho que bebi mais do que eu já tinha bebido minha vida toda.
Já estava na terceira cerveja quando o telefone tocou me fazendo sair dos meus pensamentos. Na verdade levei um baita susto. Olhei de novo no relógio e já era mais de meia noite. O telefone continuava tocando então resolvi atender meio a contra gosto.
Philip: Olha a senhorita me desculpe te incomodar, mas aquela senhorita está correndo risco de vida na rua a essa hora. Está muito frio e alguém pode fazer mal a ela.
Mya: Desculpe Philips, mas qual senhorita?
Philip: A pessoa que queria te ver é uma senhorita. Ela está aqui na porta do prédio até agora. Não entendi direito o que ela falou, mas acho que ela é do Brasil também.
Mya: Estou descendo. Por favor, chama ela e pede para me esperar aí na portaria. Já chego.
Coloquei um casaco e desci. A única pessoa que tem meu endereço é a Let e meu irmão. Mas Let fala muito bem o inglês, então não é ela. Eu ia descendo pelo elevador e tentando imaginar quem podia ser. Quando o elevador estava quase chegando pensei em Marcela, mas não podia ser. Não ela não viria aqui. Não tem motivos para tanto. Para de sonhar Mya. Eu disse a mim mesmo.
Quando a porta do elevador abriu eu a vi ali parada com uma mochila nas costas e toda encolhida. Estava tremendo de frio. Philip estava segurando no braço dela. Provavelmente ela estava quase congelada. Naquela hora eu esqueci de tudo e corri para ela.
Mya: O que você está fazendo aqui sua maluca?
Mar: Eu vim te buscar. Só que eu não trouxe corda pra te amarrar. *Falou tremendo com a voz um pouco fraca.
Eu não sabia se ria a referência que ele fez a quando eu fui no sítio buscá-la. Se chorava por ver ela ali na minha frente. Se abraçava ela. Eu demorei algum tempo para agir com aquela situação.
Por fim peguei no seu braço e perguntei se ela conseguia andar. Ela disse que sim. Ela estava tremendo muito. Agradeci o Philip e a gente foi pro elevador. Eu a abracei por trás para tentar ajudar a aquecer seu corpo. Senti algumas lágrimas cair sobre minhas mãos. Ela estava chorando, mas não dizia nada. Eu só disse no seu ouvido que estava tudo bem.
Quando entramos no meu apartamento ela já não tremia tanto. Levei ela para cama e ela se deitou. Eu tirei seus tênis, tirei meu casaco e deitei com ela. A abracei e joguei as cobertas em cima de nós. Ela passou a mão no meu rosto e vi um pequeno sorriso nos seus lábios. Ela foi dizer algo, mas não deixei. Coloquei o dedo na sua boca. Disse para ela descansar e que amanhã a gente conversava. Ela concordou com a cabeça e fechou os olhos. Eu fiquei ali olhando ela por um tempo. Ela já dormia. Provavelmente estava muito cansada.
Me levantei depois de algum tempo e fui para sala. Minha cabeça estava a mil. O que ela veio fazer aqui? E como ela me achou? Foi a Let eu aposto. Mas para ela ter vindo é porque ela gosta de mim. Mas gosta como? Será que ela voltou com a ex, se arrependeu e veio atrás de mim? Será que a ex chutou ela de novo e ela veio aqui porque perdeu a outra? Não ela não seria capaz de fazer isso.
Havia muitas perguntas, mas só ela podia responder. Eu estava sem um pingo de sono, então fiquei ali com meus pensamentos até sei lá que horas. Ela dormia na minha cama. Pelo jeito ia dormir bastante porque deitou e logo apagou. Ela com certeza estava com muito sono e cansada.
Bom, o jeito é esperar ela acordar.
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Continua.