Aquele olhar triste dele foi o suficiente para baixar minha guarda. E por um instante, voltei minha atenção para o que ele estava falando. Pelo que eu entendi, ele estava ficando com uma garota, e que o seu, até então amigo, havia ficado com ela mesmo sabendo que os dois estavam se pegando.
Descobri mais tarde, que a garota da qual ele falava, era a Renata, e o que o traiu, era o Ricardo, meu conhecido de infância. (Não citei o nome dele antes, mas é o mesmo que eu sentei ao lado no primeiro dia).
Fiquei puto quando soube quem era a menina, mas por outra, me senti vingado e aliviado, pois, qualquer chance de os dois ficarem juntos tinham sido eliminadas.
— Tu faria o quê se fosse contigo, boy? Tu não ia bater nele não? - Perguntou ele pra mim
— Que dá raiva, dá. Mas se eu fosse tu eu deixava para lá. Vale apena esquentar a cabeça com isso não. - Respondi.
— Tô ligado!
Após isso ele ainda ficou na sala mais alguns minutos, mas ao toque para o fim do recreio, ele saiu para dá uma voltinhas pela escola.
Após todos retornarem para seus lugares, pude ouvi as meninas conversando entre si sobre o que aconteceu com ele, resolvi entrar na conversa e foi por elas que descobri quem era a menina e o talarica dele. Elas continuaram e eu falei que não ia com a cara dele.
— Esse garoto é muito chato. Só quer ser a rola que matou o Cazuza. Já tô ficando com ranço. - Falei para elas
— Ivson é chato mesmo, mas ele já passou por muita coisa. - Defendeu a Manuela
Naquele momento parei para pensar. Ele carregava um olhar triste, era problemático na escola e com as pessoas, então, realmente tinha que ter um motivo para ele ser daquele jeito. Me interessei em saber mais sobre ele e o que eu descobri, me deixou com pena dele.
Ele sofreu Bullying a vida toda na escola. Seu pai batia e traia sua mãe, que por sua vez não tinha uma boa relação com ele, pois ele queria que ela se separasse dele.
As meninas me contaram, que ele só andava sujo e mal vestido, por sua mãe não cuidar dele nem das suas roupas, e que antes dele ser o que era hoje, ele era feio, extremamente magro e todos na escola zuavam com ele e diziam que ele passava fome.
Agora tudo fazia sentido na minha cabeça. Aquela pose de badboy, o lance de ficar com várias garotas e de não suportar ser xingado por ninguém, e a agressividade quando isso acontecia, era por ele ter se cansado de sofrer tudo aquilo.
Aquele primeiro ano do ensino médio, tinha sido a sua volta por cima. Voltou mais bonito, encorpado e com atitude, não mais deixando ninguém pisar nele.
Depois disso passei a olhá-lo com outros olhos. Ele brigou com a turma que costumava andar e com isso passou a sentar-se na frente, mas precisamente ao meu lado.
As cadeiras eram organizadas em pares, e por isso ele ficava muito próximo a mim, e foi à partir daí que resolvi dá uma nova chance para tentar mudar a minha visão sobre ele.
Passamos a conversar e me senti culpado por tê-lo julgado errado.
Ele era uma pessoa boa, no fundo era um crianção. Pude conhecer mais sobre ele e fomos nos tornando amigos.
A ex-turma dele, junto com o restante da sala, começou a comentar nossa aproximação, por conta das várias brincadeiras que passamos a ter.
— Vai para onde puto? - Perguntou ele ao me ver saindo da sala.
— Vou no banheiro caralho! - Respondi.
— Quer que eu vá contigo? Pra balançar? - Disse sorrindo.
— Vem! - Ambos gargalhamos.
Agora eu não julgava mais suas atitudes. Tentava compreende-lo ao máximo, e dava conselhos para ele junto com as meninas. E após começar a andar com a gente, ele melhorou seu comportamento. Até os professores perceberam isso, e vinham parabenizar, a nós, e a ele.
— Continue andando com essas meninas. - Disse a professora de biologia para ele, se referindo ao nosso grupo.
Dois meses passou voando, e logo outubro chegou, junto à ele, a feira de conhecimento. Montamos um grupo eu, ele e as meninas.
Começamos a frequentar minha casa para conversamos sobre o trabalho. Das vezes que íamos, sempre estávamos acompanhado com algumas das meninas, até que houve um dia em que fomos só nós dois, sozinhos.