![Foto de perfil de Camila Bruna](/camillaclarkgallery/imagens/perfil/242077/64-036e7c13b4a053e72e3e74f205cd1609ccbef12d.jpg)
Gostaram? Boa leitura e aproveitem!
Capítulo 13 – Ramona Life Matters?
Eu fiquei mais de uma hora de quatro no chão e servindo de banco para a Ayana. Ela colocou um fone para escutar as perguntas, então eu só pude escutar as respostas dela. No final eu não consegui compreender tudo do que foi falado.
E depois dessa entrevista a Ayana se dirigi a mim.
- Pode levantar. Você se saiu extremamente bem nessa primeira lapidação comigo.
- Eu estou liberada?
A musa preta dá uma risada proveitosa e quase perdeu a sua compostura e fineza.
- Não mesmo. Você ainda será a minha mobília branca até as 17 h. E então você voltará pra sua casa e será como se tivesse voltado do trabalho.
Com até carinho e leveza ela me conduz pelo cabelo (agora estava nítido que ela amava isso) até um dos quartos.
Uau.
O quarto era mais requintado ainda que a sala (se isso podia ser possível). Na hora o meme da socialista de Iphone me vem à mente.
- Que chique.
- Quieta. Próxima lição da sua lapidação. Você fala demais. O lugar de fala da Ramona no processo de transformação em Diamante Negro é calada. Não fale mais se isso não for lhe solicitado. Entendeu?
- Sim, Ayana.
- Ótimo. Eu não tomei ainda meu café reforçado. Você já me serviu de cadeira. E agora servirá de mesa. Fica de quatro na cama.
Sem entender nada eu repito a posição na cama. Ela estava com os lençóis de cobrir não arrumados, e os travesseiros na cabeceira.
(E lá vou eu de novo...)
A Ayana sai e volta com um prato com torradinhas e geleia de framboesa em uma mão e um cappuccino na outra.
- Sei que você entende bem de café. Não que você tenha feito faculdade disso ou daquilo. O que é ideal. Pois você tem o nível de instrução acadêmica necessário para a sua sub-raça.
Depois dessa frase meio recheada de racismo invertido dela, eu a vejo deitar na cama embaixo de mim.
- Pronto. Agora se inclina pra baixo. A Ramona está muito alta para que eu possa colocar meu café da manhã na mesa.
Eu reclino os braços e pernas e abaixo as minhas costas pra ela.
- Quase perfeito. Eu não preciso desse pano de prato na mesa. Tire-o imediatamente.
- O que?
E eu sinto uma cotovelada dela em uma costela minha.
- Cala a sua boca inútil, Ramona. Pano de prato é o que você chamava de roupa. Diamantes têm vestimentas? É claro que não. Logo me obedeça antes que eu tenha que te bater mais.
Eu tiro a minha blusa e sutiã e fico com as costas nuas pra ela.
- Agora sim está perfeito.
E ela pega o prato com torradas e apoia em mim.
E depois a caneca quente.
- Aí!! Tá doendo!! Você está me queimando!!
- Psiu. Se reclamar mais eu vou entornar o meu café pelando nos seus olhos. Um diamante precisa de pressão e calor para ser produzido sob o artífice humano. Além do mais a temperatura irá se dissipar e daqui a pouco você não sentirá mais dor.
Eu sinto um círculo queimando nas minhas costas como se eu fosse uma vaca sendo marcada pela dona. Eu engolia a dor e os gritos, mais algumas lágrimas já molhavam a cama.
- Escrava verde, que tal algo para te distrair? Eu colocarei um vídeo no Youtube que você irá curtir muito.
Ela liga a TV e transmite pelo Chromecast uma entrevista para nós vermos.
Eu não acredito nisso.
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- A convidada dessa terça-feira é a consagrada Ayana Ribeiro dos Santos. Nascida em 1991 na zona oeste do Rio de Janeiro, ela é filósofa, feminista negra, escritora e acadêmica brasileira. É a pesquisadora e mestra em Filosofia Política pela UFRJ. E tornou-se famosa por seu ativismo contra o racismo na internet. Atualmente é Colunista do Jornal Folha de São Paulo e CartaCapital.
- Muito obrigada, Joel. Eu queria agradecer ao espaço cedido pelo UOL para essa entrevista.
- E a mesma está sendo transmitido também pela CUFA (Central Única das Favelas). Bom, já seguindo direto para as polêmicas das últimas semanas. O que você acha dos protestos do Black Lives Matter nos Estados Unidos? O presidente Donald Trump chegou a chamar o movimento de grupo terrorista.
- Em primeiro lugar eu gostaria de desmistificar essa questão de suposta violência e depredação do BLM. Terrorismo é o fato que 75% dos assassinatos cometidos pela polícia americana ser contra os negros. A revolta do pequeno contra o grande é legítima, e a agressão das grandes corporações brancas e cristãs contra as minorias negras que é o verdadeiro terrorismo. Com certeza ele não conseguirá se reeleger com esse discurso e o Biden sairá vitorioso.
- Doutora, no seu livro ‘’Pequeno manual contra o racismo’’ você comenta sobre a necessidade de cotas. E que até a oportunidade de estágio e trainee nos maiores patamares gerenciais das empresas deveriam ser reservadas unicamente para negros. Isso não seria racismo reverso? Excluir os brancos do processo seletivo? Como a empresa brasileira Magazine Luiza fez recentemente?
- Joel, com todo respeito. Mas racismo reverso não existe. A única forma de tal acinte existir seria se os povos africanos no século XVI tivessem colonizado a América e a Europa, até todo o sistema político, econômico e cultural pertencer majoritariamente aos negros. E os brancos se sentisse inferiores e tivesse até vergonha de sua cor e até de seus cabelos lisos. Isso aconteceu?
- Claro que não, doutora.
- Então não há racismo reverso. Quando alguém obtiver uma máquina de tempo aí podemos pensar nisso.
- Haha. Claro.
- E respondendo a sua segunda pergunta que eu não esqueci. Essas vagas exclusivas são a desigualdade na desigualdade para atingir a igualdade. Se eu tenho um muro abstrato de dificuldades iguais impostas em um grupo de pessoas mais baixas e outras mais altas, devido às condições e berços de nascimento, como todos poderão assistir ao espetáculo? Apenas com o Estado privilegiando os oprimidos e fracos é que teremos igualdade.
- E nesse caso as cotas teriam essa função?
- Não só as cotas. Mas também-Opa!
- Ayana. Tudo bem?
(Joel, perdoe essa cadeira velha minha)
- Sim. É que essa cadeira minha é antiga. Sou uma mulher tão desligada de bens materiais por me dedicar tanto à vida acadêmica e de luta e ativismo contra o racismo que os móveis vão quebrando do nada. Peço desculpas. Bom, como eu estava dizendo. A cota é só o início. O BLM é importantíssimo. Vidas Negras Importam.
- Entendo. Mas isso não pode gerar uma espécie de desconfiança? Ontem nos trending topics do Brasil no Twitter subiram a hashtag AllLivesMatter, em português, todas as vidas importam.
- Joel, é claro que todas as vidas importam. Mas não é a carne branca que está sendo morta por seguranças fascistas em supermercados. Imagina o seguinte: Há um incêndio em uma casa e eu estou tentando apagá-lo, só que então aparece alguém dizendo que isso é preconceito com os outros lares. Todas as casas importam. E ele passa a jogar água na casa não incendiada. Faz sentido?
- Absolutamente nenhum.
- Pois então. É a carne preta que está precisando de ajuda. Ela que está sendo queimada pelo ódio e preconceito branco e privilegiado.
- Compreendo. Vamos nos encaminhando para o último bloco da entrevista. Você imagina que no futuro, com a adesão dessas políticas e o fim do Racismo Estrutural, tais medidas de cotas e outras serão obsoletas?
- Joel. Não queremos escravizar os brancos. Orgulho Negro não é vergonha branca. Só estamos nos elevando de baixo e atingindo a igualdade. Então sim, quando atingirmos essa sociedade igualitária e justa e sem preconceito racial, onde os negros têm espaço em todos os ambientes. É claro que as cotas não serão necessárias. E é também óbvio que os brancos e outras raças também terão seu espaço nesse futuro.
- Maravilhoso, Ayana. Bom, você gostaria de deixar alguma consideração final?
- Sigam o meu canal no Youtube, Ayana Ribeiro. Onde eu converso um pouco mais sobre o Movimento Negro, Ativismo, Feminismo entre outros termos com o enfoque legal e filosófico. Além disso tem as minhas colunas na Folha e na CartaCapital.
- Ayana, muito obrigado pelo seu tempo.
- Joel Pinheiro, eu que agradeço ao espaço cedido por você e a UOL. Vidas Negras Importam. Beijos e até mais.
- Até mais.
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E vi a entrevista completa que a Ayana fez para esse jornal. Foi exatamente a que ocorreu poucos minutos atrás e ela me botou no chão como cadeira.
- Gostou? Em quase uma hora de publicada ela já temvisualizações. Você ficou famosa, Ramona. É claro, o seu papel de mulher branca é servir como um objeto de apoio e me elevar orgulhosa e bela acima de ti. E assim eu estive, falando de Orgulho Negro e igualdade racial.
Um gosto amargo de hipocrisia fica na minha boca e não sai.
- Eu sei que você está me achando hipócrita. ‘’Como pode ela falar que é uma ativista preta que luta contra o racismo, se a própria Ayana está me usando como uma puta branca de cabelos verdes?’’ Não é isso? Que você está pensando? Pode falar, eu estou te dando permissão para tal.
- Sim. Algo do tipo. – Eu me limito a falar o mínimo com medo de outra cotovelada.
- Bom. Digamos que a maior parte dos pretos e pretas querem só igualdade. Assim como Martin Luther King queria. Mas tem uns 10% que pensam como o Malcolm X. Entendeu?
- Não.
- Que fofinha! É tão bom ter uma branca tão limitada, burrinha e tão largada na vida como você. Tu és exatamente um espelho do que a sua espécie inferior deveria e nasceu para ser. Enfim, há uma minoria do movimento que quer fazer igual a maquina do tempo da minha entrevista.
Agora finalmente eu entendi.
- Nos escravizar.
- Boa, Green Whore! Isso mesmo. Seu povo nos escravizou por séculos. Achou mesmo que essa corda esticada e tencionada iria estacionar no meio? Não mesmo. Nós iremos escravizar a sua raça e os colocar em seus devidos lugares naturais. Nós em cima e vocês embaixo. Figurativamente e fisicamente. Como você já me serviu de cadeira e mesa, por exemplo.
E ela termina o café toda alegre.
- Bom. Eu ainda tenho horas e horas para te usar até que o meu marido chegue. Eu estou escrevendo um novo livro e você me servirá de poltrona, mesmo eu tendo uma cadeira gamer super confortável que comprei recentemente.
Marido?
- Que semblante confuso é esse? Pode falar o que é.
- Você é casada?
- Sim. E você conhece meu homem.
Ela se aproxima do meu ouvido e diz.
- Você o conhece como Ganga.
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Capítulo 14 – Vai Cavalinha!
Durante horas e horas a fio a Ayana ficou sentada em mim em sua sala escrevendo seu livro. E as vezes ela saía para conversar com alguém da Vila ou até comia uns lanchinhos e mexia no celular.
- Nem levanta, vadia verde. Eu estou tuitando sobre como queremos só igualdade e respeito, sem tomar nada dos brancos que os pertença. Pois só queremos o que é nosso por direito.
E ela senta em mim novamente. Ayana solta o peso na altura dos meus ombros como se fosse quebrar o meu pescoço, pesando a severidade da mensagem com uma demonstração física em mim.
- Mas e se o que é nosso por direito for tudo? E o que pertence naturalmente aos brancos for nada? Nos obrigando então a retirá-los de toda a sua altives e poder?
Eu não sabia se era retórico ou ela queria uma resposta.
- A cachorra de nome Ramona pode falar. Ou melhor, latir o seu ponto de vista.
Então ela queria que eu falasse algo.
- Eu não entendo nada disso. Eu só estou aguentando esses estupros e humilhações todas porque você disse que darão a minha liberdade.
- Quando você se tornar o Diamante Negro.
- Sim. Aí eu poderei ser livre. Não é?
- Claro. Você terá sua liberdade como nunca antes você experimentou. Eu lhe prometo.
- Tudo bem. Eu vou resistir então ao máximo para chegar nesse ponto de diamante que vocês querem.
- É assim que se fala, minha bela jovem cadeira.
E eu resisto ao peso dela só com a fé de um dia escapar dessa maluquice toda.
É extremamente difícil seguir por um túnel sem saber o quanto falta para sair. Por isso aquela meta de Diamante Negro era como a luz no final da escuridão.
Se eu chegar até ela tudo ficará bem.
Eu só preciso sobreviver custe o que custar.
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- Querida! Eu busquei as crianças na escola!
A voz inconfundível era do Ganga.
Ele abre a porta e aparece com duas crianças. Um menino negro de uns 9 ou 10 anos e uma menina negra de uns 7 anos na média.
Eu estava de quatro com a Ayana em cima de mim.
- Boa tarde, amor! Obrigada por buscar as crianças.
Ayana levanta e vai beijar seu marido (e meu namorado? Tão confuso). Enquanto isso eu fico de quatro vendo a cena pela lateral da mesa. Eu não sabia se devia levantar ou me manter naquela situação.
- A escrava verde está aqui? Você disse que sim, querida. – Ele fala isso despudoradamente com as crianças ali na sala mesmo.
- Sim. Eu a estou usando como cadeira. Dê uma olhada.
E a família inteira (marido, esposa e filhinhos) se aproxima e ficam me vendo de quatro no chão. Eu fico tão sem graça que vermelha eu olho pra baixo e evito contato visual com eles.
- A nossa égua ficou sem graça. Mamãe, posso montar nela?
Não foi nem a Ayana.
E nem o Ganga que disse isso.
Foi o garoto.
- Pode, meu filho. Ela está aqui para servir mesmo. Divirta-se com ela.
E o garoto monta em cima de mim como se eu fosse uma égua de passeios campais.
Ayana se ajoelha do meu lado e fala algo baixinho para só eu escutar.
- Você vai servir de brinquedinho para o meu filho. Nem pense em desacatar o que ele falar. Os pedidos desta criança serão como se fossem ordens minhas ou de meu marido. Isso faz parte da sua lapidação, então se você quiser sair disso logo e ser livre, é melhor obedecer tudo. Se ele falar para você relinchar, você relincha como uma boa potra branca escrava. Se ele pedir para você lamber o chinelo dele, você esfrega a sua língua inútil nos dois lados da borracha. Entendeu?
- Sim, Ayana.
- Ótimo.
Ayana levanta e depois de fazer um carinho na cabeça de seu filho, ela acompanha o Ganga para a cozinha.
Com só as crianças na sala, o garoto começa a bater com as costas dos pés nas minhas coxas. Imitando os esporões da bota de um cowboy acertando seu cavalo.
- Vai! Vai cavalinho! Se meche!
Sem entender muito bem o que fazer eu fico me remexendo de quatro e balançando ombros e quadril de forma mega desconjuntada e sem ritmo. Ele era pesado e não teria como eu me mexer com ele botando o peso em mim assim.
- Não! Tem que se mexer! Vai! Vai logo!
Ele faz uma imitação literal da mãe dele.
Eu digo isso porque o garoto começa a puxar o meu cabelo pra trás como uma crina de cavalo, ele puxa até mais forte que os adultos anteriores, talvez por não ter noção da própria força necessária para tal.
Eu começo a dar umas passadas pra frente. Era bem pior que a mãe dele por cima e eu estática. Pois ao tentar me locomover eu saía dos 4 pontos de apoio para 3 ou até 2 diagonalmente (uma perna e um braço).
Mas eu consigo dar umas trotadinhas de quatro e começo a circundar a mesa. Eu não queria sair dali porque o tapete peludo amaciava o contato das minhas mãos e joelhos no chão.
E eu fico ali vendo o quão absurdo era a minha atual situação.
Duas semanas atrás na terça nesse horário eu estaria servindo café no Starbucks do Barra no ar-condicionado e vivendo a minha vida simples e pacata de proletária sem ensino superior. Só mais uma jovem hipster de cabelo colorido trabalhando em uma cafeteria, mais clichê que isso era impossível.
E poucas semanas depois nesse mesmo horário eu estava de quatro no chão de uma casa em uma vila dentro da uma favela da zona oeste do Rio. Tudo isso enquanto eu era montada como uma égua humana e tinha meu cabelo puxado toda hora.
- Irmãozinho! Deixa eu subir nela no seu lugar.
Isso!
Deixa ela subir e me aliviar o peso.
- Não! Vem comigo. Eu não vou sair.
E a menininha preta sobre atrás e fica os dois filhos da Ayana e do Ganga nas minhas costas.
- Não era para parar. Continua andando, cavalinha.
E eu vou me arrastando e sentindo meu corpo todo estalando.
Será que eles não entendiam que eu era um ser humano também?
Totalmente inocente eu tento intervir.
- Oi, a titia está cansada. Posso levantar?
E o menino responde.
- Não! Você não é titia. É a nossa cavalinha.
Eu insisto.
- Mas eu sou uma pessoa. É certo me tratar assim?
E o golpe de misericórdia é dado.
- Não é uma pessoa não. Mamãe e papai sempre me ensinaram que pessoas são só aquelas iguais a mim. Minha mãe diz que vocês de cor de leite são cachorrinhos que andam errado com 2 patas, e que vocês nasceram é pra andar com as 4 patas. E que vocês existem pra fazer o que a gente quer. Nós que somos pessoas de verdade.
A Ayana tinha enfiado essas ideias dela e do Ganga na cabeça das crianças!
- Como você faz na escola? Não tem outros que são cor de leite que nem eu?
- Sim. Mas meus pais dizem que é segredo e não é pra falar disso com eles. Que vocês são cachorrinhos e fingem ser pessoas andando em pé por aí. E que no futuro todos vocês estarão assim no chão para a gente montar a vontade e brincar de cavalinho.
- E eu sou a primeira? A estar assim?
- Não. – Agora era a irmãzinha dele que fala. – Mamãe já nos trouxe várias outras cavalinhas para a gente montar. Mas é a primeira com o cabelo verde que vimos, você nasceu assim?
Deviam ser as outras jovens e até adolescentes que a Ayana tentou lapidar e falhou.
Quem seriam elas? E o que aconteceu quando elas não puderem ser Diamantes Negros?
- Sim. Eu nasci assim. – Eu concordo com a garota.
- Nossa! Que legal!
- Agora anda mais! Vai! Vai cavalinha!
E com ele puxando meu cabelo na frente e ela toda alegre me dando tapas pra trás, eu sigo o meu passeio com os filhos daqueles que estavam me lapidando e destruindo o pouco de sanidade e amor-próprio que eu tinha.
Eu não quebrarei como as outras.
Eu me tornarei essa joia que os negros e negras tanto querem.
É a minha única saída.
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Capítulo 15 – Dona Ayana
- Ramona, você está liberada.
Por volta das 16:45 a Ayana me libera. Essa terça eu tinha pedido demissão; servido de assento em uma entrevista da UOL; virado uma mesa de café de manhã; me tornado uma poltrona para ela escrever e até me metamorfoseado em uma égua de estimação para os filhos dela. Então só imagina o quanto eu estava destruída e triturada. Eu era sedentária e não me exercitava, e hoje eu estava cheia de câimbras e dores, quase sem estar conseguindo andar direito.
(As minhas dores estão com dores...)
- Tudo bem. Muito obrigada, Ayana.
- Então, preciso te falar uma coisa. Amanhã você virá direto pra cá. Não se preocupe que amanhã iremos limpar o nosso diamante e borrifar água em sua superfície. Eu sei que você está cansada e levarei isso em consideração. Agora vai.
Abaixando a cabeça em uma saudação japonesa eu me despeço dos membros da família e saio.
Se amanhã é uma Lapidação mais leve eu poderia descansar o meu corpo. Se eu tivesse que diariamente passar pela provação de hoje eu não aguentaria 10 dias.
- 10 dias? – Eu me surpreendo com os meus pensamentos enquanto meus joelhos tremiam e eu voltava vagarosamente a pé para a estação do BRT.
Em dez dias eu já me imaginava livre disso e com o meu título de Diamante Negro. Não é possível que estes pretos fossem precisar de mim por tanto tempo assim.
- A Ayana precisa me dar uma garantida de quanto tempo demora essa lapidação.
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- Amor, estou indo pro trabalho. Green Slut vem?
- Vem sim, Ganga. Ela já me confirmou e está vindo direto pra cá.
- Você acha que será ela?
- Estou na esperança que sim. Não temos mais tantas pedras para catar e que possuam um potencial do nível do dela. A nossa fonte de informações com o Tinta não conseguiu fazer mais prospecções nesse mês. É ela ou nada. E então perderemos a nossa janela esse ano.
- Sim. Nosso Grupo está atrasado.
E pensar que o Grupo 21 demoraria tanto pata ter o seu Diamante Negro.
- Mas isso mudará. Hoje eu vou ter uma conversa com a Ramona e evoluir mais ainda o processo dela.
- Ok. Bye.
- Beijos, amor.
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Eu entro direto (agora eu já reconhecia a vila como se fosse a minha segunda casa ou a de uma amiga) pois o portão estava só fechado e não trancado.
- Ayana, eu cheguei.
Aquela linda negra de 30 anos abre a porta e sorridente me fala.
(Eu me encanto tanto que sempre parece a primeira vez)
- Oi. Pode entrar.
Eu entro e em pé eu fico já criando um reflexo. Quase que eu me ajoelho naturalmente de quatro.
Os olhos da Ayana brilham, ela parece que me atravessa com um sexto sentido e gosta do que viu.
- A-Ay-Ayana? – Eu falo gaguejando.
- Você queria ficar de quatro. Não é?
Meu rosto ficou tão vermelho e quente que eu poderia fritar um novo em minha face.
- Eu pensei. Mas é porque eu imaginei que você ia querer.
- Sei. A natureza submissa do seu DNA branco aflora tão mais naturalmente que todas as outras jovens que garimpamos. Elas choravam, negavam e ficavam com raiva de mim e dos pretos daqui dessa comunidade. E você não. Você naturalmente pensa em obedecer e ficar de quatro. Lindo de testemunhar isso.
- T-Tá.
- Não fica sem graça. Vamos lapidar as arestas sujas e brutas. Se você resistir e imitar essas outras meninas de antes, aí sim que teremos que te limar mais forte. Todavia se você for mais maleável e receptiva às mudanças, poderemos aliviar a mão da lixadeira.
Ayana passa a mão pelo meu cabelo com muito carinho e amor.
- Vem, senta comigo.
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E eu sento em sua poltrona.
O melhor.
A Ayana que senta e me coloca no colo dela.
- Está confortável, Ramona?
- Sim. Estou sim.
Ela me bota no seu colo como se eu fosse uma criança. Uma mulher negra alta e bela com um corpão e bundão, e com uma menina branca pequena e magrinha sentada nela. Ela parecia mesmo uma adulta bulinando uma novinha menor de idade.
- Bom. Hoje a sua lapidação será mais mental do que física. Como vamos conversar muito pelos meses a seguir então eu queria saber mais de você.
- Meses?
- Sim. Algum problema nisso?
- Eu achei que eu me tornaria um Diamante Negro mais rápido.
- É um pouco demorado. E a formalização de tal título nem ocorre aqui. Então se acostume mesmo a me ver por muito mais tempo do que você está pensando.
Aquilo foi um choque grande nas minhas expectativas de escapar de tudo.
- Tudo bem.
- Você me parece assustada com algo.
- É que eu queria minha liberdade de volta o mais cedo possível.
- Você nunca foi livre. Os brancos confundem isso. A sua liberdade é na realidade escravidão. E a escravidão para vocês seria a maior das liberdades. Os branquinhos e branquinhas não conseguem fugir desse impulso biológico inato de vocês. Quer uma prova? Seja ‘livre’. Saia pela porta e nunca mais volte se quiser.
Eu olho confusa para a porta e continuo na colo da Ayana.
- Isso é algum teste?
- Não. Não tem ninguém te segurando. Se você acha que está sendo assediada pelo Ganga e amigos, é só sair do grupo de Lapidação e pronto. Além disso você não trabalha mais naquele Starbucks do Barra Shopping, então o tal suposto abuso sexual no BRT é evitável unicamente ao não usar esse meio de transporte. Conclusão: Se você sair agora a sua suposta liberdade está ao seu alcance. É só esticar a mão e pegar.
Dessa vez eu levanto e fico só olhando entre a porta e aquela deusa africana sentada confortavelmente.
- É verdade... Eu... Se eu... Se eu sair acaba... E volta ao normal... Recupero a minha liberdade...
Eu falo isso mas alguma coisa aperta o meu coração e não queria que eu saísse porta afora. Eu me sentia como se estivesse no meio familiar e não quisesse voar para longe do meu ninho.
- O que foi? Voa meu passarinho esverdeado. – Ayana as vezes parecia vidente. – Abra suas longas asas verdes e conquiste os céus, Ramona. O que está esperando?
(Fly away my little Bird)
- Eu não consigo. Não dá.
Se a luz ao final do túnel estava a 2 metros de distância eu não tive coragem de atravessá-la.
- Porque você lá no fundo sabe que essa sua ‘liberdade branca’ é uma escravidão de responsabilidades que a sua espécie inferior não nasceu para assumir. Você não quer voltar desempregada e cuidar da sua vó necessitada. É pesado demais. Mas nessa Lapidação eu estou te apresentando a liberdade real que os cor de leite (como falam os meus filhos) anseiam. Vem pro meu colo de novo.
Sentido uma excitação estranha e o ar pesado eu me dirijo para o colo dela.
- Tudo bem. Eu vou passar pelo processo todo e me tornar um Diamante Negro. Mas eu só preciso de uma resposta. A mais sincera passível.
- Diga.
- Se depois de eu me tornar esse diamante, eu quiser sair por aquela porta como você me ofereceu hoje. Você jura por Deus que eu poderei?
- Eu não sou cristã. Eu sou do Candomblé. Mas em nome de Ogum, Ossaim, Oxóssi, Exu, Iansã, Xangô, Oxumaré, Oxalá e Iemanjá eu te digo: Se depois de virar um Diamante Negro você quiser sair, é só dizer e lhe será permitido isso.
Ver aquela musa preta devota de uma religião de origem africana jurar em nome de tantos orixás me deixou tranquilizada. Porque eu sabia que a Ayana manteria a palavra dela.
(Confia em mim agora?)
- Então eu estou dentro. Eu irei me dedicar mais ativamente do que nunca.
- Hum... É bom escutar isso. Em breve você entenderá mais um pouco o que é ser um Diamante Negro e o significado maior de tal responsabilidade. Por hora eu quero que você me acompanhe que hoje eu vou ter apresentar aos outros moradores da vila.
Eu levanto e saio com a Ayana para a frente da casa.
- O que eu faço agora?
- Só me espera aqui que eu voltarei.
A dona da casa sai para a lateral e eu escuto barulhos de correntes.
Ela tem um cachorro?
E na volta eu vejo a Ayana com uma corrente e um cadeado nas mãos.
- Ayana, para que isso?
- Eu disse que a sua lapidação iria continuar. Sua próxima oportunidade para fugir é no final do processo de transformação em Diamante Negro. Em nenhum momento eu prometi que no meio da lapidação você poderia sair. Sua primeira chance foi no meu colo e a segunda será apenas pós a finalização do procedimento. Agora você vai usar isso.
Ela passa uma corrente bruta em volta do meu pescoço e ela fecha com um cadeado normal de grade.
- Está bem, Ayana.
Com um sorriso debochado aquela preta filósofa e ativista negra responde.
- Sim. Mas agora eu sou a Dona Ayana. E você a minha cachorrinha de nome Ramona.
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Capítulo 16 – The Right Neighborhood
Me puxando por ela a Ayana me leva até uma casa do lado esquerdo.
- Dona Neide! Visita para a senhora!
Uma senhora que parecia saída de uma obra do Monteiro Lobato aparece na porta. Era uma negona bem gorda e com o cabelo branco preso e um tufo vertical com aspecto quebradiço.
- Ayana, minha filha! Que bom te ver. Você mora tão perto mas é sempre tão difícil arranjar um tempinho para nós.
- Me perdoe, vó Neide. Você sabe como é a minha agenda. Sempre lotada.
- Claro. Não precisa me explicar. Vocês jovens têm muito trabalho. Eu sei que vocês seguram o bastão da luta que nossos braços velhos já não podem mais aguentar. É essa a nova tentativa?
A tal da vó da Ayana (devia ser só uma maneira de falar) vira pra mim.
- Sim. Essa é a Ramona. Mas essa não será uma tentativa. Será um acerto.
- Vejo que tem grandes expectativas para ela.
- E você entenderá o porquê.
A Ayana senta na cozinha e me puxa pelas correntes e eu sou guiada como uma escrava até uma mesa simples da casa da Neide.
- Eu fiz uns bolinhos de chuva. Quer, Ayana? Passei um café também no filtro.
- Quero sim.
Aquele visual estético e de cheiros caseiros como os de um autêntico lar de vovó me enchem de fome. Eu tinha comido um pão com ovo e tomado um café com leite, só que agora isso me parecia pouco.
- Ramona, você fica no chão. Senta.
Tantas ordens anteriores me foram tão mais absurdas que eu nem me importo em obedecer rapidamente o que ela falou.
Neide arregala os olhos pra isso.
- Minha nossa. Ela é realmente mais solicita que as outras.
- Sim. A culpa branca nela é muito mais a flor da pele. Ela ainda não entendeu isso direito, mas com o tempo isso será despertado nela.
- Agora entendo a sua positividade. Aqui os bolinhos.
Neide e Ayana sentam e comem. Nesse tempo elas fofocam sobre detalhes de suas vidas e rotinas as quais eu era totalmente alheia. Eu fico só no chão no piso gelado com minha barriga roncando.
- Ayana...
Eu elevo a minha voz bem pouco e espero ela me notar ali, miando baixinho em busca de alimento.
- Fala Ramona. O que foi?
- Eu também estou com fome. Posso comer algo?
- Claro. Neide, você tem sobras de comida?
- Eu tenho só o que sobrou de farofa e algumas verduras que daqui a pouco estragam.
- Entendi. Você tem como colocar isso na mesa? Com algum prato descartável?
- Claro.
A Neide coloca uns alfaces e tomates com um aspecto já antigos em um prato plástico. Não estavam estragados, mas eram como as bananas com seus primeiros pontos escuros de decaimento aparecendo. E depois disso um resto de farofa de uma panela.
A Ayana esmaga tudo as mãos e joga a farofa em cima.
E depois coloca no chão.
- Aqui. Sua comida. Achou que ia comer os bolinhos de chuva da Neide? Ela os faz com muito carinho e seria como dar trufas peroladas a porcos. Você é a minha cadelinha branca e tem que se portar e comer como tal. Mate a sua fome com a sua ração e não deixe nada sobrar.
Eu vejo aquele monte de resto de comida esmigalhada pela mão dela e me arrependo de ter pedido algo em primeiro lugar.
- Sim, Dona Ayana.
Ainda bem que eu estava com uma roupa hoje mais leve (camiseta e bermuda jeans) por eu saber que ia pra cá direto. Porque eu precisei dessa flexibilidade ao me ajoelhar como se fosse uma cadela e começar a pegar com a mão e levar a boca.
- Nada disso. Já viu algum cachorro pegando comida com as patas? Estas imaginando que tens polegar opositor como eu? Você não é um homo sapiens. Usa só a boca para alimentar-se.
E eu me curvo toda como um religioso islâmico de quatro com o rosto no prato e passo a comer enfiando a cara nele. Eu fazia barulhos que até a mim dão nojo ao mastigar assim; e minha face se suja toda com os restos.
(Eu não acredito que estou fazendo isso)
- Sim. É ela. Essa Ramona vai virar o Diamante Negro.
Era a Neide falando. Eu só pude ouvir a voz dela já que eu só conseguia encarar os restos de comida. A visão de mim como uma porca branca humilhada e comendo como uma escrava inútil deve ter dado alguma epifania de claridade pra Neide. Se antes eu talvez não pudesse ser um diamante, agora ela tinha certeza de que eu seria a pedra preciosa profetizada por todos.
Eu termino de comer e me levanto.
- Viu? Você conquistou até a cética da Neide. Como prémio vou limpar seu rosto.
Ela pega uma camisa velha que encontra próximo no chão servindo de pano e passa a limpar o meu rosto com ela.
- Ayana, esta menina irá visitar os outros? Os vizinhos daqui?
- Sim. Hoje o dia todo dela consistirá nisso.
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Depois da Neide eu sou apresentada aos outros moradores e situações parecidas acontecem. A Dona Ayana estava tentando (imaginava eu) ganhar a confiança de sua comunidade, mostrando a eles que eu era submissa e supriria o papel de Diamante Negro com diligência e dedicação necessárias. Foram mais crianças me montando; eu bebendo água de bica de um balde ao invés de um copo; alguns puxando a minha corrente e me conduzindo pelos cômodos de suas casas; etc.
A única coisa que eles não fizeram comigo foi qualquer ato sexual.
- Nossa, já são 17:10. Maldito tempo que não colabora. – Ayana olha seu relógio prateado (que me parecia caríssimo) com certa irritação.
Ufa.
Ela vai me liberar hoje e só amanhã (quinta-feira) ela ia continuar com a Lapidação.
Olhando para as casas ela vai checando se tínhamos passado em todas.
Como não eram muitas eu notei que faltou só uma bem velha na frente, ela era colada no muro do corredor de entrada, como se fosse uma verruga e algo não orgânico e que foi adicionada ali por um pedreiro bebendo cachaça. Era quase uma guarita pequena na abertura se o resto da vila fosse um estacionamento.
A minha Dona Ayana nota isso também e fala.
- Vem, ainda tem mais uma casa. Você precisa conhecer o Mustafá.
- Oi?
- Quieta. Vem.
Ela puxa a minha corrente e me leva até a casa e bate na porta.
- Dona Ayana, eu preciso voltar pra casa. Eu consigo escutar meu telefone vibrando com as ligações perdidas da minha vó.
- Não se preocupe. Se ele não atender à porta você está liberada. Caso contrário você ficará hospedada durante a noite com ele e eu dou um jeito de explicar isso à sua vó.
A noite inteira?
Não!!!
Eu fecho os olhos e rezo aos deuses que eu não acreditava. Mentalmente eu cito até os nomes daquelas divindades da África que a Ayana falou antes.
Talvez fosse uma punição para a minha falta de fé e heresia religiosa.
Porque a porta é destrancada e aberta.
- Só vejo um breu. Não tem ninguém. – Eu apelo a isso, como se aquele lar sombrio tivesse sido aberto por um espírito demoníaco, já que não havia ninguém na soleira da porta.
- Tem sim. Me dá seu celular.
E com as mãos tremelicando eu dou meu smartphone para a minha Dona.
- Ta aí.
- Ótimo. Eu vou justificar a sua ausência para a sua vovó. Pena que ela não sabe da verdade, porque a velha estaria muito orgulhosa.
- Você vem comigo? Pra dentro?
- Não mesmo. Mustafá é bem agressivo bêbado. Ainda mais com mulheres.
- Como é???
A Ayana me dá um empurrão forte e repentino como um raio e eu sou jogada na escuridão daquele muquifo.
- Se quando eu voltar aqui amanhã você estiver inteira, iremos continuar a sua Lapidação. Caso contrário eu vou procurar outra pedrinha branca com algum brilho promissor que eu possa minerar. Adeus.
E a porta é trancada atrás de mim.
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