Minhas transas e meus homens - Parte V

Um conto erótico de TeuToque
Categoria: Gay
Contém 2068 palavras
Data: 25/05/2020 20:13:54
Assuntos: Fetiches, Gay, Sexo casual

Faz uma semana que eu e Nelson transamos.

Fingimos que nada aconteceu e que tudo não passou de um sonho ou coisa parecida. Na manhã seguinte agi naturalmente e desconfiei da memória de Nelson quando ele próprio parecia mais tranquilo do que nunca.

Mas eu sabia que ele sabia e ele sabia que eu sabia.

Foi uma experiência muito gostosa e eu diria que foi a melhor transa da minha vida. Mas eu sabia separar bem o carnal do emocional e por mais que eu almejasse uma companhia mais profunda, eu sabia que nutrir sentimentos por caras que não retribuiriam não valeria a pena.

A tensão entre nós dois que tinha se iniciado quando sentei em seu colo tinha cessado. Era como se finalmente tivéssemos infringido uma regra (a regra de não transar com colegas de apartamento) e não houvesse mais aquela eletricidade velada pairando no ar.

No caminho pro trabalho eu ia pensando em como minha vida sexual estava ativa.

Tinha transado algumas vezes com Celso, o que era sempre razoável, na verdade, comparando com todo o cenário com Nelson, o sexo com Celso ficava bem para atrás. Não tinha certa magia, era muito direto e sem floreios. Ele realmente me atraía muito, mas ultimamente eu vinha procurando alguém que além de gostoso, me tratasse na cama como uma flor muito delicada e rara. Com Celso eu me sentia um arbusto onde ele fazia as necessidades dele.

Ok, eu estava sendo exagerado.

Se Celso fosse de fato tão ruim não teria repetido a dose com ele. E justo quando penso nele, é que o próprio me manda uma mensagem perguntando se podíamos nos encontrar mais tarde. Evito responder de prontidão já que não tinha certeza se queria de fato transar com ele, ao menos não tão cedo.

É quando eu guardo o celular no bolso que a imagem de Gilberto em pé, no ônibus me surpreende.

Ele sorri e se aproxima.

E eu observo quase que se fosse em câmera lenta. Gilberto caminha até minha direção, seu sorriso no rosto e seus passos decididos. Eu queria tanto beijá-lo. A sensação que eu sentia ao vê-lo era muito diferente da dos outros rapazes. Com Celso era uma necessidade, quase como a de se ir ao banheiro, ou uma coceira. É maravilhoso se aliviar depois de tanto tempo segurando a urina e se deliciar em coçar a pele que pinica. Mas depois que se alivia, passa. Nelson era como quando adolescente eu me esfregava num urso de pelúcia gigante que uma prima distante tinha esquecido no quarto de hóspede. Era gostoso abraçar, roçar a pele naquele urso de pelúcia. Mas ele não passava daquilo, um urso. De pelúcia.

Gilberto era diferente. Ele era um comichão que não passava, uma sede que não cessava e definitivamente não era um urso de pelúcia. Longe disso.

“E aí”, ele sorri e estende o queixo ligeiramente.

“E aí”, eu retribuo o sorriso.

“Quer?”, ele me oferece uma bala de hortelã e eu aceito sentindo o toque áspero da mão dele. Queria me demorar e apertá-la, queria beijar sua mão e encostar meu rosto nela. Será que ele não percebia o efeito que causava em mim?

Ficamos de papo furado entre falar do clima e do evento de hoje à noite.

Consistia num jantar de noivado, o que sempre garantia uma espera prolongada e um cansaço certeiro.

“Eu não quero parecer reclamão, mas justo hoje?”, eu franzo a testa, suplicante.

“Eu sei, é bem chato", ele adiciona, mais pra ter o que falar do que realmente de fato se aborrecer com aquilo. Ele parecia sempre tão disposto.

“Nossa parada", eu sinalizo e logo nos aproximamos da porta da condução.

Mas assim que dobramos a rua para o cerimonial estranhamos que tudo se encontra escuro e longe da circulação costumeira.de funcionários.

“Não avisaram pra vocês?”, Carmen, a administradora da casa indaga. “O evento de hoje foi cancelado.”

Eu e Gilberto nos entreolhamos e rimos.

Eu rio mais intensamente, de alívio e por saborear aquela ironia ao lado do meu amor platônico.

Ele acende um cigarro e nós ficamos um momento sem saber o que fazer depois de termos nos aprontado pra basicamente nada.

“Ótimo quando não se precisa trabalhar, não é?”, eu sorrio.

“Não quando se é extra e não se tem trabalho fixo", Gilberto me encara soltando uma baforada do cigarro e eu me envergonho da minha ignorância.

“Então...”, eu tento consertar a burrada, “... você vai pra casa agora?”

Eu pergunto querendo saber o que aquele garoto tão lindo faria dali a pouco.

“Não. Na verdade não. Tem algo em mente?”

A pergunta me pega desprevenido.

“Bem, aqui perto tem um lugar que os meninos me mostraram...”

“Eu sei qual é”, ele me interrompe.

“Você já foi lá?”

“Sim. É bem legal. Topa?”

“Sim.”

E sorrio por dentro. Um pouco por fora, mas Gilberto não percebe, já que observa os prédios empresariais que nos cercam. Estávamos nos referindo a um caminho que dava para um morro de areia, que ficava antes da avenida litorânea e da praia. Era um lugar muito deserto e pacífico, onde o pessoal do cerimonial costumava ir pra fumar um pouco e apreciar a vista em dias estressantes.

Quando chegamos no local, deserto como sempre e de uma brisa calma e relaxante, eu sinto um arrepio atravessar a espinha. Não queria demonstrar, mas estava em êxtase por estar a sós com Gilberto num lugar tão reservado. Combinava com ele.

Sentamos numa duna de areia e eu finjo não me incomodar com os grãos que voam em direção à minha vista.

Gilberto acende outro cigarro e eu aceito um que ele me oferece. A fumaça some instantânea, na violência do vento que a afasta pra longe. Meus cabelos dançam no ritmo da brisa e eu e Gilberto contemplamos o mar à nossa frente.

“Você sempre vem aqui?”, é ele quem quebra o silêncio, pra minha surpresa.

“Eu costumava vir bastante no começo, quando ainda não estava acostumado com o ritmo de trabalho.” Eu me contenho em falar por algum instante, mas logo minha mania de falar pelos cotovelos se sobrepõe. “Então eu vinha aqui e chorava por não gostar do que eu fazia. Com o tempo me acostumei e meio que gosto de trabalhar lá no cerimonial. Até que não é tão ruim.”

Me arrependo e começo a me incomodar comigo mesmo. Eu já tinha estragado tantas chances de me aproximar de Gilberto, seria possível que eu estragaria aquela também? Me esforço pra me manter calmo e recluso feito ele. Ou ao menos o máximo que eu conseguir.

“Eu tranquei a faculdade de direito”, ele se livra do excesso de cinza que se acumula no cigarro e se vira até mim por um breve segundo. Depois volta a admirar as ondas se quebrando no oceano.

“Oh, que chato. Você gostava do curso?”, pergunto genuinamente curioso.

“Não.”

E é tudo o que Gilberto diz. Eu espero ele complementar como algumas pessoas costumam fazer quando falam. Fazem algumas pausas estranhas, pra depois adicionarem mais detalhes. Eu espero pela continuação mas ela não chega.

“Você me parece um cara inteligente", Gilberto sorri da minha suposição. “Sem querer ofender, mas... o que te fez ser garçom?”

“Eu tinha me casado. Eu e ela nos mudamos e tudo, então tive que arranjar emprego.”

Casado. Nossa, eu realmente não esperava que alguém tão jovem pudesse se casar. Me pergunto como aquela história teria se sucedido e se eles tinham terminado, pelo que parecia, mas seguro minhas perguntas. Eu queria deixá-lo à vontade pra contar o que quisesse contar. Não seria eu a pressioná-lo ou incomodá-lo com perguntas intrusivas.

“Eu quero me casar... Não que de fato um dia vá acontecer, mas... eu gostaria”, eu admito, pensativo.

Gilberto sorri mais uma vez.

“É mais difícil do que parece", ele solta, ainda mais enigmático.

A tarde é linda e por mais estranho que pareça gosto do silêncio que se faz entre nós dois. Gilberto tem os olhos semicerrados, como se fosse míope sem óculos (talvez fosse mesmo) e parece invariavelmente sexy com o emaranhado de mistério em sua mente. Eu acho que nunca fiquei tanto tempo ao lado de alguém sem falar muita coisa.

Então ele se deita na areia e apoia a cabeça nas mãos. Os braços dele ficam evidentes sob as dunas e eu num movimento instintivo e autêntico, deito minha cabeça no peito dele e espero pelo pior.

Mas Gilberto não se contrai, não se levanta em confusão e desconcerto, não me empurra ou qualquer coisa. Ele permanece deitado, imóvel e eu sinto o cheiro da pele e do desodorante masculino dele. Era um cheiro tão bom. Um vento forte nos travessa, e fechamos os olhos pela quantidade de areia que vem junto. Mas seguimos plenos em nosso descanso, em nossa posição de gatos preguiçosos num fim de tarde.

“Eu poderia ficar assim o dia todo", eu deixo escapar sentindo ainda o cheiro masculino que vinha daquele garoto.

O cenário é mais que perfeito. O céu azul, o sol ainda dando seus últimos ares antes de se despedir. O vento calmante e acariciador.

“Eu também”, a voz masculina ressurge do silêncio.

E eu arregalo os olhos. Mas depois volto a minha posição de relaxamento, e pode-se dizer que estamos os dois bem relaxados. Dois garotos deitados, sozinhos num morro de areia, próximos do mar. Mas meu coração era a única coisa que não condizia com a tranquilidade daquela paisagem, ele batia com tudo. E meu íntimo era tudo, menos calma.

Quando cheguei em casa podia sentir meu peito ainda embriagado de paixão. Eu e Gilberto não tínhamos feito nada. Depois de alguns minutos ele se levantou e eu o imitei e nos despedimos com um aceno. Tudo muito silencioso e sem muito a dizer, mas tanta coisa ficou implícita naquele repouso.

Nelson tocava violão com um amigo cinquentão quando cheguei no apartamento. Nossos olhares se cruzaram e sorrimos um pro outro. Eu não podia me sentir mais distante de maneira erótica dele, aqueles poucos instantes com Gilberto e toda a singularidade daquele encontro tinham sido suficientes para sepultar qualquer suposição de um caso com Nelson ou qualquer coisa parecida.

Estou sorridente e cantante na cama, quando recebe uma mensagem de Gilberto:

ESTOU AQUI EMBAIXO.

Eu pisco duas vezes.

Releio a mensagem e me pergunto o que aquilo significava.

Como?

Eu respondo perguntando, ainda incrédulo do que ele tinha me mandado.

ESTACIONEI AQUI EMBAIXO. DESCE.

Que atrevimento. Como aquele homem podia ser tão cara de pau? Eu sequer tinha concordado em sair com ele ou mesmo respondido sua mensagem e lá estava ele, estacionado na rua do meu apartamento. Tudo bem que eu já tinha me colocado no papel de um sexo casual sem floreios, mas aquilo era demais.

Não lembro em ter combinado nada com você, respondo na mensagem.

Eu vejo o carro dele da janela. Um carro esportivo, com vidros fumê e ar-condicionado. O mesmo carro em que eu já tinha aberto as pernas e me deixado penetrar antes.

DEIXA DE FRESCURA E DESCE.

O meu eu de alguns meses atrás acharia aquilo tudo extremamente sexy. Dentro de um carro um homem musculoso, bronzeado e bravo tinha saído de casa e vindo me ver. Dominado de desejo (por mim!) e sedento pela minha pele, pela minha bunda... era a fantasia de tantos gays e minha há algum tempo, mas aquele dia tinha mudado muita coisa em mim. Parecia bobo, mas a pureza de somente me deitar em silêncio com Gilberto tinha feito tudo o mais parecer sujo e desnecessário. Até a transa com Nelson surtia como uma alucinação pra mim, algo que eu teria deixado passar se pudesse.

Eu não vou descer.

Respondo.

É muita cara de pau sua achar que eu iria aceitar sem combinar nada antes.

Eu observo o carro, imaginando como a feição de Celso estaria àquela altura.

NINGUÉM BRINCA COM A MINHA CARA. VAI SE FUDER SUA PUTA!

E ele acelera com o carro.

Por algum motivo ao reler a mensagem e imaginar a expressão de Celso isso me faz cair na gargalhada. Sorrio por algum tempo e vou dormir ainda sorrindo quando esse momento passa e lembro de outro momento mais especial apoiando a cabeça no travesseiro, tal qual eu tinha apoiado no peito de Gilberto.

Nos meus sonhos voltamos as dunas e a tarde calma. Continuamos deitados, repousados e calados. Só que no meu sonho estamos sem roupa.


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