NARRADOR: YURI
— O Zedu abstraiu todo o choque. — comentei com a Dona Tereza.
— Entendo, Yuri. Eu não sei oque fazer. Não posso dar às costas para o JL. Afinal, ele faz parte desta família. — ela disse com a voz embargada.
— Pelo menos, o Zedu não desistiu. Estamos nos mudando para Manaus na próxima semana. Vamos ter tempo para processar tudo. Não se preocupe, eu sei que isso é muito difícil para a senhora. — tentei consolar a minha sogra.
— Obrigada, Yuri. O Zedu está em ótimas mãos. Eu sou muito grata pela sua vida, viu.
— Eu que agradeço. Ao invés de uma sogra, tenho uma terceira mãe. — comentei, mas me assustei quando o Zedu entrou na sala. — Tereza, eu preciso desligar. Um beijo.
— Beijo, filho. — desligando.
— Ah, estão falando mal de mim, é? — Zedu perguntou, deitando ao meu lado no sofá e pedindo carinho.
— Besta. — deixei o celular de lado e ataquei meu noivo.
Lembra que reclamei da mesmice dos meus dias? Eu retiro o que disse. Estamos há três semanas arrumando caixas e malas para a viagem. O Zedu precisa trabalhar, então, o trabalho fica todo para mim. Fiquei feliz ao saber que a Camille seguiria conosco para Manaus. Ela é um grande suporte para o Zedu. Já empacotei todas as coisas importantes. Sobraram alguns objetos e roupas para doação.
Através das redes sociais consegui o telefone de uma ONG que recebia doação de roupas usadas. Enchi três caixas com casacos, moletons, gorros, entre outros. Afinal, em Manaus essas peças seriam inuteis. Outra parte das doações seria destina a um orfanato. Resolvemos não vender os móveis e o Zedu fez um sorteio na empresa. Os funcionários contemplados foram pegando os objetos durante a semana.
Três semanas. Três semanas para se desfazer de quatro anos de conquistas. Chegamos em Canela com quatro malas. Aos poucos, fomos conquistando os objetos do apartamento que alugamos. Sim, não gosto do Sul, mas não posso negar que sentirei saudades dos bons momentos que vivemos aqui.
— Os documentos estão onde? — Zedu questionou.
— Na mochila verde, bebê.
— Vai dar certo, né? Tem que dar certo. — Zedu ficou estranho e sentou no chão, pois não havia mais sofá em casa.
— Ei. — sentei ao lado dele. — Já deu certo, amor. José Eduardo, você é um ótimo publicitário. Não é à toa que vai chefiar a própria agência. Eu tenho muito orgulho de você.
— Obrigado. Você é bom demais para mim. Desculpa.
— Por quê? — questionei me aproximando dele.
— Eu queria ter sido um namorado melhor, ainda mais no início do relacionamento. Eu te fiz passar por muitas humilhações e...
— Não, Zedu. — o cortei. — Você tinha 17 anos. Você não pode se cobrar tanto assim. Eu também errei muito lá atrás, não fui perfeito. Eramos adolescentes. — peguei na mão do Zedu e beijei. — Eu faria tudo de novo. A nossa história é linda. Eu não me arrependo de nada. Por esse motivo, — levantando a mão de Zedu. — que coloquei um anel no seu dedo. Quero você para sempre.
NARRADOR: ZEDU
Eu amo esse homem. Ele foi destinado para mim. Lembro da primeira vez que o vi. Na verdade, o Yuri passou no carro, quando estávamos praticando slackline no Parque CSU. A segunda vez, o ajudei quando a Letícia o derrubou com uma bola. Vocês acreditam em amor à vista? Eu sim.
O apartamento está vazio. Nas últimas noites, dormimos em um colchão, que a vizinha nos emprestou. O coitado do Yuri ficou com todo o trabalho pesado e nem reclamou. Estou pensando em uma forma de agradecê-lo, mas sem ideias ainda.
No trabalho, a transição está acontecendo de maneira orgânica. Já tenho os contatos de alguns profissionais que quero puxar para a agência. Networking é a palavra de ordem. Busquei parceiros e mão de obra da própria cidade. A Camille seria a funcionária número 001.
O prédio da nova agência ficaria em um ótimo endereço. Confesso que foi cansativo fazer a maior parte do trabalho à distância. Ainda bem que os prédios seguem o mesmo estilo. A agência Sputnik nasceu para ser um lugar onde os clientes se sentissem confortáveis e seguros. Aqui em Canela, por exemplo, a sede da agência está localizada em um prédio no estilo europeu, mas ao entrar, o cliente encontra um ambiente sofisticado e tecnológico.
— Camille, os computadores vão ser entregues nesta semana. Acha que pode ir na frente? — perguntei para a minha nova funcionária de Manaus.
— Claro. Vou passar no RH para saber das passagens. Vou te manter informado.
— Ótimo, o meu cunhado vai te pegar em Manaus. O nome dele é Richard. Você vai ficar na casa da família do Yuri. — pegando o celular e encaminhando o contato do Richard para Camille. — Ele é gente boa, mas maluquinho. Cuidado.
— Estou nervosa. Cara, ontem eu suei em um frio de 8º graus. Cê tem noção?
— Eu te entendo. Mas vamos conseguir, Camille. Vamos criar a melhor agência de todas. — garanti, sem ter qualquer credibilidade sob minhas palavras.
Coordenar uma equipe vai ser difícil, mas vou me certificar de contratar pessoas de confiança. Uma agência é como um embrião. Existe o atendimento, que faz a comunicação entre agência e cliente. A equipe de planejamento, responsável por coletarem todas as informações vindas dos clientes. Em seguida, temos a pesquisa e a mídia, que decidem qual melhor forma de anunciar o cliente e, claro, o público alvo. A criação é composta por um redator e diretor de arte. E, por último, mas não menos importante: a produção, aqueles que colocam a mão na massa.
Os meus maiores companheiros nos últimos dias foram o café e o energético. São muitas planilhas para analisar e pouco tempo no relógio. Porém, isso teve um lado positivo como, por exemplo, os pesadelos. Eu sei que o JL está na casa da minha mãe e tals, mas eu não sonhei mais com ele. Fico tão exausto, que só desmaio no colchão e pronto.
NARRADOR: YURI
O Zedu parece um zumbi. Eu faço de tudo para deixar o peso da viagem menor. Eu tive vários problemas, mas não contei nada para o meu noivo. O coitado já está no seu limite. Não quero trazer nenhum tipo de problema. A contagem de malas subiu de 5 para 12, ou seja, vamos pagar excesso extremo de bagagens. Ainda bem que o Zedu liberou o cartão black.
O voo está marcado para às 23h. Em Manaus, o meu irmão vai nos buscar. A Camille já viajou para adiantar a contratação dos novos funcionários. Ela está ficando na casa da tia Olívia. Ela e o Zedu se comunicam de hora em hora. Às vezes, conversam até a bateria do celular pedir arrego.
— Zedu, já enviei todas as bagagens para o aeroporto. Eles vão entregar em casa. — avisei, olhando em volta e vendo o apartamento vazio.
— Obrigado, amor. Desculpa pelo trabalho. Eu vou compensar, eu juro. Um carro da empresa vem nos pegar em 20 minutos.
— Eu faço com prazer, bebê. Você é um homem ocupado agora. — brinquei, sentando no chão ao lado do Zedu.
— Sabe quem não está ocupado? — ele perguntou deixando o celular de lado.
— Hum. — murmurei, fazendo uma careta.
— O Zeduzinho. Ele quer aqui e agora. — Zedu, praticamente, pulou em cima de mim e caímos no chão.
— Fala para o Zeduzinho que temos apenas 20 minutos. — avisei, antes de o beijar.
— É tempo de sobra. — Zedu disse me atacando.
O ruim de viajar é que precisamos seguir para Porto Alegre. São quase duas horas de viagem. Chegamos às 20h, ou seja, ainda teríamos tempo para matar. Talvez, uma aventura no banheiro do aeroporto? A viagem na estrada acabou comigo. O Zedu continua ligadão, mas graças aos energéticos.
Sigo até uma farmácia e compro um relaxante muscular. Ele vai ser bom para as dores nas minhas costas e me fazer dormir durante o voo. Eu morro de medo de aviões. Já paguei um mico homérico em um avião. Digamos que eu urinei onde não devia. Enfim, só uma pílula antes da decolagem vai fazer toda a diferença.
— Ei, fica nervoso não. Eu vou segurar a sua mão. — disse Zedu ao me ver com o remédio.
— Meu filho, com essa belezinha aqui eu apago em 20 minutos. Vai ser uma viagem tranquila. — disse, enquanto balançava a caixa do remédio.
— Meu ursão bobo. — brincou Zedu se assustando com o celular que tocou. — Com licença. — atendendo. — Oi, Camille. Estou no aeroporto. Sim. Não se preocupe.
NARRADOR: ZEDU
Estou muito preocupado. Quase pego as pílulas das mãos do Yuri. Eu estou com uma lista mental que só cresce:
1 - Evitar o JL;
2 - Conseguir bons funcionários;
3 - Comprar uma casa legal;
4 - Não afundar a agência de Manaus;
5 - Buscar clientes;
6 - Verificar os concorrentes;
7 - Fazer uma especialização em negócios;
Caramba. Pouco tempo e muita coisa. Eu não sabia que a vida de adulto seria tão complicada. Saudades quando a minha única preocupação eram as competições de futebol e qual o melhor final para assistir com o Yuri. A voz robótica da atendente avisa que o nosso voo está na pista, ou seja, não tem mais volta. A cidade de Manaus vai voltar a ser o meu lar.
Para completar a situação, o Yuri tem medo de aviões. Medo não, o meu noivo tem pavor. Ele se entupiu de remédios para dormir durante o voo. Serão quatro horas de viagem. A empresa nos pagou assentos na área executiva, então, conforto não seria o problema. Sério, eu sou muito grato pelas oportunidades que consegui na vida. Ainda mais por poder compartilhar com o amor da minha vida.
— Ei, vai dar tudo certo viu. Vamos ter um voo tranquilo. — falei, sentando na cadeira que mais parecia uma cabine espacial.
— Senhoras e senhores, eu sou Michael Alencar e serei o piloto do voo 4587 com destino à Manaus e conexões. O tempo na capital do Amazonas está chuvoso e a previsão de chegada é às 4h10.
— Ótimo. — reclamou Yuri.
— Vai ser tranquilo, bebê.
Os remédios fizeram efeito rápido. Antes da decolagem, o Yuri estava sonolento. O avião mal decolou e o meu noivo colocou seu assento na posição horizontal. Realmente, o Yuri é um péssimo companheiro de avião. Eu queria conversar. Distrair a minha mente. Mas, a minha única companhia era uma tela com milhares de opções de filmes e séries.
Para aliviar a tensão, peguei o notebook e dei uma revisada na apresentação que estava preparando para os novos funcionários. Basicamente, teríamos um funcionário de cada setor, R.H e financeiro, que ficariam reportando para a agência sede em São Paulo, e o foco ficaria na equipe criativa.
De repente, o avião começa a balançar. Por sorte, o Yuri não acordou. As luzes estão apagadas e a maioria dos passageiros está dormindo. Vejo um vulto passando do meu lado e reconheço a pessoa. É o JL. O meu irmão está no avião. Olho para o Yuri que continua dormindo. Respiro fundo e vou na direção do meu irmão.
Tomo um susto ao ver o JL matar uma das comissárias. Ele continua a mesma pessoa. O tempo não passou para o meu irmão. É como se a fisionomia dele fosse sempre aquela.
— O que você está fazendo aqui? — pergunto para o JL, que ri, descontrolavelmente.
— Acabou, irmão. — jogando o corpo da comissária para o lado. — Eu vou conseguir terminar a missão que comecei anos atrás. — andando em direção a porta do avião.
— Não. Não. — implorei.
— Acabou, seu viado escroto. — abrindo a porta do avião e sendo sugado pela força do vento.
— Não! — gritei, acordando do pesadelo e assustando todo mundo, incluindo o Yuri, que estava tomando um pouco de água.
— Ei. — Yuri chamou a minha atenção, deixando a garrafa de lado. — Tá tudo bem. Foi só um pesadelo. Foi só um pesadelo. — acariciando a minha cabeça.
— Será? — questionei, ofeganteGente, não sei o que está acontecendo, mas a própria plataforma está demorando a postar os meus conteúdos alegando que estou escrevendo história com cr-ianç*s e afins, o que não é verdade, porque todos os meus personagens são maiores de idade. Para quem quiser acompanhar em tempo integral, estou publicando em um aplicativo chamado Wattpad. Basta procurar o perfil Fica difícil escrever dessa maneira. Desde já agradeço.