Amelie acordou novamente sentindo um cheiro tentador de café fresco e pão recém saído do forno. Só então percebeu o quanto estava faminta...
Suas mãos haviam sido desatadas.
Ao lado da grande cama havia uma mesinha e sobre ela uma bandeja de prata lavrada e um belíssimo conjunto de porcelana, com um bule de café, outro de leite, fatias de um pão alvo e ainda fumegante, manteiga e geléia.
Amelie há muito tempo não sabia o que era uma boa refeição, por causa da pobreza em que vivia e da tristeza pela morte de sua mãe, ultimamente ela vivia de sopas de legumes e frutas do seu quintal. Por isso ao ver aquele apetitoso lanche, ela correu até a bandeja e devorou o pão e tomou café completo leite até ficar saciada.
Por estranha que fosse a situação, Amelie estava se sentindo muito bem, e ficou ainda mais satisfeita quando viu no outro extremo do quarto uma lareira com fogo crepitando alegremente, e diante dela uma linda banheira de marfim toda trabalhada, de valor inestimável, cheia de água quente e perfumada. Sobre uma cadeira, uma grande toalha felpuda e roupas limpas e secas.
Em sua casa também era bastante complicado obter água quente para encher uma tina, assim que Amelie ficou encantada e logo se despiu e entrou na banheira, sentindo o conforto da água morna em sua pele. Ficou um longo tempo se lavando, depois se envolveu na toalha e secou os cabelos e a pele. Estava cheirosa e leve. Depois vestiu as roupas de baixo bordadas, o vestido de veludo roxo e calçou as botinas da mesma cor, e que coisa estranha, tudo lhe servia como se tivesse sido feito sob medida para ela .
Amelie pensou que o dono daquela casa deveria ser muito rico, ou talvez fosse uma casa mal assombrada, mas o fato é que ela sentia -se muito bem ali. Mas tinha a impressão de que alguém a observava...
Enquanto penteava os longos cabelos diante de um espelho que a refletia de corpo inteiro, Amelie lembrou das lendas que circulavam na região, sobre a existência de um poderoso vampiro que vivia num castelo no alto de uma montanha...
Estaria ela no castelo do vampiro ?
As janelas eram muito altas para que Amelie pudesse olhar para fora. As paredes eram de pedra, o chão coberto por tapeçarias preciosas. Nos cantos haviam armaduras, escudos e nas paredes estavam penduradas armas e troféus que pareciam ser muita antigos.
Uma cabeça empalhada de urso quase fez Amelie dar um berro... Mas depois algo a deixou fascinada.
Um grande quadro pendurado acima da lareira, no qual ela não havia reparado antes...
O retrato a óleo, de corpo inteiro, de um homem jovem e belo.
Ele era moreno, olhos escuros e profundos, cabelos compridos até os ombros. Usava uma armadura de ferro e um manto vermelho, o que o tornava ainda mais imponente, e segurava uma grande lança na mão direita.
Amelie conseguiu ler com certa dificuldade a um canto do quadro, Conde Valentim, 1248.
Aquele quadro tinha mais de 700 anos...
Bem que eu gostaria de ter conhecido esse conde, pensou Amelie meio risonha.
Como que em resposta ao seu desejo, uma mão firme pousou em seu ombro. Amelie deu um grito de espanto e se virou e aí então quase passou mal.
Era o homem do quadro, o Conde Valentim !