TLK - Distopia VIII

Um conto erótico de Bryan
Categoria: Homossexual
Contém 2041 palavras
Data: 05/09/2017 22:04:11

–A3?– Repeti em dúvida, como se houvesse algum engano– Tem certeza?

O soldado meneou com a cabeça.

–O próprio comandante frisou a ordem do capitão de lhe guiar até a cabine A3.

Concordei com a cabeça e sorri. Abri a porta da cabine e no mesmo instante me surpreendi. Era, no mínimo, o dobro do tamanho da minha antiga cabine C27. A cabine A3 tinha uma cama de casal num dos cantos, um guarda-roupa com o dobro do tamanho do armário de mogno que eu tinha e uma escrivaninha, aparentemente, tão igual quanto a anterior. Havia duas vigias para se olhar o exterior, voltadas para o mesmo horizonte que minha antiga cabine. O interessante eram a porta antiga ao lado do guarda-roupa, que dava para um banheiro. Banheira moderna contrastando com uma pia de mármore branco e vaso vintage.

O soldado ainda aguardava do lado de fora da cabine, voltei e lhe pedi para mandar meus agradecimentos ao capitão e o comandante. Com um sentido, ele virou-se e foi embora. Sozinho, tomei um enorme banho. Não me surpreendia agora que o segundo andar tivesse metade das cabines do terceiro. Era muito mais luxuoso que o normal.

Depois do banho, vesti meu terno e penteei meus cabelos quase sempre bagunçados. Com um sorriso, saí da cabine em direção ao salão de jantar. Parei em frente ao salão principal, uma enorme sala oval de dois andares, com um enorme lustre no alto e uma larga escadaria de carvalho, onde os casais e amigos se encontravam antes da festa.

Esperei por meia hora por Brad, mas o infeliz desgraçado não apareceu. Já pensava em voltar para meu quarto, quando Aaron apareceu. Ele parou surpreso na minha frente, como se não esperasse me ver sozinho, indo embora.

–Não participará do jantar de gala?– Ele me perguntou com um sorriso. Visivelmente ele parecia saber que Brad me acompanharia– Lamento.

–Não lamente– Retruquei, olhando tímido para o tapete vermelho do chão. Ergui meu olhar e continuei– Estamos todos num jogo. E não me incomodo em ficar livre de Brad.

–Bem, não estou usando smoking– Murmurou Aaron, ajeitando com a mão seu uniforme militar– Nem poderia participar do jantar, mas adoraria acompanha-lo num jantar na cozinha. Aviso que não haverá nada...

–Aceito– O interrompi. Aaron sorriu. O maior sorriso que tinha visto até então.

–Me acompanha?– Disse estendendo os braços para mim enganchar. Sorri com sinceridade.

Caminhamos lado a lado, enganchados como namorados, até um corredor pequeno. Descemos um lance de escadaria e, após abrirmos um par de portas, estávamos numa enorme cozinha, onde chefes e cozinheiros preparavam apressados os pratos. Passamos pela cozinha principal, destinada para os passageiros, e paramos numa cozinha menor, onde duas camareiras jantavam.

–Aaron– Gritou a primeira delas, vendo-nos entrar. Me encolhi, tímido no meio das duas estranhas– Esse passageiro é...

–Christian– Balbuciei. Elas levantaram-se de onde estavam e se apresentaram como Ana e Carolina, ambas brasileiras.

–Jantaremos aqui, se não incomodar– Falou Aaron, puxando a cadeira da mesa no centro da cozinha para eu sentar.

Sorri ainda mais tímido, tinha certeza que minhas bochechas deveriam estar vermelhas. O próprio soldado preparou meu prato e, aproximando-se de mim, anunciou que o grande prato da noite seria macarronada. Jantamos conversando sobre nossas vidas antes de conseguirmos embarcar no TITAN II. Contei cada detalhe da minha adolescência para ele, inclusive expliquei que noutro dia havia chorado por lembrar dos problemas que tinha com meu pai por causa de brigas.

Aaron, por sua vez, contara-me que nasceu numa pequena cidade Sueca e se mudara para os Estados Unidos após completar o ensino médio. Nunca havia imaginado servir para o exército americano até seu tio, Victor, um influente cirurgião, ter sido convocado para o TITAN X. Com ajuda da influência do tio, conseguira ingressar no exército após um teste.

–Não propriamente o exército– Acabava de explicar para mim, Aaron. Já tínhamos terminado nossas refeições e bebíamos uma segunda taça de vinho, coisa suficiente para me fazer sentir-se tonto– Enfim, é difícil de explicar. As coisas estavam uma confusão em Boston quando fui mandado para o TITAN segundo, no Brasil.

Antes que pudéssemos continuar a conversa, o walkie-talkie da cintura dele solta um som, depois a voz de algum superior informa-lhe que precisa comparecer na ponte, por ordem do comandante.

Com um suspiro de desanimo ele se vira para mim. Parecia não saber o que dizer, então, antecedendo o embaralho, me levantei.

–Descansarei na popa, estou um pouco tonto pelo vinho.

–Ok. Apenas não tenho certeza se poderei te encontrar lá, dependendo da ordem que receber.

–Não se preocupe– Sorri– Nunca pensei que a noite poderia ser tão boa.

Aaron aproximou-se de mim e lascou um último beijo, antes de sair pelos corredores do segundo andar. Eu passei pela cozinha principal e usei a passagem de garçons para sair no salão de jantar. Era tão alto os risos e gargalhadas que, levemente bêbados, ninguém me notou saindo da ala dos funcionários.

Caminhei pela parede do salão de jantar até sair no deque da popa, vazio sem nenhum passageiro ou funcionário. Fitei o mar e observei os movimentos que as hélices da água formavam. Mordi meus lábios, imaginando a cena do Titanic em que a protagonista pensa em se matar. Subi na grande que protege o corpo e inclinei meu corpo para frente até quase ultrapassar o guarda-corpo de metal. Observei a altura, sempre assustadora. No meio da negritude da noite, a altura entre o deque e as águas escuras pareciam infinitas.

Imaginei por um segundo se a Dra. Tess teria se perguntado onde eu estava durante o jantar. Ambos tínhamos marcados de nos encontrar e dividir a mesa. Um vento frio açoitou meu corpo, tirei o paletó do terno e deixei encostado no chão. Inalei com força o cheiro do mar, amava estar tão perto daquele imenso conjunto de água. Ouvi os primeiros passos de Aaron atrás de mim, aparentemente já cumprira a ordem do comandante.

–Virá uma tempestade– Comentei, focando o olhar no horizonte estibordo. Nuvens pesadas cobriam todo o céu daquele canto, relâmpagos iluminavam a noite com força. Provavelmente o vento gelado que batia em quem estivesse nos deques, vinha de lá– Acho que sentirei falta de tudo isso, quando os sessenta dias passarem.

Fechei meus olhos, inclinei todo o meu corpo em direção ao oceano, tomando cuidado para não soltar os dedos da grade que me protegia de cair pela borda do navio. Respirei fundo, sentindo uma última vez o cheiro do mar. Desci o pé esquerdo do guarda-corpo e me preparava para descer o direito, quando senti o forte empurrão desequilibrando-me.

Em câmera lenta observei a escuridão engolindo-me na queda de mais de cem metros. Abri os braços, não sabia nada. Meu corpo começava a virar-se de costas enquanto caia. Pude ver a luz dourada do deque da popa. Tão longe, tão alta... Estava caindo e parecia que nunca alcançaria o oceano. Até que o mar gelado abraçou minhas costas e envolveu meu corpo.

Não conseguia mais enxergar as luzes do navio, as águas turvas do mar engolia-me como uma grande quimera devorando sua presa. Eu morreria, pensei, sem saber ou conseguir se mover. A água estava gelada, muito mais gelada que o normal para os mares nordestinos.

Meus pés começaram a bater no meio daquela água sem fundo, minhas mãos erguiam-se para frente e abaixavam-se até minha cintura, tentando levar-me para cima. Entre uma e outra respirada apressada antes de voltar a afundar, pude ver as luzes do TITAN se distanciando junto com todo o seu calor. Meu corpo tremia, como se minha vida estivesse sendo roubada pelas águas. Todo meu calor se esvaia enquanto a cada três segundos conseguia respirar e ver o navio afastar-se.

Eu morreria. Não sabia nadar. Apenas conseguia pensar se primeiro morreria afogado ou de hipotermia. O som do primeiro trovão estremeceu o céu, agora eu podia ver uma única solitária pessoa pulando da popa do navio em direção as águas. Talvez soubesse que eu caí, ou melhor, fui jogado.

Já não tinha mais forças para continuar batendo os pés e as mãos. Sequer conseguia sentir as pontas dos meus dormentes dedos. A cada sete segundos eu tomava uma nova golfada de ar, infelizmente meus movimentos só tendiam a ficar mais lentos.

Perdido e sozinho, como sempre estive na minha vida inteira, olhei uma última vez para as luzes do navio. Afundei e por mais sete segundos fiquei submerso, até respirar novamente e ver as batidas da água do mar aproximar-se de mim.

Só poderia ser um tubarão, pensei, um pouco alcoolizado e dormente. Mas, quando dedos tão gelados como a água tocaram na minha cintura, eu soube que estaria salvo. Dessa vez, não afundei novamente. Continuei flutuando, agarrado por... Aaron.

Sem forças, me agarrei no pescoço dele e olhei para o céu. Meu corpo tremia sem parar, Aaron respirava com dificuldade como eu.

–Eu vim, querido... Eu vim... Para sempre te amarei– Sussurrou, como última promessa.

–Eu te amo– Repeti devagar, meus lábios doíam. Me aninhei no peito de Aaron e, ainda agarrando seu pescoço, inclinei minha cabeça para trás. Olhei as estrelas, o vento frio que batia em nós era como gelo.

No alto do céu, o cruzeiro do sul sinalizava as direções. Tentei olhar no horizonte, vi o navio afastar-se para o sul.... Fechei meus olhos, Aaron começava a diminuir o ritmo das batidas das pernas e eu, tão cansado, já estava quase parado. Ambos olhávamos a tempestade aproximar-se de nós, pronta para nos devorar junto ao mar. Eu e Aaron afundamos no mar rapidamente, em dois segundos voltamos a respirar.

Um brilho verde rasgou o céu, cortando-o em dois. Me perguntei se já estava morto. Aaron e eu afundamos novamente, três segundos e voltamos a respirar. Não, ainda vivíamos. Por mais alguns minutos de agonia, nós vivíamos. Desejei soltá-lo e acabar de vez com a demorar para morrer. Mas quem diria que meu corpo prendera-se contra o dele?

Um novo brilho verde rasgou o céu. Me perguntei se Aaron conseguia ver. Olhei uma última vez para Aaron, seus cabelos escorriam molhados. Seu olhar parecia tão cansado quanto seus movimentos para continuar flutuando. Ainda eu era o peso morto que precisava dele para não afundar.

–Te amarei para sempre– Murmurei tão próximo aos seus lábios que pude sentir o pouco calor de vida escapando a cada respiração.

–Sempre– Repetiu ele.

Ambos sabíamos que essas seriam nossas últimas palavras. Amando um ao outro, afundamos.

____________________________

MEU DEUS, QUE CAPÍTULO! Estava relendo hoje e não acredito que escrevi isso em 2015. Caralho, amei tanto haha. Talvez meio clichê? Talvez. Mas achei perfeito como Christian levou um toco de Brad e acabou jantando com Aaron na cozinha de empregados. Foi tão fofo os dois se conhecendo <3 AAAAAAAAA E vocês notaram que quando Christian estava no deque, ele estava olhando o mar e apenas ouviu passos atrás dele sem confirmar se era Aaron ali? Além dele ter conversado sozinho antes de ser empurrado ao tentar descer as grades de proteção. E eu amei tanto a descrição da queda! Acho que devo parecer egocentrico haha

AAAAAAAAAAA e amei principalmente quando ele estava sozinho no mar e pensa "Perdido e sozinho, como sempre estive na minha vida inteira", deus... Então depois ele vê alguém se jogando no mar por ele... E quando estava quase desistindo da vida, sente os dedos de Aaron AAAAAAAAAAAAAAA

Sério, por favor, comentem caso esse capítulo tenha realmente sido bom ou eu seja um louco apaixonado por esses dois. Uma dica, o walkie talkie chamando Aaron era apenas uma distração para distanciá-lo de Christian. Amei também as dicas que consegui colocar despercebidamente sobre as estrelas enquanto Chris tentava continuar boiando. Acho que alguém vai reclamar sobre eles já terem falado que se amam mesmo se conhecendo pouco, mas pensem que eles são tipo almas gêmeas. E quando você está sozinho, pronto para morrer (e levemente bêbado depois de algumas taças de vinho), você inevitavelmente vai sentir que é sua última chance de dizer tudo que precisa para a pessoa que você mais gosta.

PELO AMOR DE DEUS, COMENTEM SE GOSTARAM... Realmente foi inesperado a queda de Christian, reviravolta total.

Espero que tenham amado esse capítulo como eu, desculpem o textão no final haha

Com amor, B.


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Comentários

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Mas e se isso for um plano de Aaron sei lá para que ?tô viajando nessa história kkkkk

Mais uma vez parabéns é um conto muito bem estruturado

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Sua história tem um Q de NCIS, adoro!! Agora.. A historia nao vai acabar assim não né? Senão a coisa vai ficar feia pro seu lado. 😈

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ESQUECI DE AGRADECER OS COMENTÁRIOS DO CAP 7 em meio a tanto surto meu e o textão todo... Enfim, quero agradecer muito a Chria por ter gostado dessa inconvencional história(que apesar de diferente, tem uma escrita legível). E queria agradecer ao Guilwinsk por estar mostrando apoio em mais um capítulo <3 Sei que a história não é cheia de sexo, mas me surpreendo com os capítulos só terem 2 comentários em média :/ Eu tinha escrito outra história(e deletei depois) em que a média de comentários era 5 no mínimo, então estou realmente surpreso com a baixa aceitação. Mas sério, TLK é tão especial para mim e ficou tanto tempo guardado que sou inteiramente grato por cada pessoinha iluminada que está fazendo parte dessa jornada <3 AMO VCS. (acho que escrevi outro textão, sorry)

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